COMPORTAMENTO ALIMENTAR ENTRE OS JOVENS EM TEMPOS DE PANDEMIA E OS POSSÍVEIS RISCOS PARA DESENVOLVIMENTO DE TRANSTORNOS ALIMENTARES
Jhennifer Vitoria Gomes Silva1; Jhulia Evilys Dias da Silva2; Jaqueline Santana Santos Nascimento3; Cleita Keliane do Nascimento Silva4; Anne Eloyza da Costa Silva5; Ivania Samara dos Santos Silva6.
1Estudante do Curso de Nutrição- CES – UFCG; E-mail: [email protected], 2 Estudante do Curso de Nutrição- CES – UFCG; E-mail: [email protected], 3 Estudante do Curso de Nutrição- CES – UFCG; E-mail: [email protected], 4 Estudante do Curso de Nutrição- CES – UFCG; E-mail: [email protected], 5 Estudante do Curso de Nutrição- CES – UFCG; E-mail: [email protected], 6Mestranda/pesquisadora do Depto de PPGCNBIOTEC – CES – UFCG: [email protected]
Resumo: No início do ano de 2020 a pandemia causada pelo coronavírus modificou o cotidiano da população, desde as interferências nos trabalhos, até o consumo de alimentos. Com essa modificação da rotina social, as práticas alimentares podem gerar níveis de estresse e ansiedade mais altos, acarretando a um descontrole alimentar, podendo causar o surgimento de alguns transtornos alimentares (TA’S). Dessa forma, o presente trabalho teve como objetivo analisar o comportamento alimentar de jovens durante a pandemia e os possíveis riscos de desenvolvimento de TA’s. A pesquisa foi feita com 110 participantes, delimitando para homens e mulheres com idade de 18 a 25 anos, no que resultou na análise de 85 voluntários. Dando ênfase a relação com a comida 44,7% relataram ter boa relação e 3,5% consideraram ruim. Além disso, quanto as alterações na pandemia 35,5% tiveram piora na relação com a comida e 34,1% não apresentou mudanças na relação. Percebeu-se que o isolamento social causa alterações na relação entre as pessoas e a alimentação e assim influenciar nos desencadeamentos de transtornos alimentares.
Palavras–chave: Covid 19; Hábitos alimentares; Isolamento Social; Problemas emocionais
INTRODUÇÃO
A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou em 30 de janeiro de 2020, que o surto da nova doença caracterizada como uma síndrome respiratória aguda grave causada pelo coronavírus 2 da SARS (SARS-Cov-2), conhecido atualmente como COVID-19 constituía uma emergência de saúde pública internacional devido as taxas crescentes de notificação global (VELAVAN; MEYER,2020).
Caracterizado como uma pandemia, essa situação alterou a rotina das pessoas, uma vez que, algumas atividades foram limitadas e tiveram que serem feitas em casa, como estudar, trabalhar, e até mesmo as práticas de atividades físicas (SIDOR et al., 2020).
Dentre as medidas tomadas para controlar a doença, o isolamento social foi uma das ações recomendadas para a população, essa medida é difícil de ser cumprida, principalmente para os jovens. Manter o isolamento social sem perspectiva de fim, pode afetar a saúde e bem-estar dos jovens, criando incertezas em relação ao futuro. Como um fator cumulativo, de impacto na saúde mental, o consumo de alimentos também pode ser afetado, podendo estimular o aparecimento de transtornos alimentares (LANCET, 2020).
Segundo o Manual de Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), transtorno alimentar (TA) é uma perturbação insistente, seja na alimentação ou em um comportamento alimentar, o qual influencia no consumo ou absorção alterada de alimentos comprometendo a saúde física e psicossocial do indivíduo, além disso, pode ocorrer outras consequências, como desnutrição e obesidade (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014).
Dessa forma, o objetivo deste estudo é analisar o comportamento alimentar dos jovens em tempos de pandemia e o risco para possíveis desenvolvimento de transtornos alimentares.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma pesquisa de natureza quantitativa e descritiva. O trabalho foi desenvolvido com jovens, no período de agosto a outubro de 2020. Foram incluídos na pesquisa todos aqueles que tinham entre >18 anos <25 anos de ambos os gêneros. Em relação ao critério de exclusão, foram todos aqueles que não apresentavam idade compatível, se recusaram a participar ou não preencheram o questionário corretamente.
A participação na pesquisa foi de forma voluntária, bem como todos os participantes autorizaram a apresentação dos resultados em eventos da área da saúde. Os questionários foram distribuídos por meio da plataforma de questionários online Google forms, com 12 perguntas. Após a coleta, os dados foram dispostos no Microsoft Excel 2014 e os resultados foram demonstrados na forma de percentual em tabelas e gráficos.
As indagações foram construídas e baseadas em artigos científicos já publicados que mantinham ênfase em comportamento alimentar, transtornos alimentares e a pandemia do novo coronavírus. As buscas dos artigos foram feitas nas plataformas Pubmed, Scielo e Google acadêmico e Lilacs.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram coletados cerca de 110 questionários, porém apenas 85 atenderam aos critérios de inclusão. Sendo 71,8% do gênero feminino, e 28,2% do gênero masculino com idades entre 18 e 25 anos.
Dentro do contexto do comportamento alimentar, quando questionado a relação desses participantes com a comida, 44,7% dos participantes relataram que consideram ter uma boa relação, 51,8% participantes a consideram regular, e apenas 3,5% relataram ter uma relação ruim com a comida.
Quando questionado se houve alterações da relação com a comida em tempo de isolamento social, os resultados foram bem diferentes. Na Tabela 1, pode ser observado o possível impacto do isolamento social e sua relação com a comida e consequente comportamento alimentar.
Considerando a relação dos participantes da pesquisa com a comida antes e depois da pandemia, foi possível observar na Tabela 1 que a relação com a comida piorou com o isolamento social em 35,3% dos participantes. Corroborando com os resultados da pesquisa, Oliveira et al. (2020), afirma que a relação com a comida pode sofrer modificações pontuais em tempos de isolamento social.
Tabela 1- Alteração da relação com a comida em tempo de isolamento social
Relação dos participantes com a comida | Percentual |
Relação alimentar melhorou | 30,6% |
Relação alimentar piorou | 35,3% |
Não ocorreu mudanças | 34,1%, |
Fonte: dados da própria pesquisa, 2020.
Renzo et al. (2020), traz que a piora da relação com a comida acontece juntamente com a maior ingestão alimentar. Os dados da pesquisa em relação a ingestão de alimentos, traz que cerca de 25,9% dos entrevistados, afirmaram que costumam comer mais do que antes, enquanto 51,8% responderam que isso ocorre às vezes. As pessoas que responderam “sim” ou “as vezes”, foram questionadas quanto ao sentimento de culpa ao comer em excesso o resultado pode ser observado na Tabela 2.
Tabela 2- Sentimento de culpa ao comer em excesso.
Sentimento de culpa | Percentual | |
Sentem culpa | 27% | |
Às vezes sentem culpa | 18,9% | |
Não sentem culpa | 54,1%, | |
Fonte: dados da própria pesquisa, 2020.
Na Tabela 2 pode ser observada uma alta porcentagem no sentimento de culpa ao comer em excesso. O sentimento de culpa ao comer está intimamente ligado ao desenvolvimento de transtornos, sendo considerado como comportamento de risco para o desenvolvimento de TA, visto que alterações na relação com o alimento, podem induzir o surgimento desses distúrbios (MARTINS, 2018).
Nessa perspectiva do desenvolvimento de transtornos alimentares, durante impacto do isolamento social no comportamento alimentar, as Tabelas 1 e 2 correlacionam com os demais resultados da pesquisa quanto aos comportamentos que podem vir a desenvolver alguns transtornos futuros, como a alteração negativa na relação pessoal com a comida e sentimento de culpa ao comer mais que o habitual. Em razão disso, percebe-se que o estado de quarentena pode influenciar na alimentação das pessoas, principalmente dos jovens, e possivelmente no aparecimento de futuros transtornos alimentares que podem passar despercebidos.
Os impactos provocados pelo novo coronavírus alteraram o estilo de vida, resultando em consequências na saúde mental e psicológica, impactos negativos no estilo de vida e hábitos alimentares e distúrbios alimentares. Sendo assim é de fundamental importância adotar práticas de comportamentos alimentares mais saudáveis durante o confinamento, para não acarretar futuros problemas (DURÃES, 2020).
CONCLUSÕES
Diante do que foi exposto, é inegável que a pandemia acarretada pelo COVID-19 tenha trazido mudanças significativas nos âmbitos sociais, gerando fortes influências nos hábitos alimentares. Nota-se nitidamente, que há uma relação entre a fase de isolamento social e o possível surgimento de algum transtorno alimentar. Já que os resultados mostram que os indivíduos apresentaram sentimento de culpa após comer mais do que o habitual, assim como também grande parte relataram alterações no consumo alimentar na pandemia, demonstrando possuírem um desconforto psicológico no ato de alimentar-se, principalmente quando há um exagero na ingestão calórica.
Para a melhoria do conhecimento sobre o assunto, faz-se necessário maiores estudos com o público jovem relacionando os hábitos alimentares aos desenvolvimentos de TAs, principalmente nesse período pandêmico.
REFERÊNCIAS
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual de Diagnósticos e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), ed. 5°, 2014.
APPOLINÁRIO, J. C.; CLAUDINO, A. M. Transtornos alimentares. Braz. J. Psychiatry, v. 22 (suppl 2), p 28-31, 2000.
CABRAL, K. T. S. Comportamento alimentar de risco para transtornos alimentares em adolescentes de uma escola particular de Lagarto/SE: Uma série de casos. 2017. 1 CD-ROM. Monografia (Graduação em Nutrição) – Universidade Federal de Sergipe, Lagarto, 2017.
DI RENZO, L. et al. Hábitos Alimentares e Mudanças no Estilo de Vida durante o bloqueio COVID-19: Uma Pesquisa Italiana. Journal of Translation Medicine, v. 18, n. 229, 2020.
DURÃES, S. A.et al. Implicações da pandemia do Covid-19 nos hábitos alimentares. Revista Unimantes Científica, v. 22, n. 2, p.1-20. 2020.
HOEK, H.W. Review of the worldwide epidemiology of eating disorders. Curr Opin Psychiatry. v. 29, n. 6, 2016.
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LEAL, G. V. S. et al. O que é comportamento de risco para transtornos alimentares em adolescentes? Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 62, n. 1, p. 62-75, 2013.
MARTINS, I. P. Frequência de comportamentos de risco para transtornos alimentares entre universitários. TCC (graduação em Nutrição) – Universidade Federal de Mato Grosso, Faculdade de Nutrição, Cuiabá, 2018. 56f.
OLIVEIRA, A. et al. COVID-19: Comportamentos alimentares e outros estilos de vida saudáveis em tempo de isolamento social. 2020.
OLIVEIRA, A. P. G.et al. Transtornos alimentares, imagem corporal e influência da mídia em universitárias. Revista de enfermagem da UFPE online, 2020.
OLIVEIRA, L. V. et al. Modificações dos hábitos alimentares relacionados a pandemia do Covid-19: Uma revisão da literatura. Brazilian Journal of health review, v. 4, n.2, p. 8464-8477. 2021.
SIDOR, A.; RZYMSKI, P. Dietary Choices and Habits during COVID-19 Lockdown: Experience from Poland. Nutrients, v. 12, n. 6, p.1657, 2020.
TEIXEIRA, O. F. S. Estilos de vida e informação sobre alimentação e nutrição: Impacto da pandemia causada pelo Covid-19. Porto, 2020.
VELAVAN, T.; MEYER, C. The Covid-19 Epidemic. Tropical Medicine and International Health, v. 25. n. 3, p.278-280, 2020.