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CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS DA ANEMIA FERROPRIVA EM CRIANÇAS

Maria Regina Fonseca Barbosa de Araújo1; Sabrina Mércia Belarmino Gomes2; Thalita Oliveira de Melo3; Larissa de Alcântra Santos; Tatielle de Lima Vieira; Yasmin Andrade Rufino Correia; Ana Paula de Mendonça Falcone

 

1Curso de Nutrição – CES – UFCG; E-mail: [email protected], 2pesquisador do Depto de Interpretação de Exames Laboratoriais Para o Nutricionista – CES – UFCG. E-mail: [email protected]

RESUMO: A anemia ferropriva é uma desordem nutricional de maior prevalência em todo o mundo, acomete em especial as crianças menores de cinco anos e mulheres em idade fértil. As informações obtidas nesta revisão, foram encontradas em artigos em bases eletrônicas (Lilacs, ScieLO e Google Acadêmico) e livros didáticos. Os sinais clínicos da deficiência de ferro não são facilmente identificados, e por consequência, a anemia não é diagnosticada. Estes sinais incluem anorexia, apatia, palidez, irritabilidade, diminuição da atenção e deficiências psicomotoras. Dessa forma, o objetivo deste estudo é esclarecer a prevalência da anemia ferropriva em crianças com até 5 anos de idade e analisar alguns possíveis fatores de risco no nível nutricional. Com isso, é possível abordar as diversas possibilidades nutricionais, a fim de minimizar as consequências da anemia ferropriva em crianças, como o comprometimento do desenvolvimento neurológico, social e psicológico.

Palavras-chave: anemia ferropriva; crianças; sinais

INTRODUÇÃO

O ferro é um mineral vital para a homeostase das células. É essencial em diversas funções como o transporte de oxigênio, a síntese de DNA e o metabolismo energético. Nos seres humanos é utilizado principalmente na síntese da hemoglobina (Hb), nos eritroblastos da mioglobina nos músculos e dos citocromos no fígado. Em caso de deficiência de ferro ocorre consequências para todo o organismo, sendo a anemia ferropriva a anemia mais comum por distúrbios do metabolismo de ferro. (TEIXEIRA; NERY; FUJIMORY, 2006). Assim é considerada, um distúrbio nutricional que compromete o sistema imunológico e prejudica o crescimento e desenvolvimento da criança.

O público infantil constitui um grupo vulnerável à deficiência do ferro, devido à alta demanda deste mineral em função da acelerada velocidade de crescimento. Além disso, alguns fatores negativos da alimentação na infância podem aumentar essa vulnerabilidade, como por exemplo, consumo insuficiente de alimentos fontes de ferro e ingestão de leite de vaca e de cabra antes dos primeiros seis meses de vida, que além dos baixos teores de ferro, podem ocasionar sangramento gastrointestinal e gerar perda de sangue nas fezes (COSTA; MONTEIRO; AUGUSTO, 2004).

METODOLOGIA

Nesta revisão, buscaram-se artigos nas bases eletrônicas Lilacs, Google Acadêmico e ScieLO em língua portuguesa e inglesa, entre 2004 e 2020, juntamente com livros didáticos. Os descritores utilizados foram “ferro”, “anemia ferropriva em crianças” e “deficiência de ferro”. Totalizando a utilização de 6 artigos científicos. A partir disso, houve uma interpretação de informações e filtração do conteúdo, priorizando os pontos principais a serem abordados neste trabalho.

ANEMIA FERROPRIVA

É caracterizada pela deficiência de eritrócitos, diminuição da concentração de hemoglobina no sangue e carência do conteúdo férreo total do organismo. Podemos afirmar que esta consequência se decorre a partir da ingestão inadequada de nutrientes necessários para a síntese normal de eritrócitos, em especial, o ferro, a vitamina B12 e o ácido fólico (TEIXEIRA; NERY; FUJIMORY, 2006). A deficiência de ferro é a mais comum das deficiências nutricionais no mundo, sendo a anemia a sua forma mais severa. Essa carência é um dos mais preocupantes problemas nutricionais mundiais em termo de prevalência. Uma vez que, é determinada quase sempre pela ingestão deficiente de alimentos ricos em ferro. Consequentemente, pode acarretar uma série de sinais e sintomas. Sendo estes, fraqueza, cabelos e unhas frágeis, queilite, fadiga, dificuldades de concentração, vertigens, cefaleia, anorexia, glossite, estomatite, edema no tornozelo, palidez, irritabilidade, azia, disfagia, dores, flatulência, formigamento nas extremidades e palpitações (COSTA, 2015).

PRINCIPAIS CAUSAS E CONSEQUÊNCIAS EM CRIANÇAS 

A anemia se instala a partir da deficiência prolongada da ingestão de ferro alimentar, principalmente, em fases de maior demanda, como as crianças que apresentam grande velocidade de crescimento. No período da primeira infância, os erros alimentares, em especial o desmame quando o leite materno é substituído por alimentos desprovidos de ferro podem desencadear o início da carência deste mineral. Além disso, outros fatores agravantes são o baixo nível socioeconômico e cultural, as condições de saneamento básico e o acesso à serviços de saúde (QUEIROZ; TORRES, 2008). 

Na fase em que o bebê é lactente, a criança que nasce a termo corre menos risco de desenvolver a anemia devido ao depósito de ferro gerado no último trimestre da gestação. Este reservatório é utilizado entre 4 e 6 meses de vida e após seu esgotamento é necessária a ingestão de ferro dietético para evitar o aparecimento da anemia. Já o recém-nascido pré-maturo ou com baixo peso ao nascer não terá uma reserva férrea tão significativa (REIS; RODRIGUES, 2020).

A deficiência pode levar a alterações na resposta imunitária. Podendo assim, contribuir para maior morbidade em razão da menor resistência contra infecções. Além disso, pode afetar o crescimento, o comportamento, concentração, desenvolvimento da linguagem, reduzir a atividade física (fadiga), produtividade e apetite (COSTA, 2015). As principais causas que podemos citar, é o desequilíbrio entre a necessidade do ferro e a absorção, que tem decorrência de uma alimentação com baixa ingestão de alimentos ricos em ferro ou que facilitem sua absorção e alta de alimentos inibidores da absorção do ferro dietético, ou seja, dificultando a biodisponibilidade deste mineral (REIS; RODRIGUES, 2020). 

EXAMES BIOQUÍMICOS

Para analisar a condição de um paciente com relação à concentração de ferro, são necessários os resultados de exames bioquímicos. O hemograma é importante para a avaliação do indivíduo como um todo. Por sua vez, também é utilizado para análise da homeostasia do ferro que é um elemento fundamental para a produção de hemácias normais e faz parte da hemoglobina. Em casos de níveis baixos de ferro, terá por consequência a produção de hemácias microcíticas e hipocrômicas. Podemos afirmar que uma criança está com anemia quando os valores de hemoglobina estão menores que 11g/dl para crianças de 6 a 60 meses e o hematócrito também está alterado e seus valores encontram-se abaixo dos valores de normalidade, sendo valores abaixo de 33% para crianças de 6 a 60 meses (BISCEGLI et al., 2017).

A ferritina é essencial para avaliar os estoques de ferro. Sendo assim, seu exame é valioso para detectar e considerar a gravidade de deficiência ou excesso dessa substância. Os valores normais de referência são acima de 12μg/L em crianças menores de 5 anos. O ferro sérico, a saturação de transferrina e a capacidade total de ligação de transferrina são importantes para a quantificação da quantidade de ferro presente na criança. A deficiência de ferro é diagnosticada quando o ferro sérico está abaixo de 30 miligramas por decilitros, a saturação de transferrina está abaixo de 16%, e a capacidade total de ligação de transferrina está acima de 250-390 microgramas por decilitros (COSTA, 2015).

TRATAMENTO

O tratamento deve corrigir os valores da hemoglobina circulante e repor os reservatórios de ferro nos tecidos. Para que isso ocorra, é recomendada a utilização de sais ferrosos (sulfato, gluconato, fumarato, citrato, succinato, entre outros), de preferência por via oral. Sua absorção é consideravelmente maior, caso seja administrado uma hora antes das refeições. É sugerido de 3 a 5 mg de ferro elementar por quilo peso por dia, sendo dividida em 2 ou 3 doses (REIS; RODRIGUES, 2020).  Sua eficácia é potencializada se o sal ferroso for ingerido com o acompanhamento de suco de fruta que seja rica em vitamina C, considerado um fator importante para facilitar a absorção de ferro. Por outro lado, o medicamento não deve ser consumido juntamente com suplementos polivitamínicos e minerais. Porque existem interações do ferro com o cálcio, fosfato, zinco e outros elementos, ocasionando na diminuição da biodisponibilidade (ANDRÉ et al., 2018). Para que a eritropoiese seja reestruturada é indispensável que a dieta fornecida durante o tratamento seja balanceada, contendo os nutrientes suficientes, em especial as proteínas para garantir os aminoácidos essenciais na formação da hemoglobina. A resposta do tratamento é rápida e o tempo de duração depende da gravidade da anemia (BISCEGLI et al., 2017).

DIETOTERAPIA

Nas recomendações dietéticas infantis, alguns cuidados podem ser tomados, visando a um melhor aporte de ferro ao organismo, tais como manutenção do aleitamento materno exclusivo até o 6° mês de vida. Após este período, iniciar a introdução de alimentos complementares ricos em ferro (carnes em geral, em especial fígado, feijão, vegetais verde escuros) e que possuam agentes facilitadores de sua absorção (frutas cítricas) (ANDRÉet al., 2018).  Por outro lado, devem ser evitados, durante as refeições, os agentes inibidores como chás preto e mate, café e refrigerantes. O ideal é que as carnes sejam cozidas e não fritas, aproveitando o caldo da cocção. Dessa forma, a escolha correta dos alimentos complementares é de fundamental importância, pois há necessidade de a alimentação da criança ser diversificada, balanceada e rica em ferro de alta biodisponibilidade, para que ela se desenvolva e cresça sem nenhum prejuízo e não possua risco de anemia ferropriva (BISCEGLI et al., 2017).

CONCLUSÕES

A partir das considerações citadas anteriormente, a magnitude do problema e a abrangência de seus fatores de risco, torna-se necessária a implementação de medidas urgentes de prevenção e tratamento da anemia ferropriva. Dessa forma, é de suma importância que as organizações de saúde e maternidades, aconselhem as mães à respeito da importância do aleitamento materno e da ingestão de alimentos ricos em ferro após os 6 meses de vida. É necessário ter acompanhamento de um profissional nutricionista para desenvolver uma dieta variada que supra todas as necessidades da criança, inclusive as de ferro. Sendo assim, resultando em seu crescimento saudável, livre de danos.

REFERÊNCIAS

ANDRÉ, H. P. et al. Indicadores de insegurança alimentar e nutricional associados à anemia ferropriva em crianças brasileiras: uma revisão sistemática. Ciência e Saúde Coletiva, v. 23, n. 4, p. 1159-1167, 2018.

BISCEGLI, et al. Estado nutricional e carência de ferro em crianças frequentadoras de creches antes e 15 meses depois da intervenção nutricional. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo, v. 26, n. 2, p. 124-129, 2017.

COSTA, L.; MONTEIRO, R. B., AUGUSTO, C. Anemia na infância no município de São Paulo. Revista de Saúde Pública, v. 38, n. 6, p. 797-803, 2004.

COSTA, M. J. C. Interpretação de Exames Bioquímicos para o Nutricionista – 2° edição. EDITORA ATHENEU, São Paulo, 2015.

QUEIROZ, S. S; TORRES, M. A. A. Anemia ferropriva na infância. Jornal de Pediatria, v. 76 (Supl.3):S298-S304, 2000.

REIS, F. M.P. et al.  Anemia ferropriva em crianças menores de 60 meses. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, 2020.

TEIXEIRA, P; NERY, C.; FUJIMORI, E, Conhecimentos e práticas infantis sobre a anemia. Revista Brasileira Saúde Materna Infantil, Recife, v. 6, n. 2, p. 209-216, 2006.

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