IDENTIFICAÇÃO DO USO DE CANUDOS PLÁSTICOS E A TENDÊNCIA DE UTILIZAÇÃO DE CANUDOS BIODEGRADÁVEIS NO ALTO OESTE POTIGUAR
Capítulo de livro publicado no livro: Ciência e tecnologia de alimentos: Pesquisas e avanços. Para acessa-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062060-13
Este trabalho foi escrito por:
Layane Vitória Freire Gurgel *; Maria Clara de Almeida ; Raimunda Valdenice da Silva Freitas ; Gleison Silva Oliveira ; Rerisson do Nascimento Alves ; Elisabete Piancó de Sousa ; Thamirys Lorranne Santos Lima*
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
Resumo:
O canudo plástico é um produto que faz parte do processo de alimentação de muitas pessoas, visto a facilidade atribuída ao consumo de bebidas, entretanto, a exacerbada utilização e o descarte inadequado deste material vem acarretando em diversos problemas ecossistêmicos. Assim, diante da necessidade de mudança de tais parâmetros, insere-se como alternativa a utilização de canudos biodegradáveis para mitigar os malefícios do uso do plástico convencional. À luz disso, objetivou-se por meio desta pesquisa, realizar a avaliação do perfil dos utilizadores de canudos plásticos e da aceitabilidade dos canudos biodegradáveis no Alto Oeste Potiguar. Nesse viés, foi aplicado um questionário com 19 questões, 16 de múltipla escolha e 3 discursivas, o qual ficou disponível pelo Google Forms por 30 dias, e aplicado presencialmente, em 2 dias, obtendo 191 respostas. Do público-alvo, 68% afirmam saber o que são canudos biodegradáveis, e 79% afirmaram que alterariam a utilização de canudos plásticos por biodegradáveis. Dessa maneira, evidencia-se que há uma tendência positiva quanto a utilização de canudos biodegradáveis no Alto Oeste Potiguar para os próximos anos.
Palavras–chave: Biodegradável; Canudo; Impacto; Plástico.
INTRODUÇÃO
O canudo mais antigo já encontrado na história foi datado por volta dos 3.000 A.C, em uma tumba da realeza, podendo assim afirmar que os “tubos para beber” estão presentes no nosso cotidiano há milhares de anos (1). De acordo com Broda-Baham (2), a popularidade do canudo cresceu exponencialmente, mas só em 1950, a partir dos avanços sociais-tecnológicos, os canudos fabricados com plástico chegaram ao mercado. O grande advento dos canudos plásticos deu-se através da Segunda Grande Guerra Mundial e sua necessidade de inovação e expansão de formas de combate, que proporcionou ao globo, através da indústria petroquímica, e por meio de uma série de desenvolvimentos com materiais plásticos, uma verdadeira revolução social (3).
O crescimento populacional e a dinâmica global disseminaram a utilização dos plásticos no dia a dia, “exigindo mais produção de alimentos e industrialização de matérias-primas, transformando-as em produtos industrializados, contribuindo, assim, para o aumento dos resíduos sólidos” (4,5). Tendo, a indústria de alimentos, como a principal geradora desses resíduos plásticos. Silva, Rosas e Oliveira (5) afirmam que “a sociedade e o meio ambiente, […] vivem em um intenso processo dinâmico, pois, os fatores sociais, dentre eles o aumento do consumo e a geração de resíduos, afetam o meio ambiente, e este, por sua vez responde a esse processo”.
Segundo Pereira e Ferreira (6) problemas em relação a produção e consumo de plásticos surgiram devido a sua baixa degradabilidade no ambiente, somado ao errôneo descarte desse material, os quais, de acordo com Cardoso et al. (7) são depositados em locais impróprios, contaminando mananciais e solos. Dados publicados pela Organização das Nações Unidas (8) em relatório acerca da poluição plástica, afirma-se que, no Brasil, são produzidos cerca de 3 milhões de toneladas de plástico de uso único por ano, em que os 13% dessa totalidade pode ser representada por produtos como canudos, copos, talheres, pratos e sacolas plásticas, sendo descartados anualmente, os quais transformam-se em lixo, e por conseguinte, em poluição. Estes levam cerca de 20 a 500 anos para se decompor e, de toda forma, nunca desaparecem por completo, dividindo-se em partes cada vez menores, os microplásticos, alcançando índices e locais ainda maiores de poluição (9).
À luz disso, preocupados com o meio ambiente e com os impactos causados pelo lixo plástico, a indústria nacional e internacional tem se ajustado à luta contra os descartáveis e começam a surgir alternativas biodegradáveis para substituição do polipropileno (PP) e poliestireno (PE), utilizados na confecção de canudos, por polímeros biodegradáveis.
“O termo biodegradável define todos os materiais capazes de sofrerem decomposição em dióxido de carbono, água, metano, compostos inorgânicos ou biomassa, sendo a ação enzimática de microrganismos o mecanismo predominante de decomposição.” (10,11) “Desta forma, a biodegradação pode ser definida como a degradação de um material orgânico causada por atividade biológica principalmente pela ação enzimática de microrganismos.” (11,12).
Segundo Brito et. al (11), recentemente a produção e utilização de biopolímeros, polímeros biodegradáveis e polímeros verdes surge como mais uma alternativa, a qual, devido sua viabilidade técnica e econômica, apresenta grande potencial de expansão. A substituição do uso de canudos plásticos por biodegradáveis é de grande importância, visto que estes conseguem se decompor rapidamente. Dito isso, os canudos biodegradáveis sofrem uma insigne redução, dividindo-se em fragmentos menores que serão facilmente desintegrados por meio de micro-organismos presentes na natureza, não sendo considerados microplásticos, além de não se acumularem no ambiente. Assim, ocasionando na redução da poluição plástica em um todo, sem que o meio ambiente e os seres desse ecossistema sejam afetados.
Nesta perspectiva, ao observar o impacto que a indústria do plástico causa no meio ambiente, notou-se a viabilidade de elaborar um estudo com ênfase na projeção da aceitação social de canudos inovadores e sustentáveis, que pudessem substituir os plásticos convencionais, e por conseguinte, mitigar a problemática ambiental. Dessa maneira, objetivou-se com o desenvolvimento deste estudo, através de uma pesquisa com os consumidores, a identificação do uso de canudos plásticos e a tendência de utilização de canudos biodegradáveis em bares, restaurantes e lanchonete de cidades do Alto Oeste Potiguar.
MATERIAL E MÉTODOS
A metodologia utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa foi fundamentada diante da abordagem quali-quantitativa, em que segundo Taborda e Rangel (13), os dados qualitativos oferecem maior subjetividade a pesquisa, ou seja, permite maior manifestação seja por parte do pesquisador ou dos sujeitos da pesquisa, e por sua vez, os dados quantitativos, no que concernem sua exatidão, abordam e explicam a complexa realidade. Isto posto, estes juntos se complementam, conseguindo abranger e expressar amplas áreas destinada à pesquisa. Sendo caracterizado pela identificação do uso de canudos plásticos e a tendência de utilização de canudos biodegradáveis em bares, restaurantes e lanchonete de cidades do Alto Oeste Potiguar.
Para a formulação dos dados desta pesquisa, utilizou-se a ferramenta on-line de questionários (Google Forms), e a aplicação do questionário de forma física (presencialmente). O seguinte formulário foi composto por 18 questões (15 de múltipla escolha e 3 dissertativas) relacionadas a utilização de canudos plásticos e a tendência de utilização de canudos biodegradáveis. Assim, o formulário on-line ficou disponível através das redes sociais (WhatsApp, Instagram e Twitter) por um período de 30 dias, onde foram obtidas 151 respostas. Já o questionário presencial foi aplicado durante 2 dias em bares, restaurantes e lanchonetes dos municípios de Pau dos Ferros-RN e Francisco Dantas-RN, obtendo-se 40 respostas, totalizando assim 191.
As questões foram divididas em 3 áreas, sendo a primeira a caracterização socioeconômica, com questões voltadas ao gênero, idade, ocupação atual, grau de escolaridade e local de residência. A segunda área, com perguntas centradas na utilização e no saber acerca do impacto dos canudos plásticos, dessa maneira, com as questões relacionadas a frequência de utilização dos canudos plásticos, o oferecimento ou pedido desse item nos bares, restaurantes e lanchonetes frequentados, bem como a coleta da identificação do destino final dos canudos plásticos por parte dos entrevistados e o conhecimento com relação ao impacto gerado por esses.
Na terceira área de desenvolvimento do questionário, há o estudo acerca da caracterização dos canudos biodegradáveis e a tendência de utilização desses, sendo apresentados questionamentos em torno do conhecimento sobre o que são canudos biodegradáveis; se há a utilização destes por parte dos bares, restaurantes e lanchonetes frequentados; se os interrogados os utilizariam, e se sim, dos modelos apresentados quais teriam mais aceitabilidade; e quais as dificuldades encontradas para a utilização dos canudos biodegradáveis. À vista disso, foram postas perguntas no que tangem à tendência da consolidação do canudo biodegradável na sociedade ser longínqua ou próxima, além da caracterização por parte dos interrogados referente à sua opinião acerca da respectiva pesquisa.
Os dados do questionário foram agrupados em planilhas, por meio do Microsoft Excel (2016), sendo organizadas em tabelas e gráficos. Ademais, no que diz respeito aos dados percentuais tabulados que excederem a normativa dos 100%, estes estão atrelados às questões em que tinha-se mais de uma alternativa como opção de escolha, desta maneira, obtendo um número de respostas maior do que o número daqueles que responderam ao questionamento. Além disso, uma nuvem de palavras acerca de como os entrevistados conceituariam esta pesquisa foi elaborada a partir do Mentimeter.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Perfil de mercado dos possíveis usuários de canudos plásticos e biodegradáveis da região do Alto Oeste Potiguar
Perfil socioeconômico dos possíveis usuários
Com relação a caracterização do perfil socioeconômico dos prováveis utilizadores, observa-se na Tabela 1, que dos 191 participantes, 55,5% eram do sexo feminino, 53% tinham entre 14 a 18 anos de idade, 40,8% possuíam ensino médio incompleto,72,3% eram estudantes, sendo 100% destes residentes da região nordeste do Brasil, mais especificamente no Alto Oeste Potiguar do Rio Grande do Norte. Resultados congruentes a estes foram obtidos por Oliveira e Leandro (14), em um estudo acerca da análise comportamental do uso de canudos plásticos em bebidas na cidade de Botucatu/SP.
Tabela 1. Perfil socioeconômico dos possíveis utilizadores de canudos plásticos ou biodegradáveis.
SEXO | n= 191 | %=100 |
Feminino | 106 | 55,5 |
Masculino Prefiro não dizer | 84 1 | 44 0,5 |
IDADE | ||
14 a 18 anos | 101 | 53 |
19 a 24 anos | 40 | 21 |
24 a 34 anos | 20 | 10 |
35 a 44 anos 45 a 54 anos 55 a 64 anos 65 anos ou mais | 15 7 6 2 | 8 4 3 1 |
ESCOLARIDADE | ||
Ensino Fundamental completo | 24 | 12,6 |
Ensino Fundamental incompleto | 4 | 2,1 |
Ensino Médio completo | 39 | 20,4 |
Ensino Médio incompleto | 78 | 40,8 |
Ensino superior | 25 | 13,1 |
Pós graduação incompleta | 4 | 2,1 |
Pós graduação completa | 16 | 8,4 |
Outro | 1 | 0,5 |
OCUPAÇÃO ATUAL | ||
Estudante | 138 | 72,30 |
Funcionário Público | 20 | 10,50 |
Funcionário privado Agricultor | 11 0 | 5,80 0 |
Desempregado | 6 | 3,00 |
Outro | 16 | 8,40 |
Percepção dos possíveis usuários quanto a utilização de canudos plásticos
Questionados sobre a utilização de canudos plásticos, os entrevistados expuseram que, em sua grande maioria, totalizando 69% destes, como observado na Figura 2A, não utilizavam canudos plásticos.
Essa porcentagem, porém, diverge com o estudo de Oliveira e Leandro (14), acerca da análise comportamental do uso de canudos plásticos em bebidas, uma vez que neste ao questionar tal utilização, obtém-se que a maioria do público (54%), utilizam canudos plásticos, havendo uma notória disparidade acerca da utilização dos mesmos de um estudo para o outro. Segundo os autores, a obtenção deste resultado deve-se ainda a habituação dessa utilização dentre as pessoas, entretanto, a apresentação deste questionamento mesmo dois anos após e em localidades distintas, com resultados negativos à utilização de plásticos, reflete a constante luta pela mudança de hábitos contra a utilização desse material.
Ademais, referente a frequência de utilização dos canudos plásticos (Figura 2B), através do questionamento aqueles que responderam sim para estas utilizações, obtivemos que as principais reiterações observadas dos entrevistados foram mensalmente (24,84%) e anualmente (16,23%), reforçando o estereótipo da baixa utilização e frequência deste. Tal mudança de hábito advém porém, tanto da diminuição do uso de canudos plásticos, que pode ser explicada devido ao surgimentos de projetos de leis, como por exemplo a lei 10.439/2018, a qual proíbe a utilização de canudos de plástico, exceto os biodegradáveis, em restaurantes, bares, quiosques, ambulantes, hotéis e similares em todo o território do Rio Grande do Norte, representando um impacto nesta pesquisa, uma vez que a utilização destes recursos diminuíram exatamente nessa região. Como também, podemos afirmar que há uma maior conscientização por parte da população em relação aos malefícios advindos da utilização de canudos plásticos, como afirmado na Figura 4A.
Em relação a oferta de canudos plásticos em bares, restaurantes e lanchonetes do Alto Oeste Potiguar, 87% dos entrevistados (Figura 3A) desta pesquisa informaram que estes locais oferecem o canudo plástico para consumo. Desse modo, no seguinte questionário foi feito o levantamento acerca de como era feita essa oferta, se o canudo estava disponível para caso pedissem ou se ele já vinha junto à bebida, com esse questionamento, obteve-se na Figura 3B que em 77% dos casos, o canudo vinha sem que a pessoa pedisse, levantando a ideia de que as bebidas só podem ser consumidas unicamente desta forma, pré-determinada pelos fornecedores, os quais acabam estimulando a utilização indiscriminada dos canudos plásticos.
À luz disso, resultados semelhantes à esse foram obtidos no estudo de Lia e Vasconcelos (15), acerca do consumo de canudos plásticos em bares e restaurantes de Campo Grande – MS, em que em parte esmagadora dos casos, os canudos plásticos eram entregues rente à bebida pedida, sem que houvesse uma consulta ao cliente no tocante a esta utilização, com dados em que nos locais onde a entrega era efetuada, a utilização dos canudos plásticos era maior, segundo Lia e Vasconcelos (15), “chegando a alcançar um número de 50 a 100 canudos por dia em 16 dos casos, e 100 a 150 canudos por dia em cinco dos casos”, consagrando o setor e a indústria alimentícia como um dos que mais ajudam na proliferação do plástico de uso único.
Diante deste cenário, na Figura 4A, os dados demonstram que a grande maioria dos entrevistados (91%) são conscientes acerca do impacto que os canudos plásticos trazem para o meio ambiente, resultado compatível com o estudo de Rodrigues e Souza (16), que obtiveram mais de 80% respostas “sim” ao perguntarem sobre “o conhecimento em relação aos impactos causados pelos canudos plásticos”. Posteriormente, questionou-se sobre o destino final desse produto e obteve-se destaque na opção “Mar” (52,9%), na Figura 4B, tese justificada, por exemplo, pelos dados coletados na Ocean Conservancy – organização que ajuda a formular políticas oceânicas nos níveis federal e estadual- que divulgou em 2021 resultados de sua Limpeza Costeira Internacional (ICC) de 2020, no qual relatou os dez itens mais coletados por voluntários nos oceanos ao redor do mundo, com o canudo ocupando o 7º lugar no ranking.
Dessa maneira, o canudo é um dos maiores agentes plásticos poluentes, isso dá-se porque, segundo Silva (17), as toneladas de plástico, ao se tornarem lixos, “deveriam ir para o aterro sanitário e serem recicladas, mas acabam em lixões e outra grande quantidade tem sido encontrada nos mares e rios”, sendo nesta pesquisa, o “Lixão” outra alternativa significativamente escolhida pelos entrevistados (31,4%) na Figura 4B, em relação ao destino final do canudo. Tal nefasto cenário, conforme Brito et. al (11), “contribui para o acúmulo de lixo plástico sem destino apropriado que levará de dezenas a centenas de anos para ser novamente assimilado pela natureza”.
Percepção dos usuários quanto a utilização de canudos biodegradáveis
Acerca dos canudos plásticos, Oliveira e Leandro (14) afirmam que “diversas ações governamentais e privadas no mundo vêm proibindo a utilização de canudos plásticos em bebidas, devido ao impacto ambiental que ocasiona nos oceanos”. Nesse sentido, a fim de mitigar e substituir tal utilização, inserem-se os biodegradáveis como uma alternativa viável para a população e o meio ambiente. Desse modo, enquanto questionados acerca do conhecimento sobre o que são canudos biodegradáveis (Figura 5A), 68% do público entrevistado afirma conhecer ou saber definir o que são canudos biodegradáveis, bem como, 93% destes (Figura 5B), afirmam que os bares, restaurantes, lanchonetes que frequentam não oferecem canudos biodegradáveis. Dessa maneira, pode inferir-se que a falta de oferta desses canudos biodegradáveis nos locais propícios a sua utilização, acarreta em um maior desconhecimento populacional perante essa substituição e, consequentemente, um baixo índice de utilização do mesmo.
A presente pesquisa, a fim de verificar a tendência da utilização de canudos biodegradáveis em substituição aos canudos plásticos, verificou que 79% dos entrevistados fariam essa troca (Figura 6A). Dados similares a estes foram obtidos por Rodrigues e Souza (16) quando questionam sobre a disposição em optar por canudos biodegradáveis, os quais obtiveram uma porcentagem de 100% em 3 dos 4 restaurantes que foram, obtendo no 2º restaurante uma porcentagem também positiva de 97%. Dessa maneira, demonstrando em ambas as pesquisas que grande parte das pessoas estão aptas a fazer a substituição do plástico convencional para o biodegradável. Todavia, apesar da grande aferição à utilização dos canudos biodegradáveis, faz-se mister analisar as dificuldades encontradas para essa efetiva substituição através de questionamentos. Nesse viés, os resultados de maior porcentagem estão entre as dificuldades de encontrar canudos biodegradáveis no comércio regional (67%), e a não oferta dos canudos biodegradáveis em bares, restaurantes e lanchonetes (61%), Figura 6B.
À vista disso, é notório uma falta de oferta de canudos biodegradáveis em vários âmbitos, em especial no de venda e distribuição, o que propicia a manutenção da utilização de canudos plásticos, devido ao déficit no fornecimento do material que pode substituí-lo. Dessa maneira, pode inferir-se que a falta de oferta desses canudos biodegradáveis nos locais propícios a sua utilização, acarreta em um maior desconhecimento populacional perante essa substituição e, consequentemente, um baixo índice de utilização do mesmo, apesar de sua grande aceitabilidade.
Perfil de usuários de canudos biodegradáveis e suas tendências
Ao tentar arquitetar um perfil de prováveis usuários de canudos biodegradáveis, foi feito um levantamento acerca dos 10 principais estudos com canudos biodegradáveis nacionais e internacionais do mercado, sendo feito uma listagem destes, conforme a Tabela 2, como também um questionamento sobre o tipo de canudo que mais seria aceito, levando em consideração os materiais de produção dos mesmos, rente a Figura 7.
Tabela 2- Resumo de alguns estudos realizados sobre a elaboração de canudos biodegradáveis.
Produto | Origem | Formulação | Classificação | Referências |
Canudo | Nacional | À base de amido e tubérculos | Biodegradável e comestível | Oliveira et al. (18) |
Cocanudo | Nacional | À base de fibra de frutas | Biodegradável | Duarte et al (19) Borges et. al (20) |
Canudo | Nacional | À base de amido e gel Aloe vera | Biodegradável | Silva et al., (21) |
Canudo | Nacional | À base de pectina | Biodegradável e comestível | Molena, Vidotto e Guerra (22) |
Canudo | Nacional | À base de amido de mandioca | Biodegradável | Layoun, Piucci e Pardo (23) |
Canudo | Internacional (Indonésia) | À base de carragenina e gelatina | Biodegradável e comestível | A Yun, Triastuti e Saputra (24) |
Canudo “sorbos” | Internacional (Espanha) | À base de gelatina, açúcar e amido | Biodegradável e comestível | Ferreira, Silva e Madeira (25) |
“Seaweed Straws” | Internacional (Estados Unidos) | Palha à base de algas marinhas e adoçante comestível | Biodegradável e comestível | Zhou, Yi e Deng(26) |
Rice straws | Internacional (Corea) | Palha à base de arroz e mandioca | Biodegradável e comestível | Zhou, Yi e Deng(26) |
Pasta Straws | Internacional (Itália) | À base de massa de macarrão | Biodegradável e comestível | Zhou, Yi e Deng(26) |
Apresentado ao público entrevistado esses modelos, os três principais tipos de canudos que se sobressaíram a escolha dos prováveis usuários de canudos biodegradáveis foram os à base de fibras de frutas (56%), à base de amido de mandioca (28%) e o canudo à base de gelatina, açúcar e amido com (27%), como exposto na Figura 7. Em análise, é possível depreender que todos os três canudos biodegradáveis mais escolhidos pelo público da pesquisa, se enquadram como advindos de matérias-primas amplamente conhecidas por estes, seja regional ou mundialmente, ou seja, fazendo com que estes optem por materiais que já conhecem e consomem. Logo, os canudos biodegradáveis enquanto produto e material ainda novo no mercado, principalmente como agente na luta por sua substituição e sustentabilidade no meio, é notório que este tome destaque quando produzidos com insumos conhecidos pela população, acarretando na sua maior proliferação e utilização, em razão do canudo plástico.
Na última pergunta do questionário deste estudo, foi instaurado o seguinte questionamento: “Você acredita que a utilização de canudos biodegradáveis possa ser uma tendência para as próximas gerações?”. Diante dos dados apresentados pela Figura 8, observa-se 2 grandes blocos de respostas, divididas entre os entrevistados que acreditam que esta tendência será instaurada em um futuro próximo, caracterizando cerca de 79,60%, e o bloco dos que acreditam que esta tendência será instaurada, mas em um futuro distante, configurando 18,30% dos entrevistados. Por meio disso, é possível constatar que a grande parte do público acredita que a utilização dos canudos biodegradáveis é uma tendência para as gerações vindouras, seja as próximas ou as mais distantes -, acarretando em um somatório de cerca de 97,9% daqueles que responderam esta pesquisa.
Tal perspectiva marcante, dá-se conforme Póvoa Neto et al (27), devido a instauração de que a sociedade contemporânea, através do uso exacerbado de plásticos, tem acarretado sérios problemas para o ecossistema global que habitamos. Em especial no que tange aos plásticos de uso único, como o canudo, que tem como característica majoritária sua não degradabilidade ao meio, e a poluição e mortandade gerada devido a apresentação desta, havendo uma urgente necessidade de instituir variáveis que combatam e substituam o plástico convencional: como a utilização de canudos biodegradáveis, que mitigariam parte da utilização do plástico e atenuaria os dados maléficos crescentes de problemas socioambientais.
Relato de opinião dos entrevistados
Acerca da opinião dos entrevistados sobre a relevância da pesquisa, foi demonstrado que termos como “Importante”, “Necessária”, “Interessante”, foram os que mais se sobressaíram entre as respostas. Isto, sendo um indicativo da relevância que esta temática tem frente às questões socioambientais já supracitadas, e presunçosa quanto a mudança de hábitos.
Boa parte dos entrevistados definiu a pesquisa como “Inovadora”, refletindo um dos objetivos da pesquisa: o surgimento de um novo hábito benéfico, que mitigue o tão maléfico uso de plásticos. Assim como, a presente pesquisa foi descrita como “Sustentável”, “Consciente” e de grande “Responsabilidade Ambiental”, onde, por meio dessas palavras, torna-se notável como a pesquisa influenciou na própria auto avaliação dos utilizadores de canudos plásticos, promovendo a tendência de utilização de canudos biodegradáveis. Para mais, as caracterizações segundo alguns dos entrevistados deste trabalho de que “A pesquisa tem uma grande importância de papel socioambiental, uma vez que ela investiga um causador de impacto social que muitas vezes as pessoas não conhecem, ou não fazem ideia da potencial da poluição”, juntamente com “Orientadora” e “Esclarecedora”, vão de encontro ao viés conscientizador e moldador que esta tese apresenta frente a ideia “Biotecnológica” e “Ambiental”, sendo assim vista como “Educativa” e “Eficiente”, termos esses que podem ser observados na Figura 9.
Seguindo essa máxima, outras respostas que a temática organizacional e produtiva dessa tese recebeu, perante aos parâmetros de importância, objetividade, utilidade, e organização, compuseram os seguintes termos: “Relevante”, “Objetiva”, “Útil”, “Reflexiva”, “Esclarecedora”, “Completa” e “Inteligente”.
CONCLUSÕES
A tendência de utilização de canudos biodegradáveis mostra-se crescente para os anos vindouros, uma vez que os usuários demonstraram-se motivados por questões socioambientais, em relação aos impactos causados pelo uso de canudos plásticos perante ao meio ambiente, em busca da proteção da flora e fauna ecossistêmica, principalmente, marinha, e os efeitos adjacentes dessas aos seres humanos, o que evidencia um perfil consciente, e a necessidade de utilização de produtos biodegradáveis que inviabilizam tais impactos. Com isso, observa-se que apesar da grande aceitabilidade de utilização de canudos biodegradáveis, ainda é muito baixa a disponibilidade de canudos biodegradáveis em bares, restaurantes e lanchonetes da região do Alto Oeste Potiguar, fazendo-se mister a providência desses produtos sustentáveis por parte do comércio regional, a fim de impulsionar tal utilização.
Entretanto, faz-se necessário citar as limitações da presente pesquisa, dada a restrição relacionada apenas a região do Alto Oeste Potiguar, área de aplicação do formulário do presente estudo, como também a delimitação apenas ao canudo, tendo em vista que há outros utensílios plásticos também causadores de efeitos negativos à natureza, como: sacolas, pratos, talheres e copos descartáveis. Dessa maneira, a fim de contribuir para que existam mais estudos sustentáveis com o objetivo de minimizar o impacto que a indústria plástica causa ao meio ambiente, sugere-se que novas pesquisas nesse segmento possam ser realizadas.
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