A técnica de cromatografia iônica acoplada ao detector amperométrico na abordagem de descrição traz as vantagens dessa aplicação quanto à precisão e exatidão analítica pretendida, para que os produtores de alimentos declararem em seus rótulos todos os açúcares da composição, sejam eles naturais ou adicionados. Além disso, traz a certeza da pureza de suas matérias primas utilizadas em todo o processo. Com alto investimento em equipamentos, padrões e pessoal capacitado, vertente principal deste trabalho, a técnica demonstrou robustez no desenvolvimento de 11 açúcares dentro do perfil de carboidratos desejados a serem pesquisados, identificados e quantificados em alimentos processados. Portanto, atende plenamente à nova legislação da ANVISA RDC 429 de 2020, em comparação com as exigências da versão anterior, que tratava do mesmo tema de rotulagem e a possibilidade de utilização de técnicas analíticas clássicas. Desta forma, a técnica, por meio de suas curvas de calibrações de cada açúcar obtidas com linearidade pretendida, poderá ser utilizada como base de monitoramento para a tomada de decisão dos produtores de alimentos processados como parte da composição centesimal a ser declarada.
A bovinocultura de leite é um setor em amplo crescimento no estado de Goiás, em especial no município de Morrinhos, que na atualidade necessita se adaptar as novas regras de produção e qualidade impostas pelo mercado consumidor e pelas indústrias processadoras de alimentos. A Instrução Normativa 76, de 26 de novembro de 2018, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) orienta as diretivas quanto à identidade e características do leite cru refrigerado visando aumento de produtividade e, consequentemente, qualidade dessa matéria-prima. Objetivou-se, avaliar a adequação de condições físico-químicas de leite cru refrigerado coletado em cinco propriedades leiteiras do município de Morrinhos (GO) quanto à legislação atual. O perfil físico-químico das amostras de leite atendeu parcialmente ao preconizado pela legislação. Uma das propriedades apresentou indicativo de Leite Instável não Ácido (LINA), pois houve instabilidade do leite quanto à grande formação de grumos e mudança de coloração, sendo este leite frequentemente rejeitado pelas indústrias; Duas propriedades apresentaram teor de lactose abaixo do permitido pela legislação. Portanto, é necessário a continuidade de monitoramento dessas propriedades leiteiras visando priorizar as Boas Práticas Agropecuárias por parte dos produtores a fim de contribuir para o alinhamento à legislação vigente, melhoria da qualidade do leite cru e, consequentemente, garantia de segurança dos derivados lácteos produzidos em indústrias beneficiadores de leite.
Face ao crescente consumo de pescado no país e a necessidade de disponibilizar informações sobre os níveis de contaminantes ambientais na porção muscular dos recursos pesqueiros de importância comercial, foi realizado levantamento bibliográfico em várias bases de dados, bem como, os principais documentos legais, que resultou em 319 artigos científicos, sendo apenas 64 desenvolvidos na Região Metropolitana da Baixada Santista, SP. A análise crítica das pesquisas realizadas entre 2015 e 2022 indicou que apenas 6% dos 64 artigos elencados no levantamento bibliográfico enquadraram-se na abordagem da segurança alimentar e da qualidade do alimento pescado, relacionadas à porção muscular destinada ao consumo humano, e não apontou evidencias para o risco de contaminação considerando as normas vigentes para alimentos. Revelou ainda que 48% das pesquisas abordaram os contaminantes inorgânicos (As, Hg, Cd, Pb), 16% os poluentes orgânicos (PCBs, PBDEs e pesticidas), 22% poluentes emergentes (13% para fármacos e drogas ilícitas e 9% envolvendo microplásticos), 5% estudos etnoecológicos e, 3% estudos microbiológicos. As espécies estudadas foram: corvina, pescada, sardinha, pescadinha, betara, tainha-cinzenta, maria-luiza, lírio, bagre-amarelo, mexilhões e bicuda. O arcabouço legal é amplo e vem avançando; porém, inúmeros contaminantes ambientais ainda não possuem limites legislados, sendo premente maior atenção a este fato para garantir a segurança alimentar e nutricional associada ao pescado. As evidências obtidas indicam que os benefícios à saúde humana oriundos da ingestão de pescado superam os potenciais riscos associados ao seu consumo face aos seus nutrientes, e é uma escolha acertada para promover a saúde da população.
Os resíduos de agrotóxicos podem ingressar na cadeia produtiva de alimentos de origem vegetal pela aplicação intencional, direta, nas diversas culturas, mas também pela contaminação não intencional dos recursos hídricos, do solo e do ar. Considerando-se as matérias-primas utilizadas na fabricação de cervejas, mais especificamente o malte e o processo de malteação, observou-se a remoção de resíduos de agrotóxicos, em especial para as substâncias com coeficiente de partição, log P, inferiores a 3, ou hidrofílicos. As etapas de germinação, secagem e estocagem do malte apresentaram-se como de menor impacto na remoção de resíduos e, diante dos resultados compilados, através de revisão de literatura, os agrotóxicos com características hidrofóbicas, são os que merecem maior atenção, uma vez que tendem a permanecer nos grãos do malte de cevada. No processo de fabricação de cerveja, foi evidenciada a redução dos resíduos de agrotóxicos pela adsorção no bagaço de malte e no trub, e pela decomposição térmica durante a fervura do mosto. A adsorção reportada de resíduos hidrofóbicos no bagaço de malte e no trub merece destaque, uma vez que estes subprodutos são comumente destinados à alimentação animal e, portanto, têm grande impacto na cadeia de produtiva. As etapas de fermentação, maturação e filtração apresentaram-se como de menor importância na remoção de resíduos. As estimativas da contribuição da cerveja para a ingestão diária máxima tolerável de resíduos de agrotóxicos, a partir dos resultados reportados para marcas de cervejas comerciais, são muito baixas.
Algumas espécies do gênero Acinetobacter são associadas a infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) de importância amplamente reconhecida. Infecções adquiridas na comunidade também têm sido relatadas ao longo dos últimos anos, o que vem a ser um fato preocupante, uma vez que é notório que patógenos humanos podem ser transmitidos através da cadeia alimentar. Vários alimentos de origem animal e vegetal têm sido associados à presença de Acinetobacter spp., incluindo isolados resistentes a antibióticos. A produção de biofilme tem sido elencada como um dos fatores mais importantes fatores de virulência que justificam a permanência e a disseminação de Acinetobacter spp. em diferentes ambientes, tanto associados a ambientes de assistência à saúde quanto a produção de alimentos. O controle da produção de biofilme é de suma importância para mitigar a veiculação de Acinetobacter spp., visto que a colonização de equipamentos e instrumentos hospitalares assim como a tolerância a sanitizantes empregados em indústrias alimentícias estão fortemente associados a esse fator de virulência.
O trabalho investigou a atividade antimicrobiana de nanopartículas de ZnO em relação às bactérias Escherichia coli e Staphylococcus aureus. ZnO nano foi preparada moendo ZnCl2, NaCl e Na2CO3 na proporção 1:5, 5:1 seguido de tratamento térmico, lavagem e filtração. As nanoestruturas foram caracterizadas por espalhamento de luz dinâmico (DLS), microscopia eletrônica de transmissão (TEM) e difração de raios X. O tamanho médio obtido foi de 173,15 ± 13,16 nm. A atividade antimicrobiana das nanoestruturas para S. aureus e E.coli foi determinada por meio de absorbância a 625 nm para diferentes concentrações das nanoestruturas a 37 °C por 50 h. Para o S. aureus, as concentrações 3,00 mg·mL−1, 4,50 mg·mL−1 e 5,63 mg·mL−1 promoveram diminuição significativa na absorbância em relação ao controle e as demais concentrações, de acordo com o Teste de Tukey a 5% de probabilidade, com aumento da fase lag, indicando inibição de crescimento. Para a E. coli a nanoestrutura promoveu diminuição significativa da absorbância em relação ao controle, em todas as concentrações, conforme o Teste de Tukey a 5% de significância. As concentrações de 4,50 mg·mL−1 e 5,63 mg·mL−1 levaram a maior redução na absorbância e inibição do crescimento da bactéria. Pode-se concluir que as nanoestruturas de ZnO são alternativas promissoras para controle destes microrganismos que são um problema na indústria de alimentos.
A alface (Lactuca sativa L.) é uma das hortaliças comercializadas e mais comumente degustada no Brasil. Seu consumo é in natura, pode ser encontrada em todas as feiras, supermercados, hortifrútis e sacolões. Por ser um vegetal sugerido por médicos e nutricionistas nas refeições diárias, a alface precisa estar com a qualidade apropriada para consumo. O objetivo desta pesquisa consiste em uma investigação microbiológica das alfaces crespas comercializadas nas feiras de São Luís – MA, no período de 2020 a 2021. Para as análises microbiológicas, realizou-se a diluição seriada para confirmar a presença de coliformes totais, coliformes termotolerantes e o Ágar Eosina Azul de metileno para presença da Escherichia coli. Os resultados para coliformes totais foram de 9,3×102 ≥ 1,1×104 NMP/g, para coliformes termotolerantes 3,0×103 ≥ 1,5X103 NMP/g, e houve presença de E. colinas feiras C e D com variação 3,0 ≥ 4,6×106 NMP/g. Diante destes resultados, as bancas das feiras C e D encontram-se com elevados índices de contaminação. A legislação vigente nº 161 de 2022 não estabelece critérios para coliformes totais, mas a sua presença elevada evidencia que falhas estão ocorrendo antes de chegar na casa dos consumidores. Todas as feiras precisam reforçar as Boas Práticas de Manipulação e atender aos requisitos sanitários.
Foram analisados 94 pareceres técnicos, referente a aprovação dos Manuais de Autocontrole, das empresas estabelecidas no Amazonas com Serviço de Inspeção Estadual – SIE implantado ou em fase de implantação, foram analisados 94 (noventa e quatro) Pareceres Técnicos no período o de março de 2022 a abril de 2023. Verificou-se que a responsabilização da confecção do Manual de autocontrole é do Responsável Legal e/ou Responsável Técnico da empresa. O levantamento dos dados foi realizado na Gerência de Inspeção de Produtos de Origem Animal da Agência de Defesa Agropecuária e Florestal do Estado do Amazonas– ADAF/AM, utilizando a Portaria nº 156/2021-ADAF/AM. Tal legislação contempla os 16 elementos de controle, a serem seguidos dependendo da empresa que estiver utilizando. O resultado é preocupante, visto que 77,70% dos pareceres técnicos, foram reprovados em todo ou em partes. Observou-se a necessidade de capacitação e sensibilização dos responsáveis técnicos. Nesse sentido a fiscalização do autocontrole ficará comprometido se deixar a responsabilidade com a empresa.
O Brasil tem um papel de destaque na produção de frutas, sendo a fruticultura, um importante segmento. A uva e a ameixa são duas frutas com alta perecibilidade, pois contém grande quantidade de água livre, diminuindo sua vida útil, gerando grandes perdas pós colheita. Uma forma para diminuição de perdas pós colheita é o seu processamento, transformando em fruta seca/passa. O presente trabalho teve como objetivo analisar e quantificar as sujidades encontradas em 10 amostras de passas, sendo 5 de ameixas e 5 de uvas comercializadas a granel, afim de verificar se estão dentro dos limites de tolerância da legislação vigente. Todas as 10 amostras analisadas mostraram presença de matérias estranhas, porém, dentro dos limites de tolerância. Como houve presença de fragmentos de insetos, fica um alerta para que as indústrias de alimentos intensifiquem a qualidade das Boas Práticas de Fabricação para produzir alimentos mais seguros e com menor quantidade de sujidades possíveis.
Acinetobacter spp. são bactérias extremamente relevantes em ambientes clínicos. Recentemente, elas surgiram como potenciais patógenos oportunistas de origem alimentar. Estudos sobre a tolerância de Acinetobacter spp. de origem alimentar a sanitizantes utilizados na indústria de alimentos e residências são necessários para ajudar a mitigar a contaminação dos alimentos por esses micro-organismos. Neste trabalho, isolados de saladas prontas (n = 11) e de leite de cabra cru (n = 4) foram avaliados quanto à tolerância ao ácido peracético (PAA). A Food and Drug Administration (FDA) recomenda que a concentração desse sanitizante em equipamentos e utensílios de processamento de alimentos e outros artigos em contato com alimentos não exceda 200 partes por milhão (ppm). Apenas três isolados de saladas e os quatro isolados de leite de cabra foram inibidos por concentrações mínimas inibitórias (MIC) e bactericidas (MBC) inferiores a 200 ppm de PAA. Nossos resultados demonstram, portanto, que Acinetobacter spp. isolados de alimentos podem ser tolerantes às concentrações recomendadas de PAA, o que representa um risco à saúde dos consumidores.