CARACTERIZAÇÃO DA POLPA E SEMENTES DE OITI (LICANIA TOMENTOSA (BENTH.)).
Paula Daniela Silva Alves1; Laís Chantelle de Lima2; Isabelle De Lima Brito3
1Estudante do Curso Técnico em Nutrição e Dietética – CAVN–UFPB; E-mail: [email protected], 2 Doutoranda do Departamento de Química – CCEN – UFPB. E-mail: [email protected]; 3Docente/pesquisador do Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial – CCHSA – UFPB. E-mail: [email protected].
Resumo: O Oiti (Licania tomentosa (Benth.)) é um fruto de elevado potencial nutricional, porém, ainda pouco explorado e aproveitado. O objetivo deste trabalho foi investigar a composição centesimal e o teor de pigmentos das polpas e sementes de oiti originários de Bananeiras-PB. Os frutos maduros foram selecionados quanto a sua integridade, sanitizados, secos naturalmente e congelados até o processo de secagem por liofilização e obtenção das farinhas. As amostras foram analisadas quanto à composição centesimal e os teores de flavonoides amarelos, antocianinas e carotenoides. As polpa e sementes apresentaram diferenças significativas em todos os parâmetros analisados, sendo a polpa responsável pelos maiores teores de umidade (12,17%), proteínas (5,37%), lipídeos (0,68%), cinzas (2,37%), açúcares redutores (23,20%) e totais (9,06%) e flavonoides amarelos (23,01 mg/100 mL), enquanto as sementes se destacaram quanto ao teor de carboidratos (87,48%) e antocianinas (36,59 mg/100 mL), já os carotenoides não foram encontrados nas amostras. Diante disto, os frutos de oiti apresentaram-se como matriz vegetal de elevado potencial nutricional, fonte de macro e micronutrientes e compostos bioativos. Assim, a pesquisa confirma a importância da valorização desse fruto e apoia o consumo sustentável através do seu aproveitamento integral, seja para consumo in natura ou na formulação de produtos.
Palavras–chave: Composição centesimal; Sustentabilidade; Bioativos.
INTRODUÇÃO
O Brasil é um país de grande biodiversidade e, embora as plantas sejam consideradas fontes de diversos compostos bioativos com propriedades farmacológicas, alimentares e de aplicações industriais, grande parte do potencial das espécies brasileiras são pouco exploradas (MOREIRA-ARAÚJO et al., 2019). O país tem grande diversidade de frutos com qualidades nutricionais interessantes, dentre estes o oiti (Licania tomentosa Benth.), pertencente à família Chrysobalanaceae (TEIXEIRA et al., 2019).
A licania tomentosa (Benth.), popularmente conhecida como ‘oiti’ e ‘oitizeiro’, é uma espécie arbórea, frutífera e perene, nativa da Mata Atlântica que são usadas no reflorestamento de praças, jardins, ruas e avenidas, principalmente no Norte e cidades costeiras do Brasil (MONTEIRO et al., 2012).
No Brasil, diversas espécies não tradicionais vêm sendo exploradas pela comunidade científica. Numa dieta saudável, as frutas desempenham papel de grande destaque, seja pelo simples prazer de consumi-las, seja pela saúde que proporcionam e prevenção de doenças associado a presença de vitaminas, minerais e fibras (MAHAN; RAYMOND, 2018).
Os frutos de L. tomentosa são comestíveis, apresentam polpa e casca amarelada e fibrosa, com amêndoas ricas em óleo e muito consumidas pela fauna local, não sendo comumente utilizados no agronegócio para elaboração de produtos alimentícios apesar de seu elevado potencial para exploração para consumo in natura e/ou industrialização (MOREIRA-ARAÚJO et al., 2019).
Diante desse contexto e da escassez de trabalhos relacionados às propriedades nutricionais do oiti, o presente estudo avalia a composição centesimal e o teor de pigmentos das polpas e sementes de oiti originários de Bananeiras-PB.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi desenvolvido na Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras – PB, incluindo a coleta dos frutos de oiti que foram inicialmente direcionados ao Laboratórios de Nutrição e Dietética. Os frutos de coloração amarela considerados maduros foram separados quanto a sua integridade, higienizados para remoção de sujidades, sanitizados, secos naturalmente e submetidos ao congelamento a – 8 °C (±5 °C), onde permaneceram até o início dos demais processos.
Posteriormente, as amostras foram submetidas a secagem por liofilização, em liofilizador modelo L101 (LIOBRAS, Brasil) a -52 ºC por 8 horas, durante três dias consecutivos. Após secagem, a polpa foi macerada e as sementes trituradas em um moinho de faca tipo willey modelo SL31, ambas para obtenção das farinhas. Assim, as análises foram realizadas em triplicatas segundo a AOAC (2012) para umidade, cinzas e proteínas, açúcares por Lane-Eynon, (1934), lipídeos de acordo com a metodologia de Folch et al. (1957), carboidratos pelo método de diferença, enquanto os carotenoides, antocianinas e flavonoides foram determinados seguindo a metodologia descrita por Nagata e Yamashita (1992).
As análises estatísticas foram realizadas utilizando estatística descritiva (média e desvio padrão) e inferencial (testes ANOVA, seguido pelo teste de Tukey) para determinar as diferenças (p ≤ 0,05) entre os resultados obtidos, utilizando-se o software Sigma Stat. 3.5.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da composição centesimal da polpa e das sementes de oiti estão expressos na Tabela 1 e representados pela média e desvio- padrão.
Tabela 1 – Composição Nutricional das polpas e sementes de Oiti (Licania Tomentosa (Benth.)).
a-b: Valores constituídos por média (n=3) ± desvio padrão; na mesma coluna com diferentes letras minúsculas subscritas são significativamente diferentes (p ≤ 0,05), com base no pós-teste de Student.
As polpas destacaram-se quanto aos teores de umidade (12,17%), proteínas (5,37%), lipídeos (0,68%), cinzas (2,37%), açúcares redutores (23,20%) e totais (9,06%). Estes resultados demonstram que a polpa é naturalmente fonte de macronutrientes, com destaque quanto aos teores de lipídeos e proteínas, uma vez que esses compostos normalmente são maiores em sementes que em polpas de frutos (SOUSA, 2012). Isso reforça a importância nutricional do oiti, já que proteínas e lipídeos vegetais têm sido associados a uma dieta saudável. Os maiores teores de cinzas refletem o teor de minerais da matriz vegetal estudada e estes micronutrientes estão diretamente associados a diversas funções no organismo (MAHAN; RAYMOND, 2018).
As sementes mostraram-se fontes majoritariamente de carboidratos, incluindo as fibras que segundo Medeiros et al. (2020) estão presentes nas sementes de oiti e são diretamente associadas à saúde (MAHAN; RAYMOND, 2018). Além disso, o fruto do oiti é bastante subutilizado, ainda mais as sementes, que pode ser uma alternativa viável no contexto de sustentabilidade, sendo a utilização do fruto na sua forma integral favorável na redução da fome e desnutrição da população no geral, sobretudo nas de maiores riscos nutricionais.
Quanto aos pigmentos naturais analisados nas polpas e sementes de Oiti, estes estão apresentados na Tabela 2.
Tabela 2 – Teor de pigmentos nas polpas e sementes de Oiti (Licania Tomentosa (Benth.)).
a-b: Valores constituídos por média (n=3) ± desvio padrão; na mesma coluna com diferentes letras minúsculas subscritas são significativamente diferentes (p ≤ 0,05), com base no pós-teste de Student.
Os resultados foram calculados conforme metodologia e expressos em * (mg de flavonóides amarelos/100 mL) **(mg de antocianinas totais/100 mL) e ***(mg de carotenoides /100 mL).
A polpa foi responsável pelo maior teor de flavonoides amarelos (23,01 mg/100 mL), já esperados devido a sua coloração natural, enquanto as sementes se destacaram quanto ao teor de antocianinas (36,59 mg/100 mL) e os caroteoides não foram identificados em ambas.
Os pigmentos são compostos bioativos que exercem múltiplos benefícios à saúde e atuam regulando alterações metabólicas (PIRES et al., 2021; VÁSQUEZ-REYES et al., 2021), pois possuem ação anti-inflamatórias e antioxidantes (PEI et al., 2020). Contudo são compostos que podem ser degradados parcial ou totalmente de acordo com o processamento empregado, o que pode ter acontecido com os carotenoides, uma vez que já foram reportados em frutos de oiti (MOREIRA-ARAÚJO et al., 2019).
CONCLUSÕES
Assim, a polpa e sementes de oiti apresentaram-se como matrizes vegetais de elevado potencial nutricional, o que reforça a importância da valorização do oiti quanto ao seu aproveitamento, seja na sua forma in natura ou na formulação de novos produtos alimentícios. Tendo em vista a importância da sustentabilidade e que o fruto é considerado fonte alternativa de macro e micronutrientes, além de compostos bioativos, faz-se necessário a divulgação desse fruto, diminuindo o seu desperdício.
AGRADECIMENTOS
A Universidade Federal da Paraíba por ser um espaço que privilegia e contribui para as conquistas dos estudantes e ao CNPq por despertar e encorajar os pesquisadores e pela concessão da bolsa de Iniciação Científica –Ensino Médio.
REFERÊNCIAS
AOAC. Official methods of analysis, Association of official analytical chemist 19th edition, Washington D.C., USA. 2012.
MONTEIRO, K. L; OLIVEIRA, C.; SILVA, B. M. S.; MORÔ, F. V.; CARVALHO, D. A. Caracterização morfológica de frutos, de sementes e do desenvolvimento pós-seminal de Licania Tomentosa (Benth.) Fritsc. Ciência Rural, v. 42, p. 90-97, 2012.
TEIXEIRA, N.; MELO, J. C. S.; BATISTA, L. F.; SOUZA, J. P.; FRONZA, P.; BRANDÃO, M. G. L. Review: Edible fruits from Brazilian biodiversity: A review on their sensorial characteristics versus bioactivity as ool to select research. Food Research International, v.119, p. 325-348, 2019.
PIRES Jr, E. O.; CALEJA, C.; GARCIA, C. C.; FERREIRA, I. C.; BARROS, L. Current status of genus Impatiens: Bioactive compounds and natural pigments with health benefits. Trends in Food Science & Technology, 2021.
PEI, R.; LIU, X.; BOLLING, B. Flavonoids and gut health. Current opinion in biotechnology, v. 61, p. 153-159, 2020.
MOREIRA-ARAÚJO, R. S. D. R.; BARROS, N. V. D. A.; PORTO, R. G. C. L.; BRANDÃO, A. D. C. A. S.; LIMA, A. D.; FETT, R. Bioactive compounds and antioxidant activity three fruit species from the Brazilian Cerrado. Revista Brasileira de Fruticultura, v. 41, n. 3, p. 1-8, 2019.
SOUSA, E. P.; SILVA, L. M. M.; SOUSA, F. C.; FERRAZ, R. R.; Façanha, L. M. Caracterização físico-química da polpa farinácea e semente do jatobá. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v. 7, n. 2, p. 16, 2012.
MEDEIROS, J. L.; DE ALMEIDA, T. S.; NETO, J. J. L.; ALMEIDA FILHO, L. C. P.; RIBEIRO, P. R. V.; BRITO, E. S.; CARVALHO, A. F. U. Chemical composition, nutritional properties, and antioxidant activity of Licania tomentosa (Benth.) fruit. Food chemistry, v. 313, p. 126117, 2020.
MAHAN, L. K.; RAYMOND, J. L. [tradução MANNARINO V.; FAVANO A]. Krause alimentos, nutrição e dietoterapia. 14 ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. (e-book).