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SUPLEMENTAÇÃO DE BOVINOS NO PERÍODO DAS ÁGUAS

Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2. Para acessá-lo clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-4

Este trabalho foi escrito por:

Ana Claudia da Costa*; Raquel de Mattos Cazonato; Alessandra Schaphauser Rosseto Fonseca; Jéssica Coutinho Mezzomo da Silva; Shirlei Pereira Camargo; Carla Heloisa Avelino Cabral; Carlos Eduardo Avelino Cabral

*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]

Resumo: A estratégia de suplementação de bovinos em pasto durante a época das águas visa atingir um ganho de peso adicional a partir da utilização da energia latente das gramíneas tropicais. Algumas estratégias de suplementação podem ser adotadas nesse período, elas consistem em suplementar os animais com minerais, energia e proteína em diversas proporções. Consequentemente, o objetivo com essa revisão é apresentar as estratégias disponíveis e mostrar em quais casos cada uma se adequa. O que determina o tipo de suplementação é o conhecimento do valor nutritivo do recurso forrageiro basal, principalmente a relação energia:proteína, e as necessidades nutricionais dos animais. Se a relação energia:proteína for baixa, indica-se a suplementação energética, que geralmente ocorre quando há excesso de proteína nas gramíneas, em decorrência do manejo do pasto e da adubação nitrogenada. Quando a relação energia:proteína é alta o suplemento deve conter maior teor de proteína. As restrições de proteína são mais comuns em sistemas nacionais de produção de carne bovina. No entanto, existem situações específicas, dependendo da meta de produção, em que a suplementação deve ser realizada com fornecimento de energia e proteína.

Palavras–chave: bovinos de corte; energia; gramíneas tropicais; proteína

Abstract: The supplementation strategy of cattle on pasture during the rainy season aims to achieve additional weight gain from the use of latent energy from tropical grasses. Some supplementation strategies can be adopted during this period, they consist of supplementing animals with minerals, energy and protein in different proportions. Consequently, the objective of this review is to present the available strategies and show in which cases each one is suitable. What determines the type of supplementation is the knowledge of the nutritional value of the basal forage resource, especially the energy:protein ratio, and the nutritional needs of the animals. If the energy:protein ratio is low, energy supplementation is indicated, which usually occurs when there is excess protein in the grasses, as a result of pasture management and nitrogen fertilization. When the energy:protein ratio is high, the supplement should contain a higher protein content. Protein restrictions are more common in national beef production systems. However, there are specific situations, depending on the production target, in which supplementation must be carried out with energy and protein supply.

Key Word: beef cattle; energy; tropical grass; protein

INTRODUÇÃO

O Brasil possui o maior rebanho comercial de bovinos do mundo, somado a intensificação e uso de tecnologias o país tornou-se o que mais exporta carne bovina (1). A maior parte da carne produzida é oriunda da criação de bovinos em pasto com utilização de gramíneas tropicais com recurso basal, o que confere elevada competitividade ao setor, em razão do seu baixo custo de produção. No entanto, o sistema apresenta um entrave que é a sazonalidade quantitativa e qualitativa na produção de forrageira (2,3).

As dietas de animais em pastejo dificilmente poderão ser caracterizadas como equilibradas, tendo em vista as alterações que ocorrem na forrageira, dependente da estação do ano. Sendo que no período seco há redução da concentração de proteína bruta (PB), consequentemente limitação do crescimento microbiano ruminal, que carreia em menor utilização de carboidratos fibrosos potencialmente digestíveis, e é neste momento que a forrageira possui o maior teor de fibra, tendo seu aproveitamento reduzido. Desta forma, pode ocorrer redução do consumo voluntario, consequentemente diminuindo o ganho de peso, aumentando idade de abate, comprometendo o ganho por área.

Em contrapartida, é no período das águas que a maior parte dos produtores depositam expectativas quanto à eficiência no ganho de peso dos animais, visto que nesse período as gramíneas tropicais apresentam crescimento vigoroso, e o seu valor nutritivo superior aquelas encontrados na seca. No entanto, pesquisadores apontam para um ganho potencial que pode ser obtido quando os animais são suplementados no período das águas (3).

Dessa forma, o objetivo com essa revisão é o de abordar os principais aspectos relacionados aos tipos de estratégias de suplementação que podem ser adotadas para bovinos no período das águas.

CARACTERÍSTICAS DA FORRAGEM NO PERÍODO DAS ÁGUAS

            Segundo Reis et al. (4) para avaliar a qualidade da forragem deve-se observar não somente seu valor nutricional, mas também a interação entre sua composição química, sua digestibilidade e variações no consumo pelos animais, o que resulta em diferentes resultados no desempenho dos bovinos em pastejo. Por sua vez, o consumo e a digestibilidade da forragem podem variar de acordo com o estádio de maturidade da planta, a estação do ano e a espécie forrageira.

            Velásquez et al. (5) observaram que durante o período das águas, no qual ocorre maior crescimento da planta forrageira, o espessamento da parede celular gera aumento das concentrações de fibra em detergente neutro conforme aumenta a maturidade dos tecidos vegetais, ou seja, quanto mais avançada é a idade da forrageira colhida. Dessa forma, segundo Paulino et al. (6), durante este período é importante direcionar o manejo das pastagens com objetivo de minimizar a diferenciação morfológica e a senescência nas plantas forrageiras.

            Além disso, Detmann et al. (7) ressaltam que durante o período das águas as forrageiras tropicais apresentam um desequilíbrio na relação proteína:energia, com excesso de energia, sendo recomendado o uso de programas de suplementação para garantir o equilíbrio dietético e aproveitamento máximo do potencial da forragem. Assim, para obter máximos resultados na produção animal é preciso que sejam observadas as características específicas da forragem a ser ofertada e suas relações com o manejo, consumo dos animais e o suplemento que será fornecido.

SUPLEMENTAÇÃO ENERGÉTICA

Embora o crescimento das gramíneas tropicais seja mais intenso e com valor nutritivo superior na época das águas comparado com as gramíneas durante a época das secas, para que haja um aumento significativo na taxa de crescimento anual dos animais criados em pasto é necessário que o ganho médio diário na estação chuvosa aumente cerca de 300 g/d. Esse objetivo pode ser alcançado através do fornecimento, via suplementação, do nutriente que é limitante no recurso forrageiro basal (8).

Uma das estratégias adotadas durante a estação chuvosa é a suplementação energética, que se baseia na hipótese de que a energia é o nutriente limitante nas gramíneas nesta época do ano. Um dos princípios que fundamentam a utilização dessa estratégia é que diferente da época de restrição hídrica, as gramíneas não são consideradas deficientes em PB, visto que o crescimento microbiano e a otimização da digestibilidade dos carboidratos fibrosos ocorrem quando a dieta possui pelo menos 7% de PB (9) e a quantidade de proteína das gramíneas tropicais na época das águas varia de 7 a 13,5% MS (10).

Outro ponto importante diz respeito ao perfil da PB das gramíneas na estação chuvosa, que possui alta concentração de nitrogênio não proteico (NNP) e proteína insolúvel em detergente neutro (PIDN) (5). O NNP é rapidamente degradado no rúmen, ao contrário da FDN, que possui lenta e incompleta digestão (11). Logo, a disponibilidade de energia da degradação da FDN é mais lenta do que a disponibilização do N do NNP, e essa falta de sincronia entre N e energia reduz a assimilação de nitrogênio pelos microrganismos, e consequentemente, a síntese de proteína microbiana ruminal. Diante disso, a suplementação energética com carboidratos não fibrosos de rápida digestão aumentaria a quantidade de energia prontamente disponível no rúmen e resolveria o problema da falta de sincronia com o NNP.

            Ramalho (10) encontrou GMD de 200 g/d extra ao fornecer suplemento energético na proporção de 0,6% PC para bovinos recriados em pasto de capim colonião manejados em lotação rotacionada. Costa (12), por sua vez, encontrou ganho extra de 400 g/d ao utilizar suplementação energética na proporção de 0,6% PC para bovinos criados em pasto marandu em lotação rotacionada. Nesses estudos, as possíveis explicações para os efeitos benéficos da suplementação energética estão relacionadas ao aumento do aporte de energia no rúmen e da proteína metabolizável que chega ao intestino ou a combinação desses dois fatores

            Poppi e McLennan (8) acreditam que a relação entre proteína bruta e matéria orgânica digestível (MOD) da dieta exerce papel fundamental na eficiência do metabolismo proteico. Segundo os autores, quando o teor proteico da dieta for inferior a 160 g de PB por kg MOD o fluxo da proteína microbiana, proteína não degradável no rúmen e proteína endógena para o intestino são realizadas com eficiência. Quando o teor de proteína excede 210 g de PB por kg MOD ocorrem perdas de N ruminal resultando em menor fluxo de PB para o intestino, o que diminui a eficiência do metabolismo proteico.

            Vale ressaltar que a concentração de PB presente nas forragens utilizadas nos experimentos (15 a 17% PB) muitas vezes não condiz com o encontrado na maioria dos sistemas de produção, e por isso, os ganhos com a suplementação energética se mostraram bem pronunciados. Por outro lado, considerando a importância do nitrogênio para o crescimento das gramíneas, a adubação nitrogenada de manutenção é indicada para as forrageiras tropicais (13). Contudo, em sistemas menos intensivos, em que talvez a adubação nitrogenada não seja praticada, a proteína pode não ser um nutriente em excesso e sim limitante mesmo na época das águas.

            Existe uma outra linha de raciocínio contrária a utilização da suplementação energética nas águas. Segundo Detmann e colaboradores (3), a afirmação de que na época da seca a proteína é limitante e na época das águas o nutriente deficiente é a energia não tem respaldo científico, como também, não leva em consideração a avaliação em conjunto da qualidade nutricional do pasto (principalmente o teor de PB) e exigências nutricionais dos animais. Ainda de acordo com os autores, a quantidade de PB encontrada nos capins na época das águas são maiores do que o mínimo para promover o crescimento microbiano, o que indica que as limitações para utilização adequada dos recursos forrageiros basais estão além das restrições do crescimento microbiano.

            Avaliações da relação NDT:PB em gramíneas tropicais sobre sistema contínuo, demostram que a relação é superior a exigida pelos animais (3), sugerindo que na época das águas há um excesso de NDT. Portanto, a suplementação energética agravaria esse quadro levando os animais a um desconforto metabólico causado pelo excesso de energia, que pode acarretar diminuição do consumo diário de matéria seca causado pelo aumento da produção de calor corporal e necessidade de eliminar o excedente de energia (8; 3).

            Lazzarini e colaboradores (14) ao avaliar os efeitos da suplementação com amido na época das águas sobre o desempenho nutricional de bovinos nelore, verificaram que a suplementação com amido diminuiu a digestibilidade da FDN, o que pode indicar diminuição na utilização da fibra no rúmen. A diminuição da utilização ruminal da fibra, teoricamente, causaria um aumento no enchimento ruminal e consequentemente redução no consumo.

            Assim, a suplementação energética na época das águas pode ser benéfica em sistemas intensivos de criação, onde o manejo da pastagem junto com a adubação proporciona elevado teor de PB nas gramíneas. Enquanto em sistemas menos intensificados a suplementação energética pode não apresentar melhoria ou pode até reduzir o desempenho dos animais pelo fornecimento excessivo de energia comparado ao aporte de PB. No geral, é necessário conhecer a composição da forragem ofertada para os animais em pastejo, especialmente a relação NDT:PB, juntamente com as exigências nutricionais dos animais para melhor determinar a estratégica a ser adotada que vise otimizar a utilização dos recursos forrageiros basais, o desempenho animal e a lucratividade.

SUPLEMENTAÇÃO PROTEICA

A estação chuvosa é caracterizada pela alta precipitação pluviométrica, radiação solar e temperatura. Essas características são favoráveis ao desenvolvimento das plantas forrageiras de clima tropical, resultando em acúmulo de forragem neste período, geralmente com maior concentração de proteína bruta (PB) e menores concentrações de componentes fibrosos em relação as demais estações do ano, permitindo que animais em pastejo apresentem melhores desempenhos.

Por outro lado, do ponto de vista nutricional existem alterações na qualidade do material ingerido durante esse período. Tal fato está relacionado ao aumento na concentração de tecidos de sustentação e, consequentemente, maiores valores de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN), decorrente do avanço na idade fisiológica dos tecidos (15).

Forrageiras de clima tropical apresentaram percentuais de digestibilidade que variaram de 57,8 % a 67,4 % e PB de 7,9 a 17,4 % da matéria seca (MS) (16). Considerando os inúmeros sistemas de produção que variam conforme a espécie ou cultivar forrageiro, características físicas e químicas do solo, adubação, intensidade e manejo do pastejo e condições climáticas estima-se que tais variações nas relações de PB e matéria orgânica digestível sejam ainda maiores, influenciando diretamente na resposta animal.

Portanto, mesmo em condições de pasto bem manejado, com oferta de forragem em quantidade e qualidade ainda é possível que a composição química da forrageira não atenda o requerimento nutricional do animal para o seu máximo potencial de ganho.

A recria é caracterizada pela melhor eficiência biológica dos animais quanto a deposição de tecidos corporais, comparada com a fase de terminação, assim o potencial de produção de animais nesta fase deve ser explorado. Nesse período, são esperados ganhos superiores aos da estação seca, considerando a quantidade e qualidade da forragem disponível (17). Portanto, a suplementação proteica no período chuvoso pode ser uma tecnologia que permite aumentar o desempenho de animais, reduzindo ainda mais a idade de abate ou a primeira cria.

No Brasil, segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (18) um suplemento proteico é classificado como aquele que contém na sua composição macro e/ou micro minerais, no mínimo 20 % de proteína bruta e fornece no mínimo 30 g de proteína bruta por cem quilos de peso corporal.

A utilização de suplementos contribui para estimular o consumo de forragem, melhorar a digestibilidade da dieta, a síntese de proteína microbiana através da utilização da amônia produzida no rúmen e fornecer os nutrientes necessários aos animais (19). A determinação do desempenho esperado influenciará na escolha do tipo de suplemento a ser utilizado, onde o uso do suplemento proteico é indicado quando há aumento na massa de forragem e no conteúdo de fibra e redução no teor proteico (17).

O uso da suplementação com proteína mostrou efeito pronunciado em condições de alta oferta de forragem e baixo conteúdo de proteína (Tabela 1). Não foi observado resposta apenas na condição de baixo teor de fibra e alto conteúdo de proteína, que nas condições brasileiras em pastagens com gramíneas tropicais dificilmente é encontrado. Assim, quanto menor o valor nutritivo do pasto maior a probabilidade de resposta a suplementação proteica no verão (20).

A máxima eficiência na síntese microbiana é atingida quando é verificado 160 g de proteína degradável (PD) por quilo de matéria orgânica (MO) fermentável, enquanto valores da ordem de 210 g de PD/kg de MO fermentável resultam em apreciável perda de nitrogênio (8). Por outro lado, dietas com 12% de PB no verão possibilitam melhor utilização dos recursos nutricionais basais, devido a correção dos níveis de compostos nitrogenados no rúmen (3).

Pesquisas evidenciam o efeito positivo da suplementação proteica na quantidade de 0,1% do peso corporal sobre o desempenho dos animais no verão (Tabela 2), com ganho médio diário adicional que variam de 0,104 a 0,180 kg/dia, mesmo em forragens com valores de PB próximos de 12%.

Durante a época das águas, mesmo com a melhoria do valor nutricional das pastagens, a suplementação proteica tende a melhorar a utilização dos nutrientes no rúmen, a possibilitar a sincronia entre proteína e energia. Sendo assim, a utilização de suplementos, além de suprir o nutriente limitante do pasto, possibilita melhorar a utilização dos nutrientes do pasto (26) e promove ganho adicional aos animais, uma vez que existe um ganho latente durante a estação do verão que pode atingir 200 g/ animal/ dia e que deve ser explorado (27).

Analisando os resultados das estratégias de suplementação apresentados na Tabela 2, propostas por Roth (24) e Moretti (23), durante a fase de recria de tourinhos nelore à pasto no verão, verificou-se que o uso do suplemento proteico possibilitou ganhos em peso de 28% e 15% superiores em relação aos animais suplementados apenas com suplemento mineral (0,637 kg/dia e 0,696 kg/dia), respectivamente.

Manella et al. (28) avaliaram o desempenho de bovinos nelore a pasto recebendo suplementação alimentar proteica na estação seca e das águas e observou que a suplementação proteica no período das águas promoveu ganhos médios de 0,782 kg/d, sendo superior ao ganho obtido no período das secas (0,486 kg/d). Outros autores (8, 11, 12 e 13) também relataram ganhos expressivos quando fornecida uma suplementação proteica no período das águas.

Considerando que a busca pelo equilíbrio da relação energia/proteína promove o aumento da ingestão voluntária, o uso da suplementação proteica no verão proporciona a adição da proteína verdadeira no ambiente ruminal e a regularidade de consumo de minerais e aditivos presentes no suplemento, promovendo o ganho adicional (3).

Dessa forma, fica evidente a importância das interações entre estratégias de suplementação com o pasto e seus efeitos sobre o desempenho animal. Ainda, o contexto econômico e comercial deve ser considerado nos programas de suplementação no verão, pois dependendo das metas a serem conquistadas pode envolver elevado investimento de capital.

SUPLEMENTAÇÃO PROTEICO ENERGÉTICA

No que diz respeito a suplementação proteico energética duas principais metas são esperadas, a primeira é a de reduzir ou eliminar os entraves nutricionais, enquanto a segunda tem como objetivo alcançar metas especificas de produção animal (3). A estratégia de fornecer energia e proteína através do suplemento visa atender uma meta específica de ganho de peso durante o ano (29). A suplementação proteico energética também é conhecida como mistura ou suplemento múltiplo (30).

No Brasil, segundo o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (18) um suplemento mineral proteico energético é classificado como aquele que contém na sua composição macro e/ou micro minerais, no mínimo 20 % de proteína bruta e fornece no mínimo 30 g e 100 g de proteína bruta e nutrientes digestíveis totais por cem quilos de peso corporal, respectivamente. Desta forma, suplemento energético e suplemento proteico energético constituem aqueles suplementos que são fornecidos em maior proporção (% do PC) quando comparado com suplemento proteico.

Costa et al. (31) avaliou os efeitos de diferentes suplementos nitrogenados (proteína e não proteica) e carboidratos (amido e fibra solúvel) na quantidade de 3 g/kg de PC verificaram que o consumo de pasto diminuiu com a suplementação, com taxa média de reposição de 2,11 g de MS de pasto/g de MS. Ainda neste estudo verificou-se que suplementação proteico energética não aumentou os coeficientes de digestibilidade e produção de proteína microbiana, indicando que a suplementação proteico energética não apresenta resultados benéficos além de diminuir o consumo do pasto. Essa variação entre o observado e o esperado pode ser explicada pelo efeito associativo (interação entre os componentes da dieta) do suplemento sobre o consumo de forragem e energia disponível da dieta (32).

Contudo, outros autores como Lazzarini e colaboradores (15) ao avaliaram os efeitos da suplementação proteica, energética e proteico energética de bovinos na estação das águas perceberam que a suplementação conjunta de nitrogênio e amido aumentou a digestibilidade da matéria orgânica, o que indica entre os compostos se interagem modificando sua utilização ruminal. De acordo com os autores, a diminuição da quantidade de nitrogênio amoniacal verificado nos animais que receberam suplementação proteico energética indica uma melhor assimilação da proteína adicional quando o amido esteve presente.

Fernandes et al. (33) também verificaram efeitos benéficos da suplementação proteica energética. Os autores observaram melhoria no consumo dos nutrientes e aumento da eficiência do uso do pasto, com consequente melhoria no ganho de peso (1,06 vs 0,77 kg/d) para os animais que receberam a suplementação na proporção de 0,6% PC comparado com os animais não suplementados. A suplementação proteico energética pode causar efeito aditivo através do consumo total de matéria seca, o que reflete em maior aporte de nutrientes cominando em maior desempenho nutricional (34).

CONCLUSÕES

A escolha da estratégia de suplementação a ser adotada na época das águas precisa estar apoiada no valor nutritivo da forrageira e necessidade nutricional dos animais para determinada meta de ganho.

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