POTENCIAL PRODUTIVO DOS PRODUTORES DE LEITE DO SUDESTE PARAENSE
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-43
Este trabalho foi escrito por:
Rosilene da Costa Porto de Carvalho1; Flavia Naiane de Macedo Santos2; Thanna Aryella Martins de Carvalho3; Cibelle Christine Brito Ferreira4 ;Caio Felipe Cavalcante Dantas5; Mariuza Barbosa da Silva Neiva6
1 – IFPA – Campus Conceição do Araguaia
2 – IFPA – Campus Conceição do Araguaia
3 – CEULP/ULBRA – Centro Universitário Luterano de Palmas
4 – IFTO – Campus Avançado Lagoa da Confusão
5 – UNITINS – Universidade Estadual do Tocantins
6 – IFPA – Campus Conceição do Araguaia
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email:[email protected]
Resumo: A busca por mecanismos que viabilizem o aumento da renda dos produtores é de suma importância para a cadeia produtiva do leite. Neste contexto nota-se a importância de se conhecer e mapear as áreas com potencial produtivo de uma região. O presente trabalho objetivou-se em apresentar os resultados de uma pesquisa realizada com 20 produtores de leite do município de Conceição do Araguaia/Pará para compreender o potencial produtivo dessa amostra de produtores. Para atingir esse objetivo, foi elaborado um questionário contendo 15 perguntas direcionadas a cadeia produtiva do leite e posteriormente foi realizado a aplicação do questionário para 20 produtores/as de leite da região por telefone e pessoalmente, contato esse adquirido por meio de vizinhos e também através da Empresa de Assistência Técnica Rural (EMATER). Diante das informações fez-se a análise e interpretação dos dados coletadas. O perfil dos/as entrevistados/as no município correspondem a pequenos/as produtores/as familiares, em sua maioria de baixa escolaridade, os animais em geral são ordenhados de forma manual e a maioria dos entrevistados receberam assistência técnica e tiveram acesso a crédito rural nos últimos doze meses. De acordo com as informações obtidas através das entrevistas com os produtores, a bovinocultura de leite sofre gargalos que precisam ser solucionados, um deles é o preço do leite que ainda é muito baixo para os produtores que comercializam para os laticínios. Outro fator são os custos com insumos, sendo que no período de seca é necessário mais gastos por parte do produtor para que ele consiga manter a produção.
Palavras–chave: Agricultura familiar; Alimento; Cadeia; Caraterização
Abstract: The search for mechanisms that make it possible to increase the income of producers is of paramount importance for the milk production chain. In this context, it is important to know and map the areas with productive potential in a region. The present work aimed to present the results of a survey carried out with 20 milk producers in the municipality of Conceição do Araguaia/Pará to understand the productive potential of this sample of producers. To achieve this objective, a questionnaire was prepared containing 15 questions directed to the milk production chain and later the questionnaire was applied to 20 milk producers in the region by telephone and in person, this contact acquired through neighbors and also through of the Rural Technical Assistance Company (EMATER). In view of the information, the analysis and interpretation of the data collected was performed. The profile of the interviewees in the municipality corresponds to small family producers, most of them with low education, the animals are usually milked manually and most of the interviewees received technical assistance and had access to rural credit. in the last twelve months. According to information obtained through interviews with producers, dairy cattle suffer from bottlenecks that need to be solved, one of which is the price of milk, which is still very low for producers who sell to dairy products. Another factor is the costs with inputs, and in the dry period it is necessary to spend more on the part of the producer so that he can maintain production.
Key Word: Family farming; Food; Chain; Characterization
INTRODUÇÃO
O leite é produzido no mundo todo, é um alimento considerado completo por possuir vários nutrientes benéficos a saúde sendo essencial para alimentação humana. Tanto no ambiente produtivo como no econômico pode-se observar a grande importância mundial dessa cadeia, principalmente em países considerados em desenvolvimento e que adotam o modelo de agricultura familiar. Nas últimas três décadas, a produção mundial de leite teve um aumento superior a 50%, chegando a 769 milhões de toneladas em 2013 (1).
A cadeia produtiva leiteira é uma das principais atividades econômicas do Brasil, contribui na geração de emprego e renda. A atividade estar presente em quase todos os municípios brasileiros, são milhares de produtores envolvidos no campo, gerando milhares de empregos nos demais setores da cadeia. No ano de 2019, o valor total bruto da produção primária foi estimado em quase R$ 35 bilhões, ficando com o sétimo maior valor dentre os produtos brasileiros (2).
A atividade leiteira é segmento relevante para o desenvolvimento econômico e social de diversas regiões brasileiras, contribuindo para a permanência do homem no campo, o que reduz a pressão social nos centros urbanos, minimizando dessa maneira o desemprego e a exclusão social (3).
Conforme Oliveira et. (4), a elevada diversidade socioeconômica, cultural e climática que caracteriza os sistemas de produção geram a necessidades de estudos regionais sobre a produção leiteira, colaborando com isso o fato de que a pecuária desse segmento se evidencia em mais de 80% dos municípios brasileiros. Com a finalidade de caracterizar a produção leiteira no Brasil e suas particularidades em cada região surge estudos que são imprescindíveis para o setor.
Neste contexto nota-se a importância de se conhecer e mapear as áreas com potencial produtivo de uma região. O presente trabalho objetivou-se em apresentar os resultados de uma pesquisa realizada com 20 produtores de leite do município de Conceição do Araguaia para compreender o potencial produtivo dessa amostra de produtores. E a partir dessa abordagem e das particularidades do município de Conceição do Araguaia, surgiu a necessidade de entender e caracterizar o potencial produtivo dos produtores de leite da região.
MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi desenvolvida a partir do interesse dos alunos do curso de Engenharia de Agronômica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Estado do Pará – Campus de Conceição do Araguaia, no período de agosto a novembro de 2021. As técnicas usadas para coleta de dados foram: observações da realidade da comunidade e conversas informais, questionários com a finalidade de assimilar informações em relação aos aspectos econômicos e sociais dos produtores. Os dados foram avaliados e tabulados conforme as técnicas de tratamento necessárias (Excel 2016). Também foi garantida a liberdade de recusarem a participar em qualquer fase da pesquisa, sem qualquer prejuízo. Dessa forma, foram considerados os critérios da ética na pesquisa com Seres Humanos segundo Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde – Brasília-DF, pois serão obedecidos em todos os procedimentos na investigação. O estudo é considerado descritivo de cunho quantitativo e qualitativo desenvolvido por meio de estudo de caso, considerando as seguintes etapas:
Pré – campo: Pesquisa bibliográfica pertinente ao tema do estudo.
Campo: Elaboração e aplicação de questionários. O instrumento para o levantamento das informações foi o questionário com questões fechadas de múltipla escolha em forma de entrevista aos produtores. Para atingir esse objetivo, foi elaborado um questionário contendo 14 perguntas direcionadas a cadeia produtiva do leite e posteriormente foi realizado a aplicação do questionário para 20 produtores/as de leite da região de Conceição do Araguaia por meio de visitação a campo e também por telefone, contato esse adquirido por meio de vizinhos e também através da Empresa de Assistência Técnica Rural (EMATER) onde a mesma mantém uma lista atualizada dos produtores de leite da região. Diante das informações fez-se a análise e interpretação dos dados coletadas.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O questionário aplicado aos produtores de leite de Conceição do Araguaia, teve como finalidade entender os aspectos gerais da unidade produtiva desses produtores de leite.
Dos vinte produtores entrevistados, quinze são homens e cinco são mulheres, sendo que todos possuem como atividade principal a bovinocultura de leite, no qual, predomina a ordenha manual (Gráfico 1). A produção diária é variável entre os produtores (Gráfico 2), a menor produção é 40 litros e a maior corresponde a 250 litros de leite que é conseguida por apenas um produtor, 30% dos bovinocultores de leite conseguem produzir de 101 a 150 litros diários.
A quantidade de leite que é produzida por dia pode sofrer alterações, pois têm produtores que dispõem de maior número de vacas ordenhadas que outros (Gráfico 3) e as raças utilizadas diferem entre os estabelecimentos, como por exemplo, alguns possuem vacas girolando (uma raça sintética resultante de cruzamento das raças Holandesa com a Zebuína Gir e possui excelente aptidão para leite) e outras mestiças.
Os principais elementos que pesam sobre a produção de leite são a genética do animal e a alimentação, este último é um fator importantíssimo, pois nos períodos chuvosos o animal tem a pastagem abundante para consumir e durante o período de menor disponibilidade de água as forrageiras secam, pois sofrem com as condições ambientais demorando mais tempo para acontecer a rebrota, consequentemente o animal fica com a alimentação comprometida, por isso, a quantidade de leite também tende a diminuir nesse período, obrigando o produtor recorrer à utilização de ração, concentrado, silagem, etc., para que o animal não venha a sofrer com falta de alimento e a produção não caia drasticamente no decorrer do ano.
Os gastos com ração e concentrado pelos produtores de Conceição do Araguaia estão descritos no (Gráfico 4). Os valores demandados mensalmente com a compra desses produtos vão de 100 a 300 reais e 50% dos produtores gastam em torno de 200 a 250 reais com a compra desses insumos.
O tamanho das propriedades é variável, sendo o menor estabelecimento com 2 ha e o maior com 87 ha. Percebe-se a partir das informações do Gráfico 5 que 12 propriedades possuem até 30 ha, 5 propriedades têm 60 ha e 3 estabelecimentos possuem área superior a 60 ha, dessa forma, pode-se compreender que se trata de pequenos produtores rurais.
No que se refere ao percentual da área utilizada por unidade produtiva (Gráfico 6), 15 estabelecimentos são explorados de 81 a 100% da sua área, desse total 4 produtores utilizam 100% da área com a atividade produtiva.
Com relação à distância da propriedade até a cidade (Gráfico 7), 70% dos estabelecimentos produtivos estão entre 1 a 40 km de Conceição do Araguaia, a menor distância é 8 km e a maior 100 km. A proximidade com a cidade facilita o acesso e o escoamento dos produtos e matéria prima.
O gráfico 8 traz informações a respeito das idades dos/as produtores/as de leite, onde percebe-se que a maioria tem entre 41 a 60 anos (75%). Já em relação ao grau de escolaridade 8 pessoas possuem apenas o ensino fundamental incompleto até o 5° ano, sendo que de uma amostragem de 20 pessoas apenas 2 cursaram o ensino superior, demonstrando assim um baixo nível de escolaridade, pois mais de 65% dos entrevistados concluíram ou não o ensino fundamental (gráfico 9).
O gráfico 10 corresponde ao número de pessoas que trabalham na unidade produtiva (UP), esse número varia de 1 a 5 e refere-se aos integrantes da família dos produtores, pois a mão de obra predominante para a realização das atividades é a familiar.
A forma de comercialização do leite pelos produtores pode ser de diferentes meios. Dez produtores, que correspondem a 50% dos entrevistados, entregam o leite para a indústria/agroindústria que nesse caso, se refere aos laticínios da região, 7 vendem no comércio local, 1 no comércio local e feira e 2 produtores comercializam diretamente com o consumidor final (Gráfico 11). Os preços de venda do leite variam de 1,50 a 4,50 reais (Gráfico 12), sendo que os menores valores chegam até dois reais e são pagos pelos laticínios, já o maior preço do litro de leite corresponde a 4,50 reais e a comercialização é feita diretamente ao consumidor final.
Dos vinte produtores entrevistados, 60% recebem assistência técnica rural, (Gráficos 13) e 65% teve acesso a crédito nos últimos 12 meses (Gráfico 14).
CONCLUSÕES
O perfil dos/as entrevistados/as no município de Conceição do Araguaia – PA corresponde a pequenos/as produtores/as familiares, em sua maioria de baixa escolaridade, que ordenham de forma manual os animais e que recebem assistência técnica e tiveram acesso a crédito rural nos últimos doze meses.
De acordo com as informações obtidas através das entrevistas com os produtores, a bovinocultura de leite sofre gargalos que precisam ser solucionados, um deles é o preço do leite que ainda é muito baixo para os produtores que comercializam para os laticínios. Outro fator são os custos com insumos, sendo que no período de seca é necessário mais gastos por parte do produtor para que ele consiga manter a produção.
REFERÊNCIAS
- FAO – Food and agriculture organization of the united states nations. Dairy production and products: milk production. 2016. [Acesso em: 2021 nov 15]. Disponível em: < https://www.fao.org/dairy-production-products/en/#.V3AZwbgrLIV >.
- Brasil. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Valor Bruto da Produção Agropecuária. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Brasília, DF, 2019. [Acesso em: 2021 nov 15]. Disponível em: .
- Fratari, M. F., & de Matos, P. F. (2019). A importância da pecuária leiteira para a agricultura familiar nas comunidades rurais de Ituiutaba (MG). Espaço em Revista, 21(1), 138-152.
- Oliveira, A. S. D., Cunha, D. D. N. F. V. D., Campos, J. M. D. S., Vale, S. M. L. R. D., & Assis, A. J. D. (2007). Identificação e quantificação de indicadores-referência de sistemas de produção de leite. Revista Brasileira de Zootecnia, 36, 507-516.
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