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INFLUÊNCIA DO LANÇAMENTO DE DESPEJOS AGROINDUSTRIAIS NO TRATAMENTO DE EFLUENTES EM ESTAÇÕES DO ALTO OESTE POTIGUAR

Capítulo de livro publicado no livro do VIII ENAG E CITAG. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/786585062046-23

Este trabalho foi escrito por:

Maximiliano Bezerra de Queiroz *; Francisco Vieira Sales Junior ; Luciene Xavier de Mesquita Carvalho ; Emanuel Neto Alves de Oliveira ; Francisca Kariny da Silva Calixto ; Laura Rodrigues Soares Neta ; Juliana Mary Bezerra Silva

*Autor correspondente (Corresponding author) – Email:[email protected]

Resumo: Com o crescimento populacional e industrial ao longo dos anos ocorreram as muitas transformações da sociedade, que de forma acelerada contribuiu para o aumento das problemáticas sociais e ambientais, como a poluição ambiental e a escassez dos recursos naturais, causando impacto negativo para a manutenção e reprodução dos organismos vivos e desequilíbrio no ecossistema. De maneira geral os esgotos sanitários possuem mais de 98% de sua composição constituída por água, porém, há contaminantes entre os quais se destacam: sólidos suspensos, compostos orgânicos, nutrientes, metais, sólidos dissolvidos inorgânicos, sólidos inertes, sólidos grosseiros, compostos não biodegradáveis, organismos patogênicos, e ocasionalmente, contaminantes tóxicos decorrentes de atividades industriais ou acidentais. As lagoas de estabilização existentes no Alto Oeste Potiguar, não somente a operação e manutenção são importantes quando o objetivo é a eficácia operacional nestas modalidades de tratamento, mas também os parâmetros de projetos e as etapas construtivas que elas solicitam. É importante que o gerenciamento ambiental do RN, crie Programas de Monitoramentos no mínimo mensais para os principais parâmetros de importância ambiental e sanitária, conforme legislação e ainda que os órgãos responsáveis incentivem a prática de reuso de maneira tecnicamente saudável dentro de uma visão sanitária.

Palavras–chave: Abatedouro; Águas residuárias; Lagoa de estabilização;

Abstract: With the population and industrial growth over the years, there have been many changes in society, which in an accelerated way contributed to the increase of social and environmental problems, such as environmental pollution and the scarcity of natural resources, causing a negative impact on the maintenance and reproduction of living organisms and imbalance in the ecosystem. In general, sanitary sewage has more than 98% of its composition constituted by water, however, there are contaminants, among which the following stand out: suspended solids, organic compounds, nutrients, metals, inorganic dissolved solids, inert solids, coarse solids, biodegradable substances, pathogenic organisms, and occasionally, toxic contaminants arising from industrial or accidental activities. The stabilization ponds existing in Alto Oeste Potiguar, not only the operation and maintenance are important when the objective is the operational effectiveness in these treatment modalities, but also the parameters of projects and the constructive stages that they request. It is important that the environmental management of the RN, create Monitoring Programs at least monthly for the main parameters of environmental and sanitary importance, according to legislation and that the responsible bodies encourage the practice of reuse in a technically healthy way within a sanitary vision.

Keywords: Slaughterhouse; Wastewater; Stabilization pond;

INTRODUÇÃO

Com o crescimento populacional e industrial ao longo dos anos ocorreram as muitas transformações da sociedade, que de forma acelerada contribuiu para o aumento das problemáticas sociais e ambientais, como a poluição ambiental e a escassez dos recursos naturais, causando impacto negativo para a manutenção e reprodução dos organismos vivos e desequilíbrio no ecossistema.

Silva (1), “O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de toda a natureza, o artificial e o original, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, paisagístico e arquitetônico. O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas”.

Considerado como recursos abundantes e sendo um bem livre, o meio ambiente foi e vem sendo explorado indevidamente, sem a consciência de que os recursos naturais sofressem alterações em seus cursos e que essa apropriação dos bens comuns poderia afetar o ar, a água e solo. As consequências das atividades humanas à natureza são a escassez dos recursos e a poluição desses meios.

Águas residuárias: Gerenciamento e tratamento

Pensando em manutenção desses recursos, há uma crescente preocupação no que se refere a tratamento e reutilização de águas residuais. Com o tratamento adequado e fiscalização em todos os processos, essa água pode ser utilizada para plantio de alguma cultura. Uma das fontes poluidoras no Brasil, são as agroindústrias. Nessa categoria pode-se citar os matadouros e indústrias de processamento de carne que são conhecidos pelo alto potencial poluidor (2).

Sperling (3) recomenda para águas residuárias de origem doméstica que os valores de DQO devem estar entre a faixa de 400 a 800 mg O² L-1. Por outro lado, segundo Aguilar (4) o efluente dos matadouros possui uma elevada vazão e grande carga de sólidos em suspensão, nitrogênio orgânico e uma DBO de 4.200 mg L-1 em média, dependendo do reaproveitamento ou do tratamento do efluente. Sua decomposição começa em poucas horas e formam mal odores, que tornam difícil a respiração nos arredores desses estabelecimentos (5).

Para que esse tipo de efluente atinja o padrão requerido para ser lançado em corpos hídricos, deve-se proceder ao seu adequado tratamento. A evolução dos sistemas de tratamento de efluentes agroindustriais tem disponibilizado tecnologias eficientes para a remoção da carga orgânica (6), podemos citar as lagoas de estabilização e reatores UASB como métodos de remoção de carga orgânica. Segundo Sousa et al. (7) as utilizações de lagoas de estabilização figuram entre os melhores métodos de tratamento de efluentes, principalmente quando esse efluente possui o objetivo de ser aplicado na agricultura.

As águas residuais podem ser lançadas em corpos hídricos volumosos e perenes, que podem auto depurar a carga recebida sem maiores prejuízos, porém vários corpos hídricos que margeiam as cidades brasileiras vêm recebendo, indevidamente, constantes cargas de material orgânico e mineral, superando sua capacidade de autodepuração. Isto faz com que as águas receptoras se tornem impróprias a vários tipos de uso (abastecimento doméstico, comercial ou agrícola, recreação etc.). Em vista disso, é muito importante considerar a capacidade de assimilação dos rios e impedir o lançamento de efluentes tratados em vazão superior à que o corpo d’água possa suportar.

Em relação ao tratamento de efluente na Lei Nº 11.445/2007 no Art. 44° em seu parágrafo 2º, institui que:

A autoridade ambiental competente estabelecerá metas progressivas para que a qualidade dos efluentes de unidades de tratamento de esgotos sanitários atenda aos padrões das classes dos corpos hídricos em que forem lançados, a partir dos níveis presentes de tratamento e considerando a capacidade de pagamento das populações e usuários envolvidos (8).

Já no Art. 46° desta mesma Lei, estabelece providências econômicas em caso de pouca disponibilidade da água que dispõe que em situação crítica de escassez ou contaminação de recursos hídricos que obrigue à adoção de racionamento, declarada pela autoridade gestora de recursos hídricos, o ente regulador poderá adotar mecanismos tarifários de contingência, com objetivo de cobrir custos adicionais decorrentes, garantindo o equilíbrio financeiro da prestação do serviço e a gestão da demanda.

Logo, o ideal é gerenciar os recursos com a finalidade de evitar que chegue ao ponto de lançar a condição de contingência, para isso, é necessário promover uma adequada política de gerenciamento com a finalidade de maximizar os programas e projetos que acerca a gestão de recursos hídricos.

Parâmetros de Qualidade de Esgotos

De maneira geral os esgotos sanitários possuem mais de 98% de sua composição constituída por água, porém, há contaminantes entre os quais se destacam: sólidos suspensos, compostos orgânicos, nutrientes, metais, sólidos dissolvidos inorgânicos, sólidos inertes, sólidos grosseiros, compostos não biodegradáveis, organismos patogênicos, e ocasionalmente, contaminantes tóxicos decorrentes de atividades industriais ou acidentais.

Conhecer os parâmetros nos traz a possibilidade de identificar e confrontar com os dados obtidos na pesquisa, visualizando os impactos que podem ser causados ao meio ambiente. Tais parâmetros são definidos pela legislação que por sua vez impõe limites.

O esgoto que chega nas estações pode ser definido em 3 tipos: doméstico ou sanitário, infiltrações e ligações clandestinas e as advindas das águas fluviais.

            No que se refere a qualidade, pode ser definida em parâmetros físico-químicos e biológicos. Para Viterbo (9), a qualidade dos esgotos é representada por características intrínsecas, geralmente mensuráveis, estas características, quando mantidas dentro de certos limites, viabilizam seu uso ou descarte.

Parâmetros físicos

Caracterizam- se principalmente por substâncias fisicamente separáveis dos líquidos, ou que não se encontram dissolvidas. Segundo Alegre (10), para a determinação dos parâmetros físicos, é necessária a determinação das seguintes características: cor, turbidez, temperatura e sólidos.

Cor e Turbidez

 A cor é causada por matéria orgânica em solução na água, enquanto a turbidez é causada pela presença de matéria em suspensão. A cor é indicativa da condição de chegada dos esgotos à ETE; será uma tonalidade marrom ou cinza no esgoto fresco, negro no esgoto em estado séptico (11).

Temperatura

A temperatura é um parâmetro físico que afeta a saturação de oxigênio dissolvido, as taxas de reações biológicas e das reações químicas. Enquanto a concentração de saturação de oxigênio dissolvido diminui com o aumento da temperatura, a atividade biológica cresce com o seu aumento. Segundo Pessoa e Jordão (11), uma faixa ótima está entre 25º a 35ºC, a temperatura dos esgotos é em geral, pouco superior à das águas de abastecimento (pela contribuição de despejos domésticos que tiveram as águas aquecidas). Abaixo de 15ºC a digestão anaeróbia praticamente não se processa. São influências da temperatura no tratamento de esgoto:

 •. Nas operações de natureza biológica (a velocidade da decomposição do esgoto aumenta com a temperatura)

• A solubilidade do oxigênio é menor nas temperaturas mais elevadas.

• O aumento da temperatura faz diminuir a viscosidade, melhorando as condições de sedimentação.

Sólidos

 A presença de sólidos no esgoto constitua uma parcela muito pequena (0,08% de sólidos e 99,92% de água), quando separados na estação de tratamento, poderão representar uma quantidade muito elevada, de difícil destinação final e com possíveis implicações ambientais (11).

Sólidos totais –São os sólidos em sua totalidade em uma amostra de esgotos, é definido como, o resíduo remanescente após evaporação a 103ºC de um volume conhecido da amostra, geralmente expresso em mg/L. Os sólidos totais podem ser subdivido em: sólidos em suspensão e dissolvidos ou sólidos fixos e voláteis.

 Sólidos em suspensão (ou particulados – SS) – são os sólidos que ficam retidos no meio filtrante, escolhido de forma que o diâmetro mínimo da partícula seja de 0,1 mícron, geralmente o meio filtrante é uma membrana de fibra de vidro.

Sólidos dissolvidos (ou solúveis – SD) – são obtidos pela diferença entre os valores de sólidos totais e em suspensão. Possuem além das substâncias dissolvidas presentes em solução de esgoto e uma certa parcela de matéria coloidal (diâmetro de partículas entre 10-6 e 10-3 mm). Sólidos voláteis matéria orgânica que é volatilizada a partir dos sólidos totais a uma temperatura de 600ºC. Sólidos não voláteis ou fixos – matéria mineral que permanece na forma de cinzas após os sólidos totais o aquecimento dos sólidos totais a 600ºC por 30 minutos. Os sólidos, para efeito de controle da operação de sedimentação, costumam ser classificado em: Sedimentável e não sedimentável. Sedimentável aquele que num período de decantação de 1 hora no Cone Imhoff, e encontra-se tipicamente cerca de 5 a 20 ml/l no esgoto doméstico. A quantidade de matéria sedimentável é uma indicação da quantidade de lodo que poderá ser removida por sedimentação nos decantadores. É um importante parâmetro, pois está relacionado ao assoreamento do corpo receptor, caso a sua remoção não seja eficiente. Não sedimentável – não sedimenta no tempo arbitrado de 1 hora, em termos práticos, a matéria não sedimentável só será removida por processos de oxidação biológica ou de coagulação seguida de sedimentação.

Parâmetros químicos

Parâmetros químicos geralmente são analisados em conjunto com os parâmetros físicos e/ou biológicos. O tratamento químico é utilizado quando o emprego de processos físicos ou biológicos não atende ou não atuam eficientemente nas características que se deseja reduzir ou remover (9).

pH

 O pH é a concentração hidrogênica da água. Sendo um parâmetro importante para o setor operacional das estações de tratamento. Na literatura os autores Pessoa e Jordão (11), o pH do esgoto, em geral, varia entre 6,5 e 7,5. Esgotos velhos ou sépticos têm pH inferior a 6,0. A vida aquática requer uma faixa de pH de 6 a 9. O pH baixo potencializa a possibilidade de corrosividade, e o pH elevado, facilita a incrustação nas tubulações e peças (3).

Cloreto

 Podem ser originados pela dissolução de minerais e do solo, por intrusão de águas salinas, por despejos industriais ou lixiviação de áreas agrícolas. Os cloretos sempre estão presentes no esgoto, pela contribuição das excretas humanas. A remoção de cloretos é quase insignificante nos tratamentos convencionais (11).

Nitrogênio e fósforo

 Para as fontes naturais de fósforos os principais são os de intemperismo das rochas e decomposição da matéria orgânica. Já as artificiais consistem de efluentes industriais, esgotos sanitários e fertilizantes. É importante ressaltar ainda que os sabões e detergentes são os maiores responsáveis pela introdução de fosfatos nas águas (11).

O nitrogênio e o fósforo quando liberados incorretamente podem provocar um aumento na população de organismos aquáticos. Esse crescimento exagerado de algas em águas doces consequências da elevada concentração de nutrientes, é um fenômeno bastante comum, tendo como consequência a diminuição de oxigênio em corpos aquáticos resultante da oxidação da biomassa formada por algas mortas, levando a uma situação de anaerobiose, fatal para muitos organismos (11). Este processo é conhecido como eutrofização. O nitrogênio apresenta nos esgotos sob a forma de nitrogênio orgânico, amônia, nitrito, nitrato ou gás nitrogênio.

O nitrato, quando ingerido, é reduzido a nitrito no trato intestinal e ao entrar na corrente sanguínea reage, aumentando a pressão sanguínea. Além disso, o nitrato ingerido pode ser convertido em composto cancerígeno. Para a vida aquática e altamente tóxico aos peixes, que em algumas concentrações são letais. 

Oxigênio dissolvido

Nossa atmosfera é composta por 21% de oxigênio, sendo a principal fonte de reoxigenação de corpos d’água. O oxigênio também pode ser introduzido pela ação fotossintética das algas. Porém, a maior parte do gás advindo dessa última fonte é consumido durante o processo de respiração (11). É sem dúvida o parâmetro de melhor caracterização da qualidade de água. Ele é primordial para a respiração dos microrganismos aeróbios que realizam a degradação da matéria orgânica. Se a quantidade for muito baixa será improvável vida em corpo hídrico.

Óleo e graxas

 Óleos e graxas são frequentes nos esgotos domésticos, em sua maior parte provenientes da preparação e do uso de alimentos (óleos, vegetais, manteigas, carne etc.). Também são encontrados sob a forma de óleos derivados do petróleo (querosene, óleo lubrificantes), geralmente do uso em lava-jatos. Nos esgotos domésticos, são encontrados em faixas médias de 50 a 150 mg/l (11).

Metais

Muitos dos metais são encontrados naturalmente no ambiente, contudo, seu aumento de concentração pode trazer sérios riscos ao meio ambiente. A maioria dos organismos vivos precisa apenas de alguns poucos metais, e em dozes muito pequenas, como é o caso do zinco, do magnésio, do cobalto e do ferro. Os metais pesados como são mais conhecidos, o chumbo, o mercúrio e o cádmio são metais que não existem na natureza, e não desempenham função nutricional. A simples presença destes metais em organismos vivos é prejudicial em qualquer concentração (3). Nosso organismo não metaboliza, portanto, permanecem no corpo e produzindo efeitos tóxicos.

Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

A DBO indica quantidade de oxigênio necessária para ocorrer a oxidação da matéria orgânica biodegradável sob condições aeróbicas e uma temperatura padrão (normalmente 20ºC). A análise da quantidade de DBO é muito usada para avaliar o potencial de poluição de esgotos domésticos e industriais em termos do consumo de oxigênio. É uma estimativa do grau de redução de oxigênio em um corpo aquático receptor natural e em condições aeróbias. A análise também é utilizada para a avaliação e controle de poluição, além de ser utilizada para propor normas e estudos de avaliação da capacidade de purificação de corpos receptores de água (11). A DBO dos esgotos domésticos convencionais varia entre 100 e 600 mg/l, ou seja, 1 litro de esgotos consome de 100 a 600mg de oxigênio do corpo receptor em cinco dias, no processo de estabilização da matéria orgânica.

Demanda Química de Oxigênio (DQO)

 A DQO indica o quanto de oxigênio um determinado efluente líquido consumiria de um corpo d’água receptor após o seu lançamento, se fosse possível mineralizar toda a matéria orgânica presente, de modo que altos valores de DQO podem indicar um alto potencial poluidor. Essa análise tem sido utilizada para a caracterização de efluentes industriais e no monitoramento de estações de tratamento de efluentes em geral. Normalmente a DQO dos esgotos varia entre 200 e 800 mg/l. A relação DQO/DBO nos esgotos varia entre 1,7 e 2,5. Esta relação é uma indicação da possível presença de efluentes industriais. A tendência para a relação DQO/DBO é aumentar à medida que o esgoto passa pelas diversas unidades de tratamento, devido à redução paulatina da fração biodegradável, ao passo que a fração inerte permanece aproximadamente inalterada. Uma das grandes vantagens da DQO sobre a DBO é que permite respostas em tempo menor (2 horas com dicromato ou minutos em aparelhos específicos). Além disso, o teste de DQO não engloba somente a demanda de oxigênio satisfeita biologicamente (como na DBO), mas tudo o que é susceptível a demandas de oxigênio, em particular os sais minerais oxidáveis (11).

Parâmetros biológicos

Os parâmetros biológicos são compostos por microrganismos vivos. Os processos biológicos dependem da ação dos microrganismos presentes nos esgotos, buscando transformar componentes complexos em compostos simples, como os sais minerais, o gás carbônico, entre outros.

Microrganismos

Nos corpos d’água os microrganismos são de particular interesse em relação aos aspectos de proteção da saúde pública. Usualmente a contaminação nos esgotos se dá pela presença dos Coliformes Fecais. Os organismos patogênicos, tais como bactérias, vírus, vermes e protozoários, são os principais causadores de doenças de veiculação hídrica e aparecem na água, normalmente, em pequenas quantidades e a todo tempo. Por estes motivos, o isolamento e a detecção de patógenos tem um custo elevado e requer um longo período para obtenção do resultado, o que inviabiliza a tomada de qualquer decisão. Este obstáculo é superado através do estudo dos chamados organismos indicadores de contaminação fecal. Tais organismos são predominantemente não patógenos, mostram-se mais resistentes que as patogênicas, em relação aos processos naturais de depuração e à ação de desinfetantes. Portanto, se em uma amostra não forem encontrados coliformes, certamente os patógenos também não estarão presentes, pelo menos em quantidade significativa (11).

Por outro lado, se for encontrado bactérias do grupo coliformes há um risco de se encontrar os tais organismos infectantes ou causadores de doenças. Outra característica é que estes organismos indicadores são encontrados em grandes quantidades nas fezes humanas. Os organismos mais comumente utilizados para tal finalidade são as bactérias do grupo coliformes. O grupo coliforme é dividido em bactérias fecais (ou intestinais) e não fecais. As primeiras vivem e se multiplicam no trato digestivo de animais de sangue quente (mamíferos e aves) e são eliminadas junto com as fezes. As não fecais são encontradas normalmente no solo.

Os coliformes totais constituem muitos organismos, sua presença não significa necessariamente contribuição de fezes humana ou animal, pois estes organismos podem se desenvolver no solo ou na vegetação, e serem carregados com a água.

Coliformes termotolerantes formam um subgrupo dos coliformes totais, sendo mais tolerantes a temperaturas mais elevadas, praticamente de origem fecal. As espécies mais conhecidas são: Escherichia coli (única que dá a garantia de contaminação exclusivamente fecal) e em menor grau a Klebsiella, enterobacter e Citrobacter.

Protozoários

 As espécies típicas que tem mais destaque e que são advindas de fezes humanas são: Giardia lamblia, (giardíase), Entamoeba histolystica (amebíase) e Cryptosporidia spp (criptosporidíase). Geralmente provocam cólicas, diarréia, enfraquecimento e perda de peso. A Giardia lamblia e Cryptosporidium parvum estão entre os protozoários capazes de causar diarréias graves. Como os coliformes termotolerantes não são bons indicadores da presença destes protozoários e o cloro não os elimina, a sua avaliação em águas é de extrema necessidade (12).

Cianobactérias

 Essas bactérias geram toxinas capazes de afetar o fígado e o intestino, causar irritação na pele, alergias, odor e gosto na água. São conhecidas como algas por conterem clorofila “a”. Os principais gêneros são: Microcystis e Anabaena são encontradas principalmente em represas e reservatórios e em maior quantidade quando o volume de água vai diminuindo.

Efluentes agroindustriais: Caracterização e destinação

A utilização da água pela indústria pode ocorrer de diversas formas, tais como: incorporação ao produto; lavagem de máquinas, tubulações e pisos; águas de sistemas de resfriamento e geradores de vapor; águas utilizadas diretamente nas etapas do processamento industrial ou incorporadas aos produtos e esgotos sanitários dos funcionários. Exceto pelos volumes de água incorporados aos produtos e pelas perdas por evaporação, as águas tornam-se contaminadas por resíduos do processo industrial ou pelas perdas de energia térmica, originando assim os efluentes líquidos (13).

Ao serem despejados com os seus poluentes característicos, os efluentes líquidos causam a alteração da qualidade nos corpos receptores e, consequentemente, a sua poluição (degradação). Historicamente, o desenvolvimento urbano e industrial ocorreu ao longo dos rios devido à disponibilidade de água para abastecimento e a possibilidade de utilizar o rio como corpo receptor dos dejetos. O fato preocupante é o aumento tanto das populações como das atividades industriais e o número de vezes em que um mesmo corpo d’água recebe dejetos urbanos e industriais. Os abatedouros caracterizam-se pela necessidade de grandes volumes de água em suas atividades, o que varia de um para outro.

Em abatedouros, assim como em vários tipos de indústrias, o alto consumo de água acarreta grandes volumes de efluentes 80 a 95% da água consumida são consideradas como efluente líquido (14). Esses efluentes caracterizam-se principalmente por: alta carga orgânica, devido à presença de sangue, gordura, esterco, conteúdo estomacal não-digerido e conteúdo intestinal; alto conteúdo de gordura; flutuações de pH em função do uso de agentes de limpeza ácidos e básicos; altos conteúdos de nitrogênio, fósforo e sal; flutuações de temperatura (uso de água quente e fria).

A matéria orgânica está contida na fração de sólidos voláteis, mas, normalmente, é medida de forma indireta pela demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e demanda química de oxigênio (DQO). A DBO mede a quantidade de oxigênio necessária para que os microrganismos biodegradem a matéria orgânica.

A DQO é a medida da quantidade de oxigênio necessária para oxidar quimicamente a matéria orgânica. Ao ser biodegradada nos corpos receptores, a matéria orgânica causa decréscimo da concentração de oxigênio dissolvido (OD) no meio hídrico, deteriorando a qualidade ou inviabilizando a vida aquática.

Dessa forma, os despejos de abatedouros possuem altos valores de DBO5 e DQO nos efluentes, além de sólidos em suspensão, graxas e material flotável, conforme tabela 1.

Fragmentos de carne, de gorduras e de vísceras normalmente podem ser encontrados nos efluentes. Para Cavalcanti e Braile (15), entre os efluentes frigoríficos, o sangue pode ser considerado um dos componentes mais problemáticos no tratamento, pois sua presença no efluente inibe a formação dos flocos, o que diminui a eficiência do tratamento por coagulação e floculação, comprometendo a biodegradabilidade dele.

O sangue tem a DQO mais alta de todos os efluentes líquidos gerados no processamento de carnes. Sangue líquido bruto tem uma DQO em torno de 400g/L e DBO de aproximadamente 200g/L e uma concentração de nitrogênio de aproximadamente 30g/L. Juntamente com sangue, há material altamente putrescível nesses efluentes, que entram em decomposição poucas horas depois de sua geração, tanto mais quanto mais alta for a temperatura ambiente (16).

Os efluentes líquidos devem ser divididos em duas correntes (ou linhas): a linha “verde”, que contém os efluentes líquidos gerados em áreas sem presença de sangue (por exemplo, recepção – lavagens de pátios, caminhões, currais -, condução ou “seringa”, bucharia e triparia) e a linha “vermelha”, com os efluentes que contêm sangue. Isto é feito para facilitar e melhorar seu tratamento primário (físico-químico), que deve ser feito separadamente, permitindo remover e segregar mais e melhor os resíduos em suspensão desses efluentes, de forma a facilitar e aumentar as possibilidades para sua destinação adequada. Como consequência, também se diminui a carga poluente a ser removida nas etapas de tratamento posteriores de forma mais efetiva. A tabela 2 mostra o quão é poluidor o abate de animais, sendo industrializado ou não.

Como toda indústria, os abatedouros necessitam tratar seus efluentes, procurando garantir a adequação aos padrões previstos pela legislação, Brasil (17) trata dos limites das concentrações nos efluentes e nos corpos receptores em função de sua classe). Sendo inviável a sua disposição em rede de esgoto projetado para tratamento de esgoto doméstico.

CONCLUSÕES

As lagoas de estabilização existentes no Alto Oeste Potiguar, não somente a operação e manutenção são importantes quando o objetivo é a eficácia operacional nestas modalidades de tratamento, mas também os parâmetros de projetos e as etapas construtivas que elas solicitam. Em sua totalidade da região estudada é de lagoa facultativa primária, seguida das lagoas de maturação primária e secundária. As justificativas para as diversas configurações são disponibilidades de recursos orçamentários e a consequente divisão dos sistemas em etapas.

Como recomendações, sugere-se que seja criado um Manual de Operação para operadores que atuam nas ETEs do Estado do Rio Grande do Norte. Que os órgãos responsáveis pelo gerenciamento ambiental no RN. Criem programas de capacitação de operadores e pessoal que atuam nas Estações de Tratamento de Esgoto como também o gerenciamento ambiental do RN crie Programas de Monitoramentos no mínimo mensais para os principais parâmetros de importância ambiental e sanitária, conforme legislação e ainda que os órgãos responsáveis incentivem a prática de reuso de maneira tecnicamente saudável dentro de uma visão sanitária.

REFERÊNCIAS

1. SILVA, J. A. Direito Ambiental Constitucional. 4. ed. São Paulo: Malheiros; 2002.

2. MEES, J. B. R.; GOMES, S. D.; VILAS BOAS, M. A.; FAZOLO, A.; SAMPAIO, S. C. Removal of organic matter and nutrients from slaughterhouse wastewater by using Eichhornia crassipes and evaluation of the generated biomass composting. Engenharia Agrícola. 2009; 29 (3): 466-473.

3. SPERLING, V.M. Introdução a qualidade da água e ao tratamento de esgotos. 3 ed. Belo Horizonte: UFMG; 2005.

4. Aguilar MI, Sáez J, Lloréns M, Soler A, Ortuño JF. Nutrient Removal and Sludge Production in the Coagulation Flocculation Process. Water Research. 2002; 36: 2910-2919.

5. PACHECO, J. A. S.; WOLFF, D. B. Tratamento dos efluentes de um frigorífico por sistema australiano de lagoas de estabilização. Disc. Scientia. 2004; 5 (1); 67-85.

6. NAIME, R.; GARCIA, A. C. Utilização de enraizadas no tratamento de efluentes agroindustriais. Estudos Tecnológicos. 2005; 1: 9-20.

7. SOUSA, J. T.; CEBALLOS, B. S. O.; HENRIQUE, I. N.; DANTAS, P. D.; LIMA, S. M. S. Reúso de água residuária na produção de pimentão (Capsicum annuum L.). Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental. 2006; 10: 89-96.

8. BRASIL. Lei nº. 11.445 de 5 de Janeiro de 2007. Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13 de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências. Diário Oficial da União. 8 jan 2007; Seção 1.

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11. PESSOA, C.A.; JORDÃO, E.P. Tratamento de Esgotos Domésticos. 4. ed. Rio de Janeiro: ABES; 2009.

12. CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental. Relatório de qualidade das águas interiores do Estado de São Paulo. São Paulo: CETESB; 2007.

13. GIORDANO, Gandhi. Tratamento e controle de efluentes industriais [Internet]. 2004 [Acesso em 20 maio de 2021]; Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/49026099/Tratamento-e-Controle-de-Eluentes-Industriais.

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15. CAVALCANTI, J.E.W.A.; BRAILE, P.M. Manual de tratamento de águas residuárias industriais. 2. Ed.  São Paulo: CETESB; 1993.

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17. BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Resolução CONAMA nº. 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e a altera a Resolução nº. 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Diário Oficial da União. 16 mai. 2011; Seção 1.

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