CONSUMO ALIMENTAR E AÇÃO EDUCATIVA COM GESTANTES DA CIDADE DE PIRPIRITUBA – PB
Iasmin Katarina Mouzinho de Lima1; Alef Ribeiro Do Santos2; João Pedro Cesário Félix 3; Geíza Alves Azeredo4.
1Técnica em Nutrição e Dietética do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros–CAVN; E-mail: [email protected], 2Estudante do Curso de Bacharelado em Agroindústria-CCHSA–UFPB; E-mail: [email protected], 3Estudante do Curso Técnico em Nutrição e Dietética -CAVN–UFPB; E-mail: [email protected], 4Docente/pesquisadora do Depto de Gestão e Tecnologia Agroindustrial-DGTA – UFPB. E-mail: [email protected].
Resumo: A alimentação exerce função indispensável para a saúde de qualquer ser vivo, mas em gestantes, diante das suas necessidades aumentadas, faz-se necessário uma intervenção nutricional durante toda a gestação, com o fim de oferecer proteção e promoção à saúde da mãe e do feto. Desse modo, buscou-se identificar o consumo alimentar de gestantes atendidas em uma Unidade Básica de Saúde, da cidade de Pirpirituba-PB. Participaram desta pesquisa 12 gestantes, de 18 a 38 anos, assistidas pela Unidade Básica de Saúde (UBS), no mês de abril de 2019, aproveitando o dia em que as gestantes já iam na UBS-l fazer o pré-natal. Foi utilizado para a coleta de informações o protocolo estruturado de avaliação do consumo alimentar para maiores de 2 (dois) anos ou mais, do SISVAN, que traz questões relacionadas ao consumo saudável ou não saudável. Após a coleta e análise dos dados, com base no que preconiza o Guia alimentar para população brasileira, observou-se a presença de inadequações alimentares, do tipo qualitativas, podendo implicar em risco nutricional para mãe e o concepto.
Palavras–chave: alimentação; grávidas; saúde
INTRODUÇÃO
Há a preocupação, durante a gestação, de que deve haver um consumo maior de alimentos, para atender às necessidades da mãe e do bebê, mas é necessário também atentar à qualidade dos alimentos, especialmente em seu aporte de micronutrientes. Por isso, a alimentação deve ser variada, preconizada nos guias alimentares e em práticas culturais sustentáveis (MELEREet al., 2013).
Considerando a sua importância, diversos autores que estudaram sobre esse tema (PIRES; GONÇALVES, 2021; CYSNEIROS et al., 2020; GOMES et al., 2015) verificaram que é frequente, entre gestantes, o consumo de alimentos com alta densidade energética, como os ultraprocessados, e uma ingestão insuficiente de gorduras monoinsaturadas, fibras, cálcio, ferro, magnésio, vitaminas A, B6, B9 e D.
Esse fato pode levar ao desenvolvimento de complicações gestacionais, como o diabetes gestacional, síndrome hipertensiva na gravidez, complicações no parto, retenção ponderal materna no pós-parto, aumento nas taxas de morbidade e mortalidade materna. Pode-se citar também o baixo peso ao nascer, problemas de fechamento do tubo neural, prematuridade e mortalidade perinatal (ASSUNÇÃO et al., 2007).
Faz-se necessário, então, realizar um acompanhamento mais de perto com a gestante, a fim de identificar possíveis inadequações nutricionais, e sendo encontradas, desenvolver ações terapêuticas de readequação do consumo alimentar. Essa tarefa não é fácil, pois algumas alterações fisiológicas, psicológicas e emocionais que envolvem essa fase podem repercutir diretamente nesse consumo (BERTIN et al., 2016).
Nessa perspectiva, este estudo teve como objetivo analisar o consumo alimentar de gestantes assistidas por uma Unidade Básica de Saúde, da cidade de Pirpirituba – PB, a partir dos marcadores de consumo saudável e não saudável do SISVAN, uma vez que se trata de um indicador do estado nutricional capaz de detectar situações de risco na alimentação.
MATERIAL E MÉTODOS
O estágio supervisionado de Nutrição em Saúde Coletiva foi realizado na Unidade Básica de Saúde – UBS da cidade de Pirpirituba – PB, de abril a maio de 2019, totalizando 61 horas. Duas das atividades realizadas durante o período de estágio consistiram em coletar dados do consumo alimentar de gestantes de 18 a 36 anos e, após analisar os dados, realizou-se uma ação educativa sobre os 10 passos da alimentação saudável, abordados de forma dinâmica e lúdica.
Para que o questionário fosse aplicado às gestantes, foi pedido autorização a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, que continha os objetivos e possíveis riscos aos participantes do estudo. Em seguida, deu-se início à aplicação do questionário.
O questionário utilizado foi o recomendado por Brasil (2015), que traz as orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica, visando obter dados sobre a alimentação e subsidiar ações de intervenção. Para tanto, constam perguntas sobre marcadores de um consumo saudável (frutas, legumes, verduras, carnes e miúdos, feijão e demais leguminosas, cereais e tubérculos) e não saudável (embutidos, sucos artificiais, refrigerantes, macarrão instantâneo, bolachas, biscoitos, salgadinhos de pacote e guloseimas).
Para a ação educativa, foi sugerido pela nutricionista supervisora que a ação ocorresse em uma Unidade Básica de Saúde, pois se aproveitaria o dia de consultas de pré-natal. Partiu-se, então, para o planejamento do tema, da forma de abordagem e dos instrumentos que seriam utilizados, com base nas informações coletadas com a nutricionista supervisora sobre as características do público-alvo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Consumo alimentar de gestantes
Após análise dos dados, verificou-se que o consumo diário de frutas frescas e feijão ocorria com pelo menos 75% das mães, alcançando patamar acima de 90% no caso do feijão. Já em relação às hortaliças, apenas 1/3 das mães relataram consumir com frequência. Em contrapartida, o consumo de biscoito recheado, doces e guloseimas foi apontado por quase 60% das entrevistadas (Figura 1).
Pires e Gonçalves (2021) encontraram dados semelhantes em relação à frequência de consumo semanal de alimentos ultraprocessados e à ingestão insuficiente de hortaliças, resumindo-se à alface. Conforme o que preconiza o Guia alimentar para a população brasileira (BRASIL, 2014), hortaliças são excelentes fontes de fibras, vitaminas, minerais e compostos bioativos, os quais contribuem para a prevenção do consumo excessivo de energia e, consequentemente, da obesidade e das doenças crônicas associadas, como as doenças coronarianas e o diabetes. Graciliano et al.(2021), por sua vez, verificaram que dos alimentos que compõem o grupo dos ultraprocessados, os biscoitos doces e salgados e os salgadinhos do tipo chips contribuíram com 9,5% da energia média ingerida, sendo o segundo maior item de consumo em termos porcentuais da ingestão energética total da alimentação das gestantes.
Figura 1 – Consumo alimentar de gestantes assistidas por uma Unidade Básica de Saúde (UBS I) da cidade de Pirpirituba – PB.
Fonte: Própria
Isso é preocupante, pois produtos ultraprocessados são formulações industriais que, para que se tornem palatáveis, recebem substâncias derivadas de alimentos com pouco ou nenhum alimento inteiro e frequentemente adicionadas de corantes, flavorizantes, emulsificantes, espessantes e outros aditivos cosméticos (MONTEIROet al., 2019).
Ação educativa com gestantes
Como o público-alvo era formado por gestantes de todas as faixas etárias e com escolaridade de no mínimo ensino fundamental, logo se percebeu a importância de realizar uma ação lúdica, para que pudessem aprender brincando.
Inicialmente, foram apresentados os 10 (dez) passos de uma alimentação saudável para as gestantes (Figura 2). Em seguida, eles foram recortados e colocados em uma caixa para que cada participante (gestante) escolhesse um papel, de forma aleatória. Posteriormente, a cada uma delas foi entregue uma cartolina e lápis hidrográfico, e solicitado que cada uma representasse, em forma de desenho, aquele passo que estava escrito no papel.
Se no passo recebido pela gestante dizia: ‘Procure consumir diariamente pelo menos 3 porções de legumes e verduras e 3 porções ou mais de frutas’. A participante que recebeu esse passo desenhou legumes e frutas. Após a finalização de todos os desenhos, foi pedido que cada gestante apresentasse ao grupo maior seu desenho, de preferência sem nada escrito, para que as demais adivinhassem de qual passo se tratava.
O resultado atendeu às expectativas, pois foi percebida uma fácil e rápida assimilação dos passos, além de ter promovido um momento de descontração. Na medida que iam apresentando seus desenhos e as demais adivinhando, novamente era reforçada a importância daquele passo para uma gestação saudável. Por fim, houve a entrega de brindes, que se tratava de lápis enfeitados com uma imagem de uma gestante.
Figura 2 – Alguns desenhos que as gestantes assistidas pela Unidade Básica de Saúde (UBS I) da cidade de Pirpirituba-PB, fizeram para representar os 10 passos de uma alimentação saudável.
Fonte: própria.
CONCLUSÕES
A coleta e análise de dados sobre o consumo alimentar de gestantes da cidade de Pirpirituba – PB deram subsídios para abordar, de maneira descontraída, a importância da readequação em algumas de suas práticas alimentares. Reforçou-se sobre os malefícios que causam os produtos ultraprocessados e da importância do consumo de alimentos in natura, a fim de receber os micronutrientes necessários à saúde da mãe e do bebê.
REFERÊNCIAS
ASSUNÇÃO, P. L.et al. Ganho ponderal e desfechos gestacionais em mulheres atendidas pelo Programa de Saúde da Família em Campina Grande, PB (Brasil). Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 10, n. 3, p. 352-60, 2007.
BERTIN, R. L. et al. Métodos de avaliação do consumo alimentar de gestantes: uma revisão. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, v. 6, n. 4, p. 383-390, 2016.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Orientações para avaliação de marcadores de consumo alimentar na atenção básica [recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2015. 33 p.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014. 156 p.: il.
CYSNEIROS, G. F.et al. Estado nutricional e consumo alimentar de gestantes diabéticas atendidas em hospital de referência em Recife-PE. Brazilian Journal of Development, v. 6, n. 7, p. 46320-46335, 2020.
GOMES, K. C. F. et al. Qualidade da dieta de gestantes em uma unidade básica de saúde em Belém do Pará: um estudo piloto. Ciência e Saúde, v. 8, n. 2, p. 54-58, 2015.
GRACILIANO, N. G.; SILVEIRA, J. A. C.; OLIVEIRA, A. C. M. Consumo de alimentos ultraprocessados reduz a qualidade global da dieta de gestantes. Cadernos de Saúde Pública, v. 37, p. e00030120, 2021.
MELERE, C. et al. Índice de alimentação saudável para gestantes: adaptação para uso em gestantes brasileiras. Revista de Saúde Pública, v.47, p. 20-82, 2013.
MONTEIRO, C. A. et al. Ultra-processed foods: what they are and how to identify them. Public health nutrition, v. 22, n. 5, p. 936-941, 2019.
PIRES, I. G.; GONÇALVES, D. R. Consumo alimentar e ganho de peso de gestantes assistidas em unidades básicas de saúde. Brazilian Journal of Health Review, v. 4, n. 1, p. 128-146, 2021.
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