AVALIAÇÃO DA MERENDA ESCOLAR POR ALUNOS DE UMA ESCOLA MUNICIPAL DE SANTA CRUZ– RN
Renata Dayane Ribeiro1; João Pedro Cesário Félix2; Alef Ribeiro dos Santos3; Fernando Luiz Nunes de Oliveira4; Geíza Alves Azeredo5
1Técnica em Nutrição e Dietética do Colégio Agrícola Vidal de Negreiros–CAVN; E-mail: [email protected] , 2Estudante do Curso de Bacharelado em Agroindústria-CCHSA–UFPB; E-mail: [email protected], 3Estudante do Curso de Bacharelado em Agroindústria-CCHSA–UFPB; E-mail: [email protected],4Docente/pesquisador do Depto de Agricultura – CCHSA – UFPB. E-mail: [email protected].5Docente/pesquisadora do Depto de Gestão e Tecnologia Agroindustrial – CCHSA – UFPB. E-mail: [email protected].
Resumo: A Unidade Produtora de Refeições (UPR) é o local de trabalho ou órgão de uma empresa ou escola que tem como finalidade o desempenho de atividades relacionadas à alimentação e nutrição, independentemente da situação na escala hierárquica ocupada na escola. O presente relato teve como objetivo avaliar se a merenda servida na Escola Municipal Miguel Lula de Farias, Santa Cruz – RN estava satisfazendo às necessidades dos alunos. Foi realizado o teste de aceitabilidade da merenda escolar com as crianças, cuja refeição escolhida foi o do lanche da manhã. O instrumento utilizado foi a escala hedônica facial, que consta no Manual para aplicação dos testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação do Escolar (PNAE). Para a aplicação do teste, foi preciso visitar cada sala de aula, explicando aos alunos a importância e o objetivo do teste e perguntando quem tinha interesse em participar. Pode-se concluir que merenda escolar teve uma aceitação que está dentro dos parâmetros exigidos pelo FNDE Nº 32, 10 de agosto de 2006. O estágio serviu como uma excelente oportunidade para adquirir experiências e conhecimentos sobre o funcionamento de uma Unidade Produtora de Refeições, ainda que se tratasse de uma UPR pequeno porte.
Palavras–chave: alimentação; aceitação; funcionamento; escola
INTRODUÇÃO
O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) surgiu com o objetivo de promover segurança alimentar e nutricional, sendo o primeiro programa social na área de alimentação em atuação com escolares (CHAVES et al., 2007). Parte-se do princípio de que a alimentação constitui papel fundamental no desenvolvimento e aprendizado, quando fornecida em quantidade e qualidade adequadas, considerando tanto as diversidades étnicas, quanto as necessidades nutricionais por faixa etária e condição de vulnerabilidade social (BRASIL, 2009).
Dada a sua importância, faz-se necessário avaliar a percepção dos escolares acerca da sua satisfação com a merenda, que pode ser considerada boa quando preenche as expectativas da maior parte dos alunos, com relação às características sensoriais de aparência, cor, aroma, consistência ou textura e sabor.
O teste de aceitabilidade é indicado na introdução de novos itens e quando ocorrem alterações nas preparações alimentícias do cardápio, devendo ser aplicado, rotineiramente (BRASIL, 2013). Para facilitar a coleta dessas informações, foi desenvolvido um instrumento pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, por meio de escala hedônica, com gradação de cinco pontos, podendo ser do tipo facial, mista ou verbal (BRASIL, 2009).
O teste da escala hedônica facial é mais comumente utilizado com crianças, uma vez que os desenhos que esboçam expressões faciais são de fácil compreensão, permitindo que elas correlacionem as figuras com a sensação alcançada, ao provarem determinado alimento (BRASIL, 2017). Este instrumento tem a capacidade de coletar a satisfação dos escolares de maneira simples e prática, sem que seja necessário realizar algum tipo de treinamento.
Desse modo, a partir de relatos da nutricionista responsável pela merenda escolar da Escola Municipal Miguel Lula de Farias, Santa Cruz – RN, que recebeu da Diretora informações acerca da rejeição da merenda escolar de parte considerável dos estudantes, decidiu-se realizar o teste de aceitabilidade da merenda escolar no período da manhã.
MATERIAL E MÉTODOS
O estágio em UPR ocorreu de novembro a dezembro de 2019, na Escola Municipal Miguel Lula de Farias, em Santa Cruz – RN, e teve, dentre outras finalidades, a verificação da satisfação da merenda escolar. O material utilizado foi a escala hedônica facial, que consta no Manual para aplicação dos testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação do Escolar (PNAE) (BRASIL, 2017). O teste foi realizado durante três dias (quarta, quinta e sexta-feira).
Antes da aplicação do teste, foi feita uma visita em cada sala de aula para explicar aos alunos a importância e o objetivo do teste e perguntar quem queria participar. A partir da motivação apresentada e de ter mais tempo para realizar o teste, a aplicação ocorreu com crianças de 6 a 11 anos, do 1ª ao 5º ano do ensino fundamental I, do turno da manhã. Foi também visto nesta visita que não havia alunos com deficiência visual, por isso não foram utilizadas fichas em relevo.
Em seguida, foi entregue à direção da escola o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), a fim de que obtivesse dos pais ou responsáveis a anuência para que as crianças pudessem participar da pesquisa. Só após essa anuência, deu-se início à aplicação do teste.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
Para a realização do teste, foram confeccionados os seguintes materiais: uma caixa para funcionar como urna, em formato quadrado, revestido com papel color set de cor preta. Em cada lado da urna foi colada uma figura, semelhante a que aparecia na escala hedônica facial do teste de aceitabilidade, com as ‘carinhas’ de ‘detestei’ (1), ‘não gostei’ (2) e ‘indiferente’ (3), ‘gostei’ (4) e ‘adorei’ (5). Este número, que aparecia junto à figura, fazia parte de uma graduação que também representava o grau de aceitação de acordo com a merenda que foi servida.
Ao lado da caixa e em cima da mesa, foram distribuídos vários papéis contendo as ‘carinhas’, sendo uma em cada papel (Figura 1). O aluno, após se alimentar, era convidado a pegar um papel que tivesse a ‘carinha’ que representava, naquele momento, o seu sentimento em relação à merenda que acabara de consumir e, em seguida, deveria colocar dentro da urna. Participaram do teste 76 alunos do 1º a 5º ano na quarta-feira, 62 na quinta-feira e 60 na sexta-feira.
Figura 1 – Urna para coletar os papeis com as feições de ‘detestei’, ‘não gostei’ e ‘indiferente’, ‘gostei’ e ‘adorei. Fonte: autoral.
Após os três dias de aplicação do teste, verificou-se uma aceitação de 90,1% na quarta-feira (cuscuz temperado com carne moída e suco de fruta), 88,70%, na quinta-feira (feijão simples, arroz refogado e carne) e 91,60% na sexta-feira (suco de fruta com bolo de ovos) conforme dados apresentados na Tabela 1. Pode-se observar que a carinha ‘gostei’ (4) e a carinha ‘adorei’ (5) foram as mais escolhidas entre os alunos.
Tabela 2 – Teste de aceitabilidade da merenda escolar, turno da manhã, realizado com alunos do 1º ao 5º ano da Escola Municipal Miguel Lula de Farias, em Santa Cruz – RN.
Parâmetros | quarta-feira | quinta-feira | sexta-feira |
Detestei | 0 | 5 | 0 |
Não gostei | 3 | 0 | 0 |
Indiferente | 3 | 2 | 5 |
Gostei | 40 | 25 | 25 |
Adorei | 30 | 30 | 30 |
Total | 76 | 62 | 60 |
Fonte: própria.
De acordo com a FNDE Nº 32, de 10 de agosto de 2006, para se considerar uma boa aceitação da merenda escolar é necessário atingir 85% na soma dos resultados expressos nas escalas 4 e 5. Quando a aceitação está abaixo desse valor, há a recomendação de mudanças no cardápio e/ou na forma de preparação, para que não se corra o risco de receber redução no valor dos repasses financeiros.
Em estudo similar, Cruz et al. (2013) verificaram que as preparações oferecidas pelo PNAE aos alunos de uma rede municipal de ensino apresentaram uma aceitação compatível com padrão sensorial adequado. Ou seja, com percentual igual ou superior a 85% das expressões ‘Gostei’ e ‘Adorei’.
Em outro estudo mais recente com escolares da rede municipal de ensino de uma cidade do Rio Grande do Sul, foi verificada também a aceitabilidade da merenda, ao longo do ano, em escolas de grande e pequeno porte. Foi visto que houve maior adesão aos cardápios em escolas de pequeno porte, alcançando índice de aceitação de 82%, ao passo que naquelas de grande porte o percentual foi de 52% (RAPHAELLI, 2016).
CONCLUSÕES
A aceitação da merenda escolar de cerca de 90% dos estudantes da Escola Municipal Miguel Lula de Farias, em Santa Cruz – RN é um dado muito positivo, pois sendo a merenda nutricionalmente balanceada, atende não só às necessidades nutricionais, como contribui para a permanência desses alunos em sala de aula, local que também pode ser explorado para a formação de hábitos alimentares saudáveis, importantes para o crescimento, desenvolvimento, aprendizagem e rendimento escolar.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Resolução nº 26, de 17 de junho de 2013. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar aos alunos da educação básica no âmbito do Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Disponível em: https://bitlybr.com/pCxsC. Acesso: 20 mai. 2021.
BRASIL. Ministério da Educação. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação. Coordenação Geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar. Manual para aplicação dos testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Revisão e atualização CECANE/UFRGS. 2. ed. Brasília, DF, 2017. 43 p.
BRASIL. Lei no 11.947, de 16/06/2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica; altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004; 11.273, de 6 de fevereiro de 2006; 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2. 178-36, de 24 de agosto de 2001; e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras providências. Brasília, 2009.
BRASIL. Centro colaborador em alimentação e nutrição Escolar. Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação CECANE –. UFRGS. Manual para aplicação dos testes de aceitabilidade no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) / organizadoras Ana Luiza Sander Scarparo, Gabriela Rodrigues Bratkowski; revisão e atualização CECANE UFRGS. – 2. ed. – Brasília, DF: Ministério da Educação, 2017.
CHAVES, L. G. et al. Programa Nacional de Alimentação Escolar: compromisso com a saúde pública. Nutr. Prof.,v. 3, n. 12, p. 22-27, 2007.
CRUZ, L. D.; SANTOS, A. J. A. O.; SANTOS, A. A. O.; GOMES, A. B. L.; ANDRADE, F. A. M.; MARCELLINI, P. S. Análise de aceitação da alimentação escolar dos alunos das escolas municipais urbanas de Itabaiana-SE. Scientia Plena, Sergipe, v. 9, n. 10, p. 1042031-1042036, 2013.
RAPHAELLI, C. O. et al. Adesão e aceitabilidade de cardápios da alimentação escolar do ensino fundamental de escolas de zona rural. Brazilian Journal of Technology, 2016.
RESOLUÇÃO /CD/FNDE N° 32. Desenvolvimento da Educação. 2017. Disponível em: https://bitlybr.com/G4JV. Acesso: 20 mai. 2021.
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