ATUAÇÃO DO TÉCNICO EM NUTRIÇÃO E DIETÉTICA NAS ENFERMARIAS CLÍNICAS DE UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: RELATO DE EXPERIÊNCIA
Flávia Nunes de Lima Barroso1; Patrícia Cristiana Maia do Nascimento 2; Marta Cristina de Sousa Marinho3; Geovanna Torres de Paiva4
1Especialista em Nutrição Clínica – UFPB; E-mail: [email protected], 2,3Técnico em Nutrição e Dietética, 4Mestre em Ciência da Nutrição – UFPB. E-mail: [email protected].
Resumo: O Técnico de Nutrição e Dietética (TND) tem papel fundamental no processo de reestabelecimento da saúde durante um processo de agravo apresentando durante a internação hospitalar. Em conjunto com o profissional nutricionista ele vai cuidar da saúde humana, uma vez que dá suporte técnico para a tomada de decisão dietética de tal profissional. O presente estudo possui como objetivo central descrever o relato de experiência do TND de uma Unidade de Alimentação e Nutrição de um hospital universitário. Tal vivência se concretiza no Hospital Universitário, da cidade de João Pessoa, o mesmo conta com 161 leitos de internação e possui o sistema terceirizado de produção de refeições hospitalares, no qual há uma empresa contratada para atendimento desse serviço, cujos TND estão vinculados. Nesse sentido, esses profissionais exercem apoio integral à unidade de nutrição clínica do hospital. Onde são supervisionados pelos nutricionistas da instituição. Dentre a sua vivência destacam-se algumas atribuições, como por exemplo, a verificação de prescrições médicas, anamnese com o paciente incluindo questões acerca das intolerâncias nutricionais, aceitação alimentar, consistências de dietas, patologias, acompanhamento de dados antropométricos, entre outras. Assim, torna-se evidente neste relato de experiência, a importância do TND nos serviços de UAN hospitalar, pois suas atribuições colaboram efetivamente com o acompanhamento nutricional dos pacientes internados, uma vez que mantém relação com a equipe multidisciplinar e com os demais colaboradores da empresa terceirizada que produz as refeições.
Palavras–chave: Dietoterapia; Internação; Técnico de nutrição e dietética
INTRODUÇÃO
A partir de 2018, o Conselho Federal de Nutrição (CFN) estabeleceu que o profissional da área da saúde “Técnico em Nutrição e Dietética” (TND) juntamente com o nutricionista dividem a responsabilidade de promover, manter e recuperar a saúde de indivíduos ou coletividades. De maneira bastante ampla, o TND pode atuar em diversas áreas, tais como: alimentação coletiva, nutrição clínica, saúde coletiva e na tríade produção/indústria e comércio de alimentos (BRASIL, 2018).
Apesar da regulamentação dessa profissão ser recente, os cursos de TND foram criados há 60 anos e em 1974 foi aprovada pelo Conselho Nacional de Educação. Apenas no final de 2008 essa habilitação profissional foi incluída na classificação de ocupações do Ministério do Trabalho brasileiro (TORRES; PEREIRA; RIBEIRO, 2009).
Nesse contexto, os TND atuam nas Unidades de Alimentação e Nutrição (UAN) que são responsáveis pelo fornecimento de alimentos, proporcionando refeições seguras e adequadas, devendo seguir os padrões dietéticos e higiênicos sanitários (JUNIOR et al., 2020). Para isso, a atuação dos profissionais que possuem conhecimento técnico para esse fim, contribui diretamente na melhoria do consumo alimentar dos pacientes hospitalizados.
Segundo afirma Lobato e colaboradores (2019), as refeições hospitalares precisam garantir o aporte de nutrientes ao paciente internado, mantendo ou contribuindo com a melhora do seu estado nutricional, e desempenhando um papel relevante na experiência de internação, pois pode contribuir para atenuar momentos de dor gerados durante a internação. Em virtude disso, o contato diário com o profissional técnico diretamente vinculado à produção dessas refeições proporciona uma relação mais estreita entre o paciente e o alimento.
Consequentemente, as UAN’s hospitalares reconhecem que a qualidade da alimentação produzida contribui não somente com a recuperação da saúde e na prevenção de doenças, como também na manutenção do estado nutricional de seus comensais (ROCHA et al., 2017). Frente a este cenário, o presente estudo propõe como objetivo central descrever o relato de experiência do TND de uma UAN de um hospital universitário.
MATERIAL E MÉTODOS
Esse estudo baseia-se no relato de experiência de profissionais envolvidos diretamente com o serviço de produção de refeições de um hospital universitário de alta complexidade, de referência para o estado da Paraíba, durante o período de atuação no ano de 2020. O hospital terciário citado é o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), localizado no município de João Pessoa/PB.
Atualmente o número de leitos corresponde a um quantitativo de 161, excetuando-se os de unidade de cuidados semi-intensivos e intensivos. Nessas unidades, não havia atuação direta dos TND no período relacionado ao presente estudo.
Além disso, a gestão administrativa adotou o sistema terceirizado de produção de refeições hospitalares, no qual há uma empresa contratada para atendimento desse serviço, cujos TND estão vinculados. Nesse sentido, esses profissionais exercem apoio integral à unidade de nutrição clínica do hospital.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
A atuação do TND na assistência clínica no HULW é realizada desde o ano de 2019. A empresa terceirizada iniciou a contratação de um TND inicialmente e logo em seguida, dispunha do total de 03 (três) profissionais, com atribuições de dar apoio técnico aos nutricionistas da instituição, assim como à equipe de enfermagem e aos demais membros da equipe multidisciplinar. O TND realiza atendimento a todas as enfermarias clínicas do hospital, sendo esse serviço supervisionado pelo nutricionista de plantão.
O trabalho é realizado de forma contínua com verificação de prescrições médicas, anamnese com o paciente quanto às intolerâncias nutricionais, aceitação alimentar, consistências de dietas, patologias, etc. Desta forma o TND desempenha a função juntamente com a supervisão do nutricionista hospitalar.
Durante a anamnese, o TND tem a responsabilidade de averiguar qual dieta foi sugerida pela equipe médica, cabendo apenas ao nutricionista progredir ou evoluir a consistência se houver necessidade, de acordo com as condições clínicas e necessidades nutricionais de cada paciente.
É de suma importância a visita diária do TND ao leito do paciente para que a dieta seja observada quanto à aceitação, quantidade, mudança de cardápio, adequação de horários, jejum para procedimentos e exames, adequação da consistência prescrita, preferências e/ou aversões alimentares. Nesse aspecto, toda evolução nutricional é acompanhada e definida pelo nutricionista da clínica.
O TND analisa e recolhe todas as informações do histórico clínico do paciente; como por exemplo: presença de comorbidades (hipertensão arterial, diabetes mellitus, gastrite, entre outras), costumes de vida (etilismo, tabagismo, prática de atividade física, sedentarismo) hábitos alimentares (alergias, aversões e intolerâncias), funções eliminatórias (constipação, diarreia) e culturais (crenças, tabus, hábitos regionais) para que dessa forma seja respeitada a individualidade dele.
Além disso, faz parte das atribuições inerentes à profissão o acompanhamento de dados antropométricos durante o período de internação, entre eles o peso e altura dos pacientes, visando coletar dados essenciais para o acompanhamento, definição e ajustes de novas estratégias de conduta dos nutricionistas. Tais informações podem ser coletadas diretamente com o paciente, quando ele possui uma idade superior ou igual a 10 anos e tem discernimento para garantir respostas fidedignas a sua realidade, ou juntamente com o acompanhante quer seja um familiar ou cuidador que transmita as informações reais do paciente.
O TND atua diretamente com a copeira responsável pela dieta do paciente, uma vez que acompanha a montagem e a distribuição realizada por ela. É de suma importância essa parceria entre a copeira e TND, pois as informações em benefício do paciente são atualizadas com rapidez, tornando a dietoterapia mais eficaz e permite a individualização das condutas. Quanto mais rápido as informações são geradas e atualizadas pelo TND a copeira poderá executar também com precisão as demandas necessárias para o bem-estar do paciente.
A presença do técnico no momento do porcionamento promove segurança para a copeira sob sua supervisão, uma vez que as dúvidas podem ser sanadas no mesmo momento, reduzindo a quantidade de erros que podem surgir durante esse processo. A comunicação entre tais profissionais também beneficia o paciente, uma vez que a copeira recolhe as bandejas, esta pode ser mais um meio de comunicação entre a equipe e o paciente, por meio da sinalização de quantidade e principais alimentos rejeitados. Tal informação deve ser repassada ao nutricionista responsável por tal enfermaria e ser mais uma maneira de detectar risco nutricional e possibilitar intervenção dietética precoce.
Após analisado todos esses aspectos, o TND repassa as informações coletadas para o nutricionista responsável para que auxilie na tomada de decisão acerca da melhor conduta em relação à dietoterapia para cada paciente. Os TND possuem mapas de pacientes específicos por enfermaria clínica e registram os dados nessa ferramenta diariamente.
CONCLUSÕES
Diante do que foi exposto, torna-se evidente nesse relato de experiência, a importância do TND nos serviços de UAN hospitalar, uma vez que esse profissional possui capacidade técnica para identificar fatores de risco relacionados à alimentação, colaborando efetivamente com o acompanhamento nutricional dos pacientes internados.
O TND desempenha um importante papel na assistência nutricional, principalmente em uma instituição de alta complexidade, pois além de conhecer os pacientes, também mantém relação com a equipe multidisciplinar e com os demais colaboradores da empresa terceirizada que produz as refeições.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Conselho Federal de Nutrição. Resolução CFN nº 605, de 22 de abril de 2018.
JÚNIOR, G.N.S. et al. A relevância do responsável técnico nutricionista na prevenção de surtos alimentares em unidades de alimentação e nutrição. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.6, n.10, p.77795-77807, 2020.
LOBATO, T.A.A. et al. Aprimoramento do gerenciamento de riscos na distribuição de dietas hospitalares por via oral. Nutrición clínica y dietética hospitalaria, v. 39, n.1, p.141-145, 2019.
ROCHA, G.G. et al.Caracterização de Nutricionistas de Unidades de Alimentação e Nutrição Terceirizadas: Dados Demográficos, Perfil de Atuação e Percepção de Bem-estar. Revista Simbio-Logias, v. 9, n.12, p. 53-64, 2017.
TORRES, R; PEREIRA, S.; RIBEIRO, L. Jornalismo público para o fortalecimento da Educação Profissional em Saúde. Revista POLI: saúde, educação e trabalho. v. 1, n. 6, 2009.