ALIMENTAÇÃO E ESTILO DE VIDA DE COLABORADORES DE UMA UNIDADE PRODUTORA DE REFEIÇÕES
Graziely Barbosa Dantas1, Emilia Maria Gabriel de Sousa2, Catherine Teixeira de Carvalho3, Esther Pereira da Silva4, Isabelle de Lima Brito5
1 Estudante do curso Técnico em Nutrição e Dietética do CAVN-UFPB; E-mail: [email protected], 2Nutricionista da Empresa ATL, Alimentos do Brasil-RU-UFPB;E-mail:[email protected], 3Docente/pesquisadora do Depto de Tecnologia Agroindustrial – DGTA– CCHSA – UFPB; E-mail:[email protected], 4 Nutricionista Técnica administrativa– UFPB; E-mail: [email protected], 5Docente/pesquisadora do Depto de Tecnologia Agroindustrial – DGTA– CCHSA – UFPB; E-mail:[email protected].
Resumo: A segurança e qualidade de vida dos trabalhadores de uma Unidade Produtora de Refeições interferem diretamente na produção e segurança dos alimentos produzidos. Sabe-se que funcionários satisfeitos e resolvidos apresentam elevada produtividade e zelo pelas suas atividades. Dessa forma, o objetivo do presente estudo foi avaliar os hábitos alimentares e estilo de vida de manipuladores de alimentos de uma Unidade Produtora de Refeições. Para tanto, foi elaborado um questionário estruturado, autoaplicável, com questões sobre características demográficas, de saúde, hábitos alimentares e estilo de vida. De acordo com os resultados obtidos, mais da metade dos colaboradores apresentava dores crônicas frequentes e sensação de cansaço, mesmo após acordarem. Quanto aos hábitos alimentares, foi verificado um consumo de frutas e hortaliças inferior ao recomendado e um alto consumo de alimentos industrializados, sobretudo para as bebidas açucaradas (sucos industrializados, refrigerantes). Portanto, faz-se necessário adotar estratégias de promoção da saúde e educação nutricional em serviços de alimentação, para que os colaboradores possam ser orientados para os bons hábitos alimentares e estilo de vida, propiciando melhor qualidade de vida, satisfação e produção no trabalho.
Palavras-chaves: consumo alimentar;estilo de vida;serviços de alimentação.
INTRODUÇÃO
Os agravos ocupacionais caracterizados por acidentes físicos de trabalho já eram comuns na década de 80, situações estas, que resultaram em mortes, mutilações, intoxicações, perdas auditivas, pneumopatias, por exemplo. Com os avanços na sociedade, na da década seguinte, os agravos decorrentes do ofício do trabalho foram muito relacionados aos problemas psicológicos, gerando preocupações com a saúde do trabalhador que abrangia, além dos aspectos organizacionais e ergonômicos, também os psicossociais (SILVA et al., 2010).
Quando o trabalhador é de uma Unidade produtora de refeições (UPR), deve-se observar o ritmo de trabalho, que normalmente exige do operador esforço físico, movimentos repetitivos e sob situações de risco, como oscilação da temperatura dos ambientes frequentados, ruídos excessivos, iluminação precária e ventilação inadequada. Ademais, demandam do operador uma eficácia na execução de diferentes atividades em decorrência das necessidades do momento e/ou da cobrança gerada pelos horários em que as refeições são servidas. Estes fatores podem afetar diretamente tanto a saúde física quanto mental destes trabalhadores (TEIXEIRA et al., 2015).
Assim, a Qualidade de Vida no Trabalho (QVT) tem como foco a minimização dos efeitos potencialmente nocivos do trabalho sobre o trabalhador, sendo necessário, a identificação desses fatores e ações de promoção à saúde do trabalhador, especialmente no ambiente profissional (ANTOGLA, 2009).
Nos últimos anos, empresas brasileiras vêm se adaptando a modelos de programas de qualidade de vida de trabalhadores e têm observado redução de custos com assistência médica, absenteísmo e acidentes, além de contribuir para melhorar o bem-estar e a segurança dos trabalhadores (SILVA, 2010). Dentre alguns pontos positivos, têm se observado com isso, as boas relações sociais, hábitos de vida que refletem positivamente na sua na sua saúde e produtividade (SEBASTIÃO et al., 2015).
Portanto, o presente trabalho teve como objetivo a realização de uma pesquisa para avaliar os hábitos alimentares e estilo de vida de funcionários de uma UPR.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo com abordagem observacional e quantitativa, realizado em 2019 no Restaurante Universitário da Universidade Federal da Paraíba, do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, do município de Bananeiras-Paraíba. Participaram da pesquisa os funcionários terceirizados, contratados para exercer diversas funções na unidade produtora de alimentos. Para tanto, foi utilizado questionário estruturado, autoaplicável com questões de múltiplas escolhas sobre características socioeconômicas, sexo, idade, ocupação, hábitos alimentares, horas de sono e lazer e principais queixas relacionadas a dores no corpo.
Antes que fossem aplicados os questionários, os colaboradores foram informados sobre a natureza da pesquisa. Em caso de concordância, foram convidados a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, elucidando detalhes sobre o estudo e autorizando sua participação na pesquisa, bem como posterior divulgação dos dados.
Dos treze colaboradores existentes, 12 aceitaram participar da pesquisa e os dados foram coletados no momento de intervalo das suas atividades de rotina. Posteriormente, os dados foram tabulados e analisados em planilhas e Excel.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos participantes, 33% eram mulheres e 67% homens. De acordo com a coleta de dados, 58% dos funcionários entrevistados afirmaram apresentar dores crônicas frequentes, sendo as mais referidas as dores nas pernas (100%) e braços (86%).
De acordo com Salvettie (2007) a dor crônica pode identificar que dependendo da sua duração, além de desconfortáveis, podem induzir a alterações e prejuízos nas atividades diárias, sono, vida sexual, modificação do humor, autoestima, relações familiares, de trabalho e de lazer.
No presente estudo, dos funcionários que relataram dores crônicas, 57% referiram dores nas costas. Esses dados são relevantes uma vez que, segundo dados da secretaria de previdência do Ministério da Economia, em 2017, a dorsalgia (dor nas costas) representou a principal causa de afastamento dos brasileiros aos seus postos de trabalho, totalizando 83,8 mil casos (BRASIL, 2018).
Quando questionados sobre as horas de sono, apenas 17% (n=02) dos funcionários relataram sono de 8 horas/noite, sendo os 83% com sono noturno de 5 a 6h, ou seja, inferior ao recomendado pelo Instituto Nacional de Saúde que orienta quanto a necessidade de sono/dia de 7 a 9 horas (RICHARDS, 2017). Esse dado pode estar relacionado à realidade de horas insuficientes de sono, quando 50% (n=6) dos funcionários afirmaram acordar frequentemente com sensação de cansaço.
Além disso, 34% (n= 04) disponibilizam no máximo, até uma hora de lazer no dia (assistir televisão, passear, dentre outros). As principais alegações para esse curto tempo dedicado ao lazer foi a rotina de trabalho e os demais afazeres domésticos. Contudo, 66% afirmaram apresentar diariamente duas horas de alguma atividade de lazer.
Quanto à ingestão de água, 67% relataram consumir acima de dois litros diários, valor superior ao recomendado pelo Guia Alimentar (2L) por dia (BRASIL, 2014). Já quanto ao consumo alimentar, foi possível observar que os funcionários que consumiam diariamente arroz e feijão, representou 75% e 92%, respectivamente. Este alto consumo é também afirmado pelo guia alimentar para população saudável que ressalta que a combinação de arroz com feijão é a mais popular na mesa do brasileiro (BRASIL, 2014).
Porém em relação ao consumo de frutas e hortaliças foram deficitários para cerca de 50% e 67%, respectivamente, bastante inferiores ao recomendado pelo Guia Alimentar que preconiza consumo diário, sendo 3 porções de frutas nas sobremesas ou lanches a serem consumidas diariamente e 3 porções de hortícolas (BRASIL, 2014). Já em relação ao consumo de alimentos industrializados, 42% dos funcionários mostraram consumir bebidas açucaradas (sucos industrializados, refrigerantes) diariamente. Para os salgadinhos, fast foods e guloseimas o consumo diário, bem como de 03 a 04 vezes na semana e que não consumiam foram semelhantes (25%, cada). Enquanto para o consumo de embutidos o maior percentual foi detectado nos indivíduos que consumiam 03 a 04 vezes na semana (33%), mas 17% afirmam consumir todos os dias alimentos e 25% afirmaram não os consumir.
Esse consumo reflete a realidade do Brasil, e sabe-se que a prevalência de doenças, como o sobrepeso e obesidade, pode estar relacionada ao padrão alimentar caracterizado pelo excesso de industrializados (BARCELOS; RAUBER; VITOLO, 2014). Mackey et al. (2016) apontam a obesidade como um problema de saúde pública mundial que tem preocupado as organizações de saúde de todo mundo, pois tem sido apontada como fator de risco para diversas patologias crônicas não transmissíveis, tais como diabetes.
CONCLUSÕES
Dessa forma, pode-se concluir que os funcionários do restaurante apresentavam sensação de cansaço frequente e dores crônicas, sobretudo nos membros superiores e inferiores. Também foi observado que os funcionários relataram baixo consumo de frutas e hortaliças. Ainda, reportaram consumo relevantes de alimentos processados e ultraprocessados, sobretudo de bebidas açucaradas como sucos de caixinhas e refrigerantes.
Neste sentido, é importante ressaltar que os serviços produtores de refeição devem ser vistos como espaços de execução de ações de promoção da saúde e educação nutricional a fim de orientar seus manipuladores para a construção de bons hábitos alimentares e de estilo de vida, o que irá refletir em melhor satisfação e produtividade no trabalho.
REFERÊNCIAS
ANTOGLA, C. S. Práticas gerenciais e qualidade de vida no trabalho: o caso das micro e pequenas empresas do setor de serviços de alimentação em Brasília. Tese (Doutorado). Universidade de Brasília, 2009.
BARCELOS, G. T.; RAUBER, F; VITOLO, M. R. Produtos processados e ultraprocessados e ingestão de nutrientes em criança. Revista Ciência e Saúde, Porto Alegre, v. 7, p. 155-161, 2014.
BRASIL, Ministério da Economia, Secretaria de Previdência. Saúde do Trabalhador. 2018. Disponível em: http://www.previdencia.gov.br/2018/03/saude-do-trabalhador-dor-nas-costas-foi-doenca-que-mais-afastou-trabalhadores-em-2017/. Acesso 25/04/2020.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia alimentar para a população brasileira / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. – 2. ed., 1. reimpr. – Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
MACKEY, E. R.; OLSON, A.; DIFAZIO, M.; CASSIDY, O. Obesity Prevention and Screening. Primary Care: Clinics in Office Practice, v.43, p. 39–51, 2016
RICHARDS, K. O sono: bom demais para perder. Babelcube Inc., 2017.
SALVETTIE, M. G.; PIMENTA, C. A. M. “Dor crônica e a crença de autoeficácia.” Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 41, p.135-140, 2007
SEBASTIÃO, H. M. et al. Avaliação da qualidade de vida e do consumo alimentar de funcionários de uma empresa de fornecimento de energia elétrica. Revista brasileira de qualidade de vida, v. 07, n. 01, p.12-19, 2015.
SILVA, E. S. et al. Saúde do trabalhador no início do século XXI. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 35, n. 122, p. 185-186., 2010.
TEIXEIRA, S. A. et al. Investigação dos riscos ambientais e ergonômicos em restaurantes privados de um município do Piauí – Brasil. Revista Intertox-EcoAdvisor de Toxicologia, Risco Ambiental e Sociedade, v. 8, n. 1, p. 113-130, fev. 2015.