A NUTRIÇÃO EM TEMPO DE PANDEMIA: REVISÃO
Thaís Chantelle Cavalcante Silva1; Isabelle de Lima Brito2
1Estudante do Curso de Nutrição – Universidade Norte do Paraná – UNOPAR; E-mail: [email protected], 2Docente do Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial – CCHSA – UFPB. E-mail: [email protected].
Resumo: A importância da alimentação tem sido cada vez mais enfatizada, sobretudo no contexto de pandemia, principalmente quando se vislumbra o potencial de ação dos nutrientes sobre a imunidade. Dessa forma, o trabalho refere-se a um resumo bibliográfico contendo estudos atuais envolvendo alimentação, imunidade e Covid-19. Tratou-se de uma busca a partir de livros e artigos científicos nas bases digitais Science direct, Google acadêmico e Scielo, publicados entre 2015 a 2021. A ingestão adequada de nutrientes e seu aproveitamento pelo organismo está diretamente associado à condição de saúde, otimização do sistema imune e prevenção de doenças. Nesse sentido, diversos estudos têm investigado os possíveis efeitos de nutrientes, de forma isolada, na prevenção e/ou tratamento da Covid-19. Contudo, apesar de muitos já terem sido associados a potenciais efeitos positivos nestas perspectivas, sabe-se que o contexto de saúde abrange a adequação e interação de um conjunto extenso de nutrientes e compostos bioativos no organismo, além de demais hábitos e estilos de vida de um indivíduo. Dessa forma, uma alimentação balanceada notoriamente contribui para promoção da saúde e fortalecimento do sistema imune, podendo auxiliar o organismo frente às infecções, porém, a vacina continua sendo, atualmente, a única medida eficaz de combate à Covid-19.
Palavras-chave: alimentação saudável; Covid-19; imunidade; micronutrientes.
INTRODUÇÃO
A alimentação é uma necessidade básica do ser humano que garante a vida, pois através dos alimentos há o fornecimento ao organismo dos nutrientes e de calorias necessárias para a manutenção dos processos vitais. Contudo, a ingestão desequilibrada prolongada leva a inadequação dos tipos ou quantidades desses nutrientes que podem causar um declínio no estado de saúde ou imunidade (MAHAN; RAYMOND, 2018). Esta preocupação se torna um fato ainda mais relevante diante do contexto de insegurança em saúde causada pela pandemia da Covid-19, principalmente quando somada à situação de insegurança alimentar pré-existente no Brasil (ALAM et al., 2021).
A COVID-19 decretou emergência de saúde pública mundial com milhares de mortes, mesmo diante dos inúmeros esforços das organizações internacionais para contenção da doença. Apesar da vacina ser a única forma de conter essa pandemia, intervenções nutricionais que possibilitem melhorar e potencializar a imunidade da população tem sido uma estratégia extremamente válida e abordada nas pesquisas atualmente (ALAM et al., 2021). Neste sentido, uma dieta equilibrada e a manutenção do peso adequado pode estar associada a otimização da imunidade, bem como melhoria de suas respostas frente às infecções virais (GOMES et al., 2020). Isto porque a adoção de práticas alimentares saudáveis proporcionam o fornecimento de macro e micronutriente, além de compostos bioativos necessários para a integridade da barreira imunológica e contribui para manutenção e ou alcance do peso adequado, fator relevante pois, a desnutrição e a obesidade têm sido associadas aos piores desfechos em pacientes acometidos pela Covid-19, além de maior incidência de hospitalização e maior risco de morte (YANG et al., 2021).
Assim, este trabalho tem como objetivo compilar estudos atuais sobre a importância da alimentação e nutrição na imunidade e na redução das complicações causadas pelo coronavírus.
O PAPEL DOS ALIMENTOS NA IMUNIDADE
Em época de pandemia, pessoas tem procurado “fortalecer” o organismo através da nutrição, tendo em vista que uma alimentação saudável pode ser considerada uma ferramenta importante na modulação do sistema imune, o que possivelmente repercute na recuperação do organismo contra infecções, inclusive as virais (CARVALHO; BRITO, 2021). A imunidade refere-se à capacidade do organismo de lutar contra microorganismos invasores e estas respostas desempenham um papel importante também na patogenicidade ao SARS-CoV-2, uma vez que o causador da Covid-19 atua na desregulação da resposta imune e leva ao desenvolvimento da hiper-inflamação viral característica das complicações da doença (HOSSEINI et al., 2020).
O sistema imunológico, assim como todos os sistemas do organismo, depende da disponibilidade e utilização de nutrientes para a manutenção e função ideal de seus componentes, sendo as deficiências destes nutrientes associadas a efeitos negativos na fagocitose, sistemas complementares e na imunidade mediada por células (SIMPSON; HOFFMAN-GOETZ, 2020).
Nesta perspectiva, o estado nutricional de um indivíduo tem demonstrado impacto no metabolismo e função das células imunes. Isso porque os alimentos são formados de nutrientes e substâncias bioativas com função reguladora e propriedades anti-inflamatórias, que contribuem para auxiliar o organismo a otimizar sua resposta imunológica (WAGGONER et al., 2016). Assim, a ingestão de alimentos saudáveis compondo uma dieta equilibrada, aliada a hábitos e estilos de vida saudáveis, podem contribuir para minimizar riscos de infecção por patógenos (ALAMet al., 2021).
COVID-19 E ASPECTOS NUTRICIONAIS: PERSPECTIVAS ATUAIS
A Covid-19, doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, representa uma grave crise na saúde pública mundial. Embora medidas de contenção da doença venham sendo orientadas, sua expansão tem sido preocupante e a vacina, surge atualmente, como única alternativa viável para se combater esse mal (PROMPETCHARA et al., 2020). Contudo, estudos têm sido realizados para avaliar potenciais agravantes da doença, como alterações no estado nutricional e deficiência de nutrientes (ILIE et al., 2020; KHATIWADA; SUBEDI, 2021).
Assim, a nutrição é um fator chave atrelado a esta doença e o estado nutricional pode ser determinante nos riscos e desfechos da infecção promovida pelo SARS-CoV-2. Desse modo, a obesidade, desnutrição e deficiências de nutrientes podem estar associadas ao maior comprometimento do organismo (GÓMEZ et al., 2020; ALAM et al., 2020). Assim, além da adoção das recomendações oficiais no que diz respeito ao distanciamento social, higiene das mãos e uso de protetores individuais, como as máscaras, a manutenção do peso dentro dos padrões recomendados e uma dieta saudável podem atuar como coadjuvantes para superar a batalha contra o SARS CoV-2 (YANG et al., 2021: YU et al., 2021).
Nesse sentido, diversos estudos têm investigado os possíveis efeitos de nutrientes específicos, na prevenção e/ou tratamento da Covid-19, tais como vitaminas, minerais e bioativos. O selênio, por exemplo já teve sua deficiência associada a maior mortalidade em pacientes com Covid-19, pois este micronutriente reconhecido pelo elevado potencial antioxidante, pode atuar na otimização do sistema imunológico, diminuir o estresse oxidativo, inflamação e patogenicidade viral da doença (KHATIWADA; SUBEDI, 2021). Níveis adequados de vitamina D também já foram associados a menor mortalidade e progressão da Covid-19 nos pacientes hospitalizados, provavelmente devido a sua capacidade imunomoduladora, bem como contribui para o aumento das concentrações de citocinas anti-inflamatórias e redução das pró-inflamatórias (ILIE et al., 2020).
A suplementação de zinco também tem sido reportada como uma terapia adjuvante para COVID-19, especialmente em pacientes de alto risco, pois apresentam efeitos diretos na maturação e funções das células de defesa e na produção de citocinas e anticorpos (WESSELS et al., 2021). Contudo, é importante ressaltar que apesar de vários micronutrientes desempenharem papéis importantes nas respostas imunológicas que podem auxiliar na luta contra a Covid-19, deve-se considerar as dosagens consumidas e a importância do conjunto desses nutrientes que devem compor uma alimentação saudável e equilibrada (ALAMet al., 2020).
CONCLUSÕES
Diante do contexto de insegurança em saúde implantado com a pandemia do novo coronavírus, a alimentação tem sido muito enfatizada nos estudos quanto à possibilidade de minimizar os efeitos no organismo do indivíduo acometido pela doença ou na perspectiva de otimizar o sistema imune da população. Estudos envolvendo nutrientes específicos e seus possíveis efeitos frente à Covid -19 vem sendo realizados, contudo, é através da alimentação balanceada que se obtém não um, mas o conjunto de todos os nutrientes necessários para o perfeito funcionamento dos sistemas orgânicos, incluindo o imune. Dessa forma, a alimentação adequada é extremamente importante no contexto de promover saúde e fortalecimento do sistema imune, o que pode auxiliar o organismo frente às infecções, incluindo as virais.
AGRADECIMENTOS
A toda coordenação do II Encontro on-line do Técnico em Nutrição e Dietética que possibilitou aos estudantes do curso de Nutrição, desenvolver e ampliar seus conhecimentos. Agradeço também a Dra. Isabelle de Lima Brito que não mediu esforços para me auxiliar, além de ter promovido todo um incentivo e encorajamento para realização deste estudo.
REFERÊNCIAS
ALAM, S.; BHUIYAN, F. R.; EMON, T. H.; HASAN, M. Prospects of nutritional interventions in the care of COVID-19 patients. Heliyon, v. 7, n. 2, p. e06285, 2021.
CARVALHO, C. T.; BRITO, I. L. Turbine sua Imunidade – Alimentos saudáveis e com propriedades funcionais em tempos de pandemia. Editora Atena, p. 388-416, 2021.
GÓMEZ, J. C.; NOGUEROLES, M. M.; VALLO, F. G.; ÁLVAREZ, E. E.; BOTEJARA, E. M.; GONZÁLEZ. J. M. Inflammation, malnutrition, and SARS-CoV-2 infection: a disastrous combination. Revista Clínica Española, v. 220, n. 8, p. 511-517, 2020.
HOSSEINI, A. V., SHOMALI, N.; ASGHARI, F.; GHARIBI, T.; AKBARI, M.; JAFARI, A. Innate and adaptive immune responses against coronavirus. Biomedicine e Pharmacotherapy, p. 110859, 2020.
ILIE, P. C.; STEFANESCU, S.; SMITH, L. The role of vitamin D in the prevention of coronavirus disease 2019 infection and mortality. Aging clinical and experimental research, v. 32, n. 7, p. 1195-1198, 2020.
KHATIWADA, S.; SUBEDI, A. A Mechanistic Link Between Selenium and Coronavirus Disease 2019 (COVID-19). Current Nutrition Reports, v. 10 p. 125-136, 2021.
MAHAN, L. K.; RAYMOND, J. L. [tradução MANNARINO V.; FAVANO A]. Krause alimentos, nutrição e dietoterapia. 14 ªed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018. (e-book).
PROMPETCHARA, E.; KETLOY, C.; PALAGA, T. Immune responses in COVID-19 and potential vaccines: Lessons learned from SARS and MERS epidemic.. Asian Pac J Allergy Immunol, v. 38, n. 1, p. 1-9, 2020.
SIMPSON, J. R.; HOFFMAN-GOETZ, L. Nutritional deficiencies and immunoregulatory cytokines. In: Nutrient modulation of the immune response. CRC Press, p. 31-46, 2020.
WAGGONER, S. N. et al. Roles of natural killer cells in antiviral immunity. Current opinion in virology, v. 16, p. 15-23, 2016.
WESSELS, I.; ROLLES, B.; SLUSARENKO, A. J.; RINK, L. Zinc deficiency as a possible risk factor for increased susceptibility and severe progression of COVID-19. British Journal of Nutrition, p. 1-42, 2021.
YANG, J.; HU, J.; ZHU, C. Obesity aggravates COVID‐19: a systematic review and meta‐analysis. Journal of medical virology, v. 93, n. 1, p. 257-261, 2021.