DETERMINAÇÃO DOS COMPOSTOS BIOATIVOS NAS FARINHAS DOS TEGUMENTOS E DAS AMÊNDOAS DE MANGA ‘ESPADA’
Patrícia Maria de Araújo Gomes1; Dalmo Marcello Brito Primo1
1Docentes do Departamento Agroecologia e Agropecuária/CCAA/UEPB [email protected]; [email protected]
Resumo: A manga (Mangifera indica L.) é um fruto com boa aceitação no mercado devido ao sabor e textura agradáveis, no entanto muito deste fruto se perde como resíduos agroindustriais, como a casca e sementes, podendo funcionar como base de incremento de produtos alimentícios ou para o desenvolvimento de novos produtos, além de minimizar os impactos ambientais causados pelos descartes deste resíduo em locais inadequados. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a farinha do tegumento e da amêndoa de manga da variedade ‘Espada’ quanto aos compostos bioativos: flavonoides totais, carotenoides totais, taninos totais, compostos fenólicos totais e ácido ascórbico. A farinha do tegumento e da amêndoa da manga foi obtida mediante secagem em um secador de leito fixo na temperatura de 60 °C e velocidade do ar de secagem de 1,5m/s. Determinou-se os teores de compostos fenólicos totais, taninos totais, carotenoides totais, flavonoides totais e ácido ascórbico das farinhas obtidas, os resultados indicaram que as farinhas podem ser utilizadas como fontes de compostos bioativos antioxidantes em diversos formulados alimentícios.
Palavras–chave: antioxidantes; Mangifera indica L.; resíduo agroindustrial.
INTRODUÇÃO
O aproveitamento de resíduos, oriundos da indústria de processamento de frutas, vem sendo praticado desde a década de 70, para produção de farinhas, utilizando-as na elaboração de uma diversidade de produtos alimentícios (BECKER; KRUGER, 2010). A manga (Mangifera indica L.) é um fruto muito apreciado, com boa aceitação no mercado devido ao sabor e textura agradáveis, sendo utilizada em grande variedade de alimentos e produtos. No entanto a industrialização do fruto gera grandes quantidades de resíduos, constituídos principalmente de sementes e cascas, os quais são descartados de forma inadequada, provocando impactos no meio ambiente, requisitando o desenvolvimento de alternativas que utilizem este resíduo e que agreguem valor aos produtos obtidos.
O beneficiamento do tegumento e da amêndoa da manga, transformando-as em farinha e utilizando-as como ingrediente na elaboração de produtos alimentícios é uma alternativa para adequação de tecnologias para o aproveitamento dos resíduos agroindustriais pouco explorados e uma forma de minimizar os impactos ambientais causados pelos descartes destes resíduos no meio ambiente. O objetivo deste trabalho foi caracterizar a farinha do tegumento e da amêndoa de manga da variedade ‘Espada’ quanto aos compostos bioativos: flavonoides totais, carotenoides totais, taninos totais, compostos fenólicos totais e ácido ascórbico.
MATERIAL E MÉTODOS
A secagem para fins de produzir as farinhas do tegumento e da amêndoa de manga ‘Espada’, foram realizados no secador convectivo de leito fixo na temperatura de 60 °C e velocidade do ar de secagem 1,5 m/s com base em testes preliminares. Após a secagem, os tegumentos e as amêndoas foram triturados em um moinho de facas para obtenção das farinhas, as quais foram denominadas da seguinte forma: FTE – Farinha do tegumento da manga variedade ‘Espada’ e FAE – Farinha da amêndoa da manga variedade ‘Espada’.
A caracterização das farinhas foi feita quanto aos compostos bioativos: flavonoides totais, carotenoides totais, taninos totais, compostos fenólicos totais e ácido ascórbico, estas análises foram realizadas no Laboratório de Tecnologia de Grãos e Cereais da Unidade Acadêmica de Tecnologia de Alimentos, CCTA da Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Pombal de acordo com as metodologias descritas a seguir: Para as determinações dos flavonoides tomou-se a metodologia de Francis (1982), a quantificação de compostos fenólicos totais foi determinada a partir do método de Folin-Ciocalteau descrito por Waterhouse (2006), a determinação de carotenoides totais foi realizada de acordo com Lichtenthaler (1987), a determinação de taninos foi feita utilizando ácido tânico como padrão, sendo determinado em espectrofotômetro digital (Biopectro SP-220) a 765 nm (GOLDSTEIN; SWAIN, 1963). O ácido ascórbico foi determinado por método titulométrico, utilizando 2,6 diclofenol indofenol.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores médios para os compostos bioativos da farinha do tegumento e da farinha da amêndoa da manga ´Espada` estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Caracterização dos biocompostos nas farinhas do tegumento e da farinha da amêndoa de manga da variedade Espada.
Determinação | FTE | FAE |
Compostos fenólicos totais (mg de EAG*/100 g) | 437,472±0,091 | 4097,02±0,032 |
Taninos totais (mg de EAT**/100 g) | 733,973± 0,231 | 8228,36± 0,06 |
Carotenoides (µg/g) | 2,545±0,236 | 1,304±0,08 |
Flavonoides (mg/100 g) | 6,281±0,09 | 41,771±0,05 |
Ácido Ascórbico (mg/100 g) | 1,78±0,07 | 1,60±0,21 |
*EAG – Equivalente ácido gálico; **EAT – Equivalente ácido tânico; Cada valor representa a média e o desvio padrão de três repetições; FTE – Farinha do tegumento da manga Espada; FAE – Farinha da amêndoa da manga Espada.
Observa-se na Tabela 1 que o teor de compostos fenólicos totais da farinha do tegumento foi superior aos encontrados por Ribeiro et al. (2013) em farelo do caroço de manga variedade ‘Ubá’ que foi de 6,56 mg de EAG2/ Foi observado na farinha FAE valor superior aos quantificados por Arbos et al. (2013) que foi de 3.123,13 mg/100 g no extrato da farinha da amêndoa da manga da variedade ‘Tommy Atkins’.
Para os teores de taninos totais (Tabela 1), foi observado na FTE valor superior aos determinados por Abdalla et al. (2007), que foi de 20,7 mg EAT/100 g no tegumento de manga. Os valores determinado de taninos totais na farinha da amêndoa da manga ‘Espada’, foi superior ao relatado no estudo realizado por Siqueira (2013) quando avaliou a farinha da amêndoa de ‘Baru’ (Dipteryx alata) observando teores de taninos totais de 992,51 mg/100 g, podendo-se afirmar que as FAE possui teor elevado de taninos totais e, portanto, apresenta atividade antioxidante.
O teor de carotenoides totais encontrado na farinha do tegumento da manga ‘Espada’ (FTE) foi inferior aos determinado por Gomes et al. (2016) que determinaram 651,3 µg/100 g para as cascas de manga in natura e Salec et al. (2016) que obtiveram 20,06 e 28,05 mg/100 g para as farinhas das cascas de manga das variedades ‘Palmer’ e ‘Tommy Atkins’ respectivamente. O teor de carotenoides totais encontrado na FAE foi inferior ao determinado por Silva e Silva (2015) na farinha do resíduo da manga que foi de 721,45 µg/100g.
O teor de flavonoides determinado na FTE foi inferior quando comparado ao obtido na farinha das cascas da manga ‘Tommy Atkins’, que foi de 120,73 mg/100g de amostra, quantificado por Moreno (2015). O teor de flavonoides observado na farinha da amêndoa da manga foi superior ao encontrado por Silva et al. (2014), que detectou um teor de 27,64 mg/100 g em amêndoa de ‘Monguba’ (Pachira aquatica aublet).
No que se refere ao ácido ascórbico da farinha do tegumento da manga o valor determinado foi inferior ao encontrado por Melo e Araújo (2011), que foi de 127,36 mg/100g para o resíduo desidratado da manga ‘Espada’ e 99,94 mg/100g para o resíduo desidratado da manga ‘Tommy Atkins’. Quanto ao valor determinado na FAE foi inferior aos relatados por Andrade et al. (2014) na amêndoa da manga variedade ‘Ubá’ de 41,32 mg/100g, apesar destes valores serem baixos, pode-se afirmar que estas farinhas podem ser utilizadas como fonte complementar desta vitamina.
CONCLUSÕES
A farinha do tegumento e da amêndoa de manga da variedade ‘Espada’, apresentaram em sua constituição compostos fenólicos totais, taninos totais, flavonoides totais e carotenoides totais, indicando que as farinhas podem ser utilizadas como fontes de compostos bioativos antioxidantes em diversos formulados alimentícios.
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