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RELATO DE EXPERIÊNCIA SOBRE RASTREAMENTO DE SAÚDE MENTAL NO TERRITÓRIO DE UMA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DO CURIMATAÚ PARAIBANO

Capítulo de livro publicado no livro: Tecendo cuidados e semeando saúde: experiências e relatos inspiradores de atenção primária. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786599965838-14

Este trabalho foi escrito por:

Tainná Weida Martins da Silva; Tatielle de Lima Vieira; Rafael Mateus Tabosa; Gabriela Nobrega Moreira; Isis Giselle Medeiros da Costa; Jessyka Kallyne Galvão Bezerra; Raphaela Veloso Rodrigues Dantas; Luana Carla Santana Ribeiro

RESUMO

Introdução: A saúde mental merece destaque no cuidado aos usuários de saúde, pois tem impacto direto na qualidade de vida e, quando não tratada, pode trazer diversos agravos à saúde. Objetivo: Descrever a experiência sobre o rastreamento em saúde mental, realizado no território adscrito de Unidade Básica de Saúde de Cuité-PB, por um grupo tutorial do PET-Saúde do Centro de Educação e Saúde, da Universidade Federal de Campina Grande. Metodologia: Trata-se de um relato de experiência, de abordagem qualitativa, sobre o rastreamento voltado para a saúde mental dos usuários da UBS Raimunda Domingos de Moura do município de Cuité, Paraíba, desenvolvido por um grupo tutorial do eixo assistência do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde do CES/UFCG em parceria com a equipe da UBS, no período de setembro de 2022 a fevereiro 2023. O instrumento usado foi um questionário estruturado e adaptado, denominado de Self Report Questionnaire 20. As entrevistas ocorreram durante as visitas domiciliares, dos discentes do PET-saúde juntamente com os ACS. Resultados: Durante a fase de planejamento da ação, notou-se uma certa insegurança por parte da equipe na abordagem às pessoas e no conhecimento da importância da temática, pelo fato da saúde mental ainda ser um estigma, demonstrando a importância da qualificação da equipe. No que diz respeito às pessoas entrevistadas, também se identificou a escassez de conhecimento sobre o tema, visto o percentual expressivo de sofrimento mental na população já analisada.  Ainda, destaca–se a importância de ações como essa, que possibilita que o serviço chegue ao usuário e possa intervir de maneira efetiva. Conclusões:Logo, evidencia-se a importância da abordagem da saúde mental no contexto de atenção primária, e essa experiência possibilitou uma rica partilha de conhecimento entre acadêmicos e equipe, e acredita-se que trará benefícios para a saúde da comunidade. 

Palavras-chave: atenção básica, rastreamento, saúde mental

INTRODUÇÃO 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), problemas de saúde mental merecem atenção devido à sua prevalência e ao impacto que trazem à vida das pessoas. Os transtornos mentais como depressão, abuso de álcool, transtorno bipolar e esquizofrenia são as principais causas de incapacidade, acometendo um em cada seis anos vividos com incapacidade (1). 

No Brasil, cerca de 50 milhões de pessoas sofrem algum tipo de transtorno mental, segundo dados da Associação Brasileira de Psiquiatria. Os diagnósticos são variados: depressão, transtornos de humor, déficit de atenção, ansiedade, entre outros, sendo mais prevalentes a ansiedade e a depressão. São doenças que podem afetar todas as faixas etárias (2).

A saúde mental pode ser definida como um estado de bem-estar mental que permite às pessoas lidar com os momentos estressantes da vida, desenvolver todas as suas habilidades, aprender e trabalhar bem e contribuir para a melhoria de sua comunidade. Esta é considerada um direito humano fundamental e um elemento essencial para o desenvolvimento pessoal, comunitário e socioeconômico (3). O desenvolvimento de uma boa saúde mental pode ser adquirido por meio da promoção à resiliência, que consiste na capacidade do indivíduo de lidar com fatores estressantes e, apesar disso, conseguir se adaptar, tornando-se capaz de desenvolver suas responsabilidades e garantir equilíbrio mental (4).

Os distúrbios mentais mais comuns prevalentes em grande parte da população são divididos em duas principais categorias de diagnóstico: transtornos de ansiedade e transtornos depressivos (5). Esses transtornos são caracterizados por diversas alterações nas funções psíquicas e podem provocar sintomas como tristeza, perda de interesse ou prazer e ainda sentimento de culpa ou baixa autoestima, esses sintomas, dependendo do grau, podem afetar a qualidade de vida de uma pessoa (6). A OMS estima que atualmente a depressão afeta cerca de 350 milhões de pessoas, sendo que a taxa de prevalência na maioria dos países varia entre 8% e 12% (3).

A falta de diagnóstico e tratamento dessas condições pode levar ao sofrimento psíquico e somático, discriminação, isolamento social, interrupção ou diminuição do rendimento dos estudos e/ou trabalho, abuso de drogas e/ou álcool e aumento da mortalidade (suicídio, homicídio) (5;6). Nessa perspectiva, identificar o sofrimento mental de maneira precoce têm demonstrado importante relevância no meio científico e nas práticas assistenciais em saúde, pois como a população ainda apresenta certa resistência, sobretudo quando se trata de saúde mental, é urgente a necessidade de investigar a incidência desses transtornos. Diante do exposto, nota-se a importância e a necessidade de rastreamento de problemas mentais na comunidade, para auxiliar na busca por diagnóstico correto, bem como para nortear uma intervenção adequada. 

Em relação à atenção em saúde mental, a Política Nacional de Saúde Mental, implementada no Brasil entre 1990 e 2006, incentivou a criação de serviços na ótica da Reforma Psiquiátrica, introduzindo um modelo de atenção psicossocial pautado em uma perspectiva social sobre as pessoas em sofrimento psíquico. Desta forma, implementou-se uma rede de atendimento baseada nos princípios da integralidade de ações e da intersetorialidade, na qual está inserida a atenção básica, que tem um importante papel na detecção e atenção às demandas de saúde mental (7).

A Atenção Primária à Saúde (APS), por integrar a Rede de Atenção à Saúde (RAS), torna-se o primeiro nível de atenção ligado diretamente aos usuários com  demandas  de  saúde  mental,  e,  devido a essa  característica  ímpar,  é  de  fundamental importância  que  o  acolhimento  seja  fortalecido  dentro  desse  âmbito  de  cuidados, tanto para mobilizar  a  sensibilidade  dos  profissionais  através  de  ação  reflexiva,  ética  e  solidária no momento do acolhimento, quanto para contribuir com o apoio social e com medidas de enfrentamento do estigma e preconceito que circundam a pessoa com sofrimento mental. Dessa forma, espera-se fortalecer os princípios do SUS no que se refere à integralidade e equidade entre os sujeitos (8).

Portanto, a proposta de uma investigação sobre a saúde mental dos usuários no cenário da Estratégia Saúde da Família, pode trazer respostas que norteiem a qualificação e eficácia da assistência à saúde para esse segmento de pessoas, contribuindo sobremaneira na criação e implementação de programas e novas estratégias que potencializem a promoção da saúde, prevenção de agravos, qualidade de vida dos usuários de saúde e seu tratamento oportuno e adequado. Desse modo, objetivou-se descrever a experiência sobre o rastreamento em saúde mental, realizado no território adscrito de Unidade Básica de Saúde de Cuité-PB, por um grupo tutorial (GT) do PET-Saúde do Centro de Educação e Saúde, da Universidade Federal de Campina Grande (CES/UFCG).

MATERIAL E MÉTODOS 

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, de abordagem qualitativa, sobre o rastreamento voltado para a saúde mental dos usuários da UBS Raimunda Domingos de Moura do município de Cuité, Paraíba, desenvolvido por um grupo tutorial do eixo assistência do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) do CES/UFCG em parceria com a equipe da UBS. O relato de experiência é um tipo de produção de conhecimento, cujo texto trata de uma vivência acadêmica e/ou profissional em um dos pilares da formação universitária (ensino, pesquisa e extensão), cuja característica principal é a descrição da intervenção. A construção deve apresentar embasamento científico e reflexão crítica (9). Esse tipo de estudo pode ser considerado como uma expressão escrita de vivências, sendo capaz de contribuir na produção de conhecimentos das mais variadas temáticas, sendo reconhecida a importância de discussão sobre o conhecimento. O conhecimento humano está interligado ao saber escolarizado e às aprendizagens advindas das experiências socioculturais. O seu registro por meio da escrita é uma relevante possibilidade para que a sociedade acesse e compreenda questões acerca de vários assuntos e a sua propagação está relacionada com a transformação social (10).

O rastreamento de sofrimento psíquico com o público da UBS referida começou a ser realizado em setembro de 2022 e encontra-se em andamento, incluindo indivíduos com faixa etária a partir dos 12 anos de idade, que têm transtorno mental ou não, com o objetivo de investigar o estado atual da saúde mental dos usuários da atenção básica da presente unidade de serviço. Até fevereiro de 2023, foram realizados 184 rastreamentos.

A ferramenta utilizada foi um questionário estruturado impresso com 20 perguntas características do estudo, a fim de identificar a presença de sofrimento psíquico leve entre os entrevistados. O questionário denominado de SRQ 20 – Self Report Questionnaire, trata-se de um teste adaptado, que avalia o sofrimento mental, validado pelo Ministério da Saúde (APÊNDICE), contendo 20 perguntas de respostas objetivas de sim ou não. Ao final, realiza-se a classificação do estado de saúde mental do entrevistado, sendo o somatório de 7 ou mais respostas positivas condizente com a classificação de “sofrimento mental leve”. Além disso, adicionou-se ao questionário: dados de identificação; presença de transtorno mental diagnosticado; uso de medicamentos psicotrópicos; e realização de acompanhamento com algum profissional ou serviço de saúde mental.

Inicialmente, das discussões realizadas nas reuniões semanais do grupo e mensais com a participação dos prestadores de serviço da UBS Raimunda, emergiu a demanda de uma grande quantidade de pessoas na Comunidade com problemas de saúde mental e a necessidade de rastrear essas pessoas, para após o diagnóstico situacional, implementar ações e novas estratégias de cuidado a esse público. Após pesquisas na literatura publicada sobre a temática, selecionou-se o questionário supracitado e, após a sua adaptação, o material foi impresso e distribuído entre os entrevistadores, que receberam treinamento para aplicar o questionário. 

A aplicação de questionário está sendo realizada por estudantes da área da saúde, dos Cursos de Enfermagem e Nutrição, integrantes do PET-Saúde do CES/UFCG, em parceria com os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) da UBS, por meio de entrevista em visitas domiciliares, nas respectivas microáreas dos ACS. Ressalta-se a relevância da participação dos ACS, tendo em vista que os mesmos tanto conhecem o território, quanto têm familiaridade com os usuários de saúde. Por conseguinte, os acadêmicos reuniram-se com os ACS para o planejamento de data e de turno em consonância com as atividades dos agentes na comunidade, bem como cada ACS supervisionou uma dupla de estudantes em visitas domiciliares. 

Enfatiza-se que as entrevistas estão sendo realizadas em local que assegure a privacidade dos participantes, em seus domicílios, sendo garantido que os dados do rastreamento serão para utilização da equipe da UBS no planejamento do cuidado.

O GT do PET-Saúde, com ênfase em assistência atuante na UBS Raimunda, é composta por uma equipe interdisciplinar, que conta com a participação de oito discentes, sendo quatro do Curso de Bacharelado em Enfermagem e quatro do Curso de Bacharelado em Nutrição, duas preceptoras, sendo uma enfermeira e uma nutricionista da UBS, uma coordenadora geral, professora do Curso de Bacharelado em Enfermagem, e uma tutora da equipe, professora do Curso de Bacharelado em Nutrição. Entre as atividades destinadas à equipe tutorial, o rastreamento incorpora não somente a identificação do bem-estar psicossocial dos usuários, como também possibilita o reconhecimento da população adscrita e a integração dos acadêmicos entre si e com os prestadores de serviço da UBS. 

A equipe da UBS Raimunda é composta por uma equipe multiprofissional que dispõe de enfermeira, técnica de enfermagem, médica, psicólogo, nutricionista, dentista, técnica em saúde bucal e seis agentes comunitários de saúde. O território é bastante diversificado, atendendo a zona urbana predominantemente, e uma parcela da zona rural. A unidade possui 4237 cadastros ativos, sendo composta majoritariamente por usuárias do sexo feminino (54%), pardos (57,4%), e 42,1% possuem o ensino fundamental incompleto. 

Posteriormente, após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa, pretende-se desenvolver pesquisa documental, para análise dos questionários aplicados e maior conhecimento e aprofundamento da problemática.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A abordagem da saúde mental na atenção primária enfrenta obstáculos, como a fragilidade dos usuários em desmistificar os transtornos mentais, que frequentemente apresentam o significado reducionista de perda de lucidez, sendo permeado por antigos tabus. Tal situação tem sido discutida e desconstruída há mais de 30 anos, por meio das lutas de reorganização do modelo de atenção à saúde mental proposta pelas reformas psiquiátricas. O fortalecimento do Sistema Único de Saúde (SUS), pactuado por meio do Ministério da Saúde, busca a efetivação de qualidade de vida das pessoas que apresentam desequilíbrios emocionais ou diagnósticos de transtornos mentais presentes no CID-10, classificação internacional de doenças (8).

Diante da compreensão que a sociedade tem a respeito do assunto, repleta de tabus e estigma, houve entraves tanto relacionados aos anseios da equipe da UBS, como também referentes ao aceite das pessoas em fazer parte do rastreamento. Inicialmente, não foi fácil lidar com a preocupação da equipe em como abordar os usuários do território da unidade, visto que não era uma pauta tratada como prioridade na atenção básica. No entanto, a dificuldade foi trabalhada por meio do diálogo em conjunto com o grupo tutorial, com o objetivo de construir a melhor condução da temática com as pessoas. As reuniões foram indispensáveis e norteadoras, tanto para os integrantes do PET-Saúde, quanto para os ACS, considerando a relevância da pesquisa para comunidade como meio de reconhecimento das necessidades dos usuários, como também para engajá-los mais nos cuidados da sua saúde mental. 

 As partilhas descritas pelos ACS sobre o público de suas microáreas, apontando o reconhecimento de sofrimento psíquico de alguns usuários, foram cruciais para identificar e delinear os transtornos mentais mais recorrentes na unidade, através de relatos de vivências do ACS com a comunidade da UBS. Essas pessoas já conhecidas com algum tipo de transtorno mental, foram incluídas prioritariamente no rastreamento, assim como seus familiares. No entanto, os agentes reforçaram em suas falas a recusa das pessoas em seguir o tratamento medicamentoso ou de ser acompanhado por um profissional da área de saúde mental, o que corrobora com a evidência de estudos de que ainda existe uma visão embasada no paradigma psiquiátrico tradicional (11). Outro estudo aponta a necessidade de educação contínua dos profissionais da atenção primária, pois o cuidado em saúde mental envolve a reformulação de conceitos e pensamentos que geralmente segregam e excluem a pessoa com transtorno mental e sua família (12).

Ao analisar as entrevistas realizadas e a recepção das pessoas em suas residências, percebeu-se um déficit de conhecimento sobre a importância do autocuidado entre os participantes, e alguns entrevistados apresentaram posturas diversas em relação às perguntas do questionário, isto é, observou-se a inquietação dos mesmos em relatar a  própria vida, encarando como uma ação muito constrangedora conversar sobre seus pensamentos e emoções, uma situação que foge do padrão da normalidade estabelecido pela sociedade, chegando até a considerar como uma frontalidade à religião em alguns casos, isto é, a religiosidade está ligada a múltiplos fatores que acercam as pessoas no seus âmbito espiritual,  que enquadra as crenças positivas e benéficas para a alma. Esse ponto de vista diverge com os pensamentos negativos e suicidas que contrariam as leis divinas presente no meio religioso. Assim, o indivíduo que tende apresentar aversão e negação ao direcionar as particularidades de pensamentos que não se enquadram nas normas presente no censo religioso. 

Ademais, foi possível identificar um número expressivo de pessoas que se encontram em sofrimento mental leve a moderado, destas muitas nunca fizeram uma consulta referente à saúde mental com profissional de saúde. Analisando os aspectos referentes à saúde mental, pesquisa sobre transtornos mentais e a utilização de serviços de saúde em um município do interior de São Paulo (13), revelou a vulnerabilidade da população e a necessidade de implementação de ações efetivas nessa área. 

Nos casos em que se identificou maior gravidade de sofrimento mental, como aquelas pessoas que relataram ideação suicida, realizou-se encaminhamento para um atendimento com o psicólogo da unidade, para que haja esse acompanhamento profissional mais específico. Em casos de ideação suicida, a literatura (6) destaca que esta é um fenômeno muito complexo e que exige a articulação dos diversos setores e a ação de vários atores sociais nas medidas de prevenção do ato do suicídio.

Existem inúmeros desafios para avançar na qualificação das ações de saúde mental na Atenção Primária. Esses vão desde transformar a lógica da ação profissional voltada eminentemente para a doença e com  foco   no   consumo   de   procedimentos   e   encaminhamentos   para   os   níveis   especializados   de atendimento; ampliar as ferramentas de trabalho para atuar em diferentes âmbitos (pessoal, familiar e sociocultural), com ações intersetoriais, visando à  promoção da saúde e o protagonismo dos usuários e familiares; avançar em dispositivos clínico-políticos que garantam a perspectiva da produção e garantia da  continuidade  do  cuidado (14).

Além disso, identificou-se no território que existe um certo estigma quando se trata de saúde mental. Sendo assim, destaca-se a importância da promoção de ações em saúde visando elucidar a importância do cuidado com a saúde mental. Ademais, é mister proporcionar mais capacitação para equipe da atenção básica, em especial, os agentes comunitários de saúde, que inicialmente apresentaram certa insegurança em abordar esse tema. Outro estudo (15) evidenciou similar situação ao constatar as dificuldades inerentes ao campo da saúde mental, devido à falta de instrução e capacitação, enfrentadas pela equipe atuante na APS. Muitos profissionais não se sentem capacitados para abordar a saúde mental e atender as pessoas com transtornos mentais, o que pode ser explicado pela forma com que é trabalhada a educação em saúde nos cursos de capacitação, que abordam a saúde mental apenas de forma teórica, não dando subsídios para a atuação prática dos profissionais (14). Ainda, ressalta-se a importância de continuar com esse rastreamento para captação daquelas pessoas que precisam de um acompanhamento, contudo não procuram ajuda profissional.

CONCLUSÕES

A experiência de acadêmicos de Enfermagem e de Nutrição na expansão de seus horizontes sobre a importância da atenção primária como o contato preferencial dos usuários com o serviço público de saúde, para o atendimento de suas múltiplas necessidades, inclusive as da dimensão psicossocial, proporciona aos estudantes o reconhecimento da relevância de cada profissional e de seu papel no cuidado integral da pessoa, família e coletividade, bem como a vivência enriquecedora de lidar com uma temática que ainda é tão perpassada por tabus e preconceitos. Ainda, destaca-se a importância de ações como o rastreamento da ocorrência de sofrimento psíquico na Comunidade, descrito neste relato, para que o serviço da APS amplie o acesso dos usuários aos serviços de saúde e ações preventivas e promotoras de saúde mental.

A saúde mental deve ser tratada como pauta fundamental e prioritária das ações de saúde na atenção primária, a fim de que as pessoas possam se sentir acolhidas em suas necessidades e possam ter um espaço de escuta empática para debater sobre o assunto e intensificar a procura de cuidados com a saúde da mente, visando tanto a redução de consumo desordenado de medicamentos, quanto as fatalidades em decorrência da ausência de cuidados.

Logo, experiências como esta são de extrema valia, pois mostra o quanto a atenção primária pode ser protagonista do cuidado baseado nos princípios do SUS, como a integralidade, a universalidade, a acessibilidade e a longitudinalidade da atenção. O trabalho em equipe interdisciplinar e a partilha de experiências permite tanto aos acadêmicos quanto à equipe, o aprofundamento de conhecimento na área de saúde mental, que ainda é muito estigmatizada.

Portanto, enfatiza-se a importância desse relato para inspirar ações como o rastreamento, que visem conhecer o panorama da saúde mental dos usuários de saúde, pois este pode favorecer o planejamento de medidas de prevenção de agravos na saúde mental e de desfechos desfavoráveis. Ademais, apontar caminhos que possibilitem conhecer o cenário epidemiológico é de extrema importância, pois desta maneira será possível a elaboração e implementação de medidas que visem alcançar e atender a demanda dos usuários do serviço.

REFERÊNCIAS

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2. Rigue A. Psicofobia: preconceito com pessoas que tem transtornos mentais agrava sintomas [Internet] São Paulo, 2022. [acesso em 24 mar 2023] Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/saude/psicofobia-preconceito-com-pessoas-que-tem-transtornos-mentais-agrava-sintomas/ >

3. World Health Organization. Mental health action plan 2013-2020 [Internet]. Geneva: WHO, 2012. [acesso em 22 jan 2023] Disponível em: <http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/89966/1/9789241506021_eng.pdf?ua=1> Acesso em: 08 de jan de 2022.

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5. Lopes KCSP, Santos WL. Transtorno de ansiedade. RevInic Cient. 2018;1:45-50. Disponível em: <https://revistasfacesa.senaaires.com.br/index.php/iniciacaocientifica/article/view/47> Acesso em 09 de janeiro de 2023.

6. Tavares  FL.  et  al.  Mortalidade  por  suicídio  no  Espírito  Santo,  Brasil: análise do período de 2012 a 2016. Av Enferm. 2020; 38: 66-76.

7. BRASIL. Ministério da Saúde (MS). Portaria nº 2.436, de 21 de setembro de 2017. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes para a organização da Atenção Básica, no âmbito do Sistema único de Saúde (SUS). Diário Oficial da União 2017.

8. Rodrigues, LBB; Silva, PCS; Peruhype, RC. et al. A atenção primária à saúde na coordenação  das  redes  de  atenção:  uma  revisão  integrativa. Ciênc. saúde  coletiva. 2014; 19(2):343- 352.

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14. Dimenstein, M, Lima AIO, Macedo JP. Integralidade em saúde mental: coordenação e continuidade de cuidados na atenção primária. In: Paulon S, NevesR, organizadoras. Saúde mental na atenção básica. Porto Alegre: Sulinas; 2013. p. 39-60.

15. Franco MP. Equipe atuante no programa saúde da família: conceitos e possibilidades de assistência em Saúde Mental [dissertação]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo; 2006.

16. Tanaka OU, Ribeiro EL. Ações de saúde mental na atenção básica: caminho para ampliação da integralidade da atenção. Ciênc Saúde Coletiva. 2009;14(2):477-86.

APÊNDICE –  QUESTIONÁRIO UTILIZADO NO RASTREAMENTO DE SAÚDE MENTAL

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