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RELAÇÃO DA ADESÃO À DIETA MEDITERRÂNICA, ATRAVÉS DA FERRAMENTA KIDMED E ANTROPOMETRIA EM CRIANÇAS

Capítulo de livro publicado no livro do I Congresso Internacional em Ciências da Nutrição. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062015-28

Este trabalho foi escrito por:

Carolina Maria Justino da Silva *1João Lima *2

*1 Email:carolinamsjustinomail.com

*2 Email: [email protected]

Resumo: A Dieta Mediterrânica é um padrão alimentar completo e equilibrado difundido em todos os países mediterrânicos. Esta promove benefícios para a saúde, longevidade e qualidade de vida. De modo a quantificar a adesão a esta dieta, o KIDMED é um questionário baseado na avaliação do regime alimentar, de acordo com os princípios que suportam e enfraquecem esta dieta. A avaliação do crescimento e desenvolvimento das crianças, através de dados antropométricos são importantes indicadores de saúde e essenciais para a sinalização de situações de risco, o mais precoce possível. Avaliação do consumo alimentar através da aplicação de ferramentas de avaliação de padrão alimentar, KIDMED, associando os hábitos alimentares em crianças com a adesão à Dieta Mediterrânica e correlacionar com dos dados antropométricos recolhidos. Foram avaliados 58 crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos. Para a execução deste estudo foram recolhidas informações relevantes, relativas à antropometria, ao sexo e idade. Os indivíduos foram de igual modo, submetidos ao questionário KIDMED. Da amostra avaliada22,4% da amostra apresenta baixo peso, 72,4 % peso normal, 1,7 % excesso de peso e 3,4% obesidade, de acordo com a classificação do IMC e percentil estimado para cada participante. Foi possível observar não existe quaisquer associações da adesão à Dieta Mediterrânica com o IMC, peso, PC nem com o risco cardiovascular associado aos percentis. De acordo com os resultados, verificou-se que os dados antropométricos e consequentemente os percentil e risco cardiovascular associada não são preditivos na de uma adesão à Dieta Mediterrânica.

Palavras–chave: avaliação antropométrica; crianças; dieta Mediterrânica; KIDMED; peso

Abstract: The Mediterranean Diet is a complete and balanced dietary pattern widespread in all Mediterranean countries. This promotes health benefits, longevity and quality of life. In order to quantify adherence to this diet, the KIDMED is a questionnaire based on the assessment of the diet, according to the principles that support and weaken this diet. The assessment of children’s growth and development through anthropometric data are important health indicators and essential for signaling risk situations as early as possible. Assessment of food consumption through the application of dietary pattern assessment tools, KIDMED, associating eating habits in children with adherence to the Mediterranean Diet and correlating with the anthropometric data collected. 58 children aged between 2 and 6 years were evaluated. To carry out this study, relevant information related to anthropometry, sex and age were collected. The individuals were also submitted to the KIDMED questionnaire. Of the sample evaluated, 22.4% of the sample is underweight, 72.4% normal weight, 1.7% overweight and 3.4% obese, according to the BMI classification and estimated percentile for each participant. It was possible to observe that there is no association between adherence to the Mediterranean Diet and BMI, weight, HC or cardiovascular risk associated with percentiles. According to the results, it was found that anthropometric data and consequently the percentile and associated cardiovascular risk are not predictive of adherence to the Mediterranean Diet.

Keywords: anthropometric assessment; children; mediterranean diet; KIDMED; weight

INTRODUÇÃO

A Dieta Mediterrânica é um padrão alimentar completo e equilibrado difundido em todos os países mediterrânicos, sendo a sua adesão bastante recomendada pela comunidade científica pelos diversos benefícios para a saúde, longevidade e qualidade de vida.

Os seus princípios assentam na Cultura, Tradição e Equilíbrio, tendo sido estabelecido em Portugal pela UNESCO, em 2013, património cultural imaterial da humanidade transmitido de geração em geração, integrando uma combinação equilibrada de alimentos. Segundo esta Dieta deverão ser respeitados estes os seguintes princípios: simplicidade na cozinha, tendo por base preparados que preservam os nutrientes, prestigiando a gastronomia e adotando técnicas culinárias saudáveis e tradicionais tendo por base sopas, ensopados, cozidos e caldeiradas e usando condimentos como a cebola, o alho e as ervas aromáticas; elevado consumo de produtos vegetais em detrimento de alimentos de origem animal, principalmente produtos hortícolas, fruta, cereais pouco refinados, leguminosas, frutos secos e oleaginosos; consumo de produtos vegetais que respeitem a sazonalidade dos alimentos, dando preferência a alimentos da época bem como escolher produtos produzidos localmente; consumo de azeite como fonte de gordura preferencial; consumo moderado de lacticínios; utilização de ervas aromáticas, com o intuito de adicionar sabor aos alimentos e consequentemente diminuir a adição e consumo de sal; consumo frequente de pescado e baixo em carnes vermelhas; consumo baixo a moderado de vinhos, apena a acompanhar as refeições principais. Este princípio fará apenas sentido para a população adulta, exceto grávidas, lactantes e crianças; água como a principal bebida a ser ingerida ao longo do dia; introduzir frutos oleaginosos ao dia alimentar. Apesar de não estarem presentes na roda dos alimentos são caraterísticos deste padrão alimentar e são considerados snacks com elevada qualidade do ponto de vista nutricional; convivência e partilha de tradições com a família e amigos. O “ato de comer” engloba a partilha, por isso dispensar tempo na confeção dos alimentos e no disfrutar da refeição com familiares e amigos; praticar atividade física. Importa combater o sedentarismo, realizando uma atividade que dê prazer e integre-a no seu dia a dia. (1-5)

A adoção desta dieta fornece ácidos gordos (AG) insaturados, através do consumo de azeite, como principal fonte de gordura, oferecendo uma quantidade abundante deste composto principalmente  AG monoinsaturado. Apresenta, de igual modo, ácido oleico e ácidos gordos polinsaturados, e ómega 3, derivados do pescado e dos frutos secos e consequentemente um reduzido consumo de ácidos gordos saturados e trans, abundantemente presentes em carnes vermelhas e processadas. Todos estes compostos são protetores da saúde, do ponto de vista cardio e cerebrovascular. (3, 6-8)

De igual modo, através do consumo abundante de produtos hortícolas, frutas leguminosas frescas e ervas aromáticas, estipulado nesta dieta, permite um excelente aporte de vitaminas, minerais e substâncias com elevado potencial antioxidantes como flavonoides, isoflavonas, antocianinas, e proantocianinas, contribuindo para a diminuição do risco de desenvolvimento de doenças neuro-degenerativas, de doenças cardio e cerebrovasculares e de vários tipos de cancro. (9-10)

Da mesma forma, o elevado consumo de produtos vegetais em detrimento do consumo de produtos alimentares de origem animal contribui para uma distribuição equilibrada do balanço energético diário. Como principais fontes de hidratos de carbono complexos, encontram-se cereais poucos refinados, nomeadamente, o arroz, o trigo, conjuntamente com a batata e as leguminosas. (11)

A ferramenta Mediterranean Diet Quality Index for children and adolescentes, KIDMED, composta por 16 questões, foi possível quantificar a adesão à dieta mediterrânica (DM) de crianças e adolescentes. Este questionário baseia-se nos hábitos alimentares, de acordo com os princípios que sustentam e enfraquecem os padrões alimentares desta dieta, nomeadamente através do consumo e frequência de ingestão de determinados alimentos. Cada questão é respondida com “sim” ou “não”, e a sua pontuação oscila entre +1 e -1. O índice total varia de 0 a 12, sendo que, de acordo com esse resultado, se classifica a adesão à DM em três níveis: elevada adesão (≥8 pontos); adesão intermédia, sendo necessárias melhorias no padrão alimentar (4-7 pontos); e baixa adesão (≤3 pontos). (12-16)

A antropometria apresenta-se como um procedimento de avaliação do processo de crescimento corporal das crianças, permitindo analizar variações nas medisões físicas do corpo humano. Este método pressupõe o uso de referências, cuidadosamente definidas e descritas, para a padronização dos seus procedimentos e medidas. (17-18)

A antropometria é uma metodologia de análise não invasiva, sendo por isso utilizada quer em epidemiologia quer na prática clínica. Esta consiste num método de fácil utlização e padronização, indolor, de baixo custo, permitindo a aferição de dados de diagnóstico dos indivíduos e, que desta forma, sejas agrupados e caracterizados tendo em consideração o perfil de um determinado grupo. (19-20)

Assim sendo, a antrpometria permite a avaliação do estado nutricional das crianças em termos individuais e comunitários; o acompanhamento das alterações ao longo do tempo bem como de possíveis distúrbios nutricionais; a avaliação da eficácia de programas nutricionais, como o intuito de melhorar o estado nutricional de uma população específica; o estabelecimento de dados de referência, que averiguados através de estudos transversais de série podem fornecer dados relativos a tendência de crescimento; entre outras.

MATERIAL E MÉTODOS

Local de estudo

O projeto foi desenvolvido na Creche e de Infância Dandélio valência pertencente à Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Coimbra (APPACDM, para a recolha de dados de crianças desta instituição.

Tipo de estudo

O estudo realizado é do tipo observacional analítico, pois apenas se limita à observação dos indivíduos desta investigação e das suas características, não havendo manipulação nem intervenções diretas sobre as características biográficas ou manipulações das variáveis. Em relação ao tempo de referência, apresenta-se como um estudo transversal, uma vez que todos os dados foram recolhidos num único momento, não existindo um período de seguimento das crianças a longo prazo. Os mesmos foram apenas acompanhados no período de estágio na instituição Dandélio.

Duração e período do estudo

O estudo realizou-se num período aproximado 7 meses e foi dividido em três etapas.  A primeira corresponde ao planeamento e elaboração do projeto, tendo sido realizado no período de janeiro a fevereiro de 2022. A segunda etapa consistiu na aprovação e execução prática que teve a duração de 6 meses. A terceira etapa baseou-se no tratamento de dados do projeto, com uma duração de 6 meses, de fevereiro a julho de 2022.

População do estudo

A população do estudo foi constituída por crianças entre os 2 e os 6 ano, da Creche e Jardim de Infância Dandélio.

Tipo, técnica de amostragem

O presente estudo recorre a um tipo de amostragem não probabilística, pois a Creche e Jardim de Infância onde decorreu o mesmo foi selecionado pelos investigadores. A técnica de amostragem é acidental ou de conveniência, visto que a investigação foi realizada de forma intencional, num determinado local e momento preciso. Foram salvaguardadas as questões éticas relacionadas com a seleção da amostra, estabelecendo os seguintes critérios de inclusão e exclusão.

– Critérios de inclusão: na instituição Dandélio, todas as crianças que apresentaram consentimentos assinados pelos encarregados de educação, para a execução das avaliações antropométricas, e para a realização do questionário KIDMED.

– Critérios de exclusão: crianças não colaborantes; e o não cumprimento dos critérios de inclusão.

Método de recolha de dados

Durante a realização deste projeto de investigação apenas foi utilizada literatura de carácter científico em plataformas online como a PubMed e o Mendeley, adquirindo o máximo de pesquisa de forma fidedigna. A informação apresentada ao longo do trabalho foi selecionada de acordo com os temas abordados e com as palavras-chaves utilizadas na pesquisa de conteúdos. Através destas foram encontrados 341 artigos nas plataformas supracitadas, sendo que 52 foram selecionados após da leitura do título, no entanto apenas 30 foram utilizados para a realização desta investigação.

O desenvolvimento deste estudo será dividido em várias etapas, como supracitado, sendo que antecipadamente à recolha de dados para obtenção de resultados, foram entregues consentimentos informados, livres e esclarecidos aos Encarregados de Educação para proceder à recolha de dados antropométricos bem como dados de consumo alimentar através da ferramenta KIDMED. Apenas após o parecer favorável dos Encarregados de Educação, foi colocada em prática a segunda etapa, garantindo desta forma, confidencialidade dos mesmos no presente estudo.

Os dados recolhidos para a avaliação do consumo alimentar e para quantificação da aderência à dieta mediterrânea de crianças serão aferidos através da colocação de um questionário, o KIDMED, que contém 16 perguntas baseadas na avaliação do regime alimentar de acordo com os princípios que sustentam e enfraquecem os padrões alimentares da Dieta Mediterrânica. Este questionário será realizado por meio de entrevista executada pela Nutricionista Estagiária às crinças dos 3 aos 6 anos, enquanto que a entrevista foi executada aos encarregados de educação (EE) para as crianças com 2 anos. Cada questão é respondida com “sim” ou “não”, em que as possibilidades de resposta variam de -1, conotação negativa em relação à dieta mediterrânea, e +1, conotação positiva em relação à dieta mediterrânea.

As questões incluídas neste inquérito são referentes à ingestão de peças de fruta ou sumos de fruta bem como o número de porções consumidas diariamente; à ingestão de vegetais crus ou cozinhados, tal como a quantidade ingerida diariamente; à regularidade de consumo de pescado; a idas a restaurantes de fast food bem como a sua periodicidade; ao consumo de leguminosas semanalmente, à ingestão de hidratos de carbono 5 ou mas vezes por semana, especificamente ao pequeno-almoço; ao consumo de frutos oleaginosos pelos menos 2 a 3 vezes por semana; à utilização de azeite como fonte principal de gordura; à ingestão, ao pequeno almoço, de laticínios, hidratos de carbono complexos, produtos de pastelaria ou processados industrialmente; à possibilidade de não tomar o pequeno almoço; ao consumo de 2 copos de leite/iogurtes ou 1 fatia de queijo diariamente; e por fim à ingestão de doces e guloseimas diariamente ou diversas vezes durante o dia.

Por conseguinte e de acordo com as informações fornecidas tanto pelos Encarregados de Educação acerca da alimentação dos seus educandos como pelas próprias crianças, o método de classificação sustenta-se através do índice total que varia de 0 a 12, sendo o somatório final classificado em três níveis: pontuação ≥8, dieta mediterrânea ideal; pontuação entre 4 e 7, necessárias melhorias para ajustar a ingestão aos padrões da dieta mediterrânea; pontuação <3, muito baixa qualidade da alimentação.

Relativamente aos dados antropométricos levantados, os mesmos são relativos ao sexo, idade, peso, estatura e perímetro da cintura (PC). Através destes dados será possivel aferir o Índice de Massa Corporal (IMC), em kg/m2 e consequentemente, o percentil e o risco cardiovascular na população infantil.

Análise estatística

Os dados recolhidos foram compilados numa tabela de Excel e posteriormente, efetuou-se um tratamento estatístico, com recurso ao programa Statistical Package for Social Sciences (SPSS).

Neste estudo foram utilizadas a seguintes variáveis: “Adesão à Dieta Mediterrânica através da implementação do questionário KIDMED”, classificada como variável dependente; “o Índice de Massa Corporal (IMC)”, “o peso”, “ o perímetro da cintura” e “o risco cardiovascular tendo em consideração o percentil” classificados como variáveis independentes.

A “Adesão à Dieta Mediterrânica através da implementação do questionário KIDMED” e “o risco cardiovascular tendo em consideração o percentil” são variáveis qualitativas ordinais enquanto que “o Índice de Massa Corporal (IMC)”, “o peso”, “ o perímetro da cintura” são variáveis quantitativas.

Desta forma procedeu-se à realização de estatística descritiva para o cálculo de frequências, assim como estatística analítica, que avalia a relação entre as variáveis. O teste de correlação rho de Spearman-Rank foi utilizado para todas as variáveis. O nível de significância considerado foi de 0,05 para rejeitar a hipótese nula. (21-22)

ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

Recursos humanos, técnicos e financeiros

A implementação deste projeto requer recursos humanos, técnicos e, caso necessário, financeiros. Relativamente aos recursos humanos foi necessário a colaboração da Creche e Jadim de Infância Dandélio para recolha dos dados referentes as crianças que frequentam a instituição.

A colaboração dos orientadores foi fulcral de modo a orientar o trabalho do discente, durante o período de investigação. Como recursos técnicos foi essencial um computador para a compilação dos dados recolhidos bem como de um software estatístico (SPSS) para efetuar o tratamento dos dados. Caso exista custos suplementares inerentes à realização do estudo, serão de inteira responsabilidade da discente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização da amostra

Neste estudo foram avaliados 58 crianças com idades compreendidas entre os 2 e os 6 anos, que frequentam a Creche Jardim de Infância onde a amostra foi recolhida. No que concerne ao género da amostragem 51,7 % pertence ao sexo masculino enquanto que 48,3% ao sexo feminino.

A amostra foi mais representativa no Jardim de Infância, com 69% e apenas 31% de crianças da Creche. Relativamente às idades que compõem a amostragem, 7 (12,1%) das crianças com 2 anos, 22 (37,9%) com 3 anos; 12 ( 20,7%) com 4 anos; 11 (19%) com 5 anos e por fim 6 (10,3%) com 6 nos.

De acordo com o valor Índice de Massa Corporal e a sua relação com a idade foi possível aferir o a que percentil cada criança pertence. Desta forma constata-se que com 22, 4% da amostra exibe um percentil inferior a P5; com 17,2% das crianças encontra-se entre o percentil 25 e o percentil 50; enquanto que somente 3,4% da amostragem exibe excesso de peso ou pré-obesidade, decorrentes de um percentil igual ou superior ao percentil 85 não ultrapassando o percentil 95. 

Consequentemente é possível aferir qual o risco cardiovascular, por meio do percentil correspondente a cada participante. De tal forma demonstrou-se que 84,5% da amostra não apresenta quaisquer riscos de obesidade abdominal, pois de acordo com os gráficos o percentil é inferior a P75; 12,1% das crianças estão expostas a riscos de obesidade abdominal decorrentes de percentis entre o P75 e inferiores a P90; e 3,4 % dos participantes têm obesidade abdominal.

No que diz respeito à classificação do Índice de Massa Corporal, de acordo com o percentil estimado 22,4% da amostra apresenta baixo peso, 72,4 % peso normal, 1,7 % excesso de peso e 3,4% obesidade.

Decorrente dos dados recolhidos para a avaliação do consumo alimentar através da colocação do questionário as questões 7 e 10 foram as que apresentaram percentual positivo mais baixo, com 18% e 7,9% respetivamente. De salientar que para a atribuição de 1 ponto a resposta a estas teria de ser “sim”.

Escalé et al (2020) orientaram um programa denominado Nutriplano para crianças entre os 3 e os 12 anos, com o objetivo de melhorar os hábitos alimentares, promover a DM e prevenir e/ou reverter a sobrepeso e obesidade na população alvo. Os resultados preliminares destacam a necessidade de propor programas de educação nutricional na infância para reforçar hábitos alimentares saudáveis, como tem vindo a ser propostos por outros autores (23).De acordo com o questionário Kidmed, 38,9% dos participantes do programa apresentou um DM ótimo no início. No entanto, outras revisões demonstram uma discrepante variabilidade sobre adesão ao DM em crianças e adolescentes esses resultados, devido à alta heterogeneidade dos estudos analisados.  Desta forma, dados preliminares sugerem a eficácia do Programa Nutriplato na melhoria adesão ao DM e hábitos alimentares. Como proposta sugere-se o aumento do consumo diário de frutas e hortícolas, bem como o aumento do consumo regular de pescado, frutos oleaginosos e leguminosas com o intuito de uma aproximação à DM, existindo uma associação de resultados com o presente estudo. (24)

No que concerne à  quantificação da aderência à dieta mediterrânea das crianças do jardim de infância, por meio da realização do questionário KIDMED às mesmas, o índice total varia, sendo o somatório final de 5,3% para a pontuação 4, 10,5% para a pontuação 6, 15,8% para a pontuação 7 e 9, 36,8% para a pontuação 8, 2,6% para a pontuação 10, 13, 2% para a pontuação 11.

Consequentemente este resultado permite classificar a adesão à dieta mediterrânica em três níveis, tendo a amostra sido mais caracterizada com uma dieta mediterrânica ideal, com 68,4%, seguida de 31,6% das crianças que necessitam de melhorias para atingir esta dieta e 0% da amostragem tem uma muito baixa qualidade na alimentação, para a amostra do jardim de infância (n=38). No que diz respeito à avaliação da adesão à DM referentes às crianças da creche através dos EE, os resultados demonstram que 88,9% (n=16) tem uma elevada adesão enquanto que 11,1% (n=4) necessita de melhorias no plano alimentar.

Segundo a literatura, um estudo transversal por Salcin et al. (2019), em 260 crianças, pretendeu associar a adesão à DM com os níveis de atividade física (AF) e com índices de composição corporal de crianças entre os 5 e os 6 anos aparentemente saudáveis que frequentavam o pré-escolar no sul da Croácia. A adesão ao DM foi observada pelo Índice de Qualidade da Dieta Mediterrânea (KIDMED), o nível de AF foi avaliado pelo Questionário de Atividade Física Infantil em Idade Pré-escolar (Pré-PAQ) e as respostas foram recolhidas através dos EE. O estudo revelou uma elevada adesão ao DM em crianças pré-escolares croatas. Os autores acreditam que estes resultados sejam derivados da institucionalização da alimentação estabelecida nas instituições de ensino, especificamente no jardim de infância. Por outro lado, prevêm que os hábitos alimentares da amostra sofrerão alterações mais tarde pois a alimentação escolar organizada na Croácia é muito rara e a grande maioria das escolas primárias do país não fornece refeições regulares para seus alunos. De igual modo estudo demonstrou uma associação negativa entre AF sedentário e adesão ao MD, apesar de não permitir descrever com clareza a causalidade entre as variáveis. (25)

Grosso et al (2016) realizaram uma revisão sistemática por meio de artigos publicados entre 2001 e 2016 sobre os hábitos alimentares e determinantes da adesão à dieta mediterrânica em crianças e adolescentes residentes no sul da Europa. Os estudos foram revistos apenas caso relatassem uma medição do nível de adesão à DM, independentemente da ferramenta utilizada. Segundo diversas investigações foi possível concluir que a baixa adesão ao padrão alimentar não foi significativamente relacionada com IMC ou sexo. Os participantes relataram valores elevados de IMC apesar de apresentaram um padrão alimentar mais próximo da DM. Outra investigação revelou que apresentar baixo peso estava correlacionado com uma menos adesão à DM, enquanto que ser normoponderal ou apresentar sobrepeso/obesidade não estava associado aos hábitos alimentares da amostra. De igual modo um estudo de Mazaraki et al permitiram aferir que o índice do KIDMED teria uma corelação negativa com o IMC. (26)

No presente estudo foi, igualmente, avaliada a relação entre IMC e com a adesão à Dieta Mediterrânica através da implementação do questionário KIDMED. Recorreu-se ao teste estatístico de rho de Spearman-Rank. Através do mesmo foi possível constatar que, também não existe correlação entre estes dois fatores, aceitando-se a hipótese nula, pois p<0,001 (p=0,518).

Da mesma forma, Granziera et al (2021) conduziu uma meta análise com 54 crianças do pré-escolar que residem em Itália, pretendendo explorar a associação entre o consumo alimentar através do Questionário de Frequência Alimentar (QFA), a cognição e o IMC. Foram ainda adotadas pontuações para avaliar a adesão à MD.  Os resultados fornecidos foram limitados, todavia conclui-se que a dieta das crianças e o peso, tinham um impacto potencialmente positivo relativamente à dieta mediterrânea e impactos negativos relativos a um IMC elevado. Também foi possível averiguar que indices elevados da ferramenta QFA mostraram reduzir a mortalidade geral e cardiovascular. (27)

Em contrapartida e mediante o teste estatístico rho de Spearman-Rank, foi possível aferir que as variáveis são inversamente proporcionais (p=0,238), aceitando-se a hipótese nula, admitindo-se assim que não existe associação entre o peso e a adesão à Dieta Mediterrânica através da implementação do questionário KIDMED. O mesmo teste permitiu observar, de igual modo, que não existe contingência estatisticamente significativa entre as variáveis (p=0,571), admitindo-se não existir associação entre o risco cardiovascular tendo em conta o percentil e adesão à Dieta Mediterrânica por meio do KIDMED.

Por outro lado também Carrasco et al (2020), realizaram um estudo com 1676 participantes de uma região central da Espanha, com idades compreendidas entre os 6 e os 17 anos de diferentes escolas municipais de desporto. O intuito deste ensaio transversal e quantitativo seria analisar as diferenças na composição corporal e aptidão física de acordo com o de peso e o nível de adesão à dieta mediterrânea. Eram incluídos neste estudo os atletas que praticavam qualquer modalidade desportiva pelo menos dois dias por semana durante uma hora. O mesmo demonstrou que os atletas do sexo masculino classificados com alta adesão ao DM apresentaram melhores valores nas variáveis de aptidão física e composição corporal. No entanto, as diferenças baseadas no nível de adesão ao DM nos atletas do sexo feminino foram menos significativas. (28) Da mesma forma Nenadic et al (2021) efetuaram um estudo transversal e observacional que inclui 598 crianças de 3 a 7 anos do pré-escolar, na Croácia. Este pretendia determinar o estado nutricional e a adesão à DM, através do preenchimento do questionário KIDMED. Os resultados deste estudo realizado com pré-escolares mostraram baixa adesão aos princípios da dieta mediterrânica. Como tal, ao DM demonstrou ter efeitos benéficos na composição corporal e na prevenção da obesidade em todas as faixas etárias, o que enfatiza a importância da implementação fundamental deste padrão alimentar na população infantil. (29)

Decorrente da execução do teste rho de Spearman-Rank, constatou-se que não existe uma contingência entre as variáveis (p=0,632), aceitando-se a hipótese nula. Desta forma, o perímetro da cintura não é preditivo da adesão à Dieta Mediterrânica, não sendo por isso uma associação estatisticamente significativa.

CONCLUSÕES

Hábitos alimentares saudáveis ​​desempenham um papel importante no crescimento e desenvolvimento das crianças, mas também na prevenção do desenvolvimento de doenças crônicas na vida adulta. (29) Nesta investigação e a partir que os resultados manifestados, é verossímil constatar que a ferramenta KIDMED se expõe como um procedimento de fácil aplicação, e de uma forma rápida e económica permite caracterizar os hábitos alimentares das crianças/jovens. (1-5,30) Este pode ser utilizada tanto em contexto escolar como em contexto de cuidados de saúde primários. A antropometria apresenta-se como um procedimento de avaliação do processo de crescimento corporal das crianças, permitindo analizar variações nas medisões físicas do corpo humano (17-18) Diversos estudo aferiram uma correlação entre o instrumento KIDMED e dados antropomtericos como peso e consequentemente o IMC, o percentil e risco cardiovascular. Por outro lado o presente estudo bem como alguma literatura demosntraram não existir associação.

Desta forma, autores indicam a importância do desenvolvimento de propostas e aplicações estratégias de programas educacionais e de saúde, que se devem basear na prevenção do sobrepeso e da obesidade e na melhoria do bom estado nutricional e hábitos de alimentação saudáveis ​​nas gerações mais jovens, estrégias que terão repercussões na vida adulta. Estas intervenções deverão ser direcionadas às crianças mas também deverão incluir pais e professores. (23,29)

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