Back

COBERTURA DO SISTEMA DE VIGILÂNCIA ALIMENTAR E NUTRICIONAL E ESTADO NUTRICIONAL DE IDOSOS NA REGIÃO DA SERRA CATARINENSE

Capítulo de livro publicado no livro do I Congresso Internacional em Ciências da Nutrição. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062015-26

Este trabalho foi escrito por:

Leonardo Gabriel de Souza Varela1* ; Márcia Liliane Rippel Silveira2  

1Nutricionista – Lages – Santa Catarina – Brasil

2Docente do curso de Nutrição – Centro Universitário UNIFACVEST – Lages – Santa Catarina – Brasil

*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]

Resumo: Até o ano de 2050, o número da população idosa (acima de 60 anos de idade) triplicará mundialmente, trazendo uma gama de doenças crônicas, onde o componente nutricional pode estar presente. Nessa perspectiva, o presente estudo tem como objetivo verificar o estado nutricional da população idosa nos municípios que fazem parte da Região Serrana do estado de Santa Catarina. Trata-se de um estudo transversal, descritivo e retrospectivo que envolveu a totalidade de idosos acompanhados pelo SISVAN, atendidos na atenção primária à saúde do SUS. Foram utilizados dados de acesso público disponíveis no SISVAN Web referentes à avaliação nutricional realizada entre os anos de 2015 a 2019. O total de idosos avaliados foi de 22.925 e verificou-se aumento do número de idosos acompanhados, anualmente, pelo SISVAN, que passou de 2576 em 2015 para 5875 em 2019. Em todos os anos analisados, observou-se uma elevada prevalência de sobrepeso na população idosa. Quando avaliados por sexo, o excesso de peso foi maior entre as mulheres (62%), já os homens apresentaram os maiores percentuais de peso adequado (36,5%) e também de baixo peso (9,5%). Percebe-se ainda, que o padrão de sobrepeso, predominou em todos os munícipios da região estudada, e que a insuficiência de dados, principalmente em pequenos municípios, adia as intervenções dos profissionais da saúde.  A análise nutricional torna-se essencial para identificar erros e deficiências alimentares, afim de desenvolver políticas públicas para uma futura ação multidisciplinar.

Palavras–chave: avaliação nutricional; envelhecimento; vigilância nutricional

Abstract: By the year 2050, the number of the elderly population (over 60 years old) will triple worldwide, bringing a range of chronic diseases, where the nutritional component can be present. From this perspective, this study aims to verify the nutritional status of the elderly population in the municipalities that are part of the Serrana Region of Santa Catarina State. It is a transversal, descriptive and retrospective study that involved the totality of elderly people accompanied by SISVAN, assisted in the primary health care of SUS. Public access data available in SISVAN Web were used for the nutritional assessment performed between 2015 and 2019. The total number of elderly people evaluated was 22,925 and there was an increase in the number of elderly people followed annually by SISVAN, which went from 2576 in 2015 to 5875 in 2019. In all the years analyzed, there was a high prevalence of overweight in the elderly population. When evaluated by sex, overweight was higher among women (62%), while men had the highest percentages of adequate weight (36.5%) and also low weight (9.5%). It is also noticeable that the pattern of overweight predominated in all municipalities of the region studied, and that insufficient data, especially in small municipalities, postpones the interventions of health professionals.  Nutritional analysis becomes essential to identify food errors and deficiencies, in order to develop public policies for future multidisciplinary action.

Keywords: aging, nutritional assessment, nutritional surveillance.

INTRODUÇÃO

Com o envelhecimento da população, aparece, em conjunto, uma série de enfermidades que instigam o sistema de saúde. Associa-se o avançar da idade com um bom nível de saúde, desde que não haja patologia. Para isso, é fundamental a implementação de estratégias de prevenção ao longo da vida, sobretudo, para resolver os desafios atuais, e de forma crescente, os futuros (1).

A Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) é um importante instrumento de apoio às ações de promoção de Saúde, oferecido pelo Ministério da Saúde aos profissionais da área e à gestão do Sistema Único de Saúde (SUS), visando a melhorar a assistência à população. Analisar e enfatizar o estado nutricional são práticas dessa promoção de saúde (2).

O SISVAN usa como auxilio de diagnóstico do estado nutricional da população idosa o índice de massa corporal (IMC), tendo valores diferenciados ao utilizado na população adulta devido a fatores como: variações ósseas, modificações do porcentual de tecido adiposo, diminuição de massa magra, perda de estatura, entre outros (3).

A identificação do estado nutricional de idosos residentes em uma determinada região, é um importante mecanismo para o reconhecimento da saúde, nutrição e alimentação destes indivíduos, gerando embasamento de dados para análise e identificação de distúrbios e riscos nutricionais. Estes dados sobre situação nutricional em determinada faixa etária, ajuda a definir quais deverão ser as medidas assertivas a serem adotadas através da implementação de intervenções nutricionais (4).

A ausência de registros inviabiliza a correta intervenção nutricional e acompanhamento multiprofissional. Ações que não atendam às necessidades nutricionais podem agravar o estado de saúde e aumentar a morbimortalidade dos idosos (5).

Entende-se que a investigação da situação nutricional de idosos, sob o âmbito das diferenças demográficas e sociais das regiões do país, possa subsidiar ajustes nas políticas públicas de prevenção e promoção de saúde, a partir da compreensão destes fatores, nos agravos nutricionais (6).

A Região Serrana de Santa Catarina possui costumes alimentares que permanecem ao longo do tempo, em especial com a população idoso que comumente exibem uma alimentação rica em gorduras saturadas e hidrogenadas (principalmente o uso de banhas e excesso de óleo de soja nas preparações, como também de margarina em sobremesas e salgados). Devido ao clima subtropical de altitude com invernos frios, essa população, tem um consumo alimentar mais calórico, com menor intensidade de exercícios, nessa época do ano, mantendo, assim, uma certa quantidade da população idosa em sobrepeso. O avanço da tecnologia alimentar com a fabricação de alimentos industrializados pobres em nutrientes, mas que aumentam a praticidade das refeições é outro fator que acarreta no aumento do peso destes indivíduos.

Evidenciando o perfil de saúde da população idosa brasileira e sua relação com as ações de alimentação e nutrição, mostra-se necessário o conhecimento do estado nutricional, uma vez que as ações de alimentação e nutrição contribuirão diretamente para a garantia da integralidade do serviço de saúde prestado à população.

Avaliar os dados de uma população específica no que diz respeito aos hábitos alimentares, cuidados de saúde e diversos fatores que influenciam no seu estado nutricional, contribuem de forma positiva para definir ações e estratégias nutricionais em prol de melhorar a saúde dos indivíduos naquela região.

Este trabalho teve como objetivo avaliar a cobertura e a situação do estado nutricional da população idosa cadastrada no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) nos municípios da Região da Serra Catarinense.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente estudo, de delineamento transversal, descritivo, retrospectivo de abordagem quantitativa, analisou os dados disponíveis na plataforma do SISVAN-Web sobre o estado nutricional dos idosos (maior ou igual a 60 anos de idade) de ambos os sexos, residentes no estado de Santa Catarina, na área de abrangência da Macrorregião de Saúde da Serra Catarinense, no período de 2015 a 2019.

A escolha da faixa etária se deu devido ao significativo crescimento da população idosa e da relação entre o estado nutricional e a qualidade de vida desse grupo.

A área de saúde da região de cobertura da Serra Catarinense abrange 18 municípios, sendo eles: Anita Garibaldi, Bocaina do Sul, Bom Jardim da Serra, Bom Retiro, Campo Belo do Sul, Capão Alto, Cerro Negro, Correia Pinto, Lages, Otacílio Costa, Painel, Palmeira, Ponte Alta, Rio Rufino, São Joaquim, São José do Cerrito, Urubici, Urupema.

Para apresentação dos resultados e análise dos dados, os municípios foram divididos em cinco grupos, conforme a estimativa da população para o ano de 2020. No grupo I, municípios com mais de 100 mil habitantes, grupo II os municípios com mais de 15 mil habitantes, grupo III municípios com mais de 10 mil habitantes, no grupo IV os municípios com mais de 5 mil habitantes e por fim, no grupo V os municípios com menos de 5 mil habitantes.

A avaliação da cobertura do SISVAN nos municípios de restringiu aos dados de estado nutricional dos idosos para cada ano analisado. O percentual de cobertura foi calculado considerando-se o número de indivíduos idosos atendidos e cadastrados no SISVAN-Web em relação a população total de pessoas nesta faixa etária em cada município. Os dados populacionais foram obtidos do último censo do IBGE (IBGE, 2010).

Os dados utilizados são provenientes de unidades básicas de saúde e constituem-se da classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) realizada durante o atendimento individual nas respectivas unidades. Conforme o manual do SISVAN, os idosos podem ser classificados de acordo com o IMC em: baixo peso (valores de IMC menor ou igual a 22); peso adequado ou eutrófico (valores de IMC maior que 22 e menor que 27) e sobrepeso (valores de IMC maior ou igual a 27).

Para análise dos resultados, os dados obtidos foram inseridos, organizados e analisados com o auxílio de planilhas elaboradas no programa Microsoft® Office Excel, versão 2013. Os dados foram analisados por estatística descritiva simples.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Tendo em vista todo o período analisado (2015 a 2019), 22.925 idosos foram registrados e acompanhados pelo SISVAN Web nos 18 municípios da Região da Serra Catarinense. Verificou-se aumento do número de idosos acompanhados, anualmente, pelo SISVAN Web, o total de idosos avaliados no ano de 2015 foi de 2576, em 2016 de 3704, em 2017 de 4711 em 2018 de 6059 e em 2019 de 5875.

Na Tabela 1 estão apresentados os resultados da cobertura do SISVAN-Web estratificados por municípios da Região da Serra Catarinense entre 2015 e 2019.

Na cidade do grupo I, dos 157.349 habitantes, 18.006 são idosos (11,4%), a média de cobertura nos cinco anos estudados foi de 9,4%, destacando-se o crescimento nesse número com o passar dos anos, obtendo em 2018 uma cobertura em 14,6% da população idosa. O grupo II tem ao total 46.114 habitantes, destes, 4477 são idosos (9,70%). São Joaquim atendeu nos cinco anos analisados uma média de 2% de idosos, enquanto que Otacílio Costa do mesmo grupo, obteve um acompanhamento médio de 40% de sua população, de forma geral, a média total de idosos atendidos desse grupo foi de 20,9% correspondendo a 935 dos 4477 atendidos. Nos municípios do grupo III, residem 33.886 pessoas, dessas, 3887 (11,4%) estão acima dos 60 anos, o percentual de atendimentos médio nos cinco anos foi de 25,4% totalizando 987 idosos atendidos de 3887. O grupo IV com um total de 22.082 pessoas, tendo, 3627 (16,4%) idosos, O percentual de cobertura médio nos cinco anos para estes municípios foi de 4%, equivalente a 145 idosos de 3627. E por fim, nos nove municípios do grupo V, com população total de 28.422 habitantes, 3745 (13,1%) são idosos, com cobertura média nos cinco anos analisados de 34,1% correspondendo a 1279 idosos dos 3745.

No total, dos 33.742 idosos residentes da região, somando a média de todos os anos temos um percentual de 18,7% de cobertura, ou seja, 6310 foram atendidos, um número baixo, especialmente se pensar que são os indivíduos que possuem o maior número de patologias e comorbidades.

Tendo em vista todo o período analisado (2015 a 2019), 22.925 idosos foram registrados e acompanhados pelo SISVAN Web nos 18 municípios da Região da Serra Catarinense. Verificou-se aumento do número de idosos acompanhados, anualmente, pelo SISVAN Web, o total de idosos avaliados no ano de 2015 foi de 2576, em 2016 de 3704, em 2017 de 4711 em 2018 de 6059 e em 2019 de 5875.

Em relação à classificação do estado nutricional pelo IMC, observou-se em todos os anos avaliados, uma elevada prevalência de sobrepeso na população idosa. A Figura 1 apresenta o estado nutricional da população idosa, de acordo com os anos citados acima.

Os resultados indicam ainda, baixos percentuais de idosos com baixo peso no decorrer dos anos analisados, sendo que o menor valor foi observado em 2017. Os indivíduos eutróficos representam em média 32,5% dos idosos, em contrapartida, foi registrado aumento de sobrepeso no grupo em estudo, do qual mais da metade (59%) dos idosos acompanhados entre 2015 e 2019 estavam com valor de IMC acima do recomendado.

Relacionando o estado nutricional com o sexo, observa-se na Figura 2, que o percentual de idosas com sobrepeso (62%) é maior que o do valor geral e, em todos os anos, ele é maior do que o dos homens idosos (54%). Os maiores percentuais de peso adequado foram encontrados entre os homens (36,5%), mas apesar da diferença dos percentuais por sexo, o valor médio verificado para as mulheres (30%), no período de 2015 a 2019, está próximo da média geral (32,5%). O desvio de estado nutricional relacionado ao déficit também foi maior entre os homens (9,5%) nos quais se observam percentuais maiores do que a média geral (8,7%) em todos os anos, com destaque para 2016 onde foi registrado o maior percentual de déficit de IMC.

Em 2008, também no Sul do país, em Novo Hamburgo-RS, foi realizado um estudo com o objetivo de avaliar a qualidade de vida em idosos. Os resultados concluem que durante o processo de envelhecimento há também perda na qualidade de vida. Em decorrência desses achados pode-se obter subsídios para estabelecer diretrizes de assistência à saúde do idoso criando, estratégias para a realização de programas educacionais (7).

Na terceira idade a nutrição é um fator determinante para que o idoso preserve uma relação harmoniosa com seu cotidiano, sua saúde física e mental, longevidade, relações interpessoais e satisfação no ambiente de trabalho. Os hábitos alimentares adotados por esses idosos são influenciados por esses fatores, interferindo na escolha e no consumo dos alimentos (8).

Neste sentido, a sociabilidade da população idosa está relacionada com o alimento – o ato de alimentar-se é motivo de promover encontros e alegria, trazendo aos idosos sentimentos nostálgicos – transgredindo as necessidades fisiológicas, sendo necessário orientação nutricional, acolhimento e a valorização dos fatores simbólicos com a comida (9).

Lages é o único município da Região da Serra Catarinense com população superior a 100 mil habitantes, o que representa mais de 50% da população da região. Como se trata da cidade mais importante da região estudada, foi analisada individualmente (grupo I). Observa-se na Figura 3 a evolução do grupo idoso onde verifica-se discreta oscilação em estado de baixo peso, com percentual médio de 9,17%, eutrófico com, 32,7% e excesso de peso 57,8% nos anos analisados tendo, esse, a maior variação.

A Figura 4 apresenta os resultados do estado nutricional para os munícipios que possuem população superior a 15 mil habitantes, estimada para o ano de 2020. A cidade de São Joaquim obteve uma média para os idosos de baixo peso de 8,9%, eutróficos 30,9% e sobrepeso de 61,2%. Otacílio Costa mostrou porcentagens semelhantes, 8,2% de média para baixo peso, 30,6% eutróficos e 61,2% acima do peso. A média geral para os municípios com a população citada acima, considerando os cinco anos estudados, foi de 8,5%, 30,7% e 61,2% respectivamente.

Os municípios de Correia Pinto, Urubici e Bom Retiro contam com população maior a 10 mil habitantes segundo estimativas do IBGE, estando no grupo III. A Figura 5 demonstra a condição nutricional dos idosos destes municípios, para os anos avaliados, com média de baixo peso em 7,7%, com peso adequado em 35,7% e excesso de peso com 61,8%. Vale ressaltar, que o número de registros para o ano de 2015 em Bom Retiro obteve apenas uma pessoa atendida.

Com uma população estimada entre 5 a 10 mil habitantes, o grupo IV apresenta o estado nutricional dos idosos nos munícipios de São José do Cerrito, Anita Garibaldi e Campo Belo do Sul. Conforme a Figura 6, a média geral nos anos pesquisados foi de 21% para baixo peso, 43,3% para eutrofia e 63% de sobrepeso. Vale ressaltar a baixa aderência aos programas de assistência, ocasionando oscilação no período estudado.

Na Figura 7 estão demonstrados os percentuais encontrados para o estado nutricional dos idosos nos nove municípios (Bocaina do Sul, Bom Jardim da Serra, Capão Alto, Cerro Negro, Painel, Palmeira, Ponte Alta, Rio Rufino, Urupema) do grupo V, todos com população inferior a cinco mil habitantes. Apesar da diminuição ao longo do período analisado, mais da metade da população idosa encontra-se com sobrepeso (53,2%) no ano de 2019. A média para baixo peso, nessas cidades, foi de 9,1%, para peso adequado foi de 34,4% e para excesso de peso de 56,5%, considerando os cinco anos estudados.

Com o aumento da urbanização e globalização, acontecem mudanças tanto positivas quanto negativas no consumo de alimentos. O deslocamento das pessoas para as áreas urbanas gera um espaço favorável para supermercados e lojas maiores que consequentemente afetam os mercados tradicionais. As grandes redes de varejistas têm colaborado e facilitado o acesso da população aos alimentos industrializados, pré-cozidos, açucarados, salgados e gordurosos (10).

O processo de envelhecimento da população brasileira, deve-se a queda das taxas de fecundidade e mortalidade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, idoso é todo indivíduo com 60 anos ou mais e, no Brasil há mais de 28 milhões de pessoas nesta idade, isso representa 13% da população nacional, com a tendência de dobrar nas próximas décadas (11).

Um estudo feito com a mesma população por Pereira e Sampaio (12) no estado do Piauí entre os anos de 2014 a 2018, mesmo contendo hábitos alimentares diferenciados, mostrou que com o passar dos anos, aumentou o atendimento ao público idoso pelo SISVAN, tendo em 2018 o número da população sobrepeso em 44,41%, eutrófico 41,05% e baixo peso de 14,55%. Comparando com os resultados obtidos no ano de 2018 na Região Serrana onde se obteve 8,7% de baixo peso, 31,9% de eutrofia e 59,4% de sobrepeso, observa-se que a população da Serra Catarinense possui um percentual de idosos sobrepeso 15% maior que os analisados no estado do Piauí, eutróficos 9,15% menor, e baixo peso 5,8% menor. Esse comparativo mostra como os hábitos alimentares de regiões distintas do mesmo país podem influenciar no estado nutricional de sua população. O mesmo estudo também analisou o estado nutricional de acordo com o sexo, onde para o ano de 2018, 47,6% das mulheres e 38,13% dos homens estavam com sobrepeso, comparando com a região analisada 53% dos homens e 60% das mulheres estão sobrepeso, observando maiores percentuais na Região Serrana de Santa Catarina, mostrando quão preocupante está a situação nutricional dos idosos da região.

Outros estudos sugerem concordância com o presente. No que se refere ao IMC, o padrão de sobrepeso tem predominância em idosos do sexo feminino, enquanto o baixo peso é mais observado em indivíduos do sexo masculino da mesma faixa etária (6).

Nascimento et al., (13) analisaram os idosos no município de Viçosa-MG onde apresentou 45% de idosos em sobrepeso e 13,6% de baixo peso, as mulheres tem prevalência maior em relação aos homens, 54,5% e 29,6%, respectivamente.

Uma análise realizada nas regiões sudeste e nordeste do país, tendo como base dados do IBGE, para o ano de 2006, relata que o perfil nutricional dos idosos, nas regiões citadas, é baseado na alta prevalência de eutrofia e sobrepeso e baixa prevalência em baixo peso e obesidade. Analisa também, que fatores como a escolaridade e aumento de renda familiar predispõe maior risco de sobrepeso e obesidade, diminuindo chances de baixo peso. Com relação ao sexo, as mulheres tem maior risco de excesso de peso (14).

Na menopausa espera-se o quadro de diminuição da função ovariana ocasionada por baixos níveis da função estrogênica, alterando o perfil biofísico da mulher idosa, pós-menopáusica, levando ao aumento dos níveis de adiposidade total, na aquisição de um padrão centralizado da massa gorda e na perda dos compostos da massa magra(15).

É necessário frisar que nas últimas décadas adotou-se um padrão alimentar com alto teor de gordura saturada e açúcar, além da diminuição do consumo de fibras. Ocorre em conjunto a redução das práticas de atividade física por todas as faixas etárias, o que contribui para o elevado índice de sobrepeso (16).

Já a relação entre ser mais velho e alterações de IMC, ocasiona possíveis transformações especificas ao avanço do processo de envelhecimento, que manifesta inúmeras mudanças de ordem fisiológica, patológica e psicológica que atinge diretamente o estado nutricional do idoso, tais como redução do olfato e da visão, queda da palatabilidade, dificuldades de mastigação e constipação intestinal devido à redução da motilidade, bem como diminuição da capacidade cognitiva e funcional (17).

O processo fisiológico do envelhecimento acarreta mudança na composição corporal consequentes do acréscimo de massa gorda e perda da massa magra, alterações que, associadas ao decréscimo da atividade física e diminuição da taxa do metabolismo basal provocam o sobrepeso. Parte da população idosa pode também ser acometida pela falta de nutrientes ou por desnutrição (18).

Os idosos desenvolvem modificações na ingestão dos alimentos, geradas pela perda de apetite, redução da capacidade gustativa e olfativa, distúrbios de deglutição levando a diminuição de absorção das vitaminas, minerais e de outros nutrientes. Em consequência do baixo consumo alimentar ou de uma dieta sem diversidade de alimentos, o idoso pode manifestar perda de nutrientes essenciais para a manutenção da saúde e controle das doenças (19).

Com relação as condições clínicas que podem alterar a percepção de paladar, pode-se citar distúrbios do sistema nervoso central, endócrino, patologias que afetam o estado nutricional, além de outros fatores (9).

No que se refere às demências, as doenças neurodegenerativas como o Alzheimer, são mais impactantes na população com idade superior a 65 anos. Essa patologia torna-se responsável por pelo menos 55% dos casos de patologias que degradam o sistema nervoso (20).

Segundo estudo realizado entre os anos de 2000 e 2009, nas capitais brasileiras de todo país, a doença de Alzheimer tem aumento constante e anual das taxas de mortalidades nos idosos de 60 anos ou mais. Afirma ainda, que diabetes melitus e o acidente vascular cerebral são doenças que têm fatores de riscos comuns com a doença de Alzheimer (21).

Com relação ao Parkinson, é a segunda doença mais comum em idosos, com prevalência de 3,3% no Brasil. Trata-se de uma patologia degenerativa e progressiva, em que o paciente se degrada, o que implica nas atividades de vida diárias, como o ato de fazer compras e cozinhar, sendo fator determinante para a mudança em hábitos alimentares e ingestão de nutrientes (22).

O aumento da morbidade, impacto na qualidade de vida e até a morte prematura, podem ser consideradas complicações clínicas graves da obesidade. Os processos fisiopatológicos envolvidos incluem a resistência à insulina, anormalidades de níveis de lipídeos, alterações hormonais e inflamação crônica. O predomínio de muitas complicações associadas à obesidade como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, certos tipos de câncer, síndrome de apneia do sono e alterações ósseas também aumenta durante a senilidade. Dessa forma, durante o processo de envelhecimento, a obesidade pode contribuir para o desenvolvimento de doenças (23)

O excesso de peso torna-se problema de saúde pública, que não atinge somente idosos, mas indivíduos nas diversas faixas etárias. O excesso de tecido adiposo, pode se associar a diversas comorbidades, como as dislipidemias, diabetes mellitus do tipo 2, alterações cardiovasculares, aterosclerose, entre outras. A obesidade em idosos é um fator importante para os custos para o sistema de saúde(21).

As mudanças na composição corporal do idoso podem interferir em alguns aspectos, como na antropometria que é um importante indicador nutricional, contudo, a mensuração do peso corporal e da estatura tem limitações. Questões físicas como o encurvamento da coluna e vértebras, além da limitação para deambular ou ficar em pé, dificulta sua aferição (23).

Os resultados de um estudo realizado sobre a alimentação da população idosa do sul do Brasil revelaram ser de suma importância a implementação de políticas públicas e educativas que contribuam para um consumo alimentar mais saudável para o público idoso, priorizando os que estão em grupos de risco e examinar os vários obstáculos que possam intervir para a adoção desses hábitos. É importante inclusive que as ações sejam ajustadas a rotina de cada pessoa para que possam ser aderidas, realçando a importância do zelo multidisciplinar na assistência em saúde ao idoso. A condição nutricional adequada, proporciona um aumento de pessoas que se acercam do seu ciclo máximo de vida (14).

CONCLUSÕES

De acordo com os dados obtidos através do SISVAN Web, pode-se observar que mais da metade da população idosa de todos os municípios que compõe a Serra Catarinense apresentam desvio em seu estado nutricional, sendo o padrão de sobrepeso de maior prevalência, principalmente em idosos do sexo feminino. Ressalta-se, ainda, que as alterações fisiológicas ocorridas durante a senilidade, podem facilitar alterações nutricionais na referida população.

Nota-se ainda, que o padrão de sobrepeso, predominou em todos os munícipios da região estudada, e que a insuficiência de dados (principalmente em pequenos municípios), adiam as intervenções dos profissionais da saúde.

A análise nutricional torna–se essencial para identificar erros e deficiências alimentares, afim de desenvolver políticas públicas para uma futura ação multidisciplinar. Além disso, preservar e melhorar o estado nutricional, refletem no aperfeiçoamento da qualidade de vida.

O presente trabalho foi de suma importância para análise da população idosa atendida na rede pública, uma vez que o quadro nutricional, especialmente em idosos, pode estar relacionado com diversos fatores, bem como, presença de comorbidades associadas. Desta forma, uma abordagem crítica e multidisciplinar é necessária para a garantia da qualidade de vida para este público.

REFERÊNCIAS

  1. Kalache, A. O mundo envelhece: é imperativo criar um pacto de solidariedade social. Ciência & Saúde Coletiva, 2008;13:1107-1111.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de atenção Básica. Marco de Referência da Vigilância Alimentar e Nutricional na Atenção Básica. Brasília, DF, 2015.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de atenção Básica. Orientações para a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde. Brasília, DF, 2011.
  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de atenção Básica. Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN. Brasília, DF, 2004.
  1. Alves BPO, Santos RR. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN) nos municípios do estado de São Paulo entre 2008 e 2012. 2016. (Graduação em Nutrição). São Paulo– Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, 2016.
  1. Pereira IFS, Spyrides MHC, Andrade LMB. Estado nutricional de idosos no Brasil: uma abordagem multinível. Cadernos de Saúde Pública, 2016;32:e00178814.
  1. Linden Junior E, Trindade JLA. Avaliação da qualidade de vida de idosos em um município do Sul do Brasil. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 2013;16:473-479.
  1. Fazzio, DMG. Envelhecimento e qualidade de vida – Uma abordagem nutricional e alimentar. Revista de Divulgação Científica Sena Aires, 2012;1:76-88.
  1. Silva VP, Cárdenas CJ. A comida e a sociabilidade na velhice. Revista Kairós, 2007;10:51-69.
  1. Moratoya EE, Carvalhaes GC, Wander AE, Almeida, LMMC. Mudanças no padrão de consumo alimentar no Brasil e no mundo. Revista de Política Agrícola, 2013;12:72.
  1. IBGE. Agência IBGE notícias, 2018. Projeção da população 2018: número de habitantes do país deve parar de crescer em 2047 [Internet]. [Acesso em 20 set 2020]. Disponível em: https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/21837-projecao-da-populacao-2018-numero-de-habitantes-do-pais-deve-parar-de-crescer-em-2047.
  1. Pereira RLMR, Sampaio JPM. Estado nutricional e práticas alimentares de idosos do Piauí: dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional – SISVAN Web. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 2019;13:854-62.
  1. Nascimento CM, Ribeiro AQ, Cotta RMM, Acurcio FA, Peixoto SV, Priore SE, Franceschini SCC. Estado nutricional e fatores associados em idosos do Município de Viçosa, Minas Gerais, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 2016;27:2409-2418.
  1. Campos MAGC, Pedroso ERP, Lamounier JÁ, Colosimo EAC, Abrantes MM. Estado nutricional e fatores associados em idosos. Revista da Associação Médica Brasileira,2006;52:214-21.
  1. Rocha JSB, Ogando BMA, Reis VMCP, Ávila WRM, Carneiro AG, Dias Gabriel, REC, Moreira MHR. Impacto de um programa de exercício físico na adiposidade e na condição muscular de mulheres pós-menopáusicas. Revista Brasileira de Ginecologia Obstetrícia, 2012;34:414-19.
  1. Schilp J, Wijnhoven HAH, Deeg DJH, Visser M. Early determinants for the development of undernutrition in an older general population: Longitudinal Aging Study. Amsterdam. British Journal of Nutrition, Cambridge, 2011;106:708-17.
  1. Assumpção D, Domene SMA, Fisberg MR, Barros MBA. Qualidade da dieta e fatores associados entre idosos: estudo de base populacional em Campinas, São Paulo, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, 2014;30:1680-1694.
  1. Inzitari M, Doets E, Bartall B, Benetou V, Di Bari M, Visser M, Volpato S, Gambassi G, Topinkova E, De Groot L, Salva A. Nutrition in the age-related disablement process. The Journal of Nutrition, Health & Aging, Switzerland, 2011;15599-604.
  1. Falcão DVS, Maluschke JSNFB. Cuidar de familiares idosos com a doença de Alzheimer: uma reflexão sobre aspectos psicossociais. Psicologia em Estudo, 2009;14:777-86.
  1. Texeira JB, Souza Junior PRB, Higa J, Theme Filha MM. Doença de Alzheimer: estudo da mortalidade no Brasil, 200-2009. Cadernos de Saúde Pública, 2016;31:1-12.
  1. Morais MB, Fracasso BM, Busnello FM, Mancopes R, Rabito E. I. Doença DE Parkinson em idosos: ingestão alimentar e estado nutricional. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, 2013;16:503-511.
  1. Santos RR, Bicalho MAC, Mota P, Oliveira DR, Moraes EN. Obesidade em idosos. Revista Medica de Minas Gerais, 2013;23:64-73.
  1. Mathus-Vliege EMH. Prevalence, pathophysiology, health consequences and treatment options of obesity in the elderly: a Guideline. Obesity Facts. Basel, 2012;5:460-83.


Fundada em 2020, a Agron tem como missão ajudar profissionais a terem experiências imersivas em ciência e tecnologia dos alimentos por meio de cursos e eventos, além das barreiras geográficas e sociais.

Leave A Reply

//
//
Jaelyson Max
Atendimento Agron

Me envie sua dúvida ou problema, estou aqui para te ajudar!

Atendimento 100% humanizado!