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ESTRATÉGIA DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE PARA GESTANTES NA ATENÇÃO BÁSICA

Capítulo de livro publicado no livro: Tecendo cuidados e semeando saúde: experiências e relatos inspiradores de atenção primária. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786599965838-06

Este trabalho foi escrito por:

Eziane Dantas da Silva; Matteus Pio Gianotti Pereira Cruz Silva ; Paloma Rayane Ferreira Paz; Taís Nascimento da Silva ; Mateus Silva de Barros; Gabriela Lucas Pedro de Lucena Bezerra; Bruna Braga Dantas; Francinalva Dantas de Medeiros

RESUMO

Introdução: A saúde da mulher tem sido um campo de grande atenção e discussões, desde seus cuidados rotineiros até a saúde reprodutiva, gestação e parto, merecendo atenção dos profissionais e de políticas públicas que assegurem seus direitos. Objetivo: Este trabalho tem como objetivo apontar os pontos positivos da consulta e acompanhamento do pré-natal realizado pela equipe multiprofissional e os integrantes do Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde). Metodologia: Através de um estudo descritivo do tipo relato de experiência, realizado a partir da vivência dos/das discentes do PET-Saúde da Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, campus Cuité. Tal experiência ocorreu na Unidade Básica de Saúde (UBS 1) Rosália Henrique de Alencar Lima, localizada no município de Nova Floresta – PB, durante o período de agosto de 2022 a janeiro de 2023. Resultados: Desta forma, foi possível observar como os hábitos alimentares de uma gestante são de extrema importância para o direcionamento de um pré-natal e puerpério, a fim de que a equipe de saúde consiga garantir a implementação da saúde das usuárias deste serviço. Para tanto, foram utilizados materiais do tipo panfletos como ferramenta para uma abordagem multiprofissional, identificando, assim, os principais pontos com necessidade de orientação. Conclusão: Por fim, a consulta de pré-natal é um importante instrumento para o acompanhamento da gestação e da gestante, é necessário que seja realizado em conjunto por diferentes profissionais da saúde que compõem o serviço.

Palavras-chave: Gestação, PET-Saúde, Serviço Primário, Pré-natal.

INTRODUÇÃO

A saúde da mulher tem sido um campo de grande atenção e discussões ao longo de várias décadas. A vivência gestacional é um período muito peculiar na vida de uma mulher, necessitando de acompanhamento por uma equipe multiprofissional. O Programa de Humanização no Pré-natal e Nascimento (PHPN) traz estratégias para o atendimento humanizado como assegurar às gestantes um acesso facilitado ao serviço de saúde, cobertura e qualidade do acompanhamento durante o pré-natal, como também para a assistência ao parto, ao puerpério, ao binômio mãe-bebê, além de ampliar as ações existentes pautadas pelo Ministério da Saúde na área de atenção (1).

Segundo as recomendações do Ministério da Saúde, a assistência pré-natal deve se dar por meio da incorporação de condutas acolhedoras; do desenvolvimento de ações educativas, sem intervenções desnecessárias; da detecção de patologias e de situações de risco gestacional; do estabelecimento de vínculo entre o pré-natal e o local do parto; e do fácil acesso a serviços de saúde de qualidade, desde o atendimento ambulatorial básico ao atendimento hospitalar de alto risco (2).

A assistência pré-natal é um importante componente da Unidade Básica de Saúde (UBS) para as mulheres no período gravídico-puerperal, que inclui a prevenção de doenças e agravos, a promoção da saúde e o tratamento dos problemas ocorridos durante o período gestacional até o pós-parto, tanto para a mulher quanto para o bebê (3).Assim, destaca-se a importância ao atendimento e acompanhamento gestacional não de forma destinada a uma única área, mas sim por meio de uma equipe multiprofissional incluindo: nutricionista, dentista, assistente social, psicólogo, além do enfermeiro, técnico de enfermagem, médico e fisioterapeuta, que irão em conjunto assegurar que essa gestação aconteça de forma segura, antes e após o parto. Além disso, é necessário que o Ministério da Saúde ofereça uma boa qualidade nas práticas do pré-natal, garantindo os equipamentos necessários para que sejam feitas as consultas e exames, levando em consideração a capacitação dos profissionais que irão assistir a gestação nesse processo com a finalidade garantir a vida da gestante e do bebê (4).

A promoção da saúde durante o processo de gestação se torna importante, tendo em vista que a educação em saúde tem a capacidade de prevenir agravos e controlar possíveis alterações. O Programa de Educação pelo Trabalho para Saúde (PET-Saúde), incentiva, melhora, e auxilia para as atividades de promoção de forma dinâmica, acolhedora e integrativa, buscando suprir as demandas e as recomendações para uma gestação segura.

Por conseguinte, ao se identificar a fragilidade da população de gestantes e suas necessidades específicas do município de Nova Floresta/PB, foi possível identificar um melhor resultado na demanda de promoção e prevenção na gestação durante o acompanhamento pré-natal.

Nesse contexto, o objetivo deste estudo tem em relatar a atuação do PET-Saúde durante o acompanhamento do pré-natal que foi realizado no PSF-I em Nova Floresta/PB, e apresentar a importância da mobilização de ações educativas durante o acompanhamento gestacional.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência, de abordagem qualitativa, realizado a partir da vivência dos/as discentes do PET-Saúde da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), campus Cuité. Tal experiência, que resultou na elaboração deste relato, ocorreu na UBS I Rosália Henrique de Alencar Lima, localizada no município de Nova Floresta, Paraíba, no período de agosto de 2022 a janeiro de 2023. A vivência na unidade foi realizada de forma multidisciplinar, pois envolveu discentes, docentes e profissionais de diferentes formações. Conforme os ideais do PET-Saúde, a participação no serviço tem como intenção qualificar a integração do ensino-serviço-comunidade por meio do aprimoramento do conhecimento dos profissionais de saúde e dos alunos de graduação da área da saúde.

Diante da participação no serviço, a experiência elegeu como objetivos: salientar todos os pontos positivos da consulta de pré-natal quando realizada por equipe multiprofissional, tal como a difusão de conhecimentos acerca da gravidez, através de panfletos informativos como forma de educação em saúde. Ainda, a experiência foi dividida em dois momentos: construção do material base e a implementação das estratégias de educação em saúde. Durante o primeiro momento, foram criados dois panfletos, descritos como “Como amenizar os sintomas da Gravidez” e “Complicações na Gravidez”. A princípio, os panfletos foram elaborados por discentes utilizando como técnicas de coleta de dados: revisão da literatura, diários de campo e revisão de prontuários. Por conseguinte, o andamento do material contou com o acompanhamento e orientação de docentes e preceptores, por meio de reuniões periódicas, com discussão de necessidades, avaliação do material elaborado, bem como esclarecimento de dúvidas.

Assim, no segundo momento, tratou-se da discussão dos conteúdos que foram abordados nos panfletos durante as consultas de pré-natal, ações de saúde e nas visitas domiciliares, tendo como público-alvo as pessoas atreladas à unidade de saúde em estado gestacional e sua família. De forma contínua, foi realizado um diálogo educativo nos vários âmbitos, favorecendo o fortalecimento de vínculos entre o agente que oferta a saúde e a usuária e uma reorientação da importância do autocuidado, demonstrando que a saúde da gestante é uma responsabilidade de todos. Por fim, foi realizado um momento de escuta ativa das queixas e demais vivências da gravidez experimentadas por essas mulheres, como forma de avaliação de vulnerabilidades e situações de risco.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na prática realizada na UBS I em Nova Floresta – PB, serviço de saúde no qual se realizou o desenvolvimento do presente estudo, destaca-se o acompanhamento com profissionais de diferentes áreas, sendo eles: a assistente social, que participa do planejamento familiar; psicólogo, que realiza acompanhamento emocional; médico, responsável por diagnóstico e prescrição no caso de doenças ou alterações que se desenvolvem durante a gestação; a enfermeira, que promove a vacinação, realiza consulta de pré-natal, verificando dentre outras questões, o crescimento intrauterino, auscultando os batimentos neonatais e escutando as queixas da gestante, além de observar mensalmente uma possível alteração acima dos padrões estabelecidos, encaminhando a um profissional específico caso necessário; a nutricionista, que tem a responsabilidade de prescrever a alimentação da gestante, com a finalidade de garantir os nutrientes essenciais da mãe e o do bebê, verificar as medidas antropométricas, assim como incentivar o aleitamento materno.

Além da equipe multiprofissional que compõe a UBS referida, há o auxílio dos/as estudantes de enfermagem, nutrição e farmácia, que fazem parte do PET-Saúde, que promovem ações educativas de promoção da saúde e prevenção de doenças com as gestantes, com a supervisão dos seus preceptores da unidade, nutricionista, enfermeira, assistente social e psicólogo.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), no Global Strategy on Diet, Physical Activity and Health (2004), a boa nutrição, ocorrendo por mãe e bebê durante o pré-natal e puerpério, atua como maneira de prevenção a doenças crônicas não-transmissíveis, tendo destaque o aleitamento materno durante os 6 primeiros meses de vida para a promoção ideal da saúde. Desta forma, é possível observar que os hábitos alimentares de uma gestante é de extrema importância para o direcionamento de um pré-natal e puerpério, de modo que a equipe de saúde consiga garantir a implementação da saúde das usuárias deste serviço5. A partir destes entendimentos, estudantes do PET-Saúde junto com a preceptora e nutricionista, desenvolveram material educativo do tipo panfletos, com o intuito de dinamizar a consulta de pré-natal e fazer com que as gestantes tivessem acesso a informações confiáveis acerca da gestação em correlação com a nutrição, focando temas como as complicações na gravidez e sintomas próprios deste processo.

Os estudantes do PET-Saúde construíram dois panfletos, o primeiro “Como amenizar os sintomas da Gravidez” (Figura 1), aborda o tratamento não-medicamentoso para a êmese, anemia, azia, cefaléia e diminuição do fluxo trato gastrointestinal; e o segundo “Complicações na Gravidez”, direcionado a diabetes mellitus gestacional e hipertensão arterial gestacional (Figura 2).

Estes panfletos foram planejados para serem distribuídos conforme queixas apresentadas pelas usuárias durante as consultas em saúde, e foram executados de forma a apresentarem pouco texto, priorizando imagens remetentes aos itens recomendados a ingesta ou não, preocupando-se com a parcela de pacientes não alfabetizadas que poderiam recorrer ao sistema para a consulta pré-natal. Este material encontra-se em uso pela UBS 1 e o Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) da cidade de Nova Floresta-PB, desde setembro de 2022.

A consulta de pré-natal de forma multidisciplinar ainda conta com o incentivo ao aleitamento materno, abordando a importância do aleitamento exclusivo pelos 6 primeiros meses de idade, em que o bebê deve ser alimentado somente pelo leite materno, não precisando de chás, sucos, nem mesmo água. Após essa idade, o bebê deve começar a alimentação complementar apropriada, mas a amamentação deve continuar até os 2 anos de idade. O leite materno, além de contribuir para nutrição da criança, evita doenças como diarreia e alergias, diminui o risco de doenças crônicas como diabetes e hipertensão no futuro adulto, além de promover o vínculo entre mãe e filho.

Para além da discussão dos benefícios acarretados pelo ato de amamentar, são discutidos durante a consulta de pré-natal, com a presença da nutricionista e enfermeira, mitos acerca da temática do aleitamento, em que os principais tópicos que a população tem como dúvida são “leite fraco”, “leite insuficiente” e “leite que não sacia o bebê”.

Durante os atendimentos com a equipe composta por enfermeira e nutricionista, foi possível observar que a classe social da usuária envolvida e seu nível de letramento caminhavam lado a lado com a adesão ao aleitamento, o que muitas vezes repercutiu em atendimentos de puericultura. Quanto maior o nível de socioeconômico e de letramento, em que a gestante e puérpera e seus familiares possuem, maior a chance de um melhor grau de esclarecimento, e de contar com uma rede de apoio sólida e presente, com maiores chances do aleitamento materno ser executada e de o bebê não sofrer o desmame precoce. Usuárias com nível socioeconômico e escolaridade baixos muitas vezes relataram a necessidade de abandonar a amamentação em virtude do trabalho, e que em diferentes etapas de vida de seu bebê, cediam aos desejos da família de introdução alimentar precoce, como também observado no estudo de Boff et al8.

O atendimento compartilhado por profissionais de diversas áreas da saúde permite a percepção do problema a partir de vários olhares e opiniões, podendo assim haver um cuidado maior e mais eficaz, fazendo com que a consulta seja muito mais benéfica e enriquecida de informações6. A troca de experiências das diferentes profissões faz com que o usuário atendido tenha melhor qualidade na sua consulta, mais informações sobre o que vem a ser tratado 7. Para a equipe, o atendimento feito para além do profissional de enfermagem isoladamente traz benefícios para as usuárias, como a melhoria do atendimento ao serviço e a ajuda na tomada de decisões, pois, com outras experiências e especialidades envolvidas durante o atendimento de pré-natal, tem-se uma ampliada troca de conhecimentos, expandindo o olhar da gestante para sua gestação. Assim, as usuárias são beneficiadas com um atendimento de melhor qualidade, obtendo mais informações, maiores cuidados e um olhar mais atento. Para a formação acadêmica e profissional dos discentes há o desenvolvimento de uma capacidade melhor de assistir às gestantes, partindo de uma experiência multidisciplinar para entender o indivíduo com um olhar mais amplo, garantindo um atendimento mais amplo e dinâmico.

CONCLUSÕES

A consulta de pré-natal é um importante instrumento para o acompanhamento da gestação e da gestante, tendo em vista que, durante o processo, é possível identificar questionamentos e dúvidas por parte da população a respeito da gestação e do período após esta. Assim, a atuação multiprofissional durante o pré-natal é de fundamental importância para que se tenha um melhor atendimento à gestante, uma vez que, com uma atuação multiprofissional, é possível compreender de maneira global e ampla a situação da usuária e sanar dúvidas que englobam as múltiplas áreas de conhecimento.

Foi possível identificar que há um grande questionamento a respeito da capacidade de amamentação, que não se resume apenas ao processo de pega e à ação de amamentar em si, mas também à compreensão nutricional a respeito da necessidade de minerais e nutrientes para a mãe e às restrições que devem ser feitas. Deste modo, o processo de acompanhamento multidisciplinar e profissional destaca-se como uma ferramenta que gera maiores chances de alcançar os objetivos estabelecidos e gerar um atendimento de melhor qualidade para a usuária e garantia de uma gestação segura e tranquila, assim como o período de puerpério.

REFERÊNCIAS

  1. VIERA et al. Percepção das puérperas sobre a assistência prestada pela equipe de saúde no pré-natal. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2011; 20 (Esp): 255-62.
  2. VIELLAS, E.F et al. Assistência pré-natal no Brasil. Cad. Saúde Pública. 1 ed. Rio de Janeiro; 2014. 85-100 p.
  3. DUARTE, S.J; ANDRADE., S.M. Assistência pré-natal no programa saúde da família. 6 ed. Revista Revisão Crítica, Esc Anna Nery R Enferm 2006. 121-125 p.
  4. OLIVEIRA, E.C; BARBOSA, S.M; MELO, S.E. A importância do acompanhamento pré-natal realizado por enfermeiros. Revista Científica FacMais, Volume. VII; 2016. 2238-8427 p.
  5. GOMES, C. DE B. et al. Hábitos alimentares das gestantes brasileiras: revisão integrativa da literatura. Ciência & Saúde Coletiva. 6. ed. Ciência coletiva;2019. 2293-2305 p.
  6. BARRETO, S.A; SANTOS, D.B; DEMÉTRIO, F. Orientação nutricional no pré-natal segundo estado nutricional antropométrico: estudo com gestantes atendidas em unidades de saúde da família. 1. ed. Bahia: Revista Baiana de Saúde Pública. 2013.952-968 p.
  7. BOFF, A. D. G., et al. Aspectos socioeconômicos e conhecimento de puérperas sobre o aleitamento materno. Audiology – Communication Research; 2015. 141–145p.

Fundada em 2020, a Agron tem como missão ajudar profissionais a terem experiências imersivas em ciência e tecnologia dos alimentos por meio de cursos e eventos, além das barreiras geográficas e sociais.

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