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ESTIMATIVA DE MASSA DE FORRAGEM DE BRAQUIÁRIAS POR MEIO DA ALTURA DO PASTO

Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2. Para acessá-lo clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-24

Este trabalho foi escrito por:

Rodrigo Schaurich Mativi Righi*; Luis Carlos Oliveira Borges; Anna Cláudia Cardoso Paimel; Letícia Nunes Vieira; Camila Fernandes Domingues Duarte; Carla Heloisa Avelino Cabral; Carlos Eduardo Avelino Cabral

*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]

Resumo: Objetivou-se com este trabalho propor equações capazes de predizer a massa de forragem de cultivares de Urochloa brizantha e Urochloa decumbens, por meio da altura do dossel e assim, permitindo estimar a capacidade de suporte conforme a altura do pasto. A coleta de informações para as curvas de estimativa da massa de forragem por meio da altura do dossel foi realizada por meio de meta-análise, através de dados publicados que mensuraram altura do dossel e massa de forragem dos cultivares de U. brizantha (Marandu, Xaraés, Piatã e Paiaguás) e U. decumbens cv. Basilisk. A análise estatística consistiu em teste de correlação e identificação dos modelos de regressão, ambos a 5% de probabilidade de erro. Com os dados que foram obtidos foi possível observar que houve correlação entre a altura e a massa de forragem para U. brizantha (r= 0,53667 e p-valor= <0,001) e para U. decumbens (r= 0,63 e p-valor= <0,001). O coeficiente de determinação foi alto com o valor de (R2= 0,92) para U. brizantha e (R2= 0,74) para U. decumbens, então que a variação de y pode explicada pela relação de x e y, podendo então apresentar um bom ajuste da equação, sendo possível estimar a massa de forragem através da altura e assim também estimar a capacidade de suporte. Logo, conclui-se que a medição da altura se torna uma forma aceitável para se predizer a massa de forragem, de modo que a equação descontínua apresenta o melhor ajuste da equação.

Palavras–chave: altura do pasto; capacidade de suporte; ferramenta digital; manejo do pastejo

Abstract: The objective of this work was to propose equations capable of predicting the forage mass of cultivars of Urochloa brizantha and Urochloa decumbens, through canopy height and thus, allowing to estimate the support capacity according to pasture height. The collection of information for the forage mass estimation curves through canopy height was performed by meta-analysis, through published data that measured canopy height and forage mass of cultivars of U. brizantha (Marandu, Xaraés, Piatã and Paiaguás) and U. decumbens cv. Basilisk. The statistical analysis consisted of correlation test and identification of regression models, both at 5% probability of error. With the data obtained it was possible to observe that there was a correlation between height and forage mass for U. brizantha and (r 0.53667 and p-value= <0.001) for U. decumbens (r= 0.63 and p-value= <0.001). The coefficient of determination was high with the value of (R2= 0.92) for U. brizantha and (R2= 0.74) for U. decumbens, so that the y variation can be explained by the ratio of x and y, and can then present a good fit of the equation, being possible to estimate the forage mass through height and thus also estimate the support capacity. Therefore, it is concluded that height measurement becomes an acceptable way to predict forage mass, where the discontinuous equation presented the best fit of the equation.

Key Word: pasture height; supportability; digital tool; grazing management

INTRODUÇÃO

A pecuária brasileira tem importância fundamental na economia do país, sendo uma atividade econômica bastante lucrativa. Foi responsável por cerca de 10% do PIB do Brasil em 2020 (1). Apesar disso, a adoção de tecnologias nessa atividade ainda é baixa, principalmente quando comparada à agricultura.

As áreas de pastagens são as que mais sofrem com a falta de adoção de tecnologia, onde culturalmente foi adotado um modelo de uso extrativista, com baixa ou nenhuma forma de controle dos componentes, animal e vegetal. Este modelo de produção apresenta baixa eficiência produtiva, sendo comumente encontrado, taxas de lotação inexpressivas, por volta de 1,6 a 2,0 unidade animal/hectare (UA/ha). Essas áreas possuem um grande potencial produtivo a ser utilizado, apenas com estratégias de manejo da pastagem e adubações corretivas, pode-se alcançar lotações de 3,00 a 6,55 UA/ha (3). 

Além disso, um dos principais gargalos encontrados no manejo de pastagens é o controle da altura do pasto (4), que junto com o ajuste na taxa de lotação, traz benefícios para o capim, podendo refletir em maiores índices produtivos e econômicos, visando melhor aproveitamento de massa vegetal produzida e mantendo uma área foliar residual adequada. 

O controle da altura, a estimação de massa de forragem e o ajuste na taxa de lotação são grandes dificuldades encontradas na maioria das propriedades rurais, pois exigem tempo, conhecimento e adoção de sistemas de armazenamento de informações para que seja possível a tomada de decisão. Sendo assim necessário a adoção de ferramentas que facilitem esse processo.

Para isso, pretende-se, desenvolver uma equação que possa ser utilizada para estimar a massa de forragem a partir da altura do pasto, buscando auxiliar o pecuarista a identificar os pastos que estão com falta ou excesso de animais, para que seja possível ajustar a capacidade de suporte dos pastos.

MATERIAL E MÉTODOS

A coleta de informações para as curvas de estimativa da massa de forragem por meio da altura do dossel foi realizada de duas maneiras. A primeira forma foi por meio de meta-análise, através de dados publicados que tenham mensurado altura do dossel e massa de forragem dos cultivares de U. brizantha (Marandu, Xaraés, Piatã e Paiaguás) e da U. decumbens cv. Basilisk. O banco de dados foi constituído por quinze artigos científicos, seis dissertações, duas teses e um trabalho de conclusão de curso, já para os dados de U. decumbens foram utilizados dezessete artigos científicos e uma dissertação de mestrado, sendo estes obtidos por meio de pesquisas eletrônicas nos sites do Periódicos CAPES (https://www.periodicos.capes.gov.br/), Scientific Electronic Library Online (SciELO) (http://www.scielo.br), do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) (http://www.ibict.br) e no Google Acadêmico (http://scholar.google.com.br). Foram coletados trabalhos publicados entre janeiro de 1987 a dezembro de 2020, em que foi possível obter cento e dez dados para U. brizantha e sessenta dados para U. decumbens.  

A segunda forma de coleta de dados foi realizada por meio da coleta de massa de forragem na Fazenda Novapec, no dia 16 de maio de 2018, nas quais foi possível obter vinte dados, totalizando assim cento e trinta dados de U. brizantha. Nesta segunda etapa não foram coletados dados de U. decumbens. As amostras de capim foram coletadas em diversas alturas de 15 a 90 cm, sendo mantidos apenas os trabalhos em que a massa de forragem foi obtida através de colheita rente ao solo.  Observou-se a altura do dossel por meio de régua graduada. Para estimativa da produtividade foram utilizados quadros metálicos de 1,0 m². Toda a massa vegetal presente dentro do quadro foi coletada rente ao solo. Em seguida, o material foi acondicionado em sacos de papel e submetidos à secagem em estufa de circulação de ar a 55 + 5ºC, por 72 horas. Em seguida, o material foi pesado.

Para o ajuste da equação foram realizadas duas estimativas: a primeira foi realizada com análise de regressão linear contínua com as variáveis altura e massa de forragem; a segunda estimativa foi realizada por meio de regressão linear descontínua, estratificando-se as alturas. Utilizou-se os seguintes estratos de altura de 15 a 30 cm, 31 a 45 cm e 46 a 90 cm para U. brizantha e 10 a 20 cm, 21 a 40 cm, 41 a 80 cm para U. decumbens. A eficiência da estimativa foi mensurada por meio da razão entre os dados observados e estimados.

A análise estatística consistiu em teste de correlação e identificação dos modelos de regressão (contínua e descontínua), ambos a 5% de probabilidade de erro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Houve correlação entre a altura e a massa de forragem (Tabela 1) para a U. brizantha e U. decumbens. Esse resultado era esperado, pois existem trabalhos na literatura que expressam a relação entre estas duas variáveis (7) (2).

Por meio de regressão linear contínua, verificou-se que para cada cm de altura do dossel forrageiro ocorreu o incremento na massa de forragem de 102,51 kg MS/ha para U. decumbens (Figura 1) e 102,4 kg MS/ha para a U. brizantha (Figura 2). Este resultado encontrado, corrobora com o que já foi descrito por Molan (2004) (6), para a U. brizantha cv. Marandu, por Da Silva et al. (2012) (2) para a U. decumbens e por Nascimento et al. (2019) (5) para a U. brizantha cv. Xaraés, visto que eles também observaram que a quantidade da massa de forragem é proporcional à altura do pasto.

Figura 1. Estimativa da massa de forragem a partir de pastos de U. brizantha
Figura 2. Estimativa da massa de forragem a partir de pastos de U. decumbens

Embora o coeficiente de determinação da equação de U. brizantha tenha sido adequado (R2 = 0,92), observou-se que para alturas menores que 41 cm o modelo superestimou a massa de forragem e para alturas maiores que esta houve subestimativa (Figura 3). Este erro também foi observado para a U. decumbens, contudo, para alturas menores que 29 cm houve subestimativa e para alturas maiores que esta houve superestimativa (Figura 4). A superestimativa da massa de forragem pode resultar em degradação do pasto, pois resultará em taxa de lotação maior que a capacidade de suporte. Por outro lado, a subestimativa acarreta fornecimento de alimento de baixo valor nutritivo, e embora possa proporcionar maior ganho de peso individual, a menor taxa de lotação proporcionará menor ganho por área.

Figura 3. Relação entre altura e o erro baseado na Regressão da massa de forragem e altura e na tentativa e erro para U. brizantha
Figura 4. Relação entre altura e o erro baseado na Regressão da massa de forragem e altura e na tentativa e erro para U. decumbens

A estimativa do por meio de equação descontínua, composta por múltiplas equações conforme os estratos de altura, tornou a relação entre os valores observados e estimados mais próximos de 1,0, o que melhorou a eficiência da estimativa (Tabela 2). O melhor ajuste na equação descontínua ocorreu pela diferença entre a densidade volumétrica do pasto em diferentes estratos, o que foi evidenciado por Molan (2004) (6) e Santos et al. (2010) (7). Nos estratos mais baixos ocorre maior quantidade de perfilhos, somados ao material senescente proveniente da reciclagem de perfilhos, o que resulta em maior densidade volumétrica. Para U. brizantha, no estrato mais alto, observou-se uma redução em 20% na densidade volumétrica em relação ao estrato inferior, enquanto para a U. decumbens houve uma redução em 30% (Tabela 3). 

Além da variação da densidade volumétrica nos estratos, pode-se evidenciar-se diferenças na composição bromatológica desses capins, que pode ser explicada pela presença de material senescente em estratos mais baixos e/ou presença de colmos mais densos em estratos mais altos, sendo característica desses materiais possuir baixo valor nutritivo. Estes dados também são descritos por Molan (2004) (6) e Santos et al. (2010) (7). Santos et al. (2010) (7), também descreveram que há uma redução na densidade volumétrica de lâminas foliares verdes com o aumento da altura das plantas nos pastos, ocorrido pelo fato de que o aumento da altura é desproporcional ao da massa de lâminas foliares verdes, possuindo uma menor quantidade de massa com uma melhor composição bromatológica, em que o teor de proteína bruta vem a ser mais alto.

A equação descontínua apresentou melhor estimativa da massa de forragem que a equação contínua, pois com a idealização da equação descontínua, foi possível reduzir o desvio padrão e o erro decorrente dos dados utilizados (Tabela 2). Assim, por meio da equação descontínua, foi possível estimar a massa de forragem com maior exatidão evitando sub ou superestimativas de produção de forragem, que é o alimento basal de animais criados em pastagens.

A estimativa da massa de forragem, por meio da altura, é importante, pois a partir dela torna-se possível estimar quanto de forragem está verdadeiramente disponível para o consumo, o que garante ajuste na taxa de lotação conforme a capacidade de suporte.

CONCLUSÕES

Existe interação significativa entre a altura e massa de forragem, apresentando um bom ajuste da equação, na qual a equação descontínua proporciona melhor estimativa, sendo possível estimar a massa de forragem por meio da altura e, assim, também estimar a capacidade de suporte. 

REFERÊNCIAS

  1. Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (ABIEC). Perfil da pecuária no Brasil [Internet]. 2021. [acesso em 2021 Out 18] Disponível em: http://abiec.com.br/publicacoes/beef-report-2021
  2. Da Silva TC, Perazzo AF, Macedo CHO, Batista ED, Pinho RMA, Bezerra HFC, Santos EM. Morfogênese e estrutura de Brachiaria decumbens em resposta ao corte e adubação nitrogenada. Arch. de Zootec. 2012;61:91-102.
  3. Delevatti LM, Cardoso AS, Barbero RP, Leite RG, Romanzini EP, Ruggier AC, Reis RA. Effect of nitrogen application rate on yield, forage quality, and animal performance in a tropical pasture. Scientificreports. 2019;9:1-9.
  4. Fávaro VR, Córdova UA, Pinto MGL, Werner SS. Produção animal e variáveis climáticas em pastagem de azevém-anual tetraploide. Ver. Téc. Cient. Rural. 2020;22:2525-6912.
  5. Nascimento D, Vendruscolo MC, Dalbianco AB, Daniel DF. Produtividade de capim Paiaguás sod doses de nitrogênio e corte. Pubvet. 2019;13:1-15.
  6. Molan LK. Estrutura do dossel, interceptação luminosa e acúmulo de forragem em pastos de capim-marandu submetidos a alturas de pastejo por meio de lotação contínua. [dissertação] Piracicaba: Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo; 2004.
  7. Santos MER, Fonseca DM, Silva GP, Pimentel RP, Carvalho VV, Silva SP. Estrutura do pasto de capim-braquiária com variação de alturas. Rev. Bras. de Zootec. 2010;39:2125-2131.

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