EFEITO DO MANEJO DE PASTEJO SOBRE A COMPOSIÇÃO DA FORRAGEM, COMPORTAMENTO INGESTIVO E DESEMPENHO DE BOVINOS
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-21
Este trabalho foi escrito por:
Bheatriz Resende Gomes1; Bruna Karolayne Andrade Nogueira2; Jéssica Heloiza Coutinho3; Letícia Rosa Gasques4; Carlos Eduardo Avelino Cabral5; Carla Heloisa Avelino Cabral6
1[email protected]; 2 [email protected]; 3[email protected]; 4[email protected]; 5[email protected]; 6[email protected].
Resumo: O Brasil se destaca mundialmente como o maior produtor de carne bovina, e a maior parte dos bovinos são criados em pastagens. Para obter melhoria na eficiência na produção é necessário compreender questões de gestão de recursos forrageiros, como a escolha e manejo adequado do método de pastejo, o que garante a sustentabilidade do sistema, além do aumento na produtividade. No que se refere ao método de pastejo, a altura do dossel forrageiro é importante no manejo do pastejo em lotação contínua e intermitente. Por isso, o objetivo deste trabalho foi comparar o comportamento ingestivo, características de pastos e o desempenho de bovinos criados em lotação contínua e intermitente. Os efeitos do manejo do pastejo sobre o comportamento ingestivo dos animais não apresentaram diferenças dentre os estudos comparados, da mesma forma a produção de forragem e o desempenho animal, que independente da estratégia de manejo do pastejo adotada, ambas podem chegar a resultados satisfatórios quando bem conduzidos, ou seja, um método de pastejo bem manejado obterá produções semelhantes.
Palavras–chave: continuo; intermitente; métodos; produção animal.
Abstract: Brazil stands out worldwide as the largest producer of beef, and most cattle are raised on pastures. In order to improve production efficiency, it is necessary to understand forage resource management issues, such as the choice and proper management of the grazing method, which guarantees the sustainability of the system, in addition to increasing productivity. Regarding the grazing method, the height of the forage canopy is important in the management of grazing in continuous and intermittent stocking. Therefore, the objective of this work was to compare the ingestive behavior, pasture characteristics and the performance of cattle raised in continuous and intermittent stocking. The effects of grazing management on the ingestive behavior of the animals did not show differences between the compared studies, in the same way the forage production and animal performance, which regardless of the adopted grazing management strategy, both can reach satisfactory results when well that is, a well-managed grazing method will obtain similar yields.
Key Word: continuous; intermittent; methods; animal production.
INTRODUÇÃO
O Brasil se destaca mundialmente como o maior produtor de carne bovina, com rebanho de 222 milhões de animais, sendo 95% da criação no Brasil criada a pasto (1), cobrindo uma área aproximada de 223 milhões de hectares. Em virtude dessa realidade, o Brasil tem um dos menores custos de produção de carne (2). No entanto, além da eficiência na produção, questões de gestão na pecuária, como a sustentabilidade do sistema por meio da escolha adequada do método de pastejo são alvo de discussões.
No que se refere ao método de pastejo, tem-se a lotação contínua e a lotação intermitente como duas alternativas. De acordo com Allen et al. (3), a lotação contínua é caracterizada pela permanência contínua e irrestrita dos animais a toda a área de pastagem durante toda a estação de pastejo e a lotação intermitente caracterizada pela permanecia dos animais em pastejo em uma determinada unidade área de pastagem por períodos indefinidos em intervalos irregulares.
Embora a lotação intermitente melhore a uniformidade do pastejo (4), observa-se que, independentemente do método utilizado, é possível obter desempenhos semelhantes (5). Isso sugere a necessidade de comparação de dados com trabalhos científicos com os dois métodos de pastejo em diferentes sistemas, com a finalidade prever condições adequadas de pastejo e que garanta o prolongamento de utilização da área de pastagem.
Para Hodgson (6), o manejo do pastejo consiste em encontrar o equilíbrio entre o crescimento da espécie forrageira, o seu consumo pelos animais e a produção animal para manter o sistema o mais estável possível. Portanto, independente do método de pastejo, os objetivos são equivalentes e, por isso, outros fatores devem ser analisados, tais como a espécie forrageira, a categoria animal, o solo, o clima e, principalmente, a estrutura do pasto que é influenciada pela altura do dossel forrageiro.
Dessa forma, como a altura do pasto proporciona alterações na composição da forragem, no comportamento ingestivo e produção animal, é necessário avaliar os efeitos desta variável conforme o manejo do pastejo e diagnosticar diferenças entre as estratégias de gestão. Diante disso, este trabalho teve por objetivo comparar o efeito de diferentes métodos de pastejo sobre a composição química da forragem, o comportamento ingestivo e o desempenho de bovinos.
EFEITO DO MÉTODO DE PASTEJO SOBRE O COMPORTAMENTO INGESTIVO DOS ANIMAIS
As atividades de pastejo, ruminação e tempo ócio descrevem o comportamento ingestivo dos animais, que pode ser afetado pelo tipo de alimento, composição química, manejo do pasto e entre outros. As alturas do dossel estão associadas com o manejo, que afetam o consumo de forragem pelo animal. Em pastos manejados com baixa altura há maior demanda de tempo na busca de alimento (7), que ocasiona em maior tempo de pastejo. O mesmo efeito de tempo acontece em pastos muito altos pois, há um aumento no tempo por bocado devido a maior necessidade de movimentos de manipulação e mastigação (8) por conta de mudanças na composição morfológica do pasto.
A altura do pasto é a principal variável que influencia no tempo de pastejo, independentemente do método de pastejo. Vicente (5) trabalhando com bezerras de corte e Soares (9) trabalhando com novilhas de corte, comparando os métodos de pastejo rotativo e contínuo, não obtiveram diferença no tempo de pastejo e ruminação (Tabela 1). Esses resultados semelhantes se devem ao manejo adotado, com uma altura intermediaria que promove alta taxa de consumo de forragem, redução no tempo de pastejo (9), melhor qualidade da forragem e menor proporção de fibra (10).
De modo semelhante, Zanine et al. (12), trabalhando com vacas girolandas em uma altura em torno de 30 cm em lotação continíua com carga variável, comparando diferentes gramíneas, observaram que ao ingerir uma forragem de melhor qualidade, o tempo de pastejo, dos animais foi reduzido. Campos (13) trabalhando com intensidades de pastejo e estações do ano, em lotação contínua, observou que com o passar do tempo há um aumento na atividade de pastejo devido a mudanças na disponibilidade de forragem, o que resulta em menor tempo de ruminação.
Além da altura do pasto, outras variáveis podem influenciar no comportamento ingestivo, como a estação do ano e o uso de suplementação. Flores (14) trabalhando com manejo contínuo, com novilhos mestiços, comparando intensidades de pastejo, observou que não houve diferença no tempo de pastejo pois, quando há redução na massa de bocado há um efeito compensatório no aumento da taxa de bocado ou tempo de pastejo. Nascimento et al. (15), trabalhando com vacas mestiças sob regime de pastejo em lotação rotativa, observaram que não houve diferença no tempo de pastejo e de ruminação entre as épocas do ano (chuva e seca). Porém foi observado diferença nos turnos avaliados, com predominância de pastejo diurno e ruminação noturna.
Rezende (16) trabalhando com bovinos de corte, em lotação rotativa, manejado com base na altura do pasto, observou que os animais modificam seu comportamento ingestivo devido à qualidade e a disponibilidade de forragem. E, que as atividades de pastejo e ruminação são influenciadas pelas estratégias de suplementação e também pela condição estrutural do pasto.
Com os trabalhos citados, pode-se observar que a média de todos os trabalhados apresentou resultados semelhantes tanto para o tempo de pastejo quanto de ruminação (Tabela 1). Esse resultado demonstra que a altura do pasto pode ser usada no manejo voltado para produção eficiente e sustentável em ambos os sistemas de pastejo.
EFEITO DO MÉTODO DE PASTEJO SOBRE O PASTO
A forragem é uma das principais fontes de nutrientes para o animal, sendo capaz de atender a grande parte das exigências de mantença, crescimento e produção final. Todavia, para tal é necessário que a planta não só ofereça quantidade de consumo ao animal, mas também um alimento de qualidade. Nesse sentido, cada espécie forrageira possui exigências específicas para manifestar o seu alto potencial de produção nutricional, e para atingi-las, é indispensável um ótimo manejo (16), o qual é caracterizado por potencializar a produção animal por área sem afetar o desenvolvimento da forrageira e a qualidade do solo (17).
Nesse contexto, Sbrissia et al. (19) apontam a importância do entendimento dos mecanismos de rebrotação de forrageiras para que possam ser elaboradas estratégias sustentáveis de manejo do pastejo, principalmente no que se refere à altura do dossel forrageiro, visto que é o principal parâmetro prático que orienta a intensidade de desfolha.
Além disso, plantas colhidas com maior número de folhas expandidas podem armazenar mais reservas de nutrientes antes do corte, permitindo rebrotação mais vigorosa.
Desta forma, é importante manter as plantas a uma altura ótima que possibilite uma melhor relação folha/colmo e uma elevada porcentagem de folhas. Assim, independentemente do método de pastejo, o manejo de uma pastagem baseado na altura pode ser uma forma simples e eficiente quando feita de forma correta. Nesse sentido, em lotação rotativa, Euclides et al. (20) afirmam que o uso da estratégia de manejo, baseado na altura de pré-pastejo, resulta em melhor controle da estrutura do pasto e, consequentemente, em seu valor nutritivo.
Quanto ao manejo do pastejo, em lotação contínua, Flores et al. (14) avaliaram a produção de forragem de dois cultivares de Brachiaria brizantha (Marandu e Xaraés) submetidos a três intensidades de pastejo (15, 30 e 45 cm de altura do dossel) e observaram que a taxa de acúmulo de forragem decresceu à medida que aumentou a intensidade de pastejo nos capins, e independentemente do cultivar, os pastos manejados a 40 cm de altura apresentaram as maiores massas de massas de matéria seca total (MST), matéria seca verde (MSV). Além disso, observaram que independentemente do cultivar e da altura do dossel, a quantidade de MST foi sempre superior a 2.000 kg/ha de MST.
Quanto à lotação rotativa, Pinese (8), ao avaliar novilhas em B. brizantha cv. Marandu, com alturas do dossel pré-pastejo de 25 cm e pós-pastejo de 15 cm, observou que os valores de massa de forragem foram influenciados pela condição do pastejo com 11.910 kg de MS/ha no pré-pastejo e 8.706 kg de MS/ha no pós-pastejo. Os autores acreditam que nesse tipo de pastejo as novilhas ingeriram o capim com um maior valor nutritivo, devido ao fato do curto período de pastejo fornecer ao perfilho a capacidade de otimizar a completa recuperação da planta após a desfolha e estimular uma rebrota mais rápida do capim e ter uma maior quantidade de folhas disponíveis para os animais.
Dessa forma, quando o capim Marandu é manejado nas alturas adequadas de manejo do pastejo (25 cm), Trindade (21) observou elevado teor de PB (14.85%) durante os meses avaliados, o que pode representar o dobro do mínimo de 7,0% necessário para o bom funcionamento ruminal, além de (21), ocorrer interceptação luminosa de 95% e o máximo de retardar que a planta entrasse em estádio elevado de maturação e reduzir o teor de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN).
A altura é uma variável tão importante na composição bromatológica, que Soares (9), ao avaliar o desempenho de novilhas de corte comparando os métodos de pastejo (lotação contínua e rotativa) em uma pastagem natural do Bioma Pampa sob a mesma intensidade de pastejo, observou que, independentemente do método do pastejo, as características bromatológicas foram semelhantes.
Vicente (5), ao também comparar os métodos de pastejo em pastagem de Azevém (Lolium multiflorum Lam.), observou que, independentemente do método de pastejo, os valores de massa de forragem estiveram de 1100 a 1800 kg/ha de MS. Isso implica que, tanto para a lotação contínua quanto rotativa, o importante é fazer com que a forragem atinja o máximo potencial produtivo sem comprometer a capacidade de colheita adequada dos animais, o que é possível por meio do controle da altura do dossel e que permite obter em bons resultados quando bem conduzidas.
EFEITODO MÉTODO DE PASTEJO SOBRE O DESEMPENHO DOS ANIMAIS
Na criação de bovinos a pasto, o desempenho animal pode ser considerado a medida da produção de cada animal do rebanho ao longo de um determinado período (22).
No experimento realizado por Quirino (23), observou-se que houve um ganho médio diário (GMD) a de 0,70 kg dia-1, sendo essa a média entre as raças analisadas (Holandês e Girolando), que foram manejadas em lotação rotativa. As vacas holandesas apresentaram o menor GMD e o maior tempo de ruminação quando comparada com a Girolando, o que pode estar relacionado à menor eficiência na digestibilidade da fibra do alimento ingerido.
Para Flores (14), que estudou lotação contínua com novilhos mestiços, houve um GMD de 0,47 kg dia-1 e quando comparando a intensidade de pastejo, observou também que o GMD diminuía com a maior intensidade de pastejo. Quanto maior a intensidade de pastejo, maior a taxa de lotação, o que reduz o potencial de seleção de forragem dos animais. Em contrapartida, em baixa intensidade de pastejo, ocorre maior seleção da forragem, o que proporciona maior desempenho animal (11).
Quando comparado os métodos de pastejo rotativo e contínuo, Soares (9) trabalhando com novilhas de corte no outono e manejando forrageiras nativas com altura acima de 8 cm, obtiveram um GMD negativo para ambos métodos, sendo de -0,3 kg PV dia-1. O desempenho animal está ligado diretamente com a ingestão (24), neste trabalho as novilhas apresentaram 551 min/dia de tempo de pastejo, 271 min/dia de tempo de ruminação e 191 min/dia em outras atividades, além de apresentar o teor de PB de 7,3 % para os dois métodos. Podendo explicar o GMD negativo, que além da forragem apresentar baixo valor nutricional, os animais demandaram maior tempo na procura de alimento, ocasionando a perda de peso (9).
Vicente (5) trabalhando com bezerras de corte, também comparando os métodos de pastejo rotativo e contínuo, não obteve diferença no GMD apresentando 1,2 kg PC/dia para a lotação contínua e 1,1 kg PC/dia para a lotação rotativa. Neste mesmo trabalho, demostra que essas bezerras apresentaram padrões diferentes de deslocamento, realizando maior números de passos no rotativo e permanecendo o maior tempo na estação alimentar, que não modificaram o tempo de pastejo, taxa de bocado e massa de bocado, o que proporcionou em semelhante taxa de ingestão.
Com os trabalhos citados, podemos observar que o desempenho animal independe do método de pastejo adotado e quando se trabalha respeitando a altura adequada para cada método obterá produções semelhantes. A lotação contínua tem-se uma faixa de altura adequada, onde pode se trabalhar com menor ou maior taxa de lotação influenciando no GMD, porém terá pouca influência no ganho por área (25). Na lotação rotativa, segue primícia que a altura ideal de pré-pastejo é quando há a 95 % da intercepção luminosa, que é quando há o maior acumulo de forragem e menor senescência (20).
Em pastagens manejadas com alturas acima do recomendado, pode ocorrer a formação de uma estrutura de pasto desfavorável, que é caracterizada por maiores acúmulos de colmo e de material senescente. Já em alturas abaixo do recomendado pode haver a decapitação do meristema apical da forrageira, fazendo que essa planta gaste as suas reservas para um novo perfilhamento, necessitando mais das raízes que consequentemente aumentará o tempo de recuperação da área foliar removida (26).
CONCLUSÃO
Os efeitos do manejo do pastejo sobre o comportamento ingestivo dos animais não apresentaram diferenças dentre os estudos comparados, da mesma forma a produção de forragem e o desempenho animal, que independente da estratégia de manejo do pastejo adotada, ambas podem chegar a resultados satisfatórios quando bem conduzidas. Com ajustes frequentes na taxa de lotação animal e manutenção da altura do dossel forrageiro, os métodos de lotação detém produções semelhantes.
REFERÊNCIAS
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