BIOQUÍMICA CLÍNICA DE ENZIMAS DO SANGUE, FÍGADO, PÂNCREAS E ESTRESSE OXIDATIVO DE FRANGO DE CORTE: REVISÃO DE LITERATURA
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-39
Este trabalho foi escrito por:
Alison Batista Vieira Silva Gouveia*1; Lorrayne Moraes de Paulo1; Allan Gabriel Ferreira Dias1; João Marcos Monteiro Batista1; Júlia Marixara Sousa da Silva1; Fabricio Eumar de Sousa2; Cibele Silva Minafra2
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
1Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás.
23Departamento de Agronomia, Centro Universitário de Mineiros, Mineiros, Goiás.
3Departamento de Zootecnia, Instituto Federal Goiano Campus Rio Verde, Rio Verde, Goiás.
Resumo: A criação de frangos de corte é uma atividade que cresce constantemente, devido aos avanços que estas aves sofreram em sua nutrição, genética e manejo, para continuar tendo índices zootécnicos desejáveis e reduzir o custo de produção, porém com todos estes avanços há necessidade de conhecer quais são os possíveis distúrbios que estas aves serão acometidas devido a sua grande capacidade produtiva. Esta revisão literária tem como objetivo contribuir com informações a respeito da utilização da bioquímica clínica de enzimas sanguínea, hepática e pancreática, como uma ferramenta importantíssima para avaliar o estado fisiológico de aves, incluindo aquelas expostas a diferentes efeitos ambientais relacionados à nutrição e oferta de alimento ou intoxicação e poluentes, como tem sido apontado em diversos estudos.
Palavras–chave: alanina aminotransferase; amilase; análises bioquímicas; avicultura; lipase.
Abstract: The raising of broiler chickens is a constantly growing activity, due to the advances that these birds have undergone in their nutrition, genetics and management, to continue having desirable zootechnical indexes and to reduce the cost of production, but with all these advances there is a need to know What are the possible disturbances that these birds are being affected due to their great productive capacity. This literature review aims to contribute information about the use of clinical biochemistry of blood, liver and pancreatic enzymes as a very important tool to evaluate the physiological state of birds, including those exposed to different environmental effects related to nutrition and food supply or intoxication and pollutants, as has been pointed out in several studies.
Key Word: alanine aminotransferase; amylase; biochemical analyzes; poultry farming; lipase.
INTRODUÇÃO
A avicultura de corte no Brasil vem crescendo fortemente em decorrência dos avanços tecnológicos que levaram a redução da conversão alimentar, mortalidade e idade de abate. Esses avanços estão relacionados ao melhoramento genético, sanidade, ambiência e nutrição animal(1).
Devido a estes avanços as aves de corte tendem a serem ainda mais produtivas, mas este aumento na produção destes animais pode acarretar distúrbios em órgãos que são de extrema importância para o metabolismo e para a saúde destes animais. Estes distúrbios podem ser mensurados através da avaliação das enzimas produzidas no próprio órgão, pois a quantificação dos teores enzimáticos são recursos bioquímicos utilizados para verificar o bom funcionamento do órgão, permitindo uma estimativa precisa da saúde e do estado nutricional das aves, além de esclarecer os efeitos dos aditivos no organismo(2,3).
A quantificação dos parâmetros bioquímicos dos exames realizados no soro ou no plasma sanguíneo apresentam resultados que constituem excelente subsídio para o diagnóstico clínico, sendo esses exames reunidos em baterias de provas referidas como avaliadoras da função hepática e pancreática(4), tendo como principal função a determinação da atividade enzimática, refletindo o que está ocorrendo em seu organismo naquele determinado período. Determinar os valores enzimáticos no sangue e nos órgãos é uma ferramenta importante para auxiliar no diagnóstico de doenças metabólicas(5).
Portanto, objetivou-se com este trabalho contribuir com informações a respeito da utilização da bioquímica clínica de enzimas sanguínea, hepática, pancreática e de estresse oxidativo como uma ferramenta importante para avaliar o estado fisiológico de aves, incluindo aquelas expostas a diferentes efeitos ambientais relacionados à nutrição e oferta de alimentos alternativos ou intoxicação, como tem sido apontada em diversos estudos.
AVICULTURA E A NUTRIÇÃO ANIMAL
A avicultura é uma atividade de grande importância para a economia brasileira, pois em 2021, o Brasil se consolidou como o terceiro maior produtor de carne de frango com aproximadamente 14,324 milhões de toneladas sendo o primeiro exportador desta carne com 4,610 milhões de toneladas exportadas(6).
Este grande avanço de produção é devido a grande aceitação da carne destes animais pela população, que busca uma fonte de proteína de maior qualidade e mais econômica, sendo considerada como uma carne mais saudável do que a carne vermelha, por possuir um menor teor de gordura(7).
Esta colocação de destaque como um dos grandes produtores e como maior exportador deve-se também a melhorias genéticas que estes animais tiveram, bem como a melhoria em sua alimentação, investimentos em tecnologias de automatização do sistema produtivo, controle das condições sanitárias de criação, aperfeiçoamento de profissionais quanto ao manejo das aves, além do sistema de produção integrado. Com estes avanços na avicultura, os frangos de corte se tornaram animais totalmente especializados para a produção de carne(1,8).
A seleção genética das aves destinadas à produção de carne é resultado da avaliação dos parâmetros de desempenho, como peso vivo, conversão alimentar e características de carcaça. Mas com todos os avanços genéticos que estas aves receberam para melhorar o seu desempenho, elas se tornaram ainda mais exigentes nutricionalmente, com isso a alimentação destes frangos de crescimento acelerado deve proporcionar todas as condições necessárias para que possam expressar todo o seu potencial genético(9).
A nutrição animal é definida pelo conjunto de processos em que um organismo vivo digere ou assimila os nutrientes contidos nos alimentos, usando-os para seu crescimento, reposição ou reparação dos tecidos corporais e para elaboração de produtos(10,11).
Para que a avicultura continue crescendo, buscas por tecnologias para melhorar a nutrição das aves vem sendo realizadas através de pesquisas, estudam diversos fatores que podem influenciar no desempenho dos frangos, pois sua dieta deverá proporcionar a melhor alternativa para que tenha nenhuma influência positiva sobre o seu crescimento, formação óssea e sua capacidade de resposta imunológica(12). Uma dessas tecnologias é a bioquímica clínica que tem como principal objetivo a determinação de parâmetro bioquímico e sua utilização no diagnóstico, tratamento, monitorização ou prevenção de doenças(13).
BIOQUÍMICA CLÍNICA
O estudo da bioquímica clínica e da hematologia torna-se uma ferramenta fundamental na avicultura, uma vez que, clinicamente, a determinação do estado de saúde animal é baseada no exame físico, valores hematológicos e bioquímicos. Dentre os indicadores bioquímicos, as dosagens das enzimas no sangue, no pâncreas “Amilase e Lipase”, e no fígado “Alanina aminotransferase (ALT), Aspartato aminotransferase (AST), Gama glutamiltransferase (GGT), podem ser utilizadas para a realização do diagnóstico clínico(14).
A utilização de enzimas endógenas possui grande importância para o diagnóstico clínico de várias doenças. Pois a quantificação da atividade destas enzimas pode ser realizada no plasma sanguíneo, eritrócitos ou até mesmo em tecidos como fígado, pâncreas e rins, estas enzimas podem ser medidas, pois são sintetizadas intracelularmente(15).
Podendo ser destacado três casos, as enzimas plasma-específicas, que estarão ativas no plasma sanguíneo e são utilizadas pelo organismo para a realização da coagulação sanguínea e fibrinólise. As enzimas secretadas são aquelas que serão liberadas na sua forma inativa, e atuaram extracelularmente quando ativa, sendo exemplos mais encontrados as proteases ou hidrolases produzidas no sistema digestório, ou lipase e amilase produzida no pâncreas(16).
As enzimas celulares são aquelas encontradas em baixas concentrações no sangue, porém a elevação destes níveis pode ser provocada por lesões em alguns tecidos, com este aumento nos níveis enzimáticos no sangue é possível inferir a localização e a natureza da lesão provocada em um determinado órgão, como fígado, pâncreas e miocárdio(17).
Estas enzimas são teciduais e quando liberadas no plasma sanguíneo podem ter variação de horas ou até mesmo semanas, principalmente quando são utilizadas para a realização de diagnóstico clínico de alguma enfermidade(18).
Porém em condições normais não há alteração na atividade enzimática, o que mostra o equilíbrio que estas enzimas possuem mesmo depois de liberadas na corrente sanguínea, mas quando há alteração nas condições normais de saúde do animal, há modificações nos níveis de enzimas que serão liberados, elevando a atividade enzimática, podendo ser um indicativo de uma possível lesão em um determinado órgão, o qual poderá interferir nas condições normais do animal(19). As análises bioquímicas realizadas no soro ou no plasma sanguíneo de aves podem ser utilizadas juntamente com os resultados dos exames realizados no fígado e no pâncreas como uma forma de prevenir ou diagnosticar possíveis doenças(4).
ANÁLISES BIOQUÍMICAS SÉRICAS
O sangue é composto principalmente por água, eletrólitos como maior destaque para o cálcio dissociado (Ca2+) e o fosfato (PO42-), proteínas, glicose, enzimas e hormônios. O sangue exerce diversas funções no organismo dos animais, como o transporte de nutrientes que foram absorvidos para os tecidos, transporta o material excretado das células até os órgãos, oxigenação dos tecidos e transporte do dióxido de carbono dos tecidos para os pulmões, auxilia na regulação da temperatura corporal e regula a concentração de água e de íons, além de defender o corpo contra microrganismos indesejados(20).
Os constituintes do sangue têm relação direta com a dieta em que estes animais são submetidos e influenciarão na composição do plasma e como consequência pode interferir diretamente no desempenho das aves(21).
A realização de análises bioquímicas séricas tem como principal intuito o monitoramento das condições de saúde em que estas aves se encontram, pois, as avaliações dos constituintes bioquímicos podem ser uma forma de verificar diversos fatores, como a qualidade das dietas, estresse por clima ou por manejo. Podem variar também com a idade, sexo e com o tipo de linhagem utilizada(22).
De uma maneira geral a bioquímica sérica, para aves, sugere-se a determinação de parâmetros de função renal como o ácido úrico; de indicadores do metabolismo proteico como as proteínas totais, ureia e albumina; indicadores do metabolismo energético como o colesterol e a glucose plasmática; indicador de glicemia e de estresse, como a frutosamina; minerais como cálcio e fósforo; e indicadores de lesão hepática como a AST e GGT e de lesão muscular(23).
ANÁLISES BIOQUÍMICAS HEPÁTICAS
O fígado é um órgão que possui grande importância para o perfeito funcionamento do metabolismo, pois sua fisiologia é de extrema importância para a compreensão de distúrbios que possam acometer este órgão(24).
Este órgão é responsável pela liberação da bile, a qual tem como funções a regulação do metabolismo de carboidratos, proteínas e lipídios, no armazenamento de substâncias e na degradação e excreção de hormônios, assim como a transformação e excreção de drogas, a hemostasia e o auxílio à resposta imune, além de funções vasculares, de armazenamento e filtração do sangue(25).
No fígado podem ocorrer várias alterações, que são indicativos de distúrbios circulatórios, tóxicos, infecciosos e neoplásicos. A etiologia de várias lesões hepáticas não é especificas, portanto, conhecer tais distúrbios pode ser uma alternativa para realizar a prevenção de enfermidades sistêmicas(26). A fisiologia do fígado está relacionada às enzimas transaminases produzida no próprio órgão, estas enzimas são sintetizadas intracelularmente, e estão diretamente associadas ao metabolismo aminoácido(27).
Em aves a verificação das funções hepáticas pode ser realizada quantificando as enzimas presentes no fígado, pois estas enzimas podem ser utilizadas para verificar se há possíveis lesões hepatocelulares. As enzimas quantificadas no fígado são: AST – aspartato aminotransferase, ALT – alanina aminotransferase, GLDH – glutamato desidrogenase, LD – lactato desidrogenase e o SD – sorbitol desidrogenase. O aumento na produção destas enzimas fígado e consequente à colestase ou indução por drogas: GGT – gama glutamiltransefase, AP – fosfatase alcalina(28). Ainda podem ser realizadas a mensuração de metabólitos como o colesterol, ácidos biliares e bilirrubinas, assim como a glicose e as proteínas(29).
As transaminases (AST) ou aminotransferase (ALT) são enzimas que catalisam a transferência de um grupo de um aminoácido para um cetoácido(30). Para a detecção de possíveis distúrbios hepatocelulares a enzima AST deve ser realizada juntamente com a ALT, pois sozinha ela e inespecífica, mas juntas estas enzimas são quantificadas no fígado de frangos de corte, com o intuito de realização a detecção de possíveis lesões hepáticas(31).
Na avicultura ainda são escassos os estudos sobre a sensibilidade e a especificidade das enzimas de função hepática, portanto a determinação destes valores bioquímicos de referência pode auxiliar na avaliação do estado fisiológico das aves e ao mesmo tempo detectar possíveis distúrbios que possam acometer as aves durante seu período de criação(32).
ANÁLISES BIOQUÍMICAS PANCREÁTICAS
O pâncreas das aves é uma glândula de extrema importância para o processo digestivo e metabólico das aves, se encontra inserido nas alças duodenais e pode ser dividido em lóbulos dorsal, ventral e esplênico. O pâncreas possui dupla função, endócrina e exócrina, sendo que a função endócrina é responsável pela produção de insulina, glucagon e somatostatina que são secretados pelas células das ilhotas localizadas nesta região do pâncreas. A função exócrina e formada por glândulas túbulo acinares e ductos intralobulares que são responsáveis pela produção do suco pancreático o qual é composto por água, sais, mucinas e enzimas de ação digestiva(33).
Algumas enzimas agem sobre os carboidratos, como a amílase; outras sobre as gorduras, como a lipase; e outras ainda sobre as proteínas, como a tripsina e algumas enzimas proteolíticas, que ficam armazenadas na forma de precursores dentro de grânulos cosinifilicos (grânulos de zimogênios), que estão localizados nas células glandulares e só serão liberadas através de estímulos enviados ao sistema nervoso autônomo, estímulo provocado pela presença de carboidratos, lipídios ou proteínas que chegam ao duodeno(34).
A produção de enzimas no pâncreas tende a aumentar de acordo com o avanço da idade da ave, pois a secreção das enzimas pancreáticas (amílase, lipase e tripsina), é baixa nos primeiros dias de vida, tendo aumento significativo na sua secreção até os 21 dias de vida(35). O crescimento do pâncreas está diretamente ligado ao aumento das enzimas digestivas, sendo que a concentração de lipase pancreática foi influenciada de acordo com a dieta em que as aves foram submetidas, portanto, a digestibilidade de gordura varia de acordo com a atividade da lipase e com a idade das aves(36).
Falhas na alimentação das aves decorridas de jejum prolongado ou até mesmo uma deficiência de vitaminas na ração, podem ocasionar a redução de células acinares, degeneração de algumas células do pâncreas(37). Determinados alimentos podem interferir na saúde do pâncreas, as leguminosas quando são fornecidas cruas podem possuir inibidores de proteases, estes inibidores podem acarretar o pâncreas, o aumento da secreção enzimática, hipertrofia e hiperplasia, estas alterações são atribuídas à presença de inibidores de tripsina na alimentação à base de leguminosas cruas(38).
ENZIMAS UTILIZADAS NO DIAGNÓSTICO CLÍNICO
ASPARTATO AMINOTRANSFERASE (AST)
A AST pode ser encontrada no miocárdio, fígado, músculo esquelético, com pequenas quantidades nos rins, pâncreas, baço, cérebro, pulmões e eritrócitos. É uma enzima citoplasmática e mitocondrial presente nestes tecidos, com maior destaque para fígado, sendo, portanto, bastante usada no diagnóstico de lesões que acometem estes órgãos(39).
Domingues et al.(13), verificaram que os níveis de AST pode ser diminuído com a utilização de sementes de Piper cubeba como aditivo fitogênico em dietas de baixa digestibilidade, comprovando assim a saúde hepática destes frangos. Já Gonçalves et al.(40), concluíram que a inclusão de 33-45mg kg-1 de bacitracina de zinco + 51-67mg kg-1 de salinomicina associado ao farelo de pimenta rosa na dieta de frangos de corte resultou em elevação de AST e redução de ALT aos 21 dias de idade.
A redução da ALT e a elevação da AST podem ser um indicativo de uma possível lesão no fígado, pois em lesões graves, os valores de ALT podem declinar mais rapidamente por terem sido primeiramente lançados na corrente sanguínea, permanecendo, portanto, os valores de AST por mais tempo elevados, o que acaba elevando esta relação AST/ALT(41).
ALANINA AMINOTRANSFERASE (ALT)
Alanina aminotransferase também conhecida como transaminase glutâmica pirúvica (TGP, GPT ou ALT) está presente em tecidos com metabolismo ativo de aminoácidos e pode ser encontrada no fígado, rins e músculos esquelético e cardíaco(42).
A atividade desta enzima possui valor limitado para a determinação de distúrbios hepatocelulares em aves, pois a ALT pode ser encontrada também no citosol do hepatócito como também nas células musculares e em outros tecidos, o que não caracteriza uma lesão no fígado. Seus níveis variam de acordo com cada espécie animal, mais na maioria das espécies de aves a média e de 19 a 50 UI/L(25,42).
Wang et al.(43), avaliando dietas com proteínas de origem animal (farinha de peixe) para frangos, tiveram efeito nocivos na saúde do fígado com níveis elevados de ALT. Isso nos mostra a importância se conhecer o valor biológico dos ingredientes utilizados e como isso afeta a saúde do animal.
Santos et al.(27) avaliando um produto homeopático em dietas vegetais, obtiveram níveis de ALT elevados em todas as idades avaliadas, porém mesmo com esta elevação durante os períodos avaliados, não é possível afirmar que a possível alteração hepática tenha sido causada pela inclusão dos fatores homeopáticos presentes em sua dieta.
GLUTAMATO DESIDROGENASE (GLDH)
A glutamato desidrogenase (GLDH) está presente nas mitocôndrias dos hepatócitos e é considerada como o marcador mais específico de distúrbios hepatocelulares nas aves, sendo considerada uma enzima indicativa de necroses hepática extensa, pois quanto maior a sua atividade plasmática, maior o dano hepático(44).
Durante a formação de processos inflamatórios, como a hepatite ou cirrose, esta enzima, quando comparada com a ALT, terá um pequeno aumento em sua atividade plasmática, isso ocorre devido a sua localização mitocondrial. Podendo ser observado grande aumento na atividade desta enzima quando o animal é acometido por doenças hepáticas causadas por agentes hepatóxicos(45).
LACTATO DESIDROGENASE (LD)
A lactato desidrogenase (LD ou LDH) catalisa a oxidação reversível do lactato para piruvato com o cofator NAD+. Existem no mínimo 5 isoenzimas, estando compostas por tetrâmeros, cujos protómeros são de 2 tipos (H e M) com pesos moleculares aproximados de 35 kD. A concentração de LDH nos eritrócitos é 150 vezes maior do que no plasma. Portanto, uma hemólise leve é detectada por aumento nos níveis desta enzima no soro(46).
A análise eletroforética das isoenzimas revela danos tissulares específicos. Existem cinco isoenzimas conhecidas de LDH, que não são comumente analisadas nos laboratórios veterinários. Isoladamente a enzima não é específica para nenhum órgão. Os métodos para a determinação da atividade da LDH utilizam reações em uma ou outra direção, do piruvato para lactato ou vice-versa. Esta enzima atua na glicólise, e nas aves, é especialmente ativa nos eritrócitos(47).
Portanto hemólise da amostra causará grandes elevações na atividade da LDH plasmática, podendo acarretar falso resultados na realização do diagnóstico de possíveis lesões, outras variações em seus resultados podem ocorrer por causas fisiológicas ocorridas sobre estas aves ou por causas estacionais ou gêneros(48).
A atividade desta enzima não é específica para distúrbio hepatocelular nas aves, no entanto o aumento de sua concentração no plasma pode estar relacionado a distúrbios hepatocelulares ou musculares. Em relação às outras enzimas como a AST e a ALT, sua atividade aumenta e diminuem mais rapidamente quando o fígado foi submetido a danos severos. Poedeiras adultas possuem maior atividade desta enzima em seu fígado, em sua musculatura esquelética, no miocárdio e em seu pulmão(49).
SORBITOL DESIDROGENASE (SD)
O sorbitol desidrogenase (SD) ou (SDH), e encontrado principalmente no fígado, e juntamente com GLDH são enzimas que possuem uma especificidade muito grande na detecção de distúrbio hepático em aves, mas assim como na GLDH estudos referentes a quantificação desta enzima são poucos, por isso sua aplicação no diagnóstico clínico é pouco o que diminui ainda mais a obtenção de valores de referência para cada espécie(50). A SD catalisa a oxidação reversível de sorbitol para frutose, tendo como cofator o NAD+. Seu peso molecular é de 95 kD e aparece exclusivamente no citosol dos hepatócitos. Seu incremento no plasma revela dano hepático(44).
CREATINA QUINASE (CK)
Existem vários métodos para quantificar a atividade da CK, que podem ser tanto colorimétricos, fluorimétricos ou reações acopladas de enzimas. Esta enzima pode ser localizada nos tecidos musculares, cardíacos e no cérebro. No músculo a CK cataliza a conversão de ATP e creatina, para creatina fosforilada, que serve como fosfato de alta energia para a sua utilização na atividade muscular(51).
A creatina quinase (CK) é uma enzima específica utilizada para avaliar a função muscular das aves, seus teores normais variam de 100 a 500 UI/L. O seu aumento na concentração plasmática poderá indicar distúrbios musculares, intoxicação por chumbo, clamidiose, septicemias e miopatias por deficiência de vitamina E é selênio(52).
A determinação da enzima CK é realizada para auxiliar na interpretação dos valores obtidos da atividade da enzima AST, com o objetivo de diferenciar os danos hepatocelulares dos danos musculares(45). Mas a interpretação destes resultados não é simples, pois pode ocorrer caso no qual o animal apresentara danos musculares que poderão ocorrer juntamente a danos hepatocelulares, quando isso ocorre o diagnóstico de lesões hepáticas pode ser comprometido, mascarando o real problema.
Além disso, a AST plasmática tem uma vida mais longa do que a CK; após sofrer uma única injúria muscular, os níveis de CK voltarão à normalidade mais rapidamente do que os de AST, podendo, em função do momento de colheita da amostra, acontecer diagnóstico errôneo de problema hepático(48).
Micotoxinas e neurotóxicas podem causar elevação das atividades séricas destas enzimas musculares, creatina quinase (CK), AST e lactato desidrogenase (LD) e sua alteração podem ser ocasionadas por tremores musculares e convulsões que irão provocar uma atividade muscular intensa(53).
GAMA GLUTAMIL TRANSFERASE (GGT)
A GGT ou gama glutamil transferase, também conhecida como gama-glutamil transpeptidase é uma enzima de indução sintetizada por quase todos os tecidos do corpo, sendo encontrada em maior concentração no pâncreas e nos rins. No fígado indica o nível de colestases e proliferação de ductos biliares. Lesões hepáticas agudas acarretam o aumento da atividade sérica devido à liberação de fragmentos de membrana contendo GGT. Para se determinar valores de referência para cada espécie, deve se levar em consideração diversos pontos como nutrição, estado fisiológico e resposta individual dos animais(14).
A utilização de sementes de Piper cubeba em dietas de baixa digestibilidade reduz os niveis de GGT, promovendo consequentemente a melhora das condições para o sistema hepático(13). Maciel et al.(54), concluíram que a adição de 5 ppm de aflatoxinas e 0,5% de clinoptilolita, na dieta de frangos de corte, diminui os níveis séricos da creatinina e do colesterol e eleva o nível sérico da gama glutamil-transferase, pois a elevação do nível da GGT é indicação da ocorrência de colestase.
FOSFATASE ALCALINA (AP)
As aves apresentam atividade da AP em diversos tecidos, nos pulmões, músculo esquelético, testículos, ossos, rins, músculo cardíaco e no fígado. Perus têm maior atividade nos testículos e os patos apresentam maior atividade no duodeno e rins(55).
A função da AP está relacionada com o aporte de energia para o intercâmbio de íons através das membranas celulares e está associado com o metabolismo do cálcio e fósforo, e acredita-se que funciona como um ponto chave de regulação do crescimento das aves, participando das atividades condrogênicas e osteoblásticas e apresentando altos níveis de atividade nos osteoblastos(56).
No fígado, as quantidades detectadas em algumas espécies de aves foram muito baixas, mas existem autores que citaram como causa da elevação da ALP as doenças hepáticas(57). No entanto, a fosfatase alcalina está localizada na membrana celular que une a borda sinusoidal das células parênquimas aos canalículos biliares. Nos ossos a atividade da fosfatase alcalina está confinada aos osteoblastos onde ocorre a formação óssea(58). Assim, a elevação da sua atividade parece ser específica da ação osteoblástica aumentada e mudanças ósseas relacionadas com os processos de crescimento, trauma, reparação, osteomielite, neoplasia, hiperparatireoidismo nutricional secundário.
AMILASE
Amilases são enzimas que hidrolisam o amido presente nos alimentos, podem ser classificadas em várias formas, dependendo de como atuam sobre as moléculas de amido. Quanto à natureza das ligações hidrolisadas, as amilases podem ser reunidas em cinco classes: α-amilases, β-amilases, isoamilases, glicoamilases, ciclodextrina-glicanotransferase(59).
A α-amilase é uma enzima que quebra as ligações α (1,4) dos polissacarídeos com três ou mais unidades de D-glicose. O ataque ocorre em vários pontos da cadeia e os primeiros produtos de hidrólise são oligossacarídeos de 5 a 7 unidades de glicose(60). As amilases ocorrem amplamente em animais, plantas e microrganismos. Entretanto, pela maior facilidade e menor tempo de produção, as amilases microbianas têm a preferência do mercado de enzimas(61).
As enzimas de β-amilase hidrolisam as ligações glicosídicas α-1,4 de polissacarídeos a partir da extremidade não redutora sobre a penúltima ligação óxido, separando duas unidades de glicose na forma de β-maltose, por uma inversão. As amiloglucosidases são enzimas extracelulares que rompem as ligações α-1,4 e α-1,6 do amido a partir da extremidade não redutora até glicose(62).
A quantificação da amilase no presente no pâncreas é uma forma de acompanhar a produção da enzima e avaliar se não há nenhum distúrbio ocorrido no pâncreas(14). A amilase não é uma enzima específica das aves, podendo ser quantificada em outras espécies animais(48). A amilase sérica é secretada, fundamentalmente, pelas glândulas salivares (forma S) e células acinares do pâncreas (forma P). É secretada no trato intestinal por meio do ducto pancreático. As glândulas salivares secretam a amilase que inicia a hidrólise do amido presente nos alimentos na boca e esôfago. Esta ação é desativada pelo conteúdo ácido do estômago.
No intestino, a ação da amilase pancreática é favorecida pelo meio alcalino presente no duodeno. A atividade amilásica é também encontrada no sêmen, testículos, ovários, tubos de Fallopio, músculo estriado, pulmões e tecido adiposo. A amilase tem massa molecular entre 40.000 e 50.000 daltons sendo, facilmente, filtrada pelo glomérulo renal(63).
Minafra et al.(64), encontrou atividade da α-amilase no soro aos 7 dias de idade (583,41 U/dL) e aos 21 dias (589,11 U/dL), avaliando três diferentes dietas. Concluiu e que a diferentes dietas não interferiu na atividade da amilase, sugerindo que essa atividade não é influenciada pela dieta e sim por distúrbio nesse órgão.
LIPASE
A lipase é uma enzima digestiva produzida pelas células acinares do pâncreas, tem como principal função hidrolisar cadeias longas de triglicerídeos no intestino delgado. A realização de análises bioquímicas para quantificar os níveis de lipase é mais sensível que as de amilase quando se trata da detecção de pancreatite. Altamente específica que catalisa a hidrólise dos ésteres de glicerol de ácidos graxos de cadeia longa (triglicerídeos) em presença de sais biliares e um cofator chamado colipase. Está enzima também poderá ser encontrado na mucosa intestinal, leucócitos, células do tecido adiposo, língua e leite(14).
A atividade desta enzima, como a atividade da amilase não está diretamente ligada à gravidade da lesão em que o pâncreas está sendo submetido, portanto a atividade desta enzima no sangue é utilizada para avaliar o pâncreas em menor tempo possível(65). A atividade de lipase e amilase aumentam rapidamente durante os primeiros 14 dias de idade e parece estabilizar depois dos 21 dias, o que, coincide com a maior taxa de crescimento do pâncreas(35), sendo que a diminuição da atividade das enzimas nestes órgão diminui de acordo com o avançar da idade das aves(66).
A utilização de fontes lipídicas em diferentes níveis de inclusão em dietas para frangos de corte melhora o coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo das rações e atividade de lipase pancreática aos 21 dias de idade, quando se utiliza o nível de 4%. Além disso, observa-se uma correlação positiva entre coeficiente de digestibilidade do extrato etéreo e atividade de lipase na fase inicial(67). Santos et al.(22), verificaram que há diferenças entre as linhagens Isa Label e Cobb quanto a atividade da lipase pancreáticas nas diferentes idades de avaliação.
CONCLUSÕES
A realização da bioquímica clínica do sangue, fígado e pâncreas é um método que pode ser utilizado para quantificar os níveis enzimáticos, destes órgãos, podendo ser uma forma de descobrir possíveis lesões, geradas pelas condições em que estas aves são submetidas. Lesões que podem interferir no desempenho das aves, acarretando prejuízos à saúde do animal e prejuízos ao produtor.
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