ALTURA DE RESÍDUO E INTERVALO ENTRE A DESFOLHA E A ADUBAÇÃO NITROGENADA DO CAPIM MOMBAÇA.
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-23
Este trabalho foi escrito por:
Gustavo Barbosa Alves Silva*; Renata Batista da Silva; Lucas Delguingaro Gomes; Anderson Barros de Lima ; Camila Fernandes Domingues Duarte; Carla Heloisa Avelino Cabral; Carlos Eduardo Avelino Cabral
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
Resumo: Este trabalho teve como objetivo identificar o momento adequado, após desfolha, para realizar a adubação nitrogenada no capim Mombaça e verificar se a altura de resíduo influencia no momento de adubação do capim Mombaça. O experimento foi realizado na casa de vegetação da Universidade Federal de Rondonópolis. Foi utilizado o cultivar Panicum maximum cv. Mombaça. O delineamento experimental utilizado foi inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e dez repetições, disposto em esquema fatorial 2×2. Os tratamentos consistiram em dois intervalos entre a desfolha e a adubação nitrogenada (0 e 7 dias) e duas alturas de resíduo (20 e 40 cm). Foram avaliadas as variáveis: altura, número de folhas, perfilhos e massa seca de forragem. O momento de adubação não alterou o desenvolvimento do capim Mombaça. A altura, número de folhas, massa seca da forragem e número de folhas por perfilhos foram influenciados pelas alturas de resíduo do capim Mombaça. Houve-se interação no momento de adubação com a altura de resíduo para o número de perfilhos. Portanto, a adubação nitrogenada no capim Mombaça pode ser realizada, independente do momento, tanto no dia quanto uma semana após a desfolha.
Palavras–chave: adubação nitrogenada; momento de adubação; Panicum maximum
Abstract: This study aimed to identify the appropriate time, after defoliation, to perform nitrogen fertilization on Mombasa grass and verify if the residue height influences the time of fertilization of Mombasa grass. The experiment was carried out in the greenhouse of the Federal University of Rondonópolis. The cultivar Panicum maximum cv. Mombasa. The experimental design used was completely randomized, with four treatments and ten replications, arranged in a 2×2 factorial scheme. The treatments consisted of two intervals between defoliation and nitrogen fertilization (0 and 7 days) and two residue heights (20 and 40 cm). The variables were evaluated: height, number of leaves and tillers and forage dry mass. Fertilziation timing not changed in the development of Mombasa grass, with the exception of the number of leaves per tiller. The height, number of leaves, dry mass of forage and number of leaves per tiller were influenced by the residue heights of Mombaça grass. There was an interaction at the time of fertilization with the height of residue in the variables in the number of tillers and in the relationship between the number of leaves per tiller. the time of fertilization had no impact on the carrying capacity and degradation of the pasture, as it did not alter the forage mass and tillering. Therefore, nitrogen fertilization in Mombasa grass can be performed, regardless of the moment, both on the day and one week after defoliation.
Key Word: nitrogen fertilization; fertilization time; panicum maximum
INTRODUÇÃO
A bovinocultura de corte no Brasil advém, em sua maior parte, na utilização de pastos como fonte basilar para alimentação dos animais (1). Entretanto, grande parte dessas forrageiras possui algum estágio de degradação, sobretudo pela falta de reposição dos nutrientes do solo (2). Apesar de o processo de degradação seja um processo inerente à planta, algumas causas podem acelerar o processo e estão ligadas à espécie forrageira escolhida, manejo de altura das pastagens, adubação de implantação e de manutenção, que quando errados geram diminuição na produção e ao mesmo tempo, perdas na produção animal.
Um pasto degradado compreende boa parte de um solo descoberto, que subsequente apresenta aparição de plantas daninhas e erosão do solo. Das causas mencionadas, o manejo incorreto e a omissão de adubação de manutenção são erros frequentemente vistos. Para manutenção forrageira, os nutrientes mais demandados são nitrogênio, potássio e fósforo, uma vez que o nitrogênio é o mais limitante, em vistaque o fornecimento proporciona em aumento no perfilhamento e produção de lâminas foliares (3), a qual pode retroceder o quadro de degradação do pasto, se oferecido de forma adequada a planta, o que envolve tanto a dose quanto o momento de realizar a adubação, principalmente em lotação rotativa.
Encontram-se resultados de gramíneas que foram adaptáveis quanto ao momento de realizar a adubação nitrogenada (4; 5; 6), enquanto outras respostas evidenciaram que o momento de adubação influencia a massa de resíduo, teor de clorofila e massa de raízes (7; 8; 6). Dessarte, é possível que após a desfolha, diante da redução de área foliar, exista um intervalo em que a planta seja menos responsiva a adubação, o que vai sujeitar-se também das reservas orgânicas da forrageira (9; 10; 11), que são concentrados na raiz e na base do colmo, cujos teores conseguem variar entre capins.
Outro fator que interfere na massa de raiz é a intensidade de pastejo (12), o que está correlacionado à altura de resíduo. À vista da escassez de resultados, identificar o momento ideal de adubação do capim Mombaça (Panicum maximum cv. Mombaça) associado à altura de resíduo é fundamental, em virtude que é uma forrageira amplamente utilizada em sistemas intensivos de produção a pasto.
Deste modo, o presente estudo tem como objetivo identificar o momento adequado, após desfolha, para realizar a adubação nitrogenada no capim Mombaça e verificar se a altura de resíduo influencia no momento de adubação do capim Mombaça.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado na casa de vegetação da Universidade Federal de Rondonópolis. Foi utilizado o cultivar Panicum maximum cv. Mombaça. O delineamento experimental utilizado foi o delineamento inteiramente casualizado, com quatro tratamentos e dez repetições, disposto em esquema fatorial 2×2. Os tratamentos consistiram em dois intervalos entre a desfolha e a adubação nitrogenada (0 e 7 dias) e duas alturas de resíduo (20 e 40 cm).
Cada unidade experimental foi constituída de um vaso com capacidade de 5,0 dm3 com cinco plantas. O solo foi coletado na camada de 0 a 20 cm de um Latossolo argiloso (Tabela 1), peneirado e colocado nas parcelas experimentais. Com base na análise de solo (13), se necessária, realizou a correção da acidez (14) com calcário. A umidade do solo foi monitorada diariamente para manutenção da máxima capacidade de retenção de água do solo (15).
Implantou-se 20 sementes por vaso e, após a emergência, se realizou o desbaste do excesso de plântulas, mantendo-se cinco plantas por vaso. O critério de seleção se caracterizou pelo vigor e a uniformidade das plântulas. Após o desbaste realizou a adubação de manutenção com nitrogênio e potássio com as doses de 100 e 50 mg dm3, respectivamente. Os fertilizantes utilizados foram ureia e cloreto de potássio. Quando os capins atingiram altura adequada de desfolha (16), realizou o corte de uniformização e os tratamentos foram aplicados.
As avaliações foram realizadas quando as forrageiras atingirem, novamente, a altura de manejo (16). Antes do corte mediu a altura do dossel, com régua graduada, e a contagem do número de perfilhos. Após o corte da forragem, se realizou a separação morfológica (lâminas foliares, colmo+bainha e material morto) e a contagem das lâminas foliares. Após o corte da forragem, as amostras serão submetidas à secagem em estufa de circulação forçada de ar, a 55+5ºC, por 72 horas, e posterior, pesagem. O corte das forrageiras foi realizado respeitando-se os tratamentos (20 e 40 cm). Após o corte das forrageiras, os tratamentos foram reaplicados, de modo que se realizou três avaliações.
Na quinta e última avaliação, além das variáveis mencionadas, avaliou-se a massa seca de resíduo e raízes. O resíduo será obtido por meio do corte da planta rente ao solo e a raízes por lavagem e peneiramento. De modo semelhante às lâminas foliares e colmo+bainha, o resíduo e as raízes foram submetidos a secagem em estufa de circulação forçada de ar, a 55+5ºC, por 72 horas, e posterior, pesagem.
Foram avaliadas as variáveis: número de folhas (NF), perfilhos (NP), massa seca de forragem (MSF). A análise estatística foi realizada a partir da média dos cortes. Os resultados foram submetidos à análise de variância e ao teste Tukey, admitindo-se 5% de probabilidade de erro. O software utilizado foi o SISVAR 5.6
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O momento de adubação não alterou o desenvolvimento do capim Mombaça, pois não houve efeito para nenhuma das variáveis avaliadas (Tabela 2) . A altura, número de folhas, massa seca da forragem e número de folhas por perfilhos foram influenciados pelas alturas de resíduo do capim Mombaça. Houve-se interação no momento de adubação com a altura de resíduo nas variáveis somente para o número de perfilhos.
É provável que o capim mombaça tenha um acúmulo de reservas nitrogenadas, pois um atraso na adubação de sete dias na adubação não influenciou o desenvolvimento deste capim. Assim, a flexibilidade da adubação pode ser resultado do teor suficiente de nitrogênio no resíduo e nas raízes, o que proporciona o uso pela planta enquanto a adubação não é realizada. Características semelhantes também foram identificadas no Cynodon spp. cv Tifton 85 (8), MG-5 Vitória (17) e BRS Quênia (18). Em contrapartida, os cultivares de Panicum maximum, Tamani (18) e Tanzânia (17) reduziram a produção quando a adubação foi realizada tardiamente.
Isso demonstra que as gramíneas forrageiras respondem de modo deiferente ao momento de adubação, possivelmente, pela diferença no acúmulo de reservas orgânicas, que é influenciada teor de carboidratos e nitrogênio, bem como a massa radicular. As reservas orgânicas são compostos constituídos por carbono e nitrogênio e são armazenados e utilizados como como substratos de manutenção durante períodos em que a planta apresenta estresse e formação de tecidos para recuperação após desfolha (19).
Como o momento de adubação não influenciou a altura de plantas (Tabela 3), observa-se que não haveria alteração nos intervalos de descanso em sistemas em lotação adubação rotativa. Em contrapartida, quando adotou-se a altura de resíduo de 40 cm, houve maior altura de plantas. O tratamento que ficou com 40 cm de resíduo proporcinou a gramínea facilidade na rebrota, visto a maior quantidade de folhas nos resíduo. As interações entre as características morfogênicas e estruturais do pasto resultam no índice de área foliar (IAF) e este, é considerado o principal componente estrutural sensível a variação nas condições e intensidades de desfolhação (20). O IAF é essencial para entender o processo de acúmulo de forragem (21), assim como, alterações na estrutura do pasto em períodos subsequentes o que a coloca em posição de destaque no manejo do pasto. Portanto, manejar a altura de resíduo tendo em vista o índice de área foliar residual (IAFr) é uma estratégia capaz de nortear decisões visando desenvolvimento da planta durante a rebrota com menor comprometimento da perenidade do pasto.
Contudo o maior número de folhas a 20 cm está relacionado a maior intensidade de pastejo. Desta forma, manter um resíduo baixo proporcionará, ao longo dos ciclos de pastejo, maior renovação foliar (22), maior ganho animal por área (23); em contrapartida, o intervalo de descanso entre pastejos será maior (24) e a persistência do pasto poderá ser comprometida pela baixa concentração de nutrientes. Resíduos altos podem resultar, ao longo do tempo, em maior ganho individual (23), maior oportunidade dos animais para selecionar partes mais nutritivas, menor intervalo entre pastejos (24); porém o aumento da contribuição de componentes morfológicos de baixa qualidade como colmo e material morto (25) é uma realidade e estes, quando em excesso, tornam-se indesejáveis e podem comprometer a longevidade do pasto e o desempenho animal. Quando o Mombaça foi colhido a 20 cm de resíduo, houve maior perfilhamento quando a adubação foi realizada sete dias após a desfolha, enquanto a colheita do realizada a 40 cm de altura, o maior número de perfilhos foi identificado quando a adubação foi feita no mesmo dia que a desfolha (Tabela 4).
Embora a 20 cm espera-se que uma maior luminosidade atinja as gemas basais após o corte, o que favoreceria o perfilhamento, a menor área foliar pós-desfolha, possivelmente, fez com que a planta redirecionasse os carboidratos de reserva para emissão de novas folhas para aumento da atividade fotossintética, para depois utilizar a síntese de carboidratos para a emissão de novos perfilhos.
O perfilhamento é dependente de condições internas e externas à planta, sendo regulado principalmente pelo genótipo, balanço hormonal, florescimento, luz, temperatura, fotoperíodo, água, nutrição mineral e desfolhação (26). O potencial de perfilhamento de um genótipo é determinado pela sua velocidade de emissão de folhas, pois a cada folha formada corresponde a formação de uma gema axilar com potencial de geração de um perfilho (27).
CONCLUSÕES
A adubação nitrogenada no capim Mombaça pode ser realizada em qualquer momento, tanto no dia 0 ou 7. Entretanto, o produtor deve-se atentar a altura de resíduo sendo esse um fator impactante no desenvolvimento e produção da forrageira.
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