ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA E O IMPACTO NAS DOENÇAS CARDIOVASCULARES
Capítulo de livro publicado no livro do I Congresso Internacional em Ciências da Nutrição. Para acessa-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062015-18
Este trabalho foi escrito por:
Jéssica Lisboa Cardoso* ; Carollina Conceição Ribeiro Coelho ; Ellen Azevedo de Oliveira Almeida ; Kelly Cristina Muniz de |Medeiros
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
Resumo: A comida vegetariana é conhecida nas civilizações antigas e desde então consumida por diversos motivos, principalmente os relacionados a religião, manutenção da saúde e questões éticas, filosóficas e ecológicas. Uma das características do vegetarianismo é estimular a ingestão de alimentos como vegetais, grãos integrais, fibras e oleaginosas, que podem reduzir o risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), doenças cardiovasculares, controle de peso, redução de triglicerídeos e colesterol, além disso, a sensibilidade à insulina tende a aumentar devido ao aumento da disponibilidade de fibras, magnésio, boro, ácido fólico e antioxidantes. O objetivo deste trabalho é fornecer uma discussão sobre os aspectos positivos e negativos de uma dieta vegetariana sobre o risco cardiovascular. Nos contextos a maioria dos estudos aponta que o vegetarianismo está associado a um melhor estado nutricional e benefícios à saúde, incluindo a redução do risco de doenças não transmissíveis, especialmente doenças cardiovasculares. Observou-se que uma dieta vegetariana desequilibrada pode levar a carências nutricionais de macro e micronutrientes essenciais que podem estar menos disponíveis, contudo podem ser superados por meio de uma dieta planejada através de um nutricionista que reconhecendo suas limitações e tomando medidas necessárias para uma dieta vegetariana baseando-se em alimentos naturais e saudáveis, como também, com suplementos, ademais os efeitos benéficos do vegetarianismo está sempre associado a uma alimentação equilibrada, baseada em alimentos saudáveis, com a redução de alimentos processados, açúcar refinado e gordura trans, apresentando diminuição nos níveis de colesterol plasmático total, colesterol (LDL) e triglicerídeos. sendo assim, eficaz contra doenças cardiovasculares.
Palavras–chave: Benefícios do vegetarianismo; Dieta Vegetariana; Doenças Cardiovasculares; Fatores de Risco; Vegetarianismo
Abstract: Vegetarian diets have been known since ancient civilizations and have been consumed since then for various reasons, especially religious, health preservation, ethical, philosophical, and environmental. One of the characteristics of vegetarianism is the promotion of the consumption of foods such as vegetables, whole grains, fiber, and oilseeds, which can reduce the risk of chronic non-communicable diseases (NCDs), cardiovascular disease, weight control, lowering triglycerides and cholesterol. In addition, insulin sensitivity tends to be increased due to the increased availability of dietary fiber, magnesium, boron, folic acid, and antioxidants. The purpose of this paper is to provide a discussion of the positive and negative aspects of a vegetarian diet on cardiovascular risk. In this regard, most studies indicate that vegetarianism is associated with better nutritional status and health benefits, including a reduction in the risk of noncommunicable diseases, particularly cardiovascular disease. It has been noted that an unbalanced vegetarian diet can lead to deficiencies in essential macro- and micronutrients that may be less available. However, these deficiencies can be corrected through a planned diet with the help of a nutritionist who recognizes the limitations of the vegetarian diet and takes the necessary steps to provide a vegetarian diet based on natural and healthy foods, as well as dietary supplements. In addition, the beneficial effect of vegetarianism is always associated with a balanced diet based on healthy foods, with the reduction of processed foods, refined sugars and trans fats, which shows a reduction in plasma total cholesterol, cholesterol (LDL) and triglycerides. effective against cardiovascular disease.
Keywords: Benefits of Vegetarianism; Vegetarian Diet; Cardiovascular Disease; Risk Factors; Vegetarianism.
INTRODUÇÃO
A alimentação vegetariana nas civilizações antigas já era conhecida, e a partir de então vem sendo praticada por diversos motivos, relacionados principalmente a religião, manutenção da saúde e questões éticas, filosóficas e ecológicas⁽¹⁾. Ademais, algumas religiões consideram alguns animais sagrados ou impuros. Com os avanços no século XIX, houve uma considerável produção de textos em defesa do vegetarianismo e da compaixão pelos animais. Durante a Segunda Guerra Mundial, a escassez de alimentos incentivou os britânicos a cultivarem sua própria comida, como vegetais e frutas, mantendo a população e melhorando sua saúde, a partir da dieta vegetariana⁽¹⁾.
Deste modo, uma característica da alimentação vegetariana é o incentivo à ingestão de alimentos como vegetais, grãos integrais, fibras e oleaginosas, e que consequentemente pode vir a diminuir o risco de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), doenças cardiovasculares, controlar o peso corporal, reduzir triglicerídeos e colesterol, além disso tende a aumentar a sensibilidade à insulina devido ao crescimento da oferta de fibras, magnésio, boro, folato e antioxidantes: vitamina C e E, carotenóides, flavonóides e outros fitoquímicos.⁽²⁾
Então pode-se dizer que as dietas vegetarianas são aquelas que não incluem nenhum tipo de carne ou produtos que contenham esse alimento. Contudo alguns alimentos que têm origem animal (ovos, mel, leite e laticínios), podem ser inseridos ou não a estas dietas, e desta maneira, as dietas vegetarianas podem ser classificadas da seguinte forma: ovolactovegetariana, lacto vegetariana, ovo vegetariana e a vegetariana estrita. ⁽³⁾
No Brasil o número de indivíduos que vem adotando a dieta vegetariana só cresce⁽⁴⁾, visto que alguns estudos mais recentes sobre o tema, apresentam diminuições significativas do risco para mortalidade em doenças cardiovasculares, doenças cerebrovasculares, diabetes mellitus e doença renal crônica.⁽⁵⁾ Apesar disso, alguns estudos alertam sobre os riscos decorrente desta dieta quando não há planejamento, podendo acarretar deficiência de alguns nutrientes como: vitamina B12, vitamina D, ácidos graxos ômega 3, cálcio, ferro, zinco e proteína. Sendo assim, é de grande importância que as pessoas que aderem este estilo de dieta procurem acompanhamento nutricional para que tenham um aporte adequado de todos os nutrientes necessários para a saúde. ⁽⁵⁾
A adoção da dieta vegetariana não implica, necessariamente, em mais saúde⁽¹⁾. Estas dietas apenas quando bem planejadas, são saudáveis e podem ser utilizadas em qualquer estágio do ciclo da vida de um indivíduo⁶. O indivíduo que esteja disposto a adotar a dieta vegetariana, deve ter acompanhamento nutricional, com adequação de nutrientes de forma individualizada e de acordo com as suas necessidades, em associação a um estilo de vida saudável⁽¹⁾. Assim, estará em consonância com os benefícios à saúde, referentes tanto à prevenção quanto ao tratamento de doenças. ⁽⁶⁾
As doenças cardiovasculares acometem o coração e os vasos sanguíneos, estão incluídas no grupo das doenças crônicas não transmissíveis – DCNT, e constituem uma das principais causas de mortes no Brasil e no mundo. Por essa razão, são consideradas um grave problema de saúde pública, o qual é evidenciado pelos elevados gastos com o Sistema Único de Saúde – SUS em internações por tais doenças. ⁽⁷⁾
Diante deste contexto, algumas evidências registradas nas últimas décadas sugerem que as dietas vegetarianas são as mais indicadas e benéficas para promoção da saúde, como no caso de doenças cardiovasculares, já que estas dietas se associam aos menores níveis de colesterol total e de colesterol do tipo LDL. ⁽¹⁾
METODOLOGIA
A fim de atender ao objetivo proposto, foi realizada uma revisão bibliográfica descritiva, tendo como base artigos disponíveis nos bancos de dados eletrônicos: Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), Lilacs, Scielo, PubMed, MedLine, e o redirecionador Google Acadêmico, como também, utilizou-se nas pesquisas a Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB), publicados em âmbito nacional e internacional. O período das publicações correspondeu entre os anos de 2017 a 2021, assim, foram restringidas a artigos publicados nos últimos 5 anos. Os descritores utilizados foram: dieta vegetariana, deficiência nutricional, vegetarianismo e risco de doenças cardiovasculares. Foram excluídos artigos que os participantes são gestantes, crianças, adolescentes, idosos e atletas, apresentassem outro tipo de patologia não condizente com o objetivo da revisão bibliográfica, artigos e/ou publicações que não estavam compatíveis com o objetivo da revisão bibliográfica, e artigos que não continham o tempo delimitado no trabalho. A pesquisa ocorreu no ano de 2022.
PADRÃO ALIMENTAR DA DIETA VEGETARIANA
O vegetarianismo tem como base a inclusão de uma dieta composta predominantemente por alimentos de origem vegetal, e exclusão parcial ou total do consumo de alimentos de origem animal. Desta forma, indivíduos que consomem produtos de origem animal, como ovos, leite e seus derivados, mas que não permitem o consumo de produtos cárneos, também são consideradas vegetarianos. ⁽⁸⁾
Ainda segundo Andrade (2018), os vegetarianos podem ser classificados da seguinte forma: Ovolactovegetariano: exclui da dieta carnes, pescados e aves e permite o consumo de derivados animais como ovos e laticínios; Lactovegetariano: exclui da dieta carnes, pescados, aves e ovos e permite o consumo de laticínios; Ovovegetariano: exclui da dieta carnes, pescados, aves e laticínios e permite consumo de ovos; Vegetariano Estrito: exclui todos os alimentos de origem animal (carnes, pescados, aves, ovos e laticínios). Permite apenas alimentos de origem vegetal. ⁽⁸⁾
No Brasil, 14% da população afirma que segue a dieta vegetariana, segundo pesquisa encomendada pela Associação Vegetariana Brasileira e conduzida pelo IBOPE. Isso representa quase 30 milhões de brasileiros que se dizem adeptos ao vegetarianismo. ⁽⁹⁾
DIETAS VEGETARIANAS E OS RISCOS NUTRICIONAIS
Existem indícios de que as dietas vegetarianas apresentam vantagens significativas em comparação com as não vegetarianas, pelo fato de ofertarem grande ingestão de fibras, magnésio, potássio, antioxidantes (vitamina C e E), folato, fitoquímicos e proteínas vegetais, bem como baixos índices de gorduras saturadas e colesterol. Isto resulta em uma redução na prevalência de doenças cardiovasculares, diabetes mellitus, obesidade e outras doenças crônicas. Porém, existem alguns nutrientes que se apresentam em deficiência nas dietas vegetarianas e que podem comprometer a saúde de quem opta por este tipo de alimentação, levando a uma série de problemas metabólicos que afetam as funções corporais⁽¹⁰⁾.
NUTRIENTES QUE SE APRESENTAM EM DEFICIÊNCIA NAS DIETAS VEGETARIANAS
VITAMINA B12
A vitamina B12 é o micronutriente encontrado em menor quantidade nas dietas vegetarianas ⁽¹⁰⁾, pelo fato desta vitamina ser normalmente encontrada em alimentos de origem animal, como carnes, leite, ovos, peixe e mariscos. ⁽¹⁰⁾ Existem alguns vegetais que podem ser considerados fontes de vitamina B12, mas ficam em desvantagem por apresentarem em sua constituição a cobalamina que é um análogo inativo da vitamina B12, tornando essa fonte ineficiente ao humano. ⁽¹⁰⁾
As deficiências da vitamina B12 podem se apresentar tanto através de sintomas leves, como fadiga e fraqueza, como também estar relacionada a doenças graves, como a doença de Alzheimer, esclerose múltipla, mielopatia, atrofia cerebral, doença vascular oclusiva, entre outras ⁽¹⁰⁾ A vitamina B12 pode ser obtida nas dietas ovolactovegetarianos através de alimentos como ovos e laticínios. ⁽¹⁾
VITAMINA D
A vitamina D auxilia na manutenção da saúde óssea, exerce papel de grande importância no sistema imunológico, age na redução da inflamação dos riscos de doenças não transmissíveis. ⁽¹⁾
Este micronutriente se encontra em maior quantidade nos alimentos de origem animal, o que poderia acarretar deficiência em adeptos da dieta vegetariana. Porém, é importante deixar claro, que apenas 10 a 20% da vitamina D é obtida através da alimentação, a sua grande maioria é sintetizada endogenamente nas camadas profundas da epiderme quando há exposição direta a radiação ultravioleta B (UVB). Portanto, não há riscos de deficiência de vitamina D quando relacionada à alimentação vegetariana, pois os seres humanos suprem suas necessidades de vitamina D quando expostos a luz do sol. ⁽¹⁰⁾
PROTEÍNAS
As proteínas se apresentam como macronutrientes responsáveis pela manutenção e crescimento do organismo. ⁽¹⁰⁾ O corpo humano não consegue sintetizar aminoácidos essenciais, portanto, esses aminoácidos são fornecidos pelas proteínas, através da alimentação. Já os aminoácidos não essenciais, conseguem ser sintetizados pelo organismo humano. ⁽¹⁰⁾
Nas dietas vegetarianas ocorre a exclusão de carnes, porém são elas as principais fontes de proteínas, o que acarreta uma maior preocupação por parte dos vegetarianos. O consumo de proteínas na alimentação vegetariana tem tendência a ser menor, porém não necessariamente inadequado. Ovos, leites, cereais, leguminosas e alguns produtos derivados de soja são fontes importantes de proteínas. ⁽¹¹⁾
As proteínas consideradas com maior qualidade são as de alto valor biológico, e para saber se a proteína é completa avalia-se a quantidade de aminoácidos essenciais presentes na mesma. Os alimentos de origem animal possuem proteínas com maior quantidade de aminoácidos essenciais, quando comparados às fontes alimentares de proteína vegetal, que possuem menor quantidade de aminoácidos essenciais. Porém, quando se inclui na refeição alimentos com uma boa combinação de proteínas vegetais, é possível ampliar o valor biológico global. ⁽¹¹⁾ Ou seja, conciliando as proteínas vegetais da refeição para que sejam ingeridas corretamente, acarretará fornecimento de aminoácidos suficientes para suprir as necessidades proteicas fisiológicas, sem precisar incluir outras de fontes complementares de proteínas. ⁽¹⁰⁾
FERRO
Há dois tipos de ferro: heme e não heme. O ferro heme é derivado da hemoglobina e da mioglobina, e pode ser encontrado nos alimentos de origem animal, sendo sua biodisponibilidade de 20% a 30% da quantidade presente no alimento. Já o não heme, apesar de ser a forma mais consumida, sua biodisponibilidade é de aproximadamente 2% a 10% e é encontrado em alimentos de origem vegetal na forma de sais de ferro. ⁽¹⁰⁾
Como o ferro não heme é menos biodisponível do que o ferro heme, no planejamento dietético para vegetarianos é interessante que se inclua promotores da absorção deste tipo de ferro, como: fruto oligossacarídeos, vitamina C e outros ácidos orgânicos, vitamina A e betacaroteno. Importante também, diminuir a presença dos inibidores, como cálcio, suplementos de zinco, proteínas de ovos e laticínios, fitatos, polifenóis (presentes no café, chás e cacau), oxalatos e antiácidos. ⁽¹⁾
É interessante mencionar que apesar de existir diferenças na alimentação de vegetarianos e não vegetarianos, a ingestão de ferro apresentou-se adequada em 86% dos vegetarianos estudados. ⁽¹⁰⁾
ZINCO
O zinco desempenha papel importante em várias funções do organismo, tendo como exemplo: visão, percepção do paladar, cognição, reprodução celular, crescimento e imunidade. Alimentos da dieta vegetariana que apresentam fontes de zincos incluem: espinafre, couve, cereais integrais, sementes, castanhas, produtos à base de soja e leguminosas. ⁽¹⁾
As pessoas com deficiências de zinco podem apresentar como manifestações clínicas: imunodeficiências, retardo no crescimento, além de doenças crônicas, como diabetes mellitus tipo 2 ⁽¹⁰⁾. e doenças cardiovasculares ⁽¹⁰⁾.
O zinco apresenta menor biodisponibilidade em dietas vegetarianas do que em dietas não vegetarianas. Isso ocorre porque os alimentos vegetais com grande quantidade em zinco (leguminosas, cereais integrais, nozes e sementes) também são ricos em ácido fítico, um inibidor da biodisponibilidade do zinco. A adição de proteína na dieta aumenta a biodisponibilidade do zinco, porém as fontes vegetais de proteína também se mostram com altas quantidades de ácido fítico⁽¹¹⁾. Altos níveis de fortificação de cálcio também atuam na redução da biodisponibilidade do zinco⁽¹¹⁾. Mesmo com esta limitação de biodisponibilidade, é interessante pontuar que na dieta vegetariana a ingestão de zinco é alta, e que a deficiência de zinco em vegetarianos não é maior do que em pessoas não vegetarianas. ⁽¹¹⁾
CÁLCIO
O cálcio é um mineral de grande importância para manutenção dos ossos, funções nervosas, musculares e de coagulação sanguínea. O consumo de cálcio em dietas lactovegetarianas é semelhante, podendo até ser até superior ao consumo de cálcio em dietas não vegetarianas. ⁽¹⁾ Os elevados níveis de fitato e oxalato que integram a alimentação vegetariana, podem levar a uma diminuição na absorção de cálcio para o corpo humano ⁽¹⁰⁾.
O consumo de cálcio através do leite, queijo e iogurte, pode ser mais positivo para os vegetarianos do que ingerido na forma de suplementos, visto que em alimentos, o cálcio vem em companhia de outros nutrientes importantes para a proteção e manutenção da massa óssea, como vitamina D, proteínas, potássio e magnésio. ⁽¹⁾
ÁCIDOS GRAXOS ÔMEGA 3
O ácido alfa-linolênico (ALA) é convertido em ácido eicopentaenóico (EPA) e ácido docosahexaenoico (DHA) no corpo humano. No entanto, a bioconversão de ALA para EPA é normalmente inferior a 10% e de ALA para DHA é ainda menor. ⁽⁸⁾ Devido essa conversão ser tão pequena, o consumo desses ácidos graxos deve ser aumentado. ⁽⁸⁾ Possivelmente, os vegetarianos apresentaram níveis sanguíneos de ômega 3 inferiores, como também baixa produção de EPA e DHA. Portanto, há necessidade de elevar o consumo diário de alimentos fontes de ômega 3. ⁽⁸⁾ A recomendação dietética para o ALA é de 1,6 g/dia para homens e 1,1 g/dia para mulheres. ⁽⁸⁾ Os alimentos ricos em ômega 3 de origem vegetal são nozes, açaí, óleo de canola, sementes (chia, linhaça, camelina, canola e cânhamo), soja, algas e microalgas. ⁽⁸⁾
PRINCIPAIS FATORES DE RISCO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES
As doenças cardiovasculares (DCV) são doenças crônico-degenerativas com múltiplas etiologias associadas à incapacidade e ao comprometimento funcional, influenciadas por fatores socioeconômicos, culturais e ambientais que determinam limitações na qualidade de vida, morbidade e mortalidade por essas doenças. ⁽¹²⁾
Essas doenças são consideradas como uma doença crônica não transmissível (DCNT), que podem acometer complicações como: cardiopatia isquêmica, acidentes vasculares cerebrais, insuficiência renal crônica do aparelho circulatório, classificadas como CID-10 conforme a Organização Mundial da Saúde. ⁽¹³⁾ Estão entre as principais causas de morbimortalidade no Brasil, ⁽¹²⁾ por isto, tem se tornando um problema grave e crescente na saúde pública, se mostrando um enorme desafio. ⁽¹⁴⁾
Diante disso, acaba que há um impacto na economia brasileira com altos custos em internações e tecnologias terapêuticas que são utilizadas no tratamento. ⁽¹²⁾ e que para tanto, sua redução da sua incidência é fundamental o conhecimento e monitoramento dos fatores de risco. ⁽¹⁴⁾ com isto, por se tratar de uma doença multifatorial, os estudos são inclinados no controle e prevenção de seus fatores de risco. ⁽¹⁵⁾
Destarte, o número de mortes relacionadas às Doenças Cardiovasculares tem apresentado uma redução, porém, ainda, há uma média de 30% no número de mortos no mundo, neste dado estão incluídos a doença cardíaca coronária, doença cerebrovascular, doença arterial periférica, febre reumática, malformações congênitas, trombose e embolia. ⁽¹⁵⁾
Visto isto, podemos observar que as doenças crônicas, principalmente as doenças cardiovasculares vem crescendo paulatinamente, pois houve um desenvolvimento da indústria o que favoreceu o acesso aos alimentos para a população, apresentando alimentos altamente refinados. ⁽¹⁶⁾
Ademais, tem se observado que os hábitos alimentares e as mudanças que ocorrem no estilo de vida do indivíduo, como sedentarismo com uma alimentação rica em calorias, e uma baixa qualidade nutricional, com uma ingestão maior de alimentos processados e ultraprocessados, estão diretamente ligadas ao desenvolvimento das doenças cardiovasculares, que são representadas pelo infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC), obesidade, diabetes e pressão arterial ⁽¹²⁾⁽¹³⁾, por isso seu tratamento e controle das doenças cardiovasculares são baseadas em vários estudos epidemiológicos que demonstraram uma compreensão aprofundada dos fatores de risco envolvidos na etiologia das doenças cardiovasculares. ⁽¹⁷⁾
Portanto, os fatores de risco se dividem em fatores de risco modificáveis representados pelas dislipidemias, obesidade, hipertensão arterial, diabetes mellitus, tabagismo, sedentarismo, estresse, desequilíbrio alimentar, álcool e não modificáveis são aqueles que têm origem na predisposição genética, sexo e idade. ⁽¹²⁾⁽¹³⁾⁽¹⁷⁾ Outrossim, um estilo de vida sedentário, embora ainda não considerado uma doença, aumenta as chances de desenvolver doenças cardiovasculares em um fator de 1,5, enquanto o tabagismo dobra as chances. ⁽¹⁸⁾
A Organização Mundial da Saúde define sobre reabilitação cardíaca como a soma de todas as atividades necessárias para garantir condições físicas, mentais e sociais ideais para pessoas com doenças cardiovasculares, permitindo-lhes levar uma vida ativa produtiva. ⁽¹⁹⁾
Para a melhora da saúde dos indivíduos que praticam regularmente atividade física tem que haver à exposição repetida do organismo em situações que exigem de uma resposta mais forte do que o seu homólogo orgânico normal, apresentando um efeito contrário ao estilo de vida que levava, ou seja, muitas das vezes um estilo sedentário, com isto, o exercício aeróbico e a resistência contribuem para um aumento no metabolismo basal (metabolismo de repouso), correspondendo 60% a 70% do gasto energético total, e que com isto, contribui para a qualidade de vida do indivíduo, apresentando uma perda de peso, melhora do sistema cardiovascular, melhora o transporte e captação de insulina e mental, como também reduzindo o risco de diabetes, pressão alta, entre outros fatores de risco. ⁽¹⁷⁾
Visto isto, pode-se dizer que a substituição de 5% de monoinsaturados de origem animal por monoinsaturados de origem vegetal pode reduzir o risco de doença cardíaca coronária em 24% e a ingestão adequada de fibras pode ajudar a diminuir o colesterol LDL. ⁽²⁰⁾
A hipertensão arterial sistêmica (HAS), ou como ela é popularmente conhecida pressão alta, é definida como uma síndrome causada por níveis de tensão acima do normal, com valores de pressão arterial sistólica acima de 140 mmHg e valores de pressão arterial diastólica acima de 90 mmHg. É considerada como um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, constitui causa de morte em vários países desenvolvidos e é um importante problema de saúde pública mundial, estima-se que sua prevalência no Brasil varia de 22% a 44% da população adulta. ⁽¹⁷⁾
Alguns estudos apresentaram resultados bastante significativos a respeito das doenças cardiovasculares sobre a população que apresenta uma dieta vegetariana, diminuindo a ingestão de alimentos de origem animal, priorizando alimentos como grãos, leguminosas, frutas, castanhas e vegetais, onde estes indivíduos tendem a ter uma menor prevalência de doenças crônicas. ⁽¹⁶⁾
Os estudos têm mostrado, também, que os vegetarianos tendem a ter uma menor circunferência na cintura, reduzindo, assim, riscos cardiovasculares, além do que, tem demonstrado ainda que um outro efeito positivo é a diminuição dos níveis de colesterol e pressão arterial, que estão relacionados diretamente com riscos cardiovasculares. por isto, pode-se dizer que quanto menos ingestão de alimentos de origem animal e mais ingesta de alimentos ricos em fibras, vitaminas e minerais de origem vegetal há um menor risco de desenvolver doença cardiovascular. ⁽¹⁶⁾
CORRELAÇÃO ENTRE AS DOENÇAS CARDIOVASCULARES E ALIMENTAÇÃO VEGETARIANA
De acordo com um estudo, foi relatado que entre 124.706 participantes, os vegetarianos apresentaram mortalidade por doença cardíaca isquêmica significativamente menor (29%) do que os não vegetarianos. Os vegetarianos possuem em sua alimentação uma maior ingestão de frutas e vegetais, ricos em fibras, ácido fólico, antioxidantes e fitoquímicos, substâncias que estão relacionadas a concentrações menores de colesterol no sangue, bem como, incidência e mortalidade por AVC mais baixas. Junto a isso, se tem um maior consumo de substâncias cardioprotetoras, como: grãos integrais, soja e nozes. Outro ponto importante relacionado à dieta vegetariana, é que a baixa ingestão de alguns nutrientes como vitamina B12, vitamina D, zinco, cálcio, ferro, proteína, pode comprometer o funcionamento do organismo. ⁽¹⁰⁾
O Oxford Vegetarian Study realizado com 3.277 pessoas adultas revelou um índice 10% menor de colesterol, e uma taxa 25% menor de morte por doenças isquêmicas do coração em vegetarianos quando comparados aos não vegetarianos. ⁽¹¹⁾
As evidências mostram que os vegetarianos têm um risco reduzido de doenças cardiovasculares. Esta dieta apresenta benefícios referente a pressão arterial, como também, quanto aos níveis de lipídios e glicose no sangue. Esses indivíduos também demonstram diminuição da proteína C reativa, situação que leva a uma proteção da formação de placas ateroscleróticas. Isso ocorre, devido a alimentação vegetariana ser pobre em gordura saturada e colesterol, somada a uma ingestão variada de vegetais, frutas, grãos integrais e nozes, aumentando assim, o consumo de nutrientes importantes para o sistema cardiovascular, como potássio, cálcio e reduzindo a quantidade de sódio.
Há também pesquisas que mostram que o consumo de flavonóides e fitoquímicos fornece proteção cardiovascular contra a agregação plaquetária e a coagulação do sangue. ⁽⁸⁾
Segundo o estudo publicado no jornal da Academia de Nutrição e Dietética americana em 2016, feito com adventistas do sétimo dia, os vegetarianos demonstraram diminuição no risco para desenvolver doenças cardiovasculares de 13% e de desenvolver doença cardíaca isquêmica 19% em comparação com não vegetarianos. De acordo com a literatura, ocorre relação entre a diminuição ou melhora das doenças crônicas pelas propriedades das fibras alimentares que se apresentam em boa quantidade nas dietas vegetarianas. Através da realização de um estudo com 11 ensaios clínicos, descobriu-se que a ingestão de legumes reduziu o colesterol total em 7%, o colesterol LDL em 6% e os triglicerídeos em 17%, sem mudar o peso corporal. ⁽⁸⁾
Pode-se citar como um dos principais benefícios relacionado à alimentação vegetariana a redução do risco das doenças cardiovasculares e a mortalidade por doença coronariana. Vários estudos mostram diminuição na ocorrência de doenças cardiovasculares e a análise comparada de cinco grandes estudos longitudinais descobriu redução de 24% da mortalidade por doença isquêmica do coração em vegetarianos quando comparados a pessoas que não seguem a dieta vegetariana. Os resultados desses estudos não apresentam tanto espanto, uma vez que vegetarianos, geralmente, mostram perfil de risco cardiovascular mais favorável do que não vegetarianos: diminuição nos níveis de colesterol total e de colesterol do tipo LDL (lipoproteína de baixa densidade), menor peso corporal e baixa incidência de hipertensão e diabetes. Como pontos positivos para alcance de tais vantagens estão a diminuição do consumo de gorduras saturadas e aumento de fibras solúveis, grãos integrais, legumes, nozes e proteína de soja pelos vegetarianos. Ainda que, nutrientes isolados consigam promover benefícios para o risco cardiovascular, a sinergia dos alimentos que compõem a dieta vegetariana deve conferir maior vantagem. ⁽²¹⁾
Segundo estudo feito em Taiwan, por meio de aplicação de questionário estruturado e aferição de pressão arterial, com 269 mulheres de 40 anos ou mais, que não apresentavam hipertensão, mostrou uma diminuição do risco cardiovascular em pessoas ovo-vegetarianas controle a longo prazo dos níveis pressóricos. Portanto, entende-se que a alimentação vegetariana representa fator de risco modificável importante considerando que a dieta ovovegetariana agiu na prevenção da descompensação pressórica, como também, poderia influenciar na progressão e controle da doença já instalada. ⁽²²⁾
Conforme afirma o estudo, a carência de alguns micronutrientes como: zinco, cálcio e vitamina B12, comum na dieta vegetariana, pode acarretar prejuízos na função endotelial vascular que ajuda na prevenção de doenças cardiovasculares. Assim sendo, verificou-se que a dieta vegetariana apresenta carência nutricional. Isso acontece, devido ao aumento na ingestão de alimentos que contêm fibras e que são compostos por fatores antinutricionais, como também, ocorre devido a uma combinação inadequada da dieta. ⁽²³⁾
CONCLUSÃO
Perante o exposto, a quantidade de indivíduos que vem adotando a dieta vegetariana no Brasil está aumentando cada vez mais, diante disto o estudo sobre o vegetarianismo tem se elevado cada vez mais, e a partir disto, demonstra-se que a que a dieta vegetariana quando adotada de modo individualizado, e feita de forma planejada, apresenta benefícios para o indivíduo, como à prevenção e controle dos fatores de risco cardiovascular.
Ademais, a alimentação vegetariana ainda é um campo desconhecido e pouco estudado pelos profissionais de saúde, o que interfere diretamente na desinformação, já que não há interesse no estudo, ou até mesmo, por existirem alguns mitos pertinentes ao assunto, ou até mesmo por preconceito sobre este tipo de dieta. Entretanto deve-se levar em consideração a dificuldade em praticar grandes modificações de hábitos alimentares. e adicionar dificuldade de não ofertar uma dieta voltada para dietas especiais relacionadas a este público
Desta forma, o nutricionista, desempenha um papel de suma importância no acompanhamento nutricional deste público. Ademais, é essencial ressaltar que a alimentação vegetariana é saudável em todos os ciclos da vida.
Sugere-se então para quem quer ser adepto desta dieta, procurar um nutricionista capacitado e especializado na área, que disponibilize um planejamento individualizado e adaptado, visto que podem apresentar algumas carências nutricionais.
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