ALEITAMENTO MATERNO SOB A PERSPECTIVA DE NUTRIZES ATENDIDAS EM UNIDADES BÁSICAS DE SAÚDE DA CIDADE DE BELÉM- PB
Paula Daniela Silva Alves1; Raíza Helouiza da Silva Genuino Ferreira2; Amanda Marília da Silva Sant’Ana3
1Estudante do Curso Técnico em Nutrição e Dietética – CAVN – UFPB; E-mail: [email protected], 2Nutricionista do município de Belém-PB. E-mail: [email protected], 3Docente do Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial – DGTA – UFPB. E-mail: [email protected].
Resumo: A amamentação é uma prática essencial que traz benefícios para o filho e para a mãe. O conhecimento da nutriz pode favorecer o direcionamento das estratégias de apoio bem como interfere no sucesso do aleitamento. Nesse contexto, objetivou-se avaliar o conhecimento sobre aleitamento materno na perspectiva de nutrizes atendidas em Unidades Básicas de Saúde do município de Belém – PB, para identificar fatores que possam interferir na realização da prática de amamentação. Foi aplicado um questionário contendo 7 perguntas relacionadas a dúvidas frequentes sobre amamentação. Observou-se que a maioria das nutrizes concordaram que o bebê deve ser amamentado exclusivamente até o sexto mês, que possível extrair leite e oferecê-lo na mamadeira para o bebê, que a amamentação deve ser livre demanda, que não se deve oferecer água para o bebê durante amamentação exclusiva. No entanto, 53,3% das 53,3% das participantes da pesquisa responderam que pode ser oferecido outro tipo de alimento além do leite materno durante a amamentação exclusiva. A prática do aleitamento materno continua sendo um grande desafio para as nutrizes, e para melhorar o conhecimento do tema, as mães necessitam de uma rede de apoio, que inclui a família, os profissionais de saúde e as políticas públicas voltadas para o incentivo à amamentação.
Palavras–chave: aleitamento materno; conhecimento; educação em saúde; nutrição
INTRODUÇÃO
O aleitamento materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida é uma recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que indica também a introdução de alimentação complementar, junto com a amamentação, até os dois anos de idade da criança (WHO, 2008).
São diversos os benefícios do aleitamento materno exclusivo para a nutrição do recém-nascido, como por exemplo, melhora na imunidade, protegendo contra doenças respiratórias, gastrointestinais, doenças crônicas, além de auxiliar o desenvolvimento cognitivo e aumentar o vínculo afetivo entre mãe e filho, tendo impacto na redução da mortalidade infantil (SANKAR et al., 2015; HORTA et al. 2015a; HORTA et al. 2015b; VICTORIA et al., 2016).
Contudo, apesar das recomendações e benefícios, os índices relacionados à prevalência do aleitamento materno no Brasil, em especial amamentação exclusiva, ainda está bastante abaixo da recomendada (BRASIL, 2015), e diversas são as razões que interferem nessa prática (BROWN, 2017).
O conhecimento sobre a percepção da nutriz em relação ao que considera mais importante dentre os aspectos positivos e negativos da amamentação exclusiva pode favorecer o direcionamento das estratégias de apoio à lactante (ROCHA et al., 2018). Os profissionais de saúde da atenção básica podem prestar informações às gestantes e nutrizes, para influenciar com intervenções de orientação e apoio ao aleitamento materno (RENFREW et al., 2012).
Nesse contexto, objetivou-se avaliar o conhecimento sobre aleitamento materno na perspectiva de nutrizes atendidas em Unidades Básicas de Saúde do município de Belém – PB, para identificar fatores que possam interferir na realização da prática de amamentação, especialmente a exclusiva até os seis primeiros meses.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi conduzido em duas Unidades Básicas de Saúde (UBS) da cidade de Belém-PB, e teve a participação de 30 nutrizes. Inicialmente, foi realizada uma roda de conversa com o intuito de explicar às mães o objetivo do estudo. Em seguida, após assinatura do Termo de Consentimento de Livre e Esclarecido (TCLE), de acordo com a Resolução 466/12, as participantes responderam um questionário padronizado, composto por sete perguntas relacionadas à amamentação, incluindo dúvidas frequentes que podem interferir no aleitamento materno. As questões eram seguidas de alternativas de respostas do tipo múltipla escolha em linguagem compreensível. Os dados obtidos foram tabulados em Microsoft Office Excel 2016, sendo apresentados em forma de frequência absoluta e relativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos após resposta das nutrizes em relação ao conhecimento sobre amamentação, podem ser observados na Tabela 1. Percebeu-se que 66,7% das mães concordaram que “o momento indicado para amamentar o bebê” seria “até o sexto mês com a amamentação exclusiva, podendo continuar a amamentação até os dois anos”, e 33,3% disseram ser “apenas até os 6 meses”. A motivação das mães, o conhecimento sobre os benefícios do aleitamento e o apoio da família favorece a ocorrência e o prolongamento da amamentação exclusiva (POLIDO et al., 2011).
Em relação a quantidade de leite o lactente deve tomar diariamente, a maioria das participantes (86,7%) responderam que era “sob demanda livre, sempre que o bebê sentir fome até se sentir saciado”, indicando que a maior parte das nutrizes compreendem que o limite de mamadas depende da demanda da criança. Ao serem questionadas sobre “que tipo de dieta deve seguir uma mãe lactante” 96,7% das participantes responderam “folhas verdes, carne magra, iogurte natural, ovos, frutas, legumes, água”, mostrando conhecimento sobre a importância da alimentação saudável nesse período de lactação.
Ao se referir a continuidade da amamentação quando a mãe sente dores nos seios, a maior parte delas, 76,7%, confirmaram que “não” devia parar amamentação, e 23,3% disseram que “sim”. A dor ao amamentar foi relatada por nutrizes como uma vivência negativa durante o aleitamento, em relação a dor ao amamentar, sendo como uma vivência negativa (ROCHA et al., 2018), e os transtornos nas mamas, como rachaduras e trauma mamilar, com consequente dores nos seios, podem prejudicar o aleitamento materno (CASTELLI et al., 2014), e a nutriz precisa resignar-se com a dor para garantir a nutrição do filho (ROCHA et al., 2018).
Quando perguntadas se era “possível extrair leite e oferecê-lo na mamadeira para o bebê”, 90% delas disseram que “sim” em contrapartida 10% concordaram que “não”. O leite pode ser retirado e oferecido ao bebê, para contornar a impossibilidade de conciliar a amamentação exclusiva em períodos em que a mãe necessita estar longe do filho, como em casos de retorno ao trabalho (ROCHA et al., 2018).
Tabela 1 – Frequência absoluta (nº) e relativa (%) das respostas das nutrizes aos questionamentos sobre aleitamento materno
Fonte: Elaborado pela autora, 2020.
Quanto ao fato do “bebê deve tomar água durante o período de amamentação exclusiva?” 73,3% responderam “não” e 26,7% responderam que “sim”. Na pergunta seguinte, 53,3% das participantes da pesquisa responderam que “Durante a amamentação exclusiva, pode ser oferecido outro tipo de alimento além do leite materno sim”, indicando uma incoerência quanto a resposta ao questionamento número um, onde 66,7% das mães concordaram que “o momento indicado para amamentar o bebê” seria “até o sexto mês com a amamentação exclusiva, podendo continuar a amamentação até os dois anos”, e 33,3% disseram ser “apenas até os 6 meses”. Esses resultados demonstram que as nutrizes precisam ampliar os conhecimentos sobre aleitamento materno, e para isso, precisam ser bem assistidas e apoiadas pela família e pela equipe de saúde, objetivando minimizar os diversos fatores envolvidos na dificuldade de amamentar (ALENCAR et al., 2017).
CONCLUSÕES
A prática do aleitamento materno continua sendo um grande desafio para as nutrizes, e o desconhecimento das mães sobre a amamentação é um dos fatores que contribuem para esta realidade. Para melhorar o conhecimento do tema, a redução das dificuldades e a priorização do aleitamento materno, especialmente o exclusivo nos seis primeiros meses de vida da criança, as mães necessitam de uma rede de apoio, que inclui a família, os profissionais de saúde e as políticas públicas voltadas para o incentivo à amamentação.
REFERÊNCIAS
ALENCAR, A. P. et al. Principais causas do desmame precoce em uma estratégia de saúde da família. Saúde Meio Ambient., v. 6, n. 2, p. 65-76, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Criança: Aleitamento Materno e Alimentação Complementar. Série A. Normas e Manuais Técnicos Cadernos de Atenção Básica – n.23. Brasilia – DF. 2015.
BROWN, A. Breastfeeding as a public health responsibility: a review of the evidence. J. Hum. Nutr. Diet., v. 30, n. 6, p. 759-70, 2017.
CASTELLI, C. T. R. et al. Identificação das dúvidas e dificuldades de gestantes e puérperas em relação ao aleitamento materno. Rev CEFAC, v. 16, p. 1178-96, 2014.
HORTA, B. L. et al. Long-term consequences of breastfeeding on cholesterol, obesity, systolic blood pressure and type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. Acta Pediatr., v. 104 (Supl. 467), p. 30-7. 2015a.
HORTA, B. L. et al. Breastfeeding and intelligence: a systematic review and meta-analysis. Acta Pediatr., v. 104 (Supl. 467), p. 14-19, 2015b.
POLIDO, C. G. et al. Vivências maternas associadas ao aleitamento materno exclusivo mais duradouro: um estudo etnográfico. Acta Paul Enferm., v. 24, p. 624-30, 2011.
RENFREW, M. J. et al. Support for healthy breastfeeding mothers with healthy term babies. Cochrane Database Syst Rev., v. 5:CD001141, 2012.
ROCHA, G. P. et al. Condicionantes da amamentação exclusiva na perspectiva materna. Cad. Saúde Pública, v. 34, n. 6, p;1-13, 2018.
SANKAR, M. J.; et al. Optimal breastfeeding practices and infant child mortality: a systematic review and meta-analysis. Acta Paediatrica, v. 104 (Supl. 467), p. 3-13. 2015.
VICTORA, C. G. et al. Breastfeeding in the 21st century: epidemiology, mechanisms, and lifelong effect. Lancet, v. 387, p.475-90, 2016.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Ten steps to successful breastfeeding (revised 2018) Disponível em: http://www.who.int/nutrition/bfhi/ten-steps/en/ » http://www.who.int/nutrition/bfhi/ten-steps/en/. Acesso 01 jun 2021.