AÇÃO DE CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE O APROVEITAMENTO INTEGRAL DOS ALIMENTOS ENTRE OS USUÁRIOS DO CENTRO DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Mayany Carolyny Germano de Araújo¹; Lauany Maria dos Santos Barreto²; Fernanda Fatima Costa Maciel²; Nágila Cintia de Medeiros Silva², Raphaela
Veloso Rodrigues Dantas³
1Estudante do Curso de Nutrição – CES – UFCG; E-mail: [email protected], 2Docente/pesquisador do Depto de Nutrição – CES – UFCG. E-mail: [email protected].
Resumo: O desperdício alimentar é evidenciado, no Brasil, pela falta de informações sobre o aproveitamento das frações não convencionais dos alimentos nas refeições. Uma importante estratégia para a depleção desta problemática é o incentivo do uso do alimento em sua totalidade, visto que contém uma alta concentração de nutrientes, sendo capaz de suprir as necessidades nutricionais, diárias, de um indivíduo. Com isso, objetivou-se avaliar o conhecimento e qualificar um grupo de mulheres de um município do interior da Paraíba sobre o aproveitamento integral dos alimentos, visando a propiciar uma alimentação sustentável e renda extra. Trata-se de um relato de experiência, sobre a ação de educação alimentar e nutricional, desenvolvida pelas extensionistas do curso de nutrição da Universidade Federal de Campina Grande, durante o ano de 2019. Assim, realizou-se as atividades a partir de uma roda de conversa, apresentação e degustação das preparações, utilizando o alimento na sua forma íntegra. A ação teve resultados positivos, dado que as participantes demonstraram interesse pelo assunto através da aceitação dos produtos e da compreensão sobre a importância da temática. Portanto, a prática desse método é designada como uma alternativa sustentável e ecológica, devido à redução do lixo, custos e promoção da saúde.
Palavras–chave: alimentação sustentável; conscientização; mercado de trabalho; segurança alimentar e nutricional; serviço social
INTRODUÇÃO
A fome e o desperdício alimentar estão designados como um dos maiores transtornos do território brasileiro, em que a perda dos alimentos pode ser oriunda da produção excessiva ou manuseio inadequado (ALBUQUERQUE; COSTA, 2015; EMBRAPA, 2019). Todavia, grande parte do desperdício é advinda do ambiente doméstico, em razão da escassez de conhecimentos sobre a utilização e recursos nutricionais do alimento, na sua forma íntegra, durante o preparo das refeições, bem como a carência da prática e o repúdio do emprego destes (MEDEIROS, 2016).
Conforme os dados da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), aproximadamente, 28% dos alimentos que chegam ao fim da cadeia são desperdiçados, nos países da América Latina, e no Brasil, estima-se que cerca de 26 milhões de toneladas de resíduos sólidos são desperdiçados, anualmente (FAO, 2014; GIANNONI et al., 2017; BENÍTEZ, 2019).
Sendo assim, o aproveitamento integral dos alimentos torna-se de extrema importância para incrementar o valor nutricional e sabor à receita, além de diminuir a produção de lixo orgânico, sendo considerado uma estratégia para o fortalecimento da segurança alimentar e sustentabilidade (CARDOSO et al., 2015). À vista disso, as cascas dos alimentos, bem como as entrecascas, talos, folhas e sementes, os quais, geralmente, são descartados, apresentam um teor de vitaminas e sais minerais, frequentemente, maiores que as polpas (PINHEIRO; SZCZEREPA, 2018).
Neste sentido, a educação alimentar e nutricional é usada como uma meio de garantir o acesso às informações e sensibilizar à população sobre o desperdício dos alimentos, com o intuito de propiciar uma alimentação sustentável e saudável, resultando na redução do lixo e das despesas diárias (BANCO DE ALIMENTOS, 2017).
Diante do exposto, objetivou-se avaliar os conhecimentos e capacitar um grupo de mulheres, usuárias do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS), sobre o aproveitamento integral dos alimentos, visando propiciar um incremento da renda familiar, assim como orientar as mesmas quanto a importância dessa técnica para a garantia da promoção da saúde, qualidade de vida e a depleção do desperdício.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo descritivo, do tipo relato de experiência que irá descrever as atividades desenvolvidas por meio de uma ação de conscientização, realizada no mês de novembro de 2019, por discentes do curso de bacharelado em nutrição da Universidade Federal de Campina Grande, campus Cuité/PB, no decorrer de uma extensão universitária do PROPEX (Pró-Reitoria de Pesquisa e Extensão), intitulada: Nutrição na luta pelo consumo sustentável, a prática dos 3 Rs na produção de refeições.
O público alvo foi composto por um grupo de mulheres, usuários do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS Joana Darc), localizado no município de Cuité-PB. Inicialmente, elaborou-se o doce da entrecasca da melancia, a torta salgada com talos de vegetais e o suco da casca do abacaxi no Laboratório de Técnica e Dietética, no campus supracitado, para serem apresentadas como alternativas de receitas palatáveis e fáceis, com o uso do alimento em sua totalidade.
Posto isto, as atividades consistiam na exposição teórica, as quais foram apresentadas por meio de recursos audiovisuais (slides em Datashow) e ciclos de debates. Outrossim, as receitas produzidas foram expostas para a degustação do grupo e a prática da comensalidade. Por fim, elas receberam as receitas, impressas, das comidas apresentadas, as quais foram elaboradas pelas graduandas.
RELATO DE EXPERIÊNCIA
O trabalho contou com a participação de 15 pessoas, na faixa etária de 25 a 50 anos, as quais integram o grupo das mulheres do CRAS. No encontro, ocorreu, inicialmente, a apresentação das extensionistas e docentes pela nutricionista do local. Após, realizou-se uma palestra, com o auxílio dos slides, abordando os seguintes tópicos: “Desperdício alimentar” com a explanação dos dados referentes ao índice de desperdício de alimentos no Brasil e no mundo; “O aproveitamento integral dos alimentos e a redução do lixo” a qual mostrou os benefícios do consumo do alimento em sua totalidade, enfatizando a existência de um maior aporte de nutrientes, incluindo, vitaminas, fibras e minerais quando comparado as polpas.
Ainda, mencionou a técnica como uma forma de auxiliar na redução de custos e do lixo orgânico, bem como na geração de uma renda extra. Contribuindo, assim, para o fornecimento de uma alimentação sustentável, saborosa e saudável. “Quais alimentos podem ser utilizados?” Discutiu-se sobre o uso de folhas, talos, cascas, entrecascas e sementes. Ademais, relatou-se sobre as experiências obtidas durante as atividades realizadas no Restaurante Universitário, da instituição referenciada, quanto a elaboração de preparações utilizando as partes não convencionais dos alimentos.
Torna-se relevante discutir sobre a temática supramencionada para conscientizar as pessoas sobre o elevado índice de desperdício alimentar no Brasil. Segundo Goulart (2008), o Brasil está entre os dez países que mais desperdiçam alimentos no mundo, cujo seriam capazes de extinguir a fome de milhares de brasileiros. Tais circunstâncias são consideradas inaceitáveis devido a quantidade de pessoas que vivem na extrema pobreza no país, sendo que este se destaca por ser um dos maiores produtores agrícolas do mundo (GONDIM, 2005).
Outrossim, após a argumentação, apresentou-se as receitas produzidas pelas extensionistas, com a supervisão das docentes, para estrear a degustação. Em seguida, ocorreu uma roda de conversa, com a intenção de debater e obter uma melhor compreensão sobre o tema, a qual notou ter sido bastante proveitoso, já que foi possível observar que alguns integrantes continham o conhecimento nulo ou parcial sobre o assunto e depois do momento, ficaram dispostas para colocar as informações adquiridas em prática. Também, houve a entrega das receitas, como alternativas para o uso do aproveitamento integral dos alimentos, as quais destacaram-se pelas apresentações agradáveis e boa aceitação.
CONCLUSÕES
O uso do alimento, em sua totalidade, é qualificado como um parâmetro capaz de propiciar um aumento do consumo de nutrientes e a ampliação da qualidade de vida das pessoas que vivem em condições de vulnerabilidade social. Ademais, pode possibilitar um progresso da economia financeira destes, a partir da redução dos gastos e incremento da renda familiar, além de causar um impacto positivo no meio ambiente, com a depleção da produção dos resíduos orgânicos. Desse modo, a educação nutricional torna-se uma estratégia oportuna para promover uma reflexão do indivíduo quanto ao desperdício alimentar e transformar os hábitos alimentares em sustentáveis, acessíveis, saudáveis e adequados, nutricionalmente.
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, A. C. C; COSTA, R. S. Estudo do aproveitamento integral de alimentos em restaurantes comerciais do estado do Rio de Janeiro e elaboração da apostila de receitas saudáveis. Monografia (Graduação em Nutrição). Universidade Federal Fluminense. Faculdade de Nutrição Emília de Jesus Ferreiro. Niterói, 2015.
BANCO DE ALIMENTOS. Alimentação Sustentável. 2017. Disponível em http:// http://www.bancodealimentos.org.br/ alimentacao-sustentavel/desperdiciode-alimentos/ Acesso em: 20 abr. 2021.
BENÍTEZ, R. O. Perdas e desperdícios de alimentos na América Latina e no Caribe. FAO – Escritório Regional da FAO para a América Latina e o Caribe; 2019. Disponível em: http://www.fao.org/americas/noticias/ver/pt/c/239394/. Acesso em: 20 abr. 2021.
CARDOSO, F. T. et al. Aproveitamento integral de Alimentos e o seu impacto na Saúde. Sustainability in Debate/Sustentabilidade em Debate, v. 6, n. 3, 2015.
EMBRAPA. Perdas e Desperdício de Alimentos. 2019. Disponível em: https://www.embrapa.br/tema-perdas-e-desperdicio-de-alimentos/sobre-o-tema. Acesso em: 20 abr. 2021.
FAO. Food losses and waste in the Latin America and the Caribbean. Food and Agriculture Organization for the United Nations, Rome; 2014. Disponível em: http://www.fao.org/3/a-i3942e.pdf/.
GIANNONI, J. A. et al. Aproveitamento de resíduos orgânicos para o desenvolvimento de” beijinho” a base de mandioca amarela e rosada. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, v. 8, n. 2, p. 50-57, 2017.
GONDIM, J., A., MOURA, M. D. F. V., DANTAS, A. S., MEDEIROS, R. L. S., e SANTOS, K. M. Centesimal composition and minerals in peels of fruits. Food Science and Technology, v. 25, n. 4, p. 825-827, 2005.
GOULART, R. M. M. Desperdício de alimentos: um problema de saúde pública. Revista Integração, São Paulo, v. 54, p. 285- 288, 2008.
MEDEIROS, G. C. Aproveitamento de partes não convencionais de alimentos em uma instituição social da cidade de João Pessoa. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em nutrição). Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2016.
PINHEIRO, A. P. C.; SZCZEREPA, S. B. Aproveitamento integral dos alimentos entre usuários dos Centros de Referência da Assistência Social de Ponta Grossa-PR. Revista Nutrir, v. 1, n. 10, 2018.