HÁBITO DO CONSUMO DE FRUTAS PELOS DOCENTES DO CCHSA/UFPB
Capítulo de livro publicado no livro do VIII ENAG E CITAG. Para acessa-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062046-82
Este trabalho foi escrito por:
1Izabela Souza Lopes R*; 2Higor José da Silva; 2João Pedro da Silva Gonçalves ; 2Lino Garcia da Silva Neto; 2Lucas Bezerra Batista
1Docente do Departamento de Agricultura pertencente ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III.
2Discente do curso em Licenciatura em Ciências Agrárias pertencente ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III.
*Autor correspondente – Email: [email protected]
Resumo: A alimentação saudável vem se evidenciando em diferentes espaços sociais. Para os consumidores, que buscam esse tipo de alimento, os orgânicos são os mais divulgados, porém nem sempre acessíveis. Para tal, os sistemas agroflorestais têm sido indicados como modelos de produção de qualidade e sustentável. Diante do exposto, o objetivo dessa pesquisa foi identificar o perfil consumidor de frutas, em destaque do morango, pelos docentes do CCHSA/UFPB. Os dados, de caráter transversal descritivo foram obtidos por meio de um questionário aplicado com uso do Google Forms. 42% dos docentes alvos responderam o questionário. Neste foi possível diagnosticar que 63% dos participantes afirmaram que consomem frutas todos os dias. A banana 29,6% e a manga 22,2% se destacaram como as frutas mais consumidas. Quanto à oferta de frutas foi possível identificar que a pinha e o morango são as mais desejadas e 96,3% dos docentes se preocupam com a procedência dessas. Apesar de um elevado percentual (96%) já terem consumido morangos, 70,4% dos docentes afirmam que quase nunca consomem essa fruta, dentre os que consomem 59,3% na forma in natura. Dos docentes,74,1% estão dispostos a pagar mais caro por morango produzido em um sistema agroflorestal. É nítido que esses, principalmente os que ministram aulas para os cursos da área de Ciências Agrárias possuem o perfil de consumidor que busca frutas saudáveis e isentas de agrotóxico. E para o consumo de morango, estão dispostos a pagar mais caro em produto de qualidade superior oriundo de Sistema Agroflorestal.
Palavras-chave: alimentação; morangos; professores
Abstract: Healthy eating has been evident in different social spaces. For consumers, who seek this type of food, organic son are the most publicized, but not always accessible. To this end, agroforestry systems have been indicated as quality and sustainable production models. In view of the above, the objective of this research was to identify the consumer profile of fruits, especially strawberry, by the professors of the CCHSA/UFPB. The data, of descriptive cross-sectional character were obtained through a questionnaire applied using Google Forms. 42% of the target teachers answered the questionnaire. In this, it was possible to diagnose that 63% of the participants stated that they consume fruits every day. Banana sc. 29.6% and mango 22.2% stood out as the most consumed fruits. Regarding the fruit supply, it was possible to identify that pine cone and strawberry are the most desired and 96.3% of teachers are concerned about their origin. Although a high percentage (96%) have already consumed strawberries, 70.4% of teachers say that they almost never consume this fruit, among those who consume 59.3% in the fresh form. Of the teachers, 74.1% are willing to pay, more expensive, for strawberry produced in an agroforestry system. It is clear that these, especially those who teach classes for courses in the area of Agrarian Sciences have the profile of consumer who seeks healthy fruits and free of pesticides. And for strawberry consumption, they are willing to pay more in higher quality products from agroforestry system.
Keywords: feeding; strawberries; teachers
INTRODUÇÃO
O consumo de alimentos saudáveis vem sendo evidenciado em diferentes espaços sociais, como o educativo, o das administrações públicas, bem como os espaços midiáticos. Enquanto os alimentos saudáveis, incluindo aqueles oriundos da agrobiodiversidade brasileira, vêm recebendo destaque na mídia, a realidade produtiva no campo é dominada por sistemas produtivos simplificados, do tipo monocultivo de grãos voltados à exportação e não a alimentação da população brasileira (1).
Para os consumidores, que buscam uma alimentação mais saudável, a intenção de aumentar o consumo de orgânicos é de 84%, porém o grande entrave é o preço e a disponibilidade desses alimentos. O que demostra uma viável e real possibilidade de mercado com grandes expectativas de expansão no país.
Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), relatam que o Brasil é líder do mercado de alimentos orgânicos na América Latina, havendo um aumento de 20% das vendas no setor, do ano de 2017 para 2018 (2). Entretanto ainda se tem observado um elevado uso de agrotóxicos em frutíferas, e o morango cada vez mais se destaca no uso dos agroquímicos. Por conseguinte, os consumidores estão cada vez mais conscientes e preocupados com o que essas substâncias podem causar á saúde (3).
Para solucionar essa demanda por alimentos saudáveis e aliados à sustentabilidade ambiental, os sistemas agroflorestais têm sido indicados como modelos adequados, para superação das dificuldades de transição da agricultura convencional para a agricultura orgânica, além de fortalecer a agricultura familiar (4).
Diante do exposto, o objetivo dessa pesquisa foi de identificar o perfil consumidor de frutas, em destaque do morango, pelos docentes do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras, PB.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa foi realizada por meio de estudo de caráter transversal descritivo, na qual aplicou um questionário, por meio do Google Forms, semiestruturado com questões objetivas para obtenção quantitativa de dados como: Com qual frequência você consome frutas no seu dia a dia?; Qual é a sua fruta preferida?; Qual a fruta que desejaria que estivesse em oferta em sua região?; Você como consumidor se preocupa com a procedência das frutas que consome?;Você já consumiu morangos?: Com qual frequência você consome morangos?; Como você costuma consumir o morango?; Você pagaria mais caro em um morango produzido em um sistema agroflorestal?.
O público alvo foram os docentes que ministram aulas nos cursos de graduação Licenciatura em Ciências Agrárias e o Bacharelado em Agroecologia, ambos pertencentes ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras, PB.
De posse dos resultados obtidos foram identificados os perfis, aspectos da produção e comercialização que são importantes para o consumo desses produtos pelo público alvo. Dados que possibilitarão melhor planejamento dos comerciantes e administradores locais de hortifrútis. Todos os dados obtidos pelo questionário foram avaliados por análise de frequência, utilizando programa da Microsoft® Excel 2010.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos 130 docentes, efetivos e substitutos ativos, do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras, PB, cerca de 50% desses ministram rotineiramente disciplinas nos cursos de graduação Licenciatura em Ciências Agrárias e o Bacharelado em Agroecologia. Considerando que 27 questionários foram respondidos, ponderamos que obtivemos 42% de participação dos docentes alvos.
Tais docentes, supracitados, estão de uma forma direta ou indireta envolvidos com a área produtiva de alimentos de origem hortifrútis. Dado esse que eleva o nível de conhecimento e consequentemente exigência da qualidade na obtenção e consumo de frutas. Entretanto, foi possível diagnosticar que apenas 63% dos participantes da avaliação afirmaram que consomem frutas todos os dias (Figura 1). Não se sabe se o percentual de aproximadamente 33% e 3%, que relataram consumir frutas mais de uma vez por semana ou quase nunca, respectivamente, esteja relacionado com gostos pessoais, receio de alimentos contaminados ou perigo do agrotóxico.
É sabido que na segunda metade da década de 1980, os tratamentos fitossanitários e a presença de agrotóxicos em frutas extrapolariam a esfera produtiva e a ideia de consumir frutas de melhor qualidade e mais limpas, idealizada desde a década de 1960, ganharam forças revalorizando os próprios cultivos familiares (5).
Quando os docentes foram questionados a qual fruta prefere consumir foi possível identificar que, a banana e a manga espécies exóticas, obtiveram os melhores percentuais de 29,6% e 22,2%, respectivamente (Figura 2). Em seguida com percentuais abaixo de 8% diversas outras frutas, totalizando 11 tipos distintos, essas de origem nativas e exóticas.
A partir dos dados obtidos com a questão “Qual fruta desejaria que estivesse em oferta em sua região?”. Foi possível identificar uma inversão de preferência, porque a pinha e o morango se destacam como as duas principais frutas desejadas (Figura 3), entretanto na figura anterior, (Figura 2), essas se destacaram com os menores percentuais de frutas preferidas (3,7%). Este fato pode estar relacionado com a disponibilidade ou qualidade e não com a preferencia de consumo. Sabe-se que o estado da Paraíba não se destaca nacionalmente com a produção de frutas, embora tenha os maiores percentuais na produção do abacaxi (6). E aliado a isto, na pesquisa foi citado 3,75% dos docentes gostariam da disponibilidade da fruta abacaxi, porém orgânica. Tudo isso implica, possivelmente, em um maior conhecimento técnico da produção de furtas locais, o que gera maior exigência na qualidade para o consumo.
A Figura 4 corrobora com o desejo dos docentes em ter disponível abacaxi orgânico, relatado na questão anterior. Porque nota-se que 96,3% das respostas foram sim, que se preocupam com a procedência das frutas que consomem. Todos os participantes possuem grau de instrução técnica suficientemente necessária para ter conhecimento da importância de uma fruta saudável e de boa procedência, com certificação orgânica.
A busca por alimentos mais saudáveis vem aumentando, com o passar do tempo e socialização dos conhecimentos, sempre buscando a serem produzidos segundo os preceitos do desenvolvimento sustentável, não somente pelo ponto de vista do consumidor, mas também dos agricultores (7).
Estudos desenvolvidos pela ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) relatam que as culturas que apresentam uma maior quantidade de resíduos de substâncias proibidas e fertilizantes são pimentão (92%), morango (63%) e pepino (57%) (8). Por tal motivo, procurou-se diagnosticar o consumo da fruta morango entre os docentes, e quando questionados se já consumiram morangos 96,3% afirmaram que sim (Figura 5). Dados esses revelam um percentual elevado de docentes que já consumiram morango ao menos uma vez ou de alguma forma na vida, sendo representativo o diagnóstico.
Para obtenção do perfil consumidor de morangos foi questionado “Com qual frequência você consome morango?”. E apesar de um elevado percentual de docentes já terem consumido morangos, 70,4% afirmam que quase nunca consomem essa fruta e apenas 3,7 consomem diariamente (Figura 6). Como a indagação da pergunta “Como você costuma consumir morangos?” obtive 59,3% de respostas para in natura, e como, já relatado anteriormente, nos dados desta pesquisa há baixa oferta desse produto possivelmente tal informação possa ser uma das justificativas do baixo consumo diário. Entretanto para a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), 70% dos alimentos in natura consumidos no país estão contaminados por agrotóxicos (9), e docentes com formação na área das Ciências Agrárias naturalmente tendem a ter conhecimento desse fato e ser mais precavidos no consumo de tal produto.
Em busca por alimentos mais saudáveis, que não utilizem os insumos da agricultura convencional, tanto as produções orgânicas quanto a produção ecológica ganham destaques. No entanto, as grandes corporações têm se apropriado do sistema orgânico produtivo, ocupando a maior fatia do mercado e consequentemente a maior capacidade de lucratividade. Além disso, tem dado um aumento significativo nos valores dos produtos orgânicos afastando os consumidores de renda baixa (7).
Dentre essas estratégias ou alternativas, destacamos os produtos agroecológicos e suas vertentes, como o sistema agroflorestal, que possibilita a produção de alimentos aliados à sustentabilidade e acesso a uma alimentação saudável e de qualidade (10). Em face disto, pode-se observar que os dados na Figura 7, demostram que 74,1% dos docentes estão dispostos a pagar, mais caro, por morango produzido em um sistema agroflorestal, demostrando que a conscientização de uma alimentação saudável valoriza o produto ofertado ao consumo desse púbico estudado.
CONCLUSÕES
É nítido que os docentes, principalmente os que ministram aulas para os cursos de Licenciatura em Ciências Agrárias e Bacharelado em Agroecologia do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras, PB, possuem o perfil de consumidor que busca frutas saudáveis e isentas de agrotóxico.
O consumo de morango, entre as frutas citadas, se destaca como vilã no uso de agroquímicos, o que possivelmente preocupa o consumo deste por parte dos docentes, os quais estão dispostos a pagar mais caro para consumir um produto originário de um Sistema Agroflorestal, que produzirá de forma sustentável um fruto livre de resíduo químico.
A preocupação demostrada pelos docentes, como consumo das frutas, faz-se necessário a discussão de estratégias que visem reduzir o uso de produtos químicos com uma produção sustentável acessível para a população de forma geral, como os sistemas agroflorestais.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a participação e colaboração dos docentes, em especial aos que ministram aulas nos cursos de Licenciatura em Ciências Agrárias e Bacharelado em Agroecologia pertencentes ao Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias, da Universidade Federal da Paraíba, Campus III, Bananeiras, PB.
REFERÊNCIAS
- Fernandes P, Donnazzolo J, Grigolo SC, Chukewiski MJ, Martini JR. Produção sustentável e alimentação saudável em sistema agroflorestal: uma experiência educativa com escolas do campo na região sudoeste do Paraná. Cadernos de Agroecologia. 2020;15; 2-20.
- MAPA. Alimentos orgânicos renderam R$ 4 bilhões a produtores brasileiros em 2018. [acesso em 9 Set 2022]. Disponível em <http://www.agricultura.gov.br/noticias/mercado-brasileiro-deorganicos-fatura-r-4-bilhoes?fbclid=IwAR2YvNXWiMr7g2kuFrnLtW-gr732r8UHIbXO4DmyBn7xENxI6F1rotz4sE.
- Oshita D, Jardim ICSF. Morango: uma preocupação alimentar, ambiental e sanitária, monitorado por cromatografia líquida moderna. Scientia Chromatographica. 2012; 4; 52-76.
- Farias LF, Soares JPG, Alves D. Manejo sustentável da produção orgânica em sistemas agroflorestais (SAFs) na agricultura familiar. COLÓQUIO-Revista do Desenvolvimento Regional. 2022; 19; 292-309.
- Klanovicz, J. Toxicidade e produção de maçãs no sul do Brasil. História, Ciências, Saúde. 2010;17:67-85.
- IBGE 2016. IBGE – Produção Agrícola Nacional, 2016.
- Hinterholz B, Ribeiro VD. Feira agroecológica: uma alternativa para comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar orgânica no município de Medianeira – PR: o caso da AAFEMED. Synergismus scyentifica UTFPR. 2018;6;1-7.
- Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos- PARA: relatório das análises de amostras monitoradas no período de 2013 a 2015. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. ANVISA. 2016.
- Carneiro, F. F. et al. Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; (2015). Expressão Popular.
- Neves PDM. Sistemas agroflorestais como fomento para a segurança alimentar e nutricional. Revista Verde. 2013; 8; 199 – 207.
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