ASPECTOS NUTRICIONAIS DA DOENÇA HEPÁTICA GORDUROSA NÃO ALCOÓLICA (DHGNA) E SEU DIAGNÓSTICO COM ENFOQUE NOS EXAMES LABORATORIAIS: UMA REVISÃO DA LITERATURA
Yasmin Andrade Rufino Correia¹; Sabrina Mércia Belarmino Gomes ²; Thalita Oliveira de Melo³; Larissa de Alcântara Santos4; Tatielle de Lima Vieira5; Maria Regina Fonseca Barbosa6; Ana Paula de Mendonça Falcone7
¹Estudante do curso de nutrição- CES- UFCG. E-mail: [email protected]; ²Estudante do curso de nutrição- CES- UFCG. E-mail: [email protected]; 3Estudante do curso de nutrição- CES- UFCG. E-mail: [email protected]; 4Estudante do curso de nutrição- CES- UFCG. E-mail: [email protected]; 5Estudante do curso de nutrição- CES- UFCG. E-mail: [email protected]; 6Estudante do curso de nutrição- CES- UFCFG. E-mail: [email protected]; 7Docente do curso de nutrição-CES – UFCG. E-mail: [email protected]
RESUMO: A doença hepática gordurosa não alcoólica se caracteriza como uma das patologias mais emergentes atualmente, cambiando entre a esteatose hepática e a esteato-hepatite. Ela é adquirida por inúmeras causas, de modo que a obesidade, diabetes e dislipidemias em geral têm parte significativa no processo. Seu diagnóstico é alcançado por meio de um conjunto de fatores, pois ainda não existe um só método para determinar a individualidade da DHGNA. O tratamento da afecção é elaborado conforme a singularidade de cada paciente, atentando ao seu estado de saúde vigente. Então, com o aumento da ocorrência das doenças crônicas não transmissíveis, bem como com o prolongamento da expectativa de vida, a importância do tecido hepático para o nosso organismo e as insuficientes referências acerca do conteúdo, é de suma importância que esse estudo seja desenvolvido com o objetivo de esclarecer aos leitores a respeito do problema, levantando aspectos como causas, sintomas, o método de diagnóstico e seu respectivo tratamento, para que se verifiquem gradativamente mais informações. Dessa maneira, a enfermidade deve ser vista como uma complicação hepática que sucede do estilo de vida dos indivíduos e resulta em alterações no organismo. Como metodologia, foram examinados livros e artigos encontrados na plataforma digital do google acadêmico, Scielo e periódico capes, utilizando termos como “DHGNA”, “hepatograma” e “fisiopatologia da doença hepática”, em que foram encontrados 10 artigos, entretanto, foram escolhidos apenas 5 pelo conteúdo ser mais específico.
PALAVRAS CHAVE: DHGNA; fígado; gordura; hepatócitos.
INTRODUÇÃO
O fígado apresenta-se como um dos órgãos mais importantes do corpo humano, possui peso próximo de 1,5kg no adulto, nele há como constituinte histológico essencial os hepatócitos, que compreendem cerca de 60% do seu conteúdo e é incompatível com a vida humana sobreviver em sua ausência (KRAUSE, 2018). Além disso, é um órgão com enorme capacidade de regeneração em decorrência da proliferação dos hepatócitos remanescentes. Eles são incumbidos das principais funções realizadas pelo órgão, entre elas, a primordial é a metabolização de diversos compostos, incluindo carboidratos, proteínas e lipídios, mas também é de sua competência a geração e excreção da bile, responsável pela digestão e absorção de lipídios, armazenamento de vitaminas, minerais, aminoácidos, lipídios e glicogênio, transformação da amônia em ureia, formação dos fatores de coagulação, entre outras atribuições (CUPPARI, 2014). Tendo isso em vista, o fígado tem a habilidade de controlar a biodisponibilidade de nutrientes necessários em determinados momentos do dia do indivíduo, por meio da glicogenólise (envio de glicogênio para o sangue quando o indivíduo se encontra em estado de baixa glicose) e glicogênese (armazenamento de glicose no fígado a partir do metabolismo de carboidratos) levando em consideração se ele está em estado de jejum ou bem alimentado, respectivamente. Ainda assim, é capaz de formar novas moléculas de glicose a partir de outros componentes como ácido lático, aminoácidos e intermediários do ciclo do ácido tricarboxílico com o processo de gliconeogênese (KRAUSE, 2018). Logo, é interessante que a população possua um bom estado de saúde hepática, a fim de que não venha a adquirir problemas futuros dando importância ao que foi acima abordado. Tendo como base que as doenças hepáticas têm aumentado progressivamente, este estudo tem por objetivo analisar os aspectos nutricionais da doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), sua fisiopatologia básica, diagnóstico e dietoterapia.
De modo que entre as doenças que podem surgir como consequência das modificações dos encargos do fígado, a DHGNA vem aumentando sua incidência principalmente em países industrializados, sendo estimada como a principal afecção causadora de doença hepática crônica quando o portador não consome bebidas alcoólicas em grande quantidade e com frequência (PORTELA, 2012). Cujo, comuta entre a esteatose quando associada à infiltração gordurosa branda, e a esteato-hepatite não alcoólica que se caracteriza como a forma mais grave da doença envolvendo a inflamação dos hepatócitos (CUPPARI, 2014). No entanto, em ambos os casos os hepatócitos são afetados de forma que sofrem a aglomeração de gotículas de gordura em forma de triglicerídeos, podendo ainda progredir para fibrose ou cirrose (KRAUSE, 2018).
ETIOLOGIA
As razões que causam a DHGNA são diversas, como o uso de drogas, anomalias congênitas do metabolismo e distúrbios metabólicos adquiridos, como a diabetes melito tipo II, obesidade, dislipidemia, hiperinsulinemia, desnutrição proteica e resistência periférica à insulina, sendo que esses aspectos sofrem grande influência dos fatores genéticos (KRAUSE, 2018). Esta última pode ocorrer não só em decorrência do excedente da quantidade de gordura, mas também na ausência dela, ocasionando a adiposidade no fígado como consequência da diminuição da oxidação de ácidos graxos livres, aumento da lipogênese hepática e atenuação da liberação de lipídios para a circulação. Esta patologia pode atingir tanto pacientes femininos, quanto masculinos de todas as etnias e idades, inclusive crianças, entretanto, alguns escritos abordam a maior manifestação em homens como resultado da maior concentração de gordura visceral nestes (PORTELA, 2012). Com o advento das tecnologias e a consequente prolongação da vida, outro aspecto importante refere-se à crescente elevação do número de idosos no mundo, pois com isso há também o crescimento do número de cidadãos acometidos por doenças crônicas levando em consideração que o envelhecimento é caracterizado pela diminuição da competência do organismo. Por conseguinte, foi verificado que aquelas pessoas que possuíam um estilo de vida sedentário e que efetuavam o consumo usual de dietas hipercalóricas, ricas em lipídios, com destaque para alimentos industrializados, possuíam maior predisposição de apresentar a DHGNA (PORTELA, 2012). Do mesmo modo, alguns estudos revelam que o consumo reduzido de ácidos graxos poli-insaturados, em particular o ômega 3, colaborava ao acometimento da doença, pois era favorecida a síntese de lipídios, especialmente de VLDL, o que aumenta a resistência à insulina e reduz a oxidação e excreção lipídica.
SINTOMAS
Os sintomas como fadiga, dor abdominal, hepatomegalia e obesidade, não se mostram muito característicos, raramente são associados à gravidade da doença e pode fazer com que ela evolua para outras enfermidades, portanto, é considerada como silenciosa e só começa a ser diagnosticada com exames de rotina, principalmente quando os testes de função hepática estão alterados.
EXAMES PARA DIAGNÓSTICO
Os marcadores bioquímicos são responsáveis por analisar se o paciente está com suspeita de alteração nas funções hepáticas, sendo possível verificar a liberação das enzimas e a função do fígado (KRAUSE, 2012). Os exames laboratoriais mais comuns para investigar a função hepática são bilirrubina sérica total, tempo de protrombina (PT), albumina sérica, globulina sérica, ALT, AST e a relação ALT/AST. Assim, a doença hepática pode elevar de 1,5 a 3 vezes a situação laboratorial quando comparado aos valores de referência. Quando uma anormalidade é diagnosticada, os testes bioquímicos não são capazes de diferenciar a esteatose hepática da esteato-hepatite (FECURY, 2019). Dessa maneira, a American Gastroenterological Association programou uma diretriz para diagnóstico da DHGNA por meio da dosagem de marcadores de injúria e função hepática com base na elevação da alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST), que são enzimas responsáveis por metabolizar algumas proteínas, e também, fosfatase alcalina (enzima elevada quando há lesão das vias biliares), tempo de protrombina, albumina (proteína originada no fígado) e bilirrubinas, levantamento da presença de condições clínicas associadas a dano hepático, podendo ocorrer também à realização de exames de imagem, que assim como os exames bioquímicos não diferenciam a esteatose hepática da esteato-hepatite. Os aumentos na dosagem bioquímica ocorrem em virtude da lesão das células do fígado que rompem e extravasam seus constituintes que circulam pela corrente sanguínea (PINHEIRO, 2021). Além dos exames citados, é significativo expor que pacientes afetados por hipertrigliceridemia e HDL-colesterol baixo associam-se a metade dos casos (PORTELA, 2012).
Outrossim, o exame padrão ouro para a constatação da DHGNA é a biópsia hepática que pode indicar o grau de progressão para cirrose e/ou fibrose, contudo, esse se mostra um exame de alto valor financeiro, alta invasividade e variabilidade de amostragem (FECURY, 2019).
Quadro 1- Exames laboratoriais comuns utilizados para testar função hepática
Exame laboratorial | Comentários |
AST | Aumenta com danos às células hepáticas |
ALT | Aumenta com danos às células hepáticas |
Fosfatase alcalina | Níveis aumentados sugerem colestase, mas podem também ser aumentados com distúrbios ósseos, gravides, o crescimento normal e algumas malignidades. |
Tempo de protrombina (PT) | A deficiência de vitamina K e a diminuição da síntese de fatores de coagulação aumentam o tempo de protrombina e o risco de hemorragia. |
Albumina | A diminuição da síntese ocorre com a disfunção hepática, da tireoide e disfunção hormonal glicocorticoide, pressão anormal osmótica coloidal plasmática e toxinas; um aumento das perdas ocorre com a enteropatia de perda de proteínas, síndrome nefrótica, queimaduras, hemorragias gastrointestinais, dermatite esfoliativa. |
Bilirrubina sérica total | Quando aumentada, pode indicar excesso, defeito na captação hepática ou conjugação da bilirrubina. |
Fonte: Krause, 2018.
EFEITOS E TRATAMENTO DA DOENÇA
Desta forma, é possível ser concluído que as principais consequências do comprometimento hepático levam a redução da biossíntese proteica, insuficiente detoxificação da amônia e desnutrição. Portanto, é fundamental que seja efetuada uma avaliação nutricional específica para abrandar os efeitos da afecção, porém, alguns fatores precisam ser considerados, como o aumento do peso corporal derivado de edemas, redução do apetite e consumo alimentar inapropriado (KRAUSE, 2012). Como tratamento, é indicado que sejam corrigidas as condições associadas, como a obesidade e as dislipidemias com o controle metabólico por meio de dietas particulares para cada caso, não havendo recomendações universalmente aceitas, tal como é imprescindível a prática de exercícios físicos com propósito de perda de peso, promovendo diminuição das células brancas do tecido adiposo, o que minimiza a resistência a insulina (PORTELA, 2012).
CONCLUSÕES
A DHGNA deve ser vista como uma complicação hepática que sucede do estilo de vida dos indivíduos, que por sua vez resulta na mudança dos processos realizados pelo fígado, como por exemplo, a metabolização, prejudicando assim o organismo como um todo. Além disso, ela possui não só um trabalhoso método de diagnóstico, como também poucas estratégias terapêuticas por ser uma enfermidade ainda pouco estudada.
REFERÊNCIAS
CUPPARI, L. Guia de nutrição: clínica no adulto. Barueri, SP: Manole, 2014.
FECURY, LORENA TAVARES. Doença hépatica gordurosa não alcoólica- diagnóstico e tratamento: uma revisão da literatura. Pará Research Medical Journal, Belém, PA, 2019.
FERREIRA, WILZA PERES ARANTES et al. Nutrição e fisiopatologia nas doenças hepáticas. Rio de Janeiro: Rubio, 2015.
LIMA, C. L. DE M. et al. Aspectos fisiopatológicos e nutricionais da doença hepática gordurosa não-alcoólica (DHGNA). Revista Brasileira de Nutrição Clínica, Fortaleza-CE, v. 28, n. 1, p. 54-60, 2012.
MAHAN, L. KATHLEEN et al.; Krause: Alimentos, nutrição e dietoterapia. Rio de Janeiro: Elsevier, 2018.
MENU DE EXAMES. Sérgio Franco Medicina Diagnóstica, 2015. Disponível em: <http://apoio.sergiofranco.com.br/exames?q=HEPASA>. Acesso em: 14 de maio de 2021.
PINHEIRO, P. Exames do fígado (TGO, TGP, GGT e bilirrubinas). Md. Saúde, 2008-2021. Disponível em: https://www.mdsaude.com/exames-complementares/tgo-tgp-fosfatase-alcalina-ggt/. Acesso em: 14 de maio de 2021.
SANGALI, T. D. Terapia nutricional na doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA) em diabéticos: uma revisão bibliográfica. Porto Alegre, 2015. Disponível em: http://www.repositorio.jesuita.org.br/handle/UNISINOS/5668. Acesso 19 maio 2021.
Tag:DHGNA, fígado, gordura, hepatocitos