Algumas espécies do gênero Acinetobacter são associadas a infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) de importância amplamente reconhecida. Infecções adquiridas na comunidade também têm sido relatadas ao longo dos últimos anos, o que vem a ser um fato preocupante, uma vez que é notório que patógenos humanos podem ser transmitidos através da cadeia alimentar. Vários alimentos de origem animal e vegetal têm sido associados à presença de Acinetobacter spp., incluindo isolados resistentes a antibióticos. A produção de biofilme tem sido elencada como um dos fatores mais importantes fatores de virulência que justificam a permanência e a disseminação de Acinetobacter spp. em diferentes ambientes, tanto associados a ambientes de assistência à saúde quanto a produção de alimentos. O controle da produção de biofilme é de suma importância para mitigar a veiculação de Acinetobacter spp., visto que a colonização de equipamentos e instrumentos hospitalares assim como a tolerância a sanitizantes empregados em indústrias alimentícias estão fortemente associados a esse fator de virulência.
Acinetobacter spp. são bactérias extremamente relevantes em ambientes clínicos. Recentemente, elas surgiram como potenciais patógenos oportunistas de origem alimentar. Estudos sobre a tolerância de Acinetobacter spp. de origem alimentar a sanitizantes utilizados na indústria de alimentos e residências são necessários para ajudar a mitigar a contaminação dos alimentos por esses micro-organismos. Neste trabalho, isolados de saladas prontas (n = 11) e de leite de cabra cru (n = 4) foram avaliados quanto à tolerância ao ácido peracético (PAA). A Food and Drug Administration (FDA) recomenda que a concentração desse sanitizante em equipamentos e utensílios de processamento de alimentos e outros artigos em contato com alimentos não exceda 200 partes por milhão (ppm). Apenas três isolados de saladas e os quatro isolados de leite de cabra foram inibidos por concentrações mínimas inibitórias (MIC) e bactericidas (MBC) inferiores a 200 ppm de PAA. Nossos resultados demonstram, portanto, que Acinetobacter spp. isolados de alimentos podem ser tolerantes às concentrações recomendadas de PAA, o que representa um risco à saúde dos consumidores.