O CONSUMO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS E A RELAÇÃO COM AS DISLIPIDEMIAS EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Jhennifer Vitoria Gomes Silva1; Socorro da Piedade Berto da Silva2; Lauany Maria dos Santos Barreto3; Maria Eduarda Moraes Pereira 4; Andressa Almeida Barbosa5; Jhulia Evilys Dias da Silva 6; Ivania Samara dos Santos Silva 7
1Estudante do Curso de Nutrição – UFCG –; E-mail: [email protected], 2Estudante do Curso de Nutrição – UFCG –; E-mail [email protected], 3Estudante do Curso de Nutrição – UFCG –; E-mail [email protected], 4Estudante do Curso de Nutrição – UFCG –; E-mail [email protected], 5Estudante do Curso de Nutrição – UFCG –; E-mail [email protected], 6Estudante do Curso de Nutrição – UFCG –; E-mail: [email protected], 7Pesquisador/mestranda do Depto de Biotecnologia e Ciências Naturais – CES – UFCG. E-mail: [email protected]
Resumo: O alto consumo de alimentos ultraprocessados por crianças e adolescentes, está relacionado ao desenvolvimento de agravos para a saúde não transmissíveis, como exemplo a dislipidemia que é caracterizada pela desordem das lipoproteínas. O objetivo foi realizar uma revisão da literatura sobre a relação dos alimentos ultraprocessados e as dislipidemias em crianças e adolescentes. Fez-se uma busca nas bases de dados Scielo, Lilacs, Pubmed e Google acadêmico por estudos que colaboravam com essa temática dos últimos anos, após os critérios de inclusão a revisão foi fundamentada em 10 artigos. Observou-se elevado consumo de alimentos ultraprocessados entre as crianças e adolescentes, geralmente correlacionados com descontroles dos níveis de lipídeos sanguíneos, como aumento de LDL. Desta maneira, o consumo de alimentos ultraprocessados indicou ser um grande contribuinte para o aumento do número de dislipidemias, desta forma, faz-se necessário a realização de intervenções, como educação nutricional, visando reduzir a ingestão desses alimentos para evitar problemas de saúde futuros.
Palavras–chave: Jovens; Comportamento alimentar; Infância; Lipoproteínas; industrializados
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos os hábitos alimentares passaram por acentuada transição, a alimentação baseada em alimentos in natura ou minimamente processados perderam espaço para os alimentos processados e ultraprocessados. Essa modificação no padrão alimentar não aconteceu apenas entre a população adulta, estudos têm mostrado que porção significativa do valor energético consumido por crianças e adolescentes provém de alimentos ultraprocessados (BESERRA et al., 2020).
Entre as crianças e os adolescentes, os hábitos alimentares inadequados são caracterizados pelo consumo excessivo de açúcares e gorduras, provenientes desses produtos ultraprocessados (SANTOS, 2019). Contudo, o alto consumo desses alimentos têm apresentado influência no aumento nos agravos de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) relacionadas à alimentação, como diabetes e dislipidemias. (BESERRA et al., 2020).
A dislipidemia é caracterizada por uma condição em que há concentrações anormais de lipídeos ou lipoproteínas no sangue, podendo ser decorrente de vários fatores, dentre eles os hábitos alimentares inadequados. Lind et al. (2019), traz que os hábitos alimentares desenvolvidos durante a infância irão repercutir de diferentes formas ao longo da vida dos indivíduos, o que deixa explícito que, a dislipidemia na infância e adolescência são importantes preditores para doenças na fase adulta (REUTER et al., 2019).
Desta forma, o objetivo deste trabalho foi analisar através de uma revisão da bibliografia a associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e dislipidemias em crianças e adolescentes, a fim de colaborar com os estudos sobre desenvolvimento de dislipidemias dentro do contexto científico.
METODOLOGIA
O estudo trata-se de uma revisão de literatura feita a partir de artigos científicos publicados nas bases de dados Scielo, Lilacs, Pubmed e Google acadêmico entre os anos de 2018 e 2021, usando termos relacionados ao perfil lipídico e ao consumo de alimentos ultraprocessados entre crianças e adolescentes.O processo de avaliação para eleger os artigos passou por uma triagem de leitura de títulos sendo excluídos os artigos dos anos anteriores a 2018 e que não abordavam essa relação em crianças e/ou adolescentes. Por último, uma leitura crítica dos artigos completos, sendo escolhidos 10 artigos para a revisão fundamentada, os quais atenderam todos os critérios.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os estudos de Santos et al. (2020) e Lima et al. (2020), trazem que a fase de crescimento em crianças e adolescentes é influenciada por fatores genéticos e ambientais, dentre os quais destacam-se a alimentação, a saúde e os cuidados gerais com a criança e adolescentes, fatores esses que atuam acelerando ou retardando esse processo de desenvolvimento e gerando consequências futuras.
Dentre os fatores da alimentação, os hábitos alimentares formados na infância e adolescência irão persistir na idade adulta, e podem contribuir para a exposição a malefícios, principalmente quando há um maior consumo de alimentos ultraprocessados (BESERRA et al., 2020). O estudo de Beserra et al. (2020), relaciona esses hábitos alimentares com o maior risco de desenvolvimento de dislipidemia em crianças e adolescentes.
Alimentos ultraprocessados geralmente são desbalanceados nutricionalmente, e o alto consumo desses alimentos por crianças é um preditor do aumento das concentrações de parâmetros lipídicos ainda durante a infância (LIMA et al., 2020). Em relação aos adolescentes, Lima et al. (2020), traz a associação entre o maior consumo de alimentos fast foods com a diminuição de níveis de HDL e observa que o maior consumo do padrão alimentar contendo doces e refrigerantes esteve associado ao aumento dos níveis de lipídeos.
A dislipidemia é entendida como o desequilíbrio de lipídios, como: colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-C), triglicerídeos e lipoproteína de alta densidade (HDL). Onde a lipoproteína de baixa densidade não deve apresentar níveis maiores que o recomendado para que não venha a ocorrer complicações futuras (PAPPAN; REHMAN, 2021).
Alguns estudos em diferentes cidades do País determinaram a distribuição dos lipídeos de crianças e/ou adolescentes, principalmente na elevação dos níveis de LDL. Os resultados estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1– Níveis de LDL em estudos realizados em diferentes cidades.
Autor/ Ano | Título | Cidade/estado | Amostra | Resultado |
ALMEIDA, P.C.D. (2020) | Excesso de peso e perfil lipídico em escolares de Vitória – ES | Vitória – ES | 515 crianças e adolescentes | LDL alterado em 9,20 % das crianças |
SIDRONIO, M.G.S. (2018) | Análise do perfil lipídico de crianças e adolescentes em escola pública de natal- RN | Natal- RN | 55 crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos | LDL alterado em 23,63 % das crianças |
CALLIARI, S.S. (2019) | Dislipidemia em crianças e adolescentes do município de Marau-RS | Marau-RS | 272 crianças e adolescentes entre 1 e 19 anos | LDL alterado em 16% das crianças |
Fonte: dados da própria pesquisa, 2021
A análise dos resultados dos estudos descritos na Tabela 2 apresentou a elevação nos níveis de LDL, lipoproteína de baixa densidade, entre 9 e 27%, porcentagem alta levando em consideração que não devem apresentar níveis maiores que os recomendados. Beserra et al. (2020) e Lima et al. (2020), trazem que esse aumento no LDL, ocasiona a dislipidemia e está ligado ao consumo alimentar inadequado entre crianças e adolescentes.
Todos os estudos apresentados na Tabela 2, trazem que o distúrbio no perfil lipídico com alteração nos níveis de LDL está ligado a alimentação da população estudada, estando relacionada com hábitos alimentares inadequados, ricos em gordura e açúcar, precisamente, os ultraprocessados. Colaborando com os resultados encontrados no estudo de Beserra et al. (2020), em que devido à elevada quantidade de hidratos de carbono rapidamente absorvíveis presentes em alimentos ultraprocessados, ocorre a elevação da lipogênese hepática, resultando no aumento dos níveis de triglicerídeos e LDL e diminuindo as concentrações de HDL. Demostrando evidências pontuais do efeito prejudicial do consumo de alimentos ultraprocessados, correlacionados com o perfil lipídico de crianças e adolescentes.
CONCLUSÕES
Diante dos dados expostos na revisão, os alimentos ultraprocessados influenciam negativamente na alimentação de crianças e adolescentes, associado a uma piora no perfil nutricional e contribuindo para alterações nos níveis lipídicos dessa população. Contudo, faz-se necessária ações de saúde pública com enfoque na alimentação das crianças e adolescentes, diminuindo o consumo de alimentos ultraprocessados e dando maior preferência a alimentos in natura e minimamente processado, para que esses comportamentos alimentares não venham apresentar danos futuros. Desta maneira, são necessários mais estudos com esse tema e faixa etária, principalmente de pesquisas relacionadas a fatores de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como no caso das dislipidemias.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, P. C. D. et al. Excesso de peso e perfil lipídico em escolares de Vitoria-ES. Editora cientifica. 2020.
BESERRA, J. B. et al. Criança e adolescentes que consomem alimentos ultraprocessados possuem pior perfil lipídico? Uma revisão sistemática. Ciência e saúde coletiva, v. 25, 2020.
CALLIARI, S. S. et al. Dislipidemia em crianças e adolescentes do município de Marau-RS. Cadernos de saúde coletiva, v. 27, n. 4, Rio de Janeiro. 2019.
LIMA, L. R. et al. Associação entre o consumo de alimentos ultraprocessados e parâmetros lipídicos em adolescentes. Ciência e saúde coletiva, v.25, 2020.
LIND. T. et al. Protocolo de estudo de alimentação complementar otimizado (OTIS): Um ensaio clínico randomizado e controlado do impacto de uma dieta complementar com redução de proteína baseada em alimentos nórdicos. BMC public health, 2019
PAPPAN, N., REHMAN, A. Stat pearls- Dislipidemias. 2021.
REUTER, C. P. et al. Relação entre dislipidemia, fatores culturais e aptidão cardiorrespiratória em escolares. Arquivos brasileiros de cardiologia, v.112, n. 6, São Paulo. 2019.
SANTOS, M. S. L.; OLIVEIRA, R. Z. S. Análise da ingestão de alimentos ultraprocessados e seus impactos a saúde das crianças: revisão integrativa. Trabalho de conclusão de curso- Nutrição, Centro universitário Tiradentes, Maceió-AL. 2020.
SANTOS, J. C.; CARVALHO, M. A., PINHO, L. Consumo de alimentos ultraprocessados por adolescentes. Adolescência e saúde, v. 16, n. 2, p. 56-63, Rio de Janeiro. 2019.
SIDRÔNIO, M. G. S. et al. Análise do perfil lipídico de crianças e adolescentes em escola pública de Natal-RN. III congresso brasileiro de ciências da saúde. 2018.