FARELO DE ALGODÃO NA ALIMENTAÇÃO DE FRANGOS DE CORTE E SUÍNOS: REVISÃO DE LITERATURA
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-32
Este trabalho foi escrito por:
Allan Gabriel Ferreira Dias*1; Alison Batista Vieira Silva Gouveia1; João Marcos Batista Monteiro1; Júlio Cesar Lopes Brasileiro1; Lorrayne Moraes de Paulo1; Valesca Ribeiro Lima1; Rogério Marcos da Silva Junior2
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
1 Departamento de Zootecnia, Escola de Veterinária e Zootecnia, Universidade Federal de Goiás, Goiânia, Goiás.
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro, campus Uberaba, Uberaba, Minas Gerais.
Resumo: O farelo de algodão é o terceiro ingrediente proteico mais produzido no mundo para uso em dietas animais. O farelo de algodão pode substituir o farelo de soja nas dietas, se levar em consideração algumas características básicas desse ingrediente, como o alto teor de fibra bruta, grande variação dos níveis de proteína bruta, menor quantidade de aminoácidos essenciais como a lisina e treonina, e a presença do gossipol. Ao se trabalhar com farelo de algodão para frangos de corte, deve-se se atentar aos níveis de inclusão, em principal nas fases iniciais de vida, e se possível utilizar ferramentas que possibilitem o melhor aproveitamento dos nutrientes, como o uso de enzimas exógenas, em principal as carboidrases e a fitase. Outra técnica que pode auxiliar na maior inclusão de farelo de algodão nas dietas de frangos de corte é a fermentação, que reduz o gossipol livre, melhora a biodisponibilidade de alguns nutrientes e auxilia no desenvolvimento da microbiota intestinal. O uso do farelo de algodão para suínos tem-se maior facilidade, visto a melhor adaptação desses animais a dietas com maiores níveis de fibra. Muitos trabalhos mostram bons resultados com níveis de inclusão superiores aos utilizados em frangos de corte, sem a necessidade do uso de enzimas ou de uma pré fermentação do farelo de algodão. Suplementando aminoácidos essenciais e respeitando os níveis de inclusão para cada espécie e fase de criação, o farelo de algodão mostra-se uma excelente fonte de proteína para aves e principalmente suínos.
Palavras–chave: carboidrases, enzimas, fator antinutricional, fitase, gossipol
Abstract: Cottonseed meal is the third most produced protein ingredient in the world for use in animal diets. Cottonseed meal can replace soybean meal in diets if it takes into account some basic characteristics of this ingredient, such as high crude fiber content, great variation in crude protein levels, lower amount of essential amino acids such as lysine and threonine, and the presence of gossipol. When working with cotton seed for broilers, one should pay to the levels of inclusion, in main in the initial stages of life, and if possible use tools that allow the best use of nutrients, such as the use of exogenous enzymes, in main the carbohydrates and phytase. Another technique that can help in the greater inclusion of cottonseed meal in broiler diets is fermentation, which reduces free gossipol, improves the bioavailability of some nutrients and assists in the development of the intestinal microbiota. The use of cotton meal for pigs is easier, given the better adaptation of these animals to diets with higher levels of fiber. Many studies show good results with higher levels of inclusion than those used in broilers, without the need for the use of enzymes or a prefermentation of cottonseed meal. Supplementing essential amino acids and respecting the levels of inclusion for each species and breeding phase, cottonseed meal is an excellent source of protein for poultry and mainly pigs.
Key Word: carbohydrates, enzymes, antinutritional factor, phytase, gossipol
INTRODUÇÃO
O Brasil é um dos principais produtores de proteína animal do mundo, tendo somente na produção de carne de frango e suínos no ano de 2020 produzido respectivamente 13,845 e 4,436 milhões de toneladas(1). Em relação ao ano de 2019, houve um aumento em torno de meio milhão de toneladas na produção de carne de frango e suína, e junto a esse aumento produtivo, houve um aumento nos custos produtivos, sendo puxados pelo custo em nutrição, que subiu em 2020 segundo o índice de custos produtivos da EMBRAPA 33,02% para frangos de corte e 42,05% na produção de suínos(1,2).
Os custos com alimentação ultrapassam 80% dos custos totais produtivos na suinocultura e 73% na produção de frangos de corte, cenário esse que reascende as buscas por alimentos alternativos para a nutrição desses animais, buscando substituir totalmente ou parcialmente milho ou farelo de soja(2). Esses alimentos alternativos ao milho e farelo de soja são interessantes desde que atendam às exigências nutricionais, tenham um menor custo e não afetem negativamente o desempenho produtivo dos animais(3).
O farelo de algodão é uma das principais fontes alternativas ao farelo de soja, sendo o terceiro farelo proteico mais produzido no mundo para a alimentação animal(4). O farelo de algodão é um subproduto da indústria têxtil e da extração do óleo da semente de algodão, que possui alto potencial nutritivo e ganha destaque por sua elevada produção, ficando atrás somente de milho e farelo de soja, mas não possui a alta flutuação de preços desses ingredientes, fator que vem afetando de forma elevada a utilização do farelo de soja como fonte proteica nas dietas de aves e suínos(5,6).
Como fonte proteica o farelo de algodão possui como semelhança com o farelo de soja o nível de proteína bruta. Como diferenças, o farelo de algodão tem maiores níveis de fibra, menores níveis de lisina, metionina, valina e treonina, além da presença do gossipol, substância considerada fator antinutricional, que se complexa com alguns nutrientes, como a lisina e ferro, tornando-os indisponíveis(5).
Devido a essas características do farelo de algodão e a necessidade de se buscar alternativas ao uso do farelo de soja em dietas para aves e suíno, faz-se necessário realizar um levantamento de informações disponíveis sobro o farelo de algodão. O objetivo dessa revisão é realizar um levantamento de informações acerca das características nutricionais e de repostas encontradas na literatura acerca do uso do farelo de algodão em dietas de aves e suínos.
PROCESSO DE OBTENÇÃO DO FARELO DE ALGODÃO
O farelo de algodão é obtido a partir de diversas extrações feitas a partir da retirada da pluma e linter do caroço de algodão(4). Após a retirada do linter, é retirada a casca do farelo, para facilitar a compressão e posterior extração do óleo. Para a extração do óleo, é necessária a extrusão do caroço pós compressão, e posteriormente a extrusão do caroço, ocorre a extração do óleo, que pode ser feita por dois métodos, que pode ser via uma nova compressão, que é menos eficiente em extrair todo óleo, e gera um produto final com maior nível de extrato etéreo(7). O segundo método envolve o uso de solvente hexano (C6H14), o solvente mais utilizado, uma mistura de hidrocarbonetos com ponto de ebulição por volta dos 70°C, que tem maior eficiência na extração dos óleos de origem vegetal(8).
Após esses processos, é formada a torta de algodão e o óleo de algodão, e para a formação do farelo de algodão é necessária a retirada do solvente, tostagem e moagem dessa torta(8). O processamento do caroço de algodão pode chegar a gerar 45% de farelo de algodão e 16% de óleo de algodão(9).
CARACTERIZAÇÃO NUTRICIONAL DO FARELO DE ALGODÃO
O farelo de algodão é uma fonte proteica que pode ser utilizada em substituição ao farelo de soja em dietas de aves e suínos, sendo bastante similar no conteúdo proteico total com o farelo de soja, tendo entre 30 e 58% de proteína bruta(10). Entretanto, com relação ao conteúdo proteico do farelo de algodão, podemos destacar a menor quantidade de lisina, principal aminoácido para suínos e segundo aminoácido mais importante para a produção de aves, fator esse, que reduz a qualidade proteica do farelo de algodão, e por consequência sua inclusão na dieta de aves e suínos(4,5).
Além dessa baixa disponibilidade de lisina no farelo de algodão, outros fatores afetam na utilização do farelo de algodão, e devem ser levados em consideração. Os níveis de energia metabolizável para aves e suínos, minerais e outros aminoácidos como metionina, treonina e triptofano são menores no farelo de algodão que os níveis encontrados no farelo de soja, conforme apresentado na Tabela 1, conforme dados presentes nas Tabelas Brasileiras de Nutrição de Aves e Suínos de 2017(10).
Como se pode ver na Tabela 1, há uma grande variedade na qualidade dos farelos de algodão, fator que influencia diretamente em uma maior utilização desse ingrediente. No âmbito da comparação direta com o farelo de soja, os níveis de fibra bruta do farelo de algodão chegam a ser quase seis vezes maiores nas variedades com menor porcentagem de proteína bruta, fator que evidencia a necessidade de se conhecer qual a qualidade do farelo que se está trabalhando.
Esta variação está ligada ao processamento que ocorre durante a extração do óleo de algodão, que determina as proporções entre semente, casca, óleo e linter que vão estar presente no produto final5. Esse alto teor de fibra presente no farelo de algodão é um dos limitantes em seu uso em dietas para aves e suínos. Teores elevados de fibra dietética, os polissacarídeos não amiláceos, por mais que podendo ser fermentados no intestino grosso, produzindo ácidos graxos de cadeia curta, que serão absorvidos pelo animal, esses níveis altos diminuem a digestibilidade de energia e proteína, pioram a conversão alimentar, afetando diretamente o desempenho dos animais, principalmente frangos de corte e poedeiras, que tem menor absorção dos produtos dos cecos, devido ao maior transito intestinal(3,12).
Alimentos como o farelo de algodão, que possuem alto nível de fibra, aumentam o peristaltismo, fator que resulta em um maior transito intestinal e menor contato da ingesta com as enzimas digestivas e microbiota intestinal(3). Uma estratégia para diminuir os efeitos maléficos do alto nível de polissacarídeos não amiláceos é a utilização de enzimas exógenas como aditivos nas rações, sendo uma boa alternativa para se aumentar os níveis de utilização do farelo de algodão em dietas de não ruminantes sem prejudicar o desempenho dos animais(6).
Além de carboidrases como as xilanases, β-glucanases e glucanases, outra enzima é ainda mais importante de se utilizar ao trabalhar com farelo de algodão, que é a fitase. A fitase é uma enzima responsável pela degradação do fitato, substância presente no farelo de algodão, que forma uma estrutura que causa a indisponibilidade alguns minerais, principalmente o fosforo. O uso da fitase para quebra do fitato e disponibilização de fosforo é amplamente difundida, e traz inúmeros benefícios a digestibilidade dos nutrientes, além de ter efeitos positivos sobre a microbiota intestinal(6,13).
GOSSIPOL
O gossipol é um aldeído polifenólico, substancia toxica presente no farelo de algodão que é produzido nas glândulas de secreção interna do algodoeiro, como ferramenta de proteção contra pragas. O gossipol livre, é uma substancia que inibe a atividade de diversas enzimas, compromete a atividade hepática, taxa respiratória, capacidade de transporte de oxigênio pelos eritrócitos, problemas cardíacos e pode levar os animais a morte(3).
Com o tratamento térmico e químico feito durante a extração do óleo do caroço do algodão, o gossipol não é totalmente inativado(14). Posteriormente ao processo de extração do óleo, o gossipol fica presente de duas formas no farelo de algodão, a forma inativada, que complexa com outros nutrientes, como a lisina, formando substancias indigestíveis(4).
Além da lisina, o gossipol também complexa com alguns minerais, principalmente o ferro, formando complexos estáveis com cátions de ferro, indisponibilizando esse mineral(12). Esses complexos fazem com que esses nutrientes sejam indisponibilizados, porém inativam o gossipol como substancia toxica para os animais, por outro lado, os tratamentos utilizados na extração do óleo de algodão, que formam o farelo, não inativam todo gossipol, mantendo parte dessa toxina livre e ativa no farelo, fator esse que reduz de a capacidade de se trabalhar com o farelo de algodão(14).
Os níveis de gossipol livre no farelo de algodão variam de 200 a 5300 mg.kg-1 e pode afetar diretamente a ação de zimógenos e enzimas como pepsinogênio, pepsina e tripsina, que são fundamentais na digestão de proteínas no trato gastrointestinal de aves e suínos. Devido a esses problemas que afetam diretamente a produtividade e saúde dos animais, o gossipol é classificado como um fator antinutricional quando em poucas quantidades, e uma toxina se muito presente, e costuma-se trabalhar com farelos de algodão de baixo teor de gossipol livre. Como por exemplo no trabalho de Paiano et al.(15) que testou uma variedade de farelo de algodão com 340 mg.kg-1 de gossipol livre, e não foi verificado diferenças entre os tratamentos que utilizaram 15 % de farelo de algodão na dieta total, o que proporcionou somente 51 mg.kg-1 de gossipol livre na dieta.
Um processo que pode ser utilizado para reduzir os teores de gossipol livre no farelo de algodão é a fermentação. A fermentação do farelo de algodão é um processo feito previamente a utilização na dieta, que consiste na inoculação de cepas bacterianas benéficas como Candida tropicalis (C. tropicalis) e Saccharomyces cerevisiae (S. cerevisiae), que são misturadas ao farelo de algodão junto a água e essa mistura é alocada em compartimentos fechados para fermentação durante 48h a 30ºC, e posteriormente ocorre uma secagem do farelo, para a sua posterior utilização nas dietas(16). Esse processo pode reduzir até quase 74% dos níveis de gossipol livre no farelo de algodão e melhorar a biodisponibilidade de alguns nutrientes(17).
Por ser um subproduto altamente disponível para utilização, o farelo de algodão vem sendo utilizado e pesquisado há bastante tempo. Em dietas de aves e suínos as tabelas brasileiras de exigências nutricionais e composição de alimentos sugerem uma inclusão máxima de 8 e 10% para aves e suínos respectivamente, sendo que suínos possuem maior inclusão por terem um sistema digestivo melhor adaptado a alimento fibrosos por ter um intestino grosso mais eficiente que os das aves.
A seguir será demonstrado alguns resultados de trabalhos com frangos de corte, galinhas de postura e suínos, em que os autores trabalharam com farelo de algodão. Serão demonstrados os efeitos no desempenho dos animais, metabolismo e níveis de inclusão que foram utilizados nos trabalhos, afim de trazer mais dados sobre a utilização desse alimento em dietas de aves e suínos.
USO DO FARELO DE ALGODÃO EM DIETAS DE AVES
Pesquisas avaliando os efeitos da inclusão de farelo de algodão são constantemente realizados, e recentemente, com o uso mais difundido de enzimas como aditivos em dietas para frangos de corte, houve a possibilidade de um aumento dos níveis de inclusão de farelo de algodão nas dietas para frangos de corte. Devido ao elevado conteúdo fibroso do encontrado no farelo de algodão, que dependendo da fonte pode chegar a 25%, sendo majoritariamente constituído de celulose, hemicelulose, arabinose, xilose, ramnose, manose e fucose tendo respectivamente 6,7 %, 2,1 %, 4,40 %, 1,93 %, 0,74 %, 0,61 % e 0,07% (valores em base de 100% da matéria seca)(5).
Abdallh et al.(5), avaliaram a utilização de uma combinação de enzimas contendo de β-glucanase e xilanase, com 4 níveis de inclusão de farelo de algodão, contendo 45,4 % de proteína bruta e 11,2 % de fibra bruta, e foi encontrado resultados positivos para o uso do complexo enzimático dos 0 aos 10 dias para ganho de peso e consumo de ração, sendo os melhore resultados de inclusão para 5% de inclusão. Além disso, houve uma melhora na conversão alimentar com o uso de enzimas de 1 a 35 dias e até 24 dias o uso de altos níveis (6% na fase pré-inicial e 12% na inicial) de farelo de algodão também melhoraram a conversão alimentar.
Além dos resultados de desempenho, Abdallh et al.(5) avaliaram os efeitos da utilização do blend de enzimas e da inclusão de farelo de algodão na energia metabolizável, utilizada, retida e eficiência da utilização do da energia metabolizável. Os resultados encontrados nessas análises demonstraram a importância do uso de enzimas quando se trabalha com farelo de algodão, em todos os parâmetros a utilização de enzima aumentou o aproveitamento da energia da dieta, já em relação aos níveis de farelo de algodão, o aumento dos níveis de farelo de algodão diminui a energia metabolizável, consumo e retenção de energia. Por outro lado, o aumento da inclusão de farelo de algodão aumentou a eficiência da utilização da energia, lipídios e proteína retida.
No trabalho de Miranda et al.(6), também com a utilização de enzimas (fitase e xilanase) e dois níveis de inclusão de farelo de algodão (10 e 20%), e os resultados encontrados vêm em concordância com os já citados, e que o uso de enzimas melhorou significativamente o consumo de ração, ganho de peso e peso corporal dos frangos de corte de 1 a 42 dias e o peso de coxa, coração e fígado. Já em relação a inclusão de farelo de algodão, a inclusão diminuiu o desempenho (consumo de ração, ganho de peso e peso corporal) de 1 a 7 dias, independente do uso de enzimas, mas houve uma recuperação do desempenho conforme o crescimento das aves, em que de 1 a 42 dias foi visto um maior desempenho das aves que foram submetidas aos tratamentos de 20% de inclusão de farelo de algodão.
Ambos os trabalhos apontam para que haja melhor desempenho em frangos de corte alimentados com farelo de algodão, havendo a suplementação de enzimas, sendo que a inclusão de farelo de algodão nas fases inicias de criação devem ser menores que 10%, mesmo com o uso de enzimas. Além dos altos níveis de fibra bruta, o outro fator mais importante ao se levar em consideração ao se trabalhar com farelo de algodão é o gossipol.
Segundo Niu et al.(18), esse composto toxico presente no farelo de algodão é um dos maiores limitantes para a utilização desse farelo em dietas animais, ao lado dos altos níveis fibra bruta e dos baixos níveis de lisina. A fermentação microbiana é considerada um dos métodos mais efetivos para reduzir o teor de gossipol no farelo de algodão, logo, submetendo o farelo de algodão a um processo fermentativo, além de reduzir os níveis de gossipol, traz metabólicos bacterianos positivos da fermentação, como enzimas, vitaminas, oligossacarídeos, aminoácidos e outros compostos liberados formados durante o processo fermentativo(19).
Outros resultados interessantes da fermentação do farelo de algodão para a alimentação de frangos de corte foi a redução da expressão de genes lipogênicos, o que pode diminuir a deposição lipídica na carcaça dos frangos de corte(17). O processo fermentativo do farelo de algodão gera um custo a mais no processamento da fonte, mas traz benefícios interessantes ao alimento, sendo em principal a redução do gossipol, que diminui até cinco vezes de (150mg/kg para 36,41mg/kg), e maiores níveis de proteína bruta em comparação com o farelo de algodão, aumento de pontos percentuais21. Já no trabalho de Nie et al.(17), a redução do gossipol livre chegou a 73,96% no farelo de algodão fermentado (utilizando Saccharomyces cerevisiae) em relação ao não fermentado.
Já os efeitos diretos verificados em frangos de corte por autores como Niu et al.(19) do uso do farelo de algodão fermentado, é a ausência dos efeitos negativos encontrados no uso do farelo de algodão em frangos de corte na fase inicial e uma possível redução na conversão alimentar. Os benefícios da fermentação (metabólicos liberados pelos microrganismos), beneficiam a digestão da dieta e possibilita a melhora da conversão alimentar a partir de 6% de inclusão de farelo de algodão fermentado nas fases de 15 a 21 e de 36 a 42 dias.
Além desse benefício há autores como Nie et al.(17), Niu et al.(18) e Niu et al.(19) citam a redução da deposição de gordura abdominal, subcutânea e aumentam a variabilidade microbiana e os metabólicos microbianos presentes no intestino de frangos de corte alimentados com o farelo de algodão fermentado, fatores esses que podem levar a melhorias significativas no desempenho e carcaça de frangos de corte. Além dessa maior variabilidade microbiana intestinal, a utilização de farelo de algodão fermentado em frangos de corte proporcionou um aumento de população de microrganismos benéficos como as populações de lactobacilos, além de promover uma maior homogeneidade das populações bacterianas(20).
Em trabalhos de substituição do farelo de soja por farelo de algodão, como o de Batonon-Alavo et al.(21), verificaram a substituição de 40% do farelo de soja por farelo de algodão, não utilizando enzimas carboidrases, piora significativamente a conversão alimentar de frangos de corte, e reduz a digestibilidade ileal de proteína e energia já a 20% de substituição. Resultado semelhante foi encontrado por Zhang e Adeola(22), em que a partir de 20% de inclusão de farelo de algodão, sem uso de enzimas, provocou uma piora da conversão alimentar e ganho de peso de 21 a 28 dias.
Em geral os resultados vistos nos trabalhos demonstram a importância da utilização do farelo de algodão em dietas de frangos de corte em conjunto com enzimas carboidrases especificas, levando em consideração o perfil e quantidade da fibra presente na fonte de farelo de algodão utilizada. Além disso, vale levar em consideração a possibilidade de submeter o farelo de algodão a processos fermentativos, em virtude da redução dos níveis de gossipol livre e melhor disponibilização dos nutrientes.
Levando em consideração esses fatores, utilizando os aminoácidos sintéticos para não haver déficit de aminoácidos na dieta e trabalhando-se com níveis reduzidos de farelo de algodão nas fases iniciais, a utilização do farelo de algodão em frangos de corte pode ser realizada sem prejuízos no desempenho das aves.
USO DO FARELO DE ALGODÃO EM DIETAS DE SUÍNOS
As pesquisas com o uso de farelo de algodão em suínos seguem os mesmos padrões das pesquisas do uso de farelo de algodão em aves, ou seja, há trabalhos com digestibilidade, níveis de inclusão, uso de enzimas, entre outros. Como citado na Tabela 1, de composição nutricional e níveis de inclusão de farelo de algodão para aves e suínos conforme as Tabelas Brasileiras de Exigências Nutricionais de Aves e Suínos(10), os níveis de inclusão para suínos são superiores aos níveis de inclusão para aves.
Processos fermentativos diminuem os níveis de gossipol livre, e podem auxiliar na maior inclusão de farelo de algodão em dietas de suínos, assim como ocorre em frangos de corte(23). Em trabalhos com diferentes fontes e formas de farelo de algodão, como o de Ma et al.(23), que trabalhos com três fontes de farelo de algodão (46, 50 e 55 de PB) e o farelo de algodão fermentado para suínos em fase de crescimento, ao contrário dos resultados encontrados para frangos de corte, as fontes de farelo de algodão não fermentadas de 50 e 55% de PB obtiveram menores valores de gossipol livre e maior energia metabolizável que o farelo de algodão fermentado, e nesse experimento, a fermentação não foi capaz de reduzir os níveis de gossipol livre do farelo de algodão. Mas em comparação a digestibilidade da proteína bruta e aminoácidos, o processo de fermentação foi conseguiu melhorar a digestibilidade desses nutrientes, e ficou significativamente superior ao farelo de algodão não fermentado.
Já os níveis de inclusão de farelo de algodão para suínos em fase de crescimento e terminação, Paiano et al.(15) trabalharam com níveis de inclusão de 0 a 15% na dieta. Os resultados encontrados mostraram um desempenho igual dos suínos que consumiram 0 e 15% de farelo de algodão, ou seja, avaliando o desempenho na fase de crescimento pode-se fazer uma inclusão de 15% de farelo de algodão na dieta. Mas na fase de terminação, uma inclusão de 15% de farelo de algodão na ração resultou em um maior consumo diário de ração e uma maior conversão alimentar, resultado esse que foi justificado pela maior inclusão de lipídios para corrigir o menor nível de energia presente no farelo de algodão, que substituiu cerca de 70% do farelo de soja nessa fase.
Em seu trabalho, Paiano et al.(15) não verificaram diferenças na qualidade de carcaça, e recomendaram uma inclusão de farelo de algodão de 15% na fase de crescimento e 10% na fase de terminação. Moreira et al.(24) trabalhando com níveis de inclusão, 0, 8 e 12%, de farelo de algodão para leitões e não encontrou diferenças entre os tratamentos para o desempenho dos leitões de 15 a 30kg e para o hemograma dos leitões, o que demonstra ainda mais a maior a capacidade de adaptação dos suínos, mesmo em fase inicial de criação, para aproveitar o farelo de algodão.
No trabalho de Mello et al.(4) níveis de inclusão de farelo de algodão de 0, 10 e 20%, em dietas de suínos em fase de crescimento e terminação, conseguiu resultados semelhantes aos encontrados por Paiano et al.(15). Em que não houve diferenças significativas entro os tratamentos em relação ao desempenho dos suínos em fase de crescimento e terminação, e além desse resultado, houve uma diminuição da presença de fósforo e nitrogênio nos dejetos de suínos na fase de crescimento e um aumento da matéria seca dos dejetos na fase de terminação, o que sugere um melhor aproveitamento desses nutrientes presentes na dieta na fase de crescimento. Em relação ao aumento na matéria seca dos dejetos, Mello et al.(4) relatam que o maior nível de fibra presente na dieta com 20% de farelo de algodão em relação a dieta controle sem inclusão do farelo de algodão.
Um fator muito importante que vale enfatizar nesse melhor aproveitamento dos nutrientes do farelo de algodão para suínos é em relação a digestibilidade do fósforo. O fosforo é um mineral essencial na formação da estrutura óssea e participa de inúmeros processos metabólicos além de ser o terceiro nutriente mais oneroso nas dietas de aves e suínos(25). E em suínos mesmo com a presença do gossipol que complexa com diversos minerais, não se tem diferença entre coeficiente de digestibilidade do farelo de algodão e o farelo de soja, que fica entre 30 e 40 % nas fases de crescimento e terminação(25).
Já falando a respeito de fêmeas suínas em fase de crescimento e terminação, em um trabalho de Nascimento et al.4 foi visto uma redução significativa do desempenho dos animais com a inclusão de 30% de farelo de algodão na fase de terminação, que influenciou no período total. Além disso, foi verificada uma redução na espessura de toucinho e na área de olho de lombo nas dietas com 30% de inclusão de farelo de algodão.
Acerca do uso de enzimas em dietas de suínos com uso de farelo de algodão, os resultados encontrados não são positivos como os encontrados em trabalhos para frangos de corte. Lorena-Rezende et al.(26) e Kong et al.(27), avaliaram os efeitos do uso de complexos enzimáticos na digestibilidade da dieta e do farelo de algodão respectivamente, e verificaram que não houve melhora na digestibilidade nem das dietas nem no farelo de algodão.
No trabalho de Lorena-Rezende et al.(26), foi utilizado um nível de inclusão de 30%, que como visto em trabalhos como o de Nascimento et al.(3), já traria problemas no desempenho dos animais. Neste trabalho, a inclusão das enzimas digestivas protease e fitase não foram capazes de promover uma melhora da digestibilidade dos nutrientes, os autores associam esse fato ao alto nível de fibra presente no farelo de algodão, que aumenta o transito intestinal e dificulta a ação das enzimas no conteúdo da dieta. Já Kong et al.(27) avaliou a digestibilidade in vitro do farelo de algodão utilizando as enzimas xilanase, protease e fitase, e também não afetou a digestibilidade ileal da matéria seca do farelo de algodão.
Com base na literatura citada, pode-se verificar uma melhor aceitação de dietas com farelo de algodão em níveis de inclusão de até 20%. Deve-se salientar que a inclusão de altos níveis de farelo de algodão, a necessidade de suplementar aminoácidos sintéticos, como por exemplo a lisina e treonina, que são inferiores aos níveis presentes no farelo de soja, fator esse que pode afetar o uso do farelo de algodão, visto que a maior suplementação desses aminoácidos sintéticos, que possuem alto custo, afeta diretamente o preço da dieta(4,15,24).
CONCLUSÕES
O farelo de algodão é uma fonte alternativa ao farelo de soja muito pratica na nutrição de aves e suínos. Ao se trabalhar com farelo de algodão devemos levar em consideração alguns fatores, como inicialmente a caracterização da fonte, principalmente os níveis de proteína bruta, fibra bruta e gossipol. Há muita heterogeneidade nas fontes, sendo encontradas fontes de 30 a 45 % de PB no Brasil, e em países como a China fontes de até 55% de proteína bruta.
Para se trabalhar com o farelo de algodão em frangos de corte, levar em consideração a utilização de níveis abaixo de 6% nas fases iniciais, e 10% nas demais fases. Utilizar enzimas exógenas, principalmente carboidrases e fitase traz resultados positivos para frangos de corte, e o uso do farelo de algodão fermentado possibilita o aumento dos níveis de inclusão para frangos de corte, pois disponibiliza mais os nutrientes e reduz os níveis de gossipol livre.
Já ao utilizar o farelo de algodão em dietas de suínos, podemos ressaltar os maiores níveis que se pode trabalhar, chegando a 20% sem afetar o desempenho, deve-se levar em consideração o custo da maior inclusão de aminoácidos sintéticos ao se trabalhar com níveis mais elevados de farelo de algodão. Além disso vê-se uma maior necessidade de estudos em relação ao uso de enzimas exógenas e do farelo de algodão fermentado na alimentação de suínos para subsidiar melhores conclusões a respeito dos efeitos dessas ferramentas.
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