EMBALAGENS NA CONSERVAÇÃO DE FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-57
Este trabalho foi escrito por:
Laura Martins Fonseca*1; Elder Pacheco da Cruz1; Felipe Nardo dos Santos1; Juliani Buchveitz Pires1; Alvaro Renato Guerra Dias1; Elessandra da Rosa Zavareze1
1 Laboratório de Biopolímeros e Nanotecnologia em Alimentos, Programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia de Alimentos, Universidade Federal de Pelotas – DCTA/FAEM – UFPel
*Laura Martins Fonseca – Email: laura [email protected]
Resumo: No setor de alimentos de origem vegetal as frutas e hortaliças minimamente processadas vêm crescendo no interesse de consumidores por serem ricas nutricionalmente e, ainda, por sua praticidade e conveniência. Entretanto, esses alimentos apresentam curta vida útil devido as etapas que sofrem no seu processamento, como corte e descascamento. Com isso, novas tecnologias de conservação vêm sendo aplicadas, como o uso de embalagens com atmosfera modificada e embalagens ativas. Essas, promovem a conservação dos produtos de origem vegetal que passam por processamento mínimo, mantendo seu valor nutricional, seu teor de compostos bioativos e suas características sensoriais, retardando processos oxidativos e o desenvolvimento de microrganismos deteriorantes e patogênicos. Esta revisão bibliográfica traz uma contextualização sobre frutas e hortaliças minimamente processadas, embalagens com atmosfera modificada e embalagens ativas compilando pesquisas que abordem a aplicação dessas técnicas, bem como perspectivas futuras a cerca deste assunto.
Palavras–chave: Alimentos de origem vegetal; Embalagem ativa; Atmosfera modificada; Processamento mínimo.
Abstract: In the food sector, minimally processed fruits and vegetables have been growing in interest by consumers for their nutrition-rich value and for being practical and economical. However, these processed foods have reduced shelf life due to processing steps such as cutting and peeling. As a result, new preservation technologies are being applied, such as the use of modified atmosphere packaging and active packaging. These packages promote the preservation of fruits and vegetable, which go through the minimum process, by maintaining their nutritional value, its bioactive compound content and sensory characteristics, delaying oxidative processes and the development of pathogenic and spoilage microorganisms. This bibliographic review brings a contextualization regarding minimally processed fruits and vegetables, modified atmosphere packaging, and active packaging. It also brings together research that addresses the application of these techniques, as well as future perspectives.
Key Word: Foods of plant origin; Active packaging; Modified atmosphere packaging; Minimal processing.
INTRODUÇÃO
Os produtos de origem vegetal são ricos em micronutrientes, fibras, entre outros compostos, sendo o suprimento de grande parte da alimentação humana [1]. Eles apresentam alto impacto socioeconômico no mundo e no Brasil, gerando empregos, atendendo as demandas de alimentos e matérias-primas para o mercado interno, além de representarem parte das exportações de produtos do nosso país. Dentre os produtos de origem vegetal, destacam-se as frutas e hortaliças. Estas podem ser consideradas como matérias-primas para produção de polpas, sucos, sopas e diferentes doces, como geleias e balas e, ainda, podem ser minimamente processadas. O beneficiamento de frutas e hortaliças agrega valor à matéria-prima e permite que estas sejam comercializadas por um período maior [1],[2].
Atualmente, em resposta às demandas dos consumidores, o chamado grupo de alimentos minimamente processados ou prontos para o consumo (do inglês “ready to eat”), como frutas e hortaliças frescas embaladas e refeições pré-cozidas, está se tornando cada vez mais populares em todo o mundo. Alimentos como saladas, cenoura, abóbora, misturas de legumes salteados, saladas de frutas e frutas cortadas como abacaxi, melão e maçã, são apenas alguns exemplos desse tipo de produto [2]-[4].
As frutas e hortaliças frescas são altamente recomendadas na dieta humana, uma vez que apresentam rica composição em vitaminas, minerais, compostos fenólicos e fibras, os quais contribuem na prevenção de diversas doenças. Entretanto, quando frescas são altamente perecíveis, e quando minimamente processadas, apresentam ainda menor vida útil. Isso ocorre pois, em geral, as etapas de corte e descascamento causam injúrias que podem levar ao estresse oxidativo, contaminação e aumento na taxa de respiração. Isso tudo desencadeia reações bioquímicas relacionadas às mudanças na cor, aroma, textura e qualidade nutricional [1], [3], [4].
Essa problemática pode ser solucionada pelo uso de embalagens com atmosfera modificada ou embalagens ativas, que apresentem principalmente propriedades antioxidantes e antimicrobianas, utilizadas para conservar e prolongar a vida útil de produtos alimentícios, mantendo seu valor nutricional e sensorial [4], [5]. Neste contexto, os compostos bioativos de origem natural contribuem beneficamente quando aplicados como agentes antioxidantes, principalmente devido à sua capacidade de eliminar radicais oxidantes causadores de deterioração nos alimentos ou ainda aqueles que, quando agem no organismo, causam doenças ao ser humano [1],[6]. Ainda, como agente antimicrobiano retardam ou reduzem o ataque de microrganismos deteriorantes ou patogênicos [4], [7].
Neste contexto, essa revisão da literatura aborda a aplicação de diferentes sistemas de embalagens aplicadas na conservação de frutas e hortaliças minimamente processadas, trazendo pesquisas atuais na área.
FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS
Produtos minimamente processados são definidos como qualquer vegetal que foi fisicamente modificado da forma original (sanitizado, descascado ou cortado), mas que permanece no ”estado fresco”[8]. O mercado de alimentos minimamente processados mostrou um crescimento substancial nas últimas décadas [3]. As principais razões são: (I) reivindicações dos consumidores por alimentos frescos e seguros, (II) facilidade do consumo de frutas e vegetais e (III) conveniência devido à falta de tempo para cozinhar. Isto ocorre porque os alimentos minimamente processados requerem pouco tempo de processamento e, além disso, mantêm suas propriedades nutricionais [2].
A conservação de frutas e hortaliças frescas ou minimamente processadas é um dos maiores desafios para indústrias e cientistas. Isto, por serem produtos que respiram e devem permanecer vivos ao longo de toda a cadeia produtiva. Para retardar alterações fisiológicas e bioquímicas, a redução da respiração é uma alternativa muito utilizada que auxilia prolongando sua vida útil. Ainda, esses vegetais são susceptíveis à deterioração microbiana e oxidativa, o que é agravado pelo processamento mínimo [2],[3].
A substituição do uso de aditivos sintéticos em alimentos está cada vez mais em alta e existe uma grande demanda do consumidor por produtos frescos, práticos, de conveniência, seguros e com maior vida útil. Neste contexto, a conservação de frutas e hortaliças frescas ou minimamente processadas constitui um dos ramos mais desafiadores devido sua alta perecibilidade [2], [3], [9]. Assim, novas técnicas de conservação vêm sendo utilizadas, havendo um crescimento na indústria de embalagens de alimentos, as quais vem desenvolvendo soluções inovadoras que atendam a conservação, prolongando sua vida útil, mantendo sua qualidade e segurança.
EMBALAGENS NA CONSERVAÇÃO DE FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS
A comercialização de frutas e hortaliças minimamente processadas apesar de conveniente, tem a problemática da curta vida útil desses vegetais por uma série de alterações fisiológicas associadas ao estresse por injúria, aumentando as taxas de respiração e a produção de etileno (C2H4). Com isso, seu amadurecimento é acelerado, promovendo o escurecimento da superfície cortada, aumentando a produção de metabólitos secundários e sabores estranhos. Ainda, observa-se a degradação da parede celular e amolecimento. Para controlar essas alterações, diferentes técnicas vêm sendo alvo de pesquisas e aplicadas pelas indústrias, alguns exemplos são: pré-resfriamento, embalagem com atmosfera modificada e embalagens ativas, como as com emissores de compostos antimicrobianos ou absorvedores de etileno [9]-[11].
Segundo Alvarez et al. [9] a mistura de frutas na preparação de minimamente processados leva a alterações fisiológicas que modificam atributos de qualidade e composição antioxidante. Estes autores avaliaram um mix de frutas cortadas embaladas (kiwi, manga, laranja e abacaxi) de acordo com a qualidade e as alterações hormonais durante um período de 6 dias em armazenamento refrigerado. O corte das frutas levou a perdas rápidas de teor de água e firmeza, aumentando como consequência as taxas de respiração. Quanto a mistura das frutas, esta alterou os parâmetros de qualidade, retardando a perda de firmeza em mangas, laranjas e abacaxis, e aumentando a relação açúcar/ácidos ao longo do tempo. O teor de vitamina C em manga e laranja na mistura aumentou, enquanto o teor de fenóis totais em laranja e abacaxi diminuiu [9]. Com isso, os autores enfatizam a necessidade de técnicas para conservação de mix de frutas prontas para consumo, assim o uso de embalagens inovadoras é promissor.
Diversas pesquisas são encontradas na literatura abordando o uso de embalagens na conservação de frutas e hortaliças minimamente processadas, como embalagens com atmosfera modificada passiva utilizando diferentes polímeros [10], [11], embalagens com atmosfera modificada ativa [2], [12], [13] e embalagens ativas [3], [7], [14], [15]. Estes estudos são sumarizados na Tabela 1 e expostos nos tópicos a seguir.
EMBALAGENS COM ATMOSFERA MODIFICADA NA CONSERVAÇÃO DE FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS
Embalagens com atmosfera modificada formam uma combinação de gases, sendo os mais comuns o oxigênio (O2), o dióxido de carbono (CO2) e o nitrogênio (N2). Estas embalagens visam promover uma respiração mais lenta de produtos frescos ou minimamente processados e retardar sua deterioração. Vale ressaltar que não existe uma atmosfera única recomendada para produtos de origem vegetal, uma vez que as condições ambientais ideais variam de acordo com a espécie, variedade e processamento [2], [19].
Para acondicionamento de alimentos em embalagens com atmosfera modificada, são utilizadas máquinas de acondicionamento eficientes e materiais de embalagem com permeabilidade seletiva e controlada, mantendo os gases em proporções constantes ou dentro de determinados limites [12],[19]. As embalagens com atmosfera modificada são classificadas em passivas e ativas. A modificação passiva é mais utilizada para alimentos de origem vegetal frescos, uma vez que esses apresentam, no geral, uma taxa de respiração alta. Assim, é formado um sistema com alta concentração de CO2 e baixa de O2 e esses gases vão evoluindo passivamente dentro da embalagem devido a respiração do produto. Essa abordagem faz uso de polímeros com permeabilidade ao gás onde o O2 suficiente pode entrar na embalagem para ocorrência de respiração anaeróbica, e o excesso de CO2 se difunde da embalagem para evitar níveis perigosamente altos [13],[19].
Em contrapartida, para as com atmosfera modificada ativa, mais de um método é aplicado. Pode ser promovida pela remoção do ar dentro da embalagem usando um vácuo seguido da adição de uma mistura de gases desejada. Ainda, pode ser aplicada sem a utilização de vácuo e com uma mistura de gases injetada na embalagem onde o ar é varrido ou expelido imediatamente antes da vedação, resultando em níveis residuais de O2 de 2 à 5%. As embalagens de atmosfera passiva levam tempos mais longos (em torno de uma semana) para atingir a composição gasosa, enquanto as com atmosfera ativa a modificação ocorre imediatamente [2], [19].
Paulsen et al. [13], avaliaram tomates cereja minimamente processados embalados em atmosfera modificada passiva. Foram retirados os pedúnculos e logo os tomates foram lavados, sanitizados em solução de hipoclorito de sódio (NaClO) 100 mg.L−1, enxaguados, secos e embalados em atmosfera modificada passiva. Os materiais utilizados para as embalagens foram diferentes filmes poliméricos: polietileno (PE), polietileno perfurado (PEp) e polipropileno perfurado (PPp). Os filmes contendo os tomates foram selados com injeção de ar e armazenados no escuro a 7 °C por 21 dias, sendo feitas avaliações em 0, 7, 14 e 21 dias de armazenamento.
Na pesquisa de Paulsen et al. [13], as embalagens atingiram concentrações de equilíbrio entre 14–19 kPa e 2–3 kPa de O2 e CO2, respectivamente. Uma modificação moderada da atmosfera foi suficiente para reduzir a taxa de respiração, refletindo na conservação pós-colheita do tomate cereja pronto para consumo. Foram obtidas reduções na perda de peso e na deterioração sensorial em relação ao controle (tomate não embalado). Os parâmetros de cor e firmeza, foram mantidos com a firmeza permanecendo constante nos tomates acondicionados nas embalagens com atmosfera modificada (parâmetro que mostrou uma perda de 37% para os tomates controle). Ainda, as menores concentrações de O2 obtidas com embalagens de PE (14,2 kPa) resultaram na maior retenção de firmeza e maior redução da taxa de respiração. Quanto à qualidade sensorial, os tomates cereja embalados em PE apresentaram vida útil de pelo menos 21 dias a 7 °C, sendo essa a condição que os autores indicam para armazenamento refrigerado pós-colheita de tomate cereja [13].
Paulsen et al. [12] avaliaram o efeito da temperatura no teor de glicosinolatos e na vida útil de brócolis minimamente processados embalados em atmosfera modificada passiva. Os brócolis foram lavados, desinfetados, embalados em PP e armazenados a diferentes temperaturas de 4, 8 e 15 °C por 21 dias. Foram avaliadas a perda de peso, composição da atmosfera da embalagem, taxa de respiração, cor, textura, teor de glicosinolatos, capacidade antioxidante e atributos sensoriais. Ao final dos 21 dias, a temperatura de armazenamento de 4 °C conservou a qualidade sensorial, textura, conteúdo de glicosinolatos total e capacidade antioxidante. Quando armazenados a 15 °C ocorreu a perda de conteúdo total de glicosinolatos e o brócolis apresentou qualidade sensorial inaceitável. A utilização de embalagem com atmosfera modificada controlou os efeitos da temperatura de armazenamento, sendo promissora na temperatura de 8 °C, a qual mostrou retenção do conteúdo total de glucosinolatos e valores mais elevados de capacidade antioxidante. Assim, a atmosfera modificada é uma tecnologia apropriada para prolongar a vida útil de brócolis minimamente processados [12].
A vida útil de morangos minimamente processados foi avaliada por Paulsen et al. [11] utilizando embalagens com baixo custo produzidas em seis diferentes condições: polímeros polietileno (PE), polipropileno (PP) e polietileno tereftalato (PET) em sistemas de atmosferas passiva e ativa (controlando O2, CO2 e N2) à temperatura de armazenamento de 5 °C. Os morangos foram lavados, cortados para remover a haste e desinfetados com NaClO. Durante o tempo de armazenamento a atmosfera interna da embalagem, os atributos gerais de qualidade e a estabilidade microbiológica foram acompanhados. Os três polímeros resultaram em embalagens adequadas, sendo que, tanto para a atmosfera passiva quando ativa, os morangos alcançaram vida útil de até 9 dias, avaliada por atributos sensoriais ou crescimento fúngico. Ademais, os resultados mostraram que o uso de atmosfera modificada ativa não apresentou aumento na vida útil em comparação com a atmosfera passiva [11].
A qualidade de arilos de romã minimamente processados foi avaliada por Moradinezhad et al. [16] utilizando revestimento de ácido ascórbico combinado com o uso de embalagem com atmosfera modificada (ativa e passiva). Os arilos de romã foram tratados com e sem o uso de revestimento com posterior armazenamento em recipientes de PP. Para a embalagem ativa, foram utilizadas combinações de O2, CO2 e N2 em diferentes concentrações. Para todos os tratamentos, foram utilizadas temperaturas de refrigeração (3 ºC) e as amostras foram avaliadas durante 25 dias de armazenamento. Como resultados, os autores relataram que o uso de embalagem com atmosfera modificada ativa (maiores concentrações de O2 ou CO2 com revestimento de ácido ascórbico) mantiveram a qualidade sensorial e prolongaram a vida útil de arilos de romã em até 20 dias de armazenamento a 3 ºC, apresentando números aceitáveis em relação às análises sensorial e antimicrobiana.
O efeito de diferentes concentrações dos gases O2 e CO2 na conservação de berinjelas minimamente processadas foi alvo do estudo de Nasser et al. [17] formando uma embalagem com atmosfera modificada ativa. As berinjelas foram higienizadas, processadas e embaladas em nylon e polietileno transparente, mantidas em refrigeração e umidade relativa controlada, por 10 dias. Diante dos resultados, a atmosfera com maior concentração de CO2 (8%) reduziu intensamente a taxa respiratória das berinjelas minimamente processadas e as mantidas a 4% O2 + 6% CO2 apresentaram melhores notas na análise visual e intenção de compra no período de 10 dias. Para as que foram embaladas somente a vácuo houve intenção de compra mais baixa.
Revestimento de quitosana combinado com o uso de embalagem com atmosfera modificada ativa para pepino minimamente processado foram avaliados por Olawuyi et al. [8]. A quitosana foi utilizada nas concentrações de 0, 1 e 2% para a elaboração dos revestimentos, os tratamentos foram embalados em embalagem modificada com presença de ar, N2 ou argônio (Ar) durante 12 dias de armazenamento a 5 ºC. Os autores relataram que a quitosana teve efeito significativo em relação a qualidade do pepino e que o uso de embalagem modificada a base de Ar foi mais eficaz em relação às embalagens modificadas a base de ar ou N2. O uso de ar retardou a respiração dos tecidos, alterações fisiológicas e alteração de cor, bem como aumentou a vida útil do pepino minimamente processado durante os 12 dias de armazenamento.
EMBALAGENS ATIVAS NA CONSERVAÇÃO DE FRUTAS E HORTALIÇAS MINIMAMENTE PROCESSADAS
As embalagens ativas de alimentos vêm sendo estudadas por protegerem e interagirem com os alimentos, aumentando sua vida útil [7], [20]. Essas embalagens são formadas com a inserção de sachês ou etiquetas contendo agentes bioativos ou pela incorporação desses agentes diretamente na matriz polimérica da embalagem, como pelo uso de filmes bioativos ou ainda revestimentos comestíveis. Diversos tipos de agentes bioativos podem ser utilizados, como óleos essenciais, extratos fenólicos ou compostos bioativos isolados. Sua ação pode ser por contato direto com o alimento ou pela ação dos voláteis [4], [7]. Ainda, esses agentes bioativos podem ser obtidos pelo aproveitamento de subprodutos vegetais como a elaboração de extrato fenólico da casca de pinhão [21], [22] e óleo essencial da casca de laranja [20], ambos com atividades antioxidante e antimicrobiana.
Os compostos bioativos apresentam alta degradação frente a elementos externos, assim sua encapsulação é uma alternativa promissora prolongando sua ação, sendo essa mais efetiva quando em comparação com o composto aplicado na forma livre [21]–[23].
As embalagens ativas antimicrobianas são uma das principais inovações aplicadas na conservação de alimentos, sendo utilizadas para frutas e hortaliças minimamente processadas [4], [7]. Um exemplo disto é o estudo de Viacava et al. [3] que microencapsularam óleo essencial de tomilho para formação de embalagem ativa para conservação de alface minimamente processada. Para encapsulação foi utilizado um complexo de inclusão formado pelo óleo essencial e β-ciclodextrina, o qual foi preparado pela técnica de co-precipitação. A alface foi armazenada na embalagem ativa sob refrigeração por 12 dias. A aplicação de embalagem ativa aumentou a vida útil da alface e ao longo do tempo de armazenamento notou-se aumento do conteúdo fitoquímico e da atividade antioxidante. O óleo essencial de tomilho microencapsulado apresentou efeito bacteriostático frente a bactérias mesófilas e psicrotróficas e redução da contagem de Enterobacteriaceae, leveduras e bolores durante todo o período de armazenamento [3].
Chen et al. [14] utilizaram óleo essencial de gengibre em nanoemulsões para conservação de melões minimamente processados. As nanoemulsões foram produzidas pela técnica de ultrassom e o óleo essencial de gengibre foi incorporado na concentração de 0,5% e aplicado como revestimento. Os revestimentos apresentaram excelente estabilidade e a adição de óleo essencial nas emulsões manteve os atributos de qualidade durante o armazenamento do melão minimamente processado a 4 °C. O teor de sólidos solúveis totais e a perda de peso foram reduzidos em 6,4% e 3,7%, respectivamente. A capacidade antioxidante e o teor de vitamina C no melão aumentaram mais de 56%. Além disso, foi inibido o desenvolvimento microbiano após 10 dias de armazenamento [14].
Kim e Min [18] investigaram a inativação de Salmonella em repolho minimamente processado acondicionado em PET usando um tratamento integrado na embalagem com plasma frio e peróxido de hidrogênio (H2O2). No estudo, as fatias de repolho foram cortadas sendo retirada a porção branca. As fatias foram lavadas com NaClO a 300 ppm por 3 min, enxaguadas com água destilada e secas em capela de risco biológico antes da inoculação com Salmonella. Para elaboração da embalagem, o H2O2 foi adicionado em almofadas de PP nas concentrações de 3, 10, 20 e 30%, respectivamente, as quais foram incorporadas na embalagem de PET. O sistema de tratamento de plasma frio por descarga em barreira dielétrica à pressão atmosférica foi aplicado nas fatias de repolho por 1, 2 e 3 min para determinar os efeitos do tempo de tratamento na inativação de Salmonella. Com o aumento no tempo de tratamento ocorreu uma redução nas contagens de Salmonella e, com o aumento na quantidade de H2O2 aplicada, maior foi a redução. Foi encontrado aumento na concentração de malondialdeído nas fatias e não houve influência na atividade antioxidante nem na cor [18].
O uso de embalagem ativa na conservação de alface minimamente processada foi estudado por Llana-Ruíz-Cabello [15]. A embalagem foi elaborada com ácido polilático (PLA) e succinato de polibutileno (PBS) por extrusão incorporando diferentes concentrações de óleo essencial de orégano (0, 2, 5 e 10%). A alface foi armazenada nas embalagens a 4 ºC por 8 dias. Os autores avaliaram o teor de ácidos graxos poliinsaturados e fitoesteróis dietéticos, os quais foram mantidos quando a alface foi acondicionada na embalagem ativa contendo 5 e 10% de óleo essencial de orégano até os 8 dias de armazenamento [15].
É crescente o uso de embalagens com atmosfera modificada e ativas para acondicionamento de alimentos tanto de origem vegetal quanto animal. Frente ao exposto pelas pesquisas supracitadas, podemos observar que essas embalagens são promissoras para serem inseridas no mercado na conservação de frutas e hortaliças minimamente processadas aumentando sua vida útil.
CONCLUSÕES E PERSPECTIVAS FUTURAS
Produtos minimamente processados geralmente apresentam vida útil reduzida, com isso novas tecnologias vêm sendo desenvolvidas afim de preservar as características relacionadas a esses produtos. O uso de embalagens ativas e com atmosfera modificada (tanto ativa quanto passiva) mostrou-se efetivo para a conservação de frutas e hortaliças minimamente processadas, aumentando a vida útil e mantendo suas características o mais próximo do vegetal fresco. Diversos estudos foram relatados nessa revisão bibliográfica e todos demonstram alta efetividade das embalagens aplicadas, apresentando poucas alterações em relação as propriedades bioquímicas e microbiológicas após o período de armazenamento e sob refrigeração, resultando em um produto minimamente processado com vida útil prolongada.
Além de aumentar a vida útil, muitos desses sistemas de embalagens não agregam custo elevado ao produto. Com isso, espera-se o crescimento das pesquisas nessa área e a aplicação dessas embalagens no comércio de frutos e hortaliças. Pesquisas futuras relacionadas ao desenvolvimento de novas embalagens para produtos minimamente processados devem ser mais exploradas. Sugere-se o desenvolvimento de filmes biodegradáveis incorporados com agentes bioativos naturais, tanto na sua forma livre ou encapsulada, podendo ser uma alternativa promissora e eficaz de substituição do uso de filmes plásticos convencionais para embalagens desses produtos.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Universidade Federal de Pelotas, UFPel, à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES (001), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPQ (306378/2015-9) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (BR) – FAPERGS (17/255100009126).
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