DESAFIOS NA PRODUÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO DO MORANGUEIRO: REVISÃO DE LITERATURA
Capítulo de livro publicado no livro do II Congresso Brasileiro de Produção Animal e Vegetal: “Produção Animal e Vegetal: Inovações e Atualidades – Vol. 2“. Para acessá-lo clique aqui.
DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062039-52
Este trabalho foi escrito por:
Cristiane Hauck Wendel*¹; Marcela Padilha Iastremski²
1,2 Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO)
*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]
Resumo: A cultura do morango no Brasil vem se destacando nos últimos anos, com grande potencial de consumo, permitindo ao produtor uma alta rentabilidade. O morango apresenta características que agradam o consumidor devido ao seu paladar apreciado, cor atraente e odor caraterístico. A aquisição de mudas importadas é um dos principais gargalos na cadeia produtiva, pois são cotadas em dólar, tornando o cultivo com elevado custo de produção. Além disso, as mudas importadas podem apresentar incidência de pragas e doenças, devido a qualidade fitossanitária. O potencial produtivo das mudas utilizadas, está relacionado com a adaptabilidade às condições edafoclimáticas da região a ser cultivada, podendo interferir negativamente na produtividade e nas características físico-química na pós-colheita, consequentemente reduzindo a rentabilidade. Os programas de melhoramento genético buscam desenvolver cultivares nacionais adaptadas as condições edafoclimáticas, com resistência a pragas e doenças, boa qualidade físico-química, maior produtividade e rentabilidade, reduzindo a dependência de cultivares importadas. A eficiência nos programas de melhoramento está no conhecimento da variabilidade genética de um banco de germoplasma, sendo realizado pela caracterização genética dos genótipos, podendo ser elucidados por marcadores moleculares, os quais baseiam-se na análise do DNA. O objetivo do trabalho é verificar que o cultivo de morango no Brasil vem aumentando significativamente anualmente, porém há uma dificuldade enfrentada pelos produtores rurais durante aquisição das mudas, pois estas, são oriundas de importação. Diante isso, destaca-se a importância dos programas de melhoramento genético, os quais possuem como ferramenta, o uso de marcadores moleculares, os quais auxiliam nos cruzamentos de genótipos promissores.
Palavras-chave: adaptabilidade;Fragaria L.; marcadores moleculares; mudas; produtividade
Abstract: The strawberry crop in Brazil has been highlighted in recent years, with great potential for consumption, allowing the producer a high profitability. The strawberry has characteristics that please the consumer due to its appreciated taste, attractive color and characteristic odor. The acquisition of imported seedlings is one of the main bottlenecks in the production chain, as they are quoted in dollars, making the cultivation with a high production cost. In addition, imported seedlings may present incidence of pests and diseases, due to phytosanitary quality. The productive potential of the seedlings used is related to the adaptability to the soil and climate conditions of the region to be cultivated, which can negatively affect productivity and physical-chemical characteristics in the post-harvest, consequently reducing profitability. Genetic improvement programs seek to develop national cultivars adapted to soil and climate conditions, with resistance to pests and diseases, good physical-chemical quality, greater productivity and profitability, reducing dependence on imported cultivars. The efficiency in breeding programs lies in the knowledge of the genetic variability of a germplasm bank, being carried out by the genetic characterization of genotypes, which can be elucidated by molecular markers, which are based on DNA analysis. The objective of the work is to verify that the strawberry cultivation in Brazil has been increasing significantly annually, but there is a difficulty faced by rural producers during the acquisition of seedlings, as these are imported. In view of this, the importance of genetic improvement programs is highlighted, which have as a tool, the use of molecular markers, which help in the crossing of promising genotypes.
Key Word: adaptability; Fragaria L.; molecular markers; seedlings; yield
INTRODUÇÃO
A cultura do morango (Fragaria X ananassa) apresenta grande importância no cenário socioeconômico do Brasil e do mundo, sendo produzido, em pequena a média escala, desde a agricultura familiar até grandes sistemas produtivos com altas tecnologias. A cultura destaca-se devido à alta rentabilidade e demanda de mão-de-obra, possibilitando a geração de empregos (1). O morango possui grande aceitação no mercado consumidor, pois o fruto contém características atrativas como coloração, paladar apreciado com sabor excepcional, odor característico, e versatilidade de uso.
Amplamente cultivado no mundo, a produção mundial do morango está em torno de 8.871.255 toneladas, sendo a China com 3.336.690 toneladas, Estados Unidos com 1.055.963 toneladas, Egito com 597.029 toneladas e México com 557.514 toneladas (2). A produção no Brasil, foi em torno de 218.881 toneladas, com cerca de 5.279 hectares de áreas cultivada, apresentando uma produtividade de 41 t ha-1. Os estados de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo são líderes em produção, representando aproximadamente 85% da produção nacional. No Paraná, a produção total atingiu 30.000 toneladas, com 861 hectares de área cultivada. As cidades com maiores áreas de cultivos de morango, localizam-se na Região Metropolitana de Curitiba (Araucária, Colombo, São José dos Pinhais, Almirante Tamandaré, Contenda), seguido de Norte Pioneiro (Jaboti, Pinhalão e Conselheiro Mairink), Umuarama, Ponta Grossa, Maringá, Cascavel, Francisco Beltrão, Londrina e Campo Mourão. O estado de São Paulo, a produção total atingiu 13.801 toneladas, com 421 hectares de área cultivada (3–6).
Atualmente, produtores brasileiros realizam a aquisição das mudas de cultivares importadas da Argentina e Chile para o cultivo do morango, as quais provém de programas de melhoramento genético dos Estados Unidos, Itália e Espanha. O uso dessas cultivares importadas no Brasil, na maioria das vezes, apresentam baixa adaptabilidade as condições edafoclimáticas do país, resultando na baixa produtividade e diminuição da rentabilidade dos agricultores. Os riscos fitossanitários podem interferir na eficácia das mudas importadas, pois pode ocorrer a presença de patógenos nas mudas. Além disso, a necessidade do uso de mudas importadas no Brasil, que são cotadas em dólar, ocasiona a elevação dos custos de produção (7,8).
Outra questão que está relacionado a aquisição de mudas importadas, é atraso na entrega dessas mudas, comprometendo o plantio dentro da sazonalidade climática. Dessa forma, o principal objetivo dos programas de melhoramento genético no Brasil, é o desenvolvimento de cultivares nacionais adaptadas as condições edafoclimáticas com resistência a pragas e doenças, que obterão uma maior produtividade, oferecendo maior
viabilidade ao produtor de morango, devido a redução dos custos de produção (8).
O morango é uma espécie octaploide, e possui uma extensa variabilidade genética. A eficiência nos programas de melhoramento é o conhecimento da variabilidade genética em um banco de germoplasma. A caracterização genética dos genótipos, podem ser elucidado por marcadores moleculares, os quais baseiam-se na análise do DNA e por descritores morfológicos e agronômicos, que possibilitam analisar as diferenças fenotípicas entre os genótipos. A associação das informações obtidas pelos marcadores moleculares e caracterização morfoagronômica auxiliam nos programas de melhoramento genético para a decisão dos genitores mais eficazes ao desenvolvimento dos genótipos superiores (9–11).
Diante do aumento significativo do cultivo de morango no Brasil que ocorre anualmente, e das dificuldades enfrentadas pelos produtores rurais durante aquisição das mudas, pois estas, são oriundas de importação. O objetivo dessa revisão é destacar a importância dos programas de melhoramento genético, os quais utilizam como ferramenta, o uso de marcadores moleculares, auxiliando nos cruzamentos de genótipos promissores, possibilitando o desenvolvimento de cultivares brasileiras.
IMPORTÂNCIA ECONÔMICA E SOCIAL DO MORANGO
A cultura do morango vem ganhando destaque atualmente, como uma das principais frutas plantadas e consumidas no Brasil e no mundo, ocasionando uma crescente demanda na comercialização. Na sua composição, possui característica que agrada ao consumidor, apresentando paladar apreciado, cor atraente, odor característico e tem versatilidade de uso. Além disso, o fruto apresenta fonte de compostos fenólicos como antocianinas, vitamina C e E, β-caroteno e compostos bioativos. O pseudofruto é consumido in natura ou industrializado, com diversidade de uso como geleias, sorvetes, chocolates, biscoitos, iogurtes, entre outros (12,13).
Apresenta grande importância socioeconômica em escala mundial, sendo produzido em pequena a média escala, desde a agricultura familiar até sistemas produtivos altamente tecnificados. Devido a necessidade de grande quantidade de mão-de-obra, em especial durante a colheita, possibilita altos números de empregos na região que se desenvolve. No Brasil, a cultura do morango tem papel fundamental na agricultura familiar, diversificando as propriedades rurais e aumentando a fonte de renda do pequeno agricultor (14–16).
A produção de morango obteve um aumento significativo no mundo nos últimos anos, consequentemente houve um acréscimo não somente em áreas cultivadas, como em adoções de novas tecnologias, promovendo assim, um maior rendimento. A produção de morango no Brasil expande-se anualmente, representando cerca de 40% da área total de produção na América do Sul e as propriedades que o cultivam, apresentam uma área média que variam de 0,5 a 1,0 hectares. Embora, também são verificadas grandes empresas que possuem áreas maiores de 15 hectares contínuos de plantio de morango.
Os estados brasileiros com maior área de cultivo e produtividade, são Minas Gerais com 2100 ha e 84.000 toneladas, Paraná 861 ha e 30.000 toneladas, Rio Grande do Sul com 518 ha e 21.763 toneladas, São Paulo com 421 ha e 13.801 toneladas, Espirito Santo com 247 ha e 8.510 toneladas, Santa Catarina com 225 ha e 9.900 toneladas e Distrito Federal com 200 ha com 7.400 toneladas, respectivamente. O estado de Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo são responsáveis por 85% da produção nacional, sendo o estado de Minas Gerais líder em produção, com 50% da produção brasileira (3,6).
No Paraná, a produção total foi de 30 mil toneladas, com produções superiores localizadas nos municípios da Região Metropolitana de Curitiba (São José dos Pinhais, Colombo, Araucária, Almirante Tamandaré, Mandirituba, Contenda e Lapa), Norte Pioneiro (Jaboti), e nas cidades de Umuarama, Ponta Grossa, Maringá, Cascavel, Francisco Beltrão, Londrina e Campo Mourão (4). O estado de São Paulo apresentou aumentos significativos de produção na década de 60, pois o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) foi o pioneiro no Programa de Melhoramento Genético de Morangos, com o lançamento da cultivar Campinas. Sendo assim, a produção aumentou seis vezes mais, devido ao cultivo de clones e técnicas de produção de matrizes isentas de vírus e adaptadas a condições de clima e solo do Brasil. Após alguns anos, novas cultivares foram lançadas como Guarani, Monte Alegre, Princesa Isabel, porém há mais de 30 anos não lança uma nova cultivar (17).
Alguns fatores são limitantes em relação a produção do morango no Brasil, dificultando o aumento na produção nacional. Dentre eles, destacam-se o uso de mudas importadas, causando um impacto econômico na cadeia produtiva do morango, devido ao elevado custo, que são cotadas em dólares. Sendo assim, a aquisição de mudas importadas consiste em 80 % do valor do custo de produção por unidade de área. Além disso, com a alta do dólar, também houve alta nos preços dos insumos agrícolas (fertilizantes, fitossanitários), filme plásticos, embalagens utilizadas na cultura do morango. A alta dos juros nos investimentos em insumos produtivos, tornaram-se inviáveis, o que resulta na escassez de créditos e diminuindo os programas que incentivam à cultura do morango.
Agricultores relatam que algumas empresas importadoras não cumprem com o prazo correto na entrega das mudas, interferindo de forma negativa, pois não conseguem efetuar o plantio dentro da sazonalidade climática. Os produtores também observaram que a aquisição de mudas importadas, apresentaram a introdução de doenças e pragas que até então não eram relatadas no Brasil, resultando em maiores danos ao sistema produtivo, devido a necessidade do uso com maior frequência de agrotóxicos, causando baixas produtividades e comprometendo a rentabilidade do produtor com prejuízos.
ASPECTOS FISIOLÓGICOS E GENEALOGIA DAS CULTIVARES
Os fatores ambientais como a temperatura e fotoperíodo, influenciam no comportamento fisiológico da cultura, podendo interferir de forma negativa o desenvolvimento vegetativo, determinando a produção de estolões, tamanho da folha e comprimento do pecíolo, indução floral e qualidade dos frutos (18,19). De acordo com a resposta das plantas em relação a esses fatores ambientais, há cultivares sensíveis ao fotoperíodo, e são classificadas como cultivares de dia curto, dias longos e dias neutros. Cultivares de dias longos não são utilizadas no Brasil, somente as cultivares de dias curtos e dias neutros. As cultivares de dias curtos, necessitam de um período de luz inferior a 14 horas e temperaturas inferiores a 15 ºC para que haja a indução floral. As cultivares de dias neutros, independem do fotoperíodo, porém a eficácia da produção, está relacionada com a temperatura. Sendo assim, sob condições de temperaturas mais elevadas, ocorre o favorecimento do desenvolvimento vegetativo, ou seja, a emissão dos estolhos (20).
Cultivares que foram submetidas a diferentes condições de fotoperíodo e temperatura, obtiveram resultados eficientes relacionados a emissão dos estolões em temperaturas mais elevadas e dia longo. Altas temperaturas além de favorecer o desenvolvimento de estolões, afetam a frutificação, comprometendo as características físico-químicas do fruto, apresentando maior acidez, baixa firmeza e pobre em sabor (19,21).
Temperaturas noturnas mais baixas e maior variação diárias de temperatura, são fundamentais para a floração. Outros fatores também influenciam na resposta ao fotoperíodo como o genótipo, temperatura e frigorificação das mudas. O comportamento fisiológico do morango está extremamente relacionado com temperatura e fotoperíodo, pois a medida que a temperatura e o fotoperíodo decrescem, a atividade fisiológica vai diminuindo até entrar em dormência, a qual só é quebrada quando atinge um determinado número de horas de frio, variando de pouco mais de cem horas até mil horas, variando conforme a cultivar, com temperaturas abaixo de 7,2 ºC (22,23).
Cultivares de dia curto, não supre a produção de morangos nos meses mais quentes do ano, sendo assim, a utilização das cultivares de dias neutros vem aumentando significativamente. O cultivo de morango pode ser tanto em regiões frias quanto em regiões de climas tropicais e subtropicais, devido ao desenvolvimento de cultivares com diferentes graus de adaptação ecológica, fotoperíodo diferenciado e sistemas diferentes de manejo. A adaptabilidade de uma cultivar em uma determinada região é expressa pela interação genótipo-ambiente (23,24). A utilização de cultivares adaptadas para cada região é um fator de extrema importância para o cultivo do morango, sendo um fator limitante, devido suas exigências ao fotoperíodo, número de horas de frio e temperatura, que variam em função do material genético. Portanto a escolha da cultivar é a questão-chave para a eficácia de produção de morangos em diferentes sistemas de cultivos e adaptabilidade ao local a ser cultivado (21).
As principais cultivares que vem sendo utilizadas no Brasil são provenientes de programas de melhoramento de outros países como, Estados Unidos, Itália e Espanha. Entre as cultivares de dias curtos mais plantadas no Brasil estão Camarosa, Camino Real, Oso Grande, Festival Florida, Palomar, Mercedes, Fronteras e as cultivares de dia neutro são Aromas, Albion e San Andreas, além de Portola e Monterey, entre outras (8,25).
MELHORAMENTO GENÉTICO DO MORANGUEIRO
O morango que é cultivado na atualidade (Fragaria x ananassa) teve origem por hibridização entre as espécies americanas F. chiloensis e F. virginiana, que houve de forma espontânea na França, quando as espécies foram cultivadas lado a lado no mesmo jardim, possibilitando a polinização cruzada. Sendo assim, resultou-se em frutos com o gosto ácido do abacaxi, aromáticas, maior tamanho, firmeza do fruto e polpa vermelha, características diferenciadas dos morangos que vinham sendo cultivados (26–28).
O primeiro pesquisador que trabalhou com melhoramento genético foi Antoine Nicolas Duchesne, em 1766, razão pela qual, ficou conhecida como Fragaria x ananassa Duchesne (Duch). O biólogo e pesquisador descreveu 18 variedades de morango cultivados na Europa e mais de 10 espécies: Fragaria x ananassa Duch., F. semperflorence, F. vesca, F. hortensis, F. efflagellis, F. monophylla, F. viridis, F. moschata, F. chiloensis e F. virginiana (29,30).
O morango apresenta 7 cromossomos básicos, são comuns em todas as espécies e quatro níveis de ploidia: diploides, tetraploides, hexaploides e octoploides. Na Ámerica do Norte, são encontradas espécies octoplóides, na Europa e Ásia as espécies diploides, tetraploides e hexaploides (31). Os diferentes níveis de ploidia dificulta a compreensão da filogenia de Fragaria. A primeira fórmula genômica (AABBBBCC), foi apresentada por Federova (1946), e na sequência (AAA’A’BBBB) por Senanayake e Bringhurst (1967) e (AAA’A’BBB’B) por Bringhurst (1990). De acordo com base em sequências de genes cloroplastos e características morfológicos em estudos recentes, a fórmula genômica pode ser representada por (YYY’Y’ZZZZ/YYYYZZZZ) (32). O morango comercial octaploide possui em seu genoma 813.4 megabases (Mb), distribuídas em 28 pseudocromossomos, com 108.87 genes codificadores de proteínas e 30.703 genes que codificam RNAs (33).
Em 1817, na Inglaterra, Thomas A. Knight, utilizou as espécies F. virginiana e F. chiloensis, e obteve as duas primeiras cultivares comerciais ‘Dowton’ e ‘Elton’. A partir deste período, o melhoramento expandiu-se para França, Alemanha e Estados Unidos. Vários países europeus dão ênfase ao programa de melhoramento genético, sendo os mais importantes na França, Itália, Holanda, Espanha e Reino Unido. Nos países americanos, os programas de melhoramento situam-se nos Estados Unidos, na Universidade da Califórnia e na Universidade da Flórida (5,34).
No Brasil, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), foi o pioneiro no programa de melhoramento genético de morangos, tendo início em 1941. Com aumentos significativos de produção na década de 60, devido ao cultivo de clones e técnicas de produção de matrizes isentas de vírus, adaptadas a condições de solo e clima do Brasil, a produção aumentou aproximadamente seis vezes mais, sendo essa época o lançamento das cultivar Campinas. Após alguns anos, houve o lançamento das cultivares Guarani, Monte Alegre, Princesa Isabel. Na região sul do país, o programa de melhoramento teve início em 1950, na Estação Experimental de Pelotas, atual Embrapa Clima Temperado, onde foram importados mudas e aquênios dos Estados Unidos, dando origem as cultivares Konvoy, Princesa e Cascatas. Em 1990, novas cultivares foram lançadas Vila Nova, Santa Clara e Burkley (17).
O programa de melhoramento da Embrapa foi suspenso na década de 1990 e retomado em 2008. O IAC conservou seu programa ativo, porém não houve o lançamento de novas cultivares. Atualmente, as cultivares utilizadas no Brasil, são de programas de melhoramento genético de outros países, o que leva uma grande dependência e uma imensa vulnerabilidade do setor. Em 2014, a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC-CAV) em conjunto com o CREA-FRF (Council for Agricultural Research and Economics, Fruit Tree Research Unit of Forlì) deram início a um novo programa de melhoramento genético do morango com o intuito de lançar cultivares adaptadas as condições edafoclimáticas das regiões brasileiras (7).
Algumas instituições brasileiras como Universidade Federal de Lavras (UFLA), Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (UNICENTRO), Universidade Estadual de Londrina (UEL), Universidade do Oeste Paulista (UNOESTE) e Embrapa Clima Temperado tem desenvolvido genótipos adaptados a condições climáticas e de solo (8). Em 2016, foi registrado no Ministério da Agricultura uma nova cultivar, denominada PRA Estiva, cruzamento convencional entre as cultivares Diamante x Cartuno x Aromas, a qual foi desenvolvida por um agricultor da região do Sul de Minas Gerais.
As características de extrema importância que são consideradas no programa de melhoramento genético no morangueiro são: produtividade, vigor, resistência a pragas e doenças, capacidade de adaptação as condições edafoclimáticas da região de cultivo e aos diferentes sistemas de produção, produzindo frutos com firmeza, uniformes, cor vermelho intenso com alto teor de sólidos solúveis (8,35). A hibridização entre as cultivares é o principal método utilizado no melhoramento genético do morango para a obtenção de genótipos com alto desempenho e características desejáveis (36).
Na sequência dos cruzamentos, os genótipos são estudados, clonados e realizados sucessivos cruzamentos para aperfeiçoar a frequência de alelos favoráveis. Finalmente os clones selecionados são submetidos a testes de adaptabilidade e estabilidade, definindo quais serão lançados no mercado (37). O conhecimento das informações genéticas do germoplasma é fundamental no programa de melhoramento genético sendo obtido pelo estudo de divergência genética, utilizando métodos de caracteres morfoagronômicos e marcadores moleculares (38).
MARCADORES MOLECULARES NO MELHORAMENTO GENÉTICO
A caracterização de genótipos com marcadores moleculares, com base no DNA, proporciona maior conhecimento do germoplasma, possibilitando a determinação do nível de divergência genética e padrão molecular para cada cultivar, auxiliando no delineamento racional de cruzamentos para obtenção de cultivares superiores em curto prazo (39). A divergência genética permite no programa de melhoramento genético, a caracterização dos genótipos possibilitando a identificação de genes envolvidos em características agronômicas de interesse, como aumento da produtividade, adaptação as condições edafoclimáticas, qualidade dos frutos (40). Essa caracterização pode ser estimada com base em métodos preditivos através de marcadores agronômicos, morfológicos, bioquímicos e moleculares. Mesmo sendo utilizados em programas de melhoramento, os marcadores agronômicos são limitantes, pois são facilmente influenciados pelo ambiente (41,42).
A eficácia no programa de melhoramento está relacionada com conhecimento da diversidade genética do germoplasma, disponibilizando ao melhorista condições para desenvolver novas cultivares que possuem caracteres desejáveis tais como a resistência a pragas e doenças, adaptabilidade e alta produtividade. A diversidade genética permite selecionar genótipos superiores para serem utilizados como progenitores no programa de hibridação (43).
O uso de marcadores moleculares concede a identificação de polimorfismo com base na amplificação de sequências de DNA de diferentes tamanhos, permitindo uma discriminação eficiente, inclusive entre indivíduos morfologicamente idênticos, porém geneticamente diferentes. Sendo assim, é possível verificar a diversidade genética entre as cultivares, independente do estágio fisiológico ou órgão da planta avaliado (44,45).
Atualmente, vários marcadores moleculares são utilizados para o estudo da caracterização dos genótipos, como o Randon Amplified Polimorphic DNA (RAPD), Amplified fragment length polymorphism (AFLP), Inter simple sequence repeat (ISSR) e microssatélites (Simple Sequence Repeat – SSR). Os marcadores RAPD são mais viáveis a serem utilizados, porém apresentam problemas de repetibilidade (46). Nos marcadores AFLP, é necessário alta repetibilidade com custos elevados. No entanto, os marcadores ISSR e SSR são amplamente utilizados para estudos de genética molecular do morango (47,48).
Os marcadores ISSR são baseados na técnica de PCR (reação de cadeia de polimerase), envolvendo a amplificação de fragmentos de DNA, variando de tamanho, com regiões genômicas de 100 a 3000 pb. Nesse método, é utilizado um único primer (16 a 25 pb de comprimento) constituídos a partir de duas regiões de microssatélites repetidos e opostas. Gera um alto nível de polimorfismo, por ser um marcador dominante e utilizar sequências simples repetida como oligonucleotídeos iniciador. Estes marcadores, apresentam vantagens, pois geram quantidade significativa de banda informativa, sendo desnecessário o conhecimento prévio da sequência do DNA do material a ser estudado. Além disso, consiste em alta repetibilidade, custo médio, obtendo resultados rápidos, com eficácia e confiabilidade (39,49).
Os marcadores SSR são os mais polimórficos e constituem de partes de DNA formado de sequências de um a cinco nucleotídeos que se repetem. As sequências repetitivas são flanqueadas em sequências únicas. Para a utilização como marcadores, primers complementares às sequências únicas que flanqueiam os microssatélites são utilizados em PCR, onde os primers consistem de 18 a 24 nucletídeos, um número considerável grande para que este primer não agrupe-se com outra sequência complementar que não a do microssatélite (50). A vantagem desses marcadores sobre os demais, é por apresentar expressão co-dominante, onde ambos os alelos de um indivíduo heterozigoto são visualizados e apresentam com alta frequência, uma distribuição uniforme permitindo uma cobertura ao longo de todo genoma (51).
Em estudos de valores de similaridade verificado em dados de marcadores ISSR foram maiores quando comparados com RAPD em 24 cultivares de morango, mesmo apresentando resultados semelhantes em ambas as técnicas (52). Alguns autores mencionam que para alcançar valores semelhantes de similaridade entre os marcadores, foi preciso um número de seis vezes a mais de primers RAPD (53). Ao utilizarem 11 cultivares de morango, foi verificado que as médias de similaridades dos marcadores ISSR e RAPD foram de 62% e 46%, respectivamente (38). Segundo pesquisas com polimorfismo, foi observado 75,2% de polimorfismo em 44 cultivares e clones de morango, utilizando seis pares de primers AFLP (9), enquanto que outros autores, em estudos realizados com 10 pares de primers AFLP, constataram 58,8 % de polimorfismo entre 70 amostras de morango (54).
Ao verificar três cultivares, quatro híbridos e nove genótipos silvestres, foi observado a média de 16 fragmentos amplicados por primer ISSR com 95% de polimorfismo (55). Ao utilizar 14 primers UBC-ISSR autores observaram a média da taxa de banda polimórfica de 80,14% em 52 genótipos de morangos derivados de F1, sendo verificados com seus genitores similaridade de 20% entre o grupo das cultivares e o grupo dos híbridos (56).
CONCLUSÃO
O cultivo de morango tende a aumentar cada vez mais com o decorrer dos anos e como os produtores rurais são dependentes de mudas importadas, há uma necessidade de que os programas de melhoramento genéticos busquem desenvolver cultivares nacionais com características de adaptabilidade as condições edafoclimáticas, resistência a pragas e doenças, qualidade físico-química, que resulta em maior produtividade e rentabilidade. Sendo assim, os programas de melhoramento genético na cultura do morango apresentam uma extrema importância para o desenvolvimento de genótipos promissores.
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