Back

ALTERAÇÕES NA MICROBIOTA INTESTINAL NO TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO: UMA REVISÃO

Fernanda Fatima Costa Maciel1; Nágila Cintia de Medeiros Silva2; Lauany Maria dos Santos Barreto3; Mayany Carolyny Germano de Araújo4; Mayara Gabrielly Germano de Araújo5

1Estudante do Curso de Nutrição – CES – UFCG; E-mail: [email protected], 2Estudante do Curso de Nutrição – CES – UFCG; E-mail: [email protected], 3Estudante do Curso de Nutrição – CES – UFCG; E-mail: [email protected], 4Estudante do Curso de Nutrição – CES – UFCG; E-mail: [email protected], 5Nutricionista Residente em Atenção à Saúde da Criança – HUOL – UFRN. E-mail: [email protected].

Resumo: Estudos mostraram, no decorrer dos últimos anos, diversas alterações na microbiota intestinal, especialmente na de crianças que possuem o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Essas alterações favorecem a incidência de sintomas gastrointestinais e alterações comportamentais. O objetivo desta revisão é analisar as alterações que ocorrem na microbiota intestinal dos indivíduos que possuem autismo. A literatura mostrou que a relação do eixo microbiota-intestino-cérebro induz alterações na microbiota de crianças que apresentam predisposição genética para TEA. Além disso, esse eixo pode influenciar no aumento dos sinais de estresse, ansiedade e episódios de raiva. Ademais, a disbiose também pode suscitar alterações importantes no Sistema Nervoso Central (SNC), de modo a modular negativamente os comportamentos e emoções, o seu papel adicional em crianças com TEA é propiciar ativação do sistema imunológico e liberação de citocinas no SNC. Por fim, pesquisas mostraram que ainda não existem terapias definitivas ou de efeito eficaz para o TEA, mas o uso de algumas medidas terapêuticas, como a ingestão oral de prebióticos e probióticos, provaram ser benéficos à saúde dessas crianças.

Palavras-chave: alterações; microbiota intestinal; sintomas; transtorno do espectro do autismo.

INTRODUÇÃO

Segundo estudos, a microbiota intestinal é uma comunidade microbiana formada por cerca de trilhões de micro-organismos, ou seja, com diferentes espécies de bactérias, fungos e vírus (FATTORUSSO et al., 2019; MANGIOLA et al., 2016). Concomitante a isso, a microbiota intestinal desempenha um papel fundamental tanto na saúde quanto na doença e está diretamente relacionada à idade cronológica de cada ser humano, ligando-se diretamente ao metabolismo do indivíduo, através de diferentes mecanismos (ANGELIS et al., 2015; FATTORUSSO et al., 2019).

Ademais, pesquisas demonstram que existem alterações na composição da microbiota intestinal em crianças que apresentam o TEA, as quais podem favorecer sintomas gastrointestinais, como constipação, diarreia, distensão abdominal, dor abdominal, refluxo, vômitos, gases, fezes com odor fétido e alergias alimentares (FATTORUSSO et al., 2019; SRIKANTHA; MOHAJERI, 2019).

O TEA se caracteriza como um conjunto de alterações neurocomportamentais do desenvolvimento, descritas principalmente por comportamento restrito e repetitivo, interação social e comunicação prejudicadas (MANGIOLA et al., 2016). Em relação ao desenvolvimento do TEA, existem alguns fatores associados, como: os genéticos e ambientais, a exemplo das deficiências nutricionais, exposição a vírus, sistemas imunológicos disfuncionais e alergias (FATTORUSSO et al., 2019).

            Diante do exposto, objetivou-se revisar, na literatura científica, as alterações presentes na microbiota intestinal de pessoas que convivem com o autismo, bem como suas implicações, com o intuito de ressaltar a importância dessa temática, visto que é pouco estudada.

METODOLOGIA

O presente estudo trata-se de uma revisão da literatura científica. Foram utilizadas, para o levantamento bibliográfico, as bases de dados PubMed, SciELO e Google Acadêmico, utilizaram-se os seguintes descritores: “Intestinal microbiota in ASD”, “ASD and intestinal microbiota” e “changes in the intestinal microbiota in autismo”, com o auxílio dos operadores booleanos “AND” e “OR”. Foram selecionados os artigos científicos e dissertações dos últimos cinco anos, tanto na língua portuguesa quanto inglesa. Os resultados passaram por um sistema de filtragem para sua seleção e inclusão no trabalho, sendo eles: 1) análise dos títulos dos trabalhos; 2) leitura dos resumos; 3) análise da conclusão e, por fim, 4) leitura do trabalho na íntegra.

EIXO MICROBIOTA-INTESTINO-CÉREBRO NO TEA

O eixo microbiota-intestino-cérebro descreve a conexão fisiológica bidirecional para a troca de informações entre a microbiota, o intestino e o cérebro, foi no século passado que surgiram as primeiras hipóteses sobre a correlação entre esses sistemas (SRIKANTHA; MOHAJERI, 2019). Ademais, considera-se a hipótese de que há uma ligação entre o TEA e a microbiota intestinal, pois muitas crianças autistas apresentam problemas gastrointestinais concomitantes (MANGIOLA et al., 2016).

A relação do eixo microbiota-intestino-cérebro no público infantil sugere a hipótese de que crianças que apresentam alterações na microbiota com problemas gastrointestinais e possuírem predisposição genética para TEA tenham facilidade de expressar o fenótipo do autismo ou o aumento de sintomas neurocomportamentais, como ansiedade, estresse e episódios de raiva (BENTO et al., 2020; FATTORUSSO et al., 2019).

DISBIOSE EM PACIENTES COM TEA

A disbiose se caracteriza por uma composição microbiana alterada no intestino, que favorece a prevalência dos micróbios patogênicos em relação aos benéficos. Aliado a isso, a disbiose é frequentemente observada em diversas doenças, como: Doença Inflamatória Intestinal (DII), síndrome do intestino irritável, diabetes e obesidade, acne, alergia, doença cardiovascular, estresse, depressão, doença de Alzheimer, esclerose múltipla, doença de Parkinson e TEA. Visto isso, pesquisas mostram que a disbiose, assim como os sintomas gastrointestinais, são quatro vezes mais prevalentes em crianças com TEA em comparação com a população normal (SRIKANTHA; MOHAJERI, 2019).

Em acréscimo, a disbiose possui influência no SNC, modulando emoções e comportamentos (FATTORUSSO et al., 2019). Conforme visto por Angeliset al. (2015), a disbiose é frequentemente associada a uma ruptura da barreira mucosa, causando alteração na permeabilidade intestinal, levando a um estado de “intestino permeável”, assim, observa-se o aumento da permeabilidade intestinal em pacientes com TEA. Além disso, algumas lesões intestinais aumentam a permeabilidade intestinal a peptídeos exógenos de origem alimentar ou a peptídeos neurotóxicos de origem bacteriana, os quais podem levar à interrupção dos mecanismos neurorregulatórios e ao desenvolvimento normal do cérebro, contribuindo assim para os sintomas autistas.

Ainda relacionado a disbiose, estudos mostram que pacientes que convivem com o autismo apresentaram em suas fezes uma proporção significativamente diminuída dos filos Bacteroidetes e Firmicutes, assim como as bactérias Escherichia coli, Bifidobacterium, Fusobacterium, Oscillospira, Sporobacter, Streptococcus e Subdoligranulum e Collinsella spp. No entanto, foram encontradas concentrações elevadas de bactérias Akkermansia muciniphila, Anaerofilum, Barnesiella intestinihominis, Clostridium spp, Dorea spp, além da família Enterobacteriaceae, Faecalibacterium spp, Roseburia spp, Excrementihominis parasutterella, Prevotella copri, Prevotella oris e Turicibacter spp (ANGELIS et al., 2015; SRIKANTHA; MOHAJERI, 2019). Quanto a isso, entende-se que essas quantidades diferentes de micro-organismos que compõem a microbiota intestinal se relacionam a sintomatologia do TEA, dado que quanto mais desregulada estiver a microbiota mais sintomas serão recorrentes em crianças que apresentam autismo (ANGELIS et al., 2015).

POSSÍVEIS MEDIDAS TERAPÊUTICAS FRENTE À MICROBIOTA INTESTINAL NO TEA

            Ainda não existem terapias definitivas ou de efeito eficaz para o TEA, mas há tratamentos aprovados e recomendados que incluem reabilitação, terapia nutricional, educacional e abordagens psicofarmacológicas (SRIKANTHA; MOHAJERI, 2019). Os componentes dietéticos são reconhecidos como um dos principais moduladores externos da microbiota intestinal humana (ANGELIS et al., 2015). Nesse sentido, indivíduos que cursam com o autismo podem se beneficiar de algumas intervenções dietéticas, mas, pelas restrições impostas, podem ser de difícil manejo, dado que o indivíduo com TEA apresenta comportamentos alimentares diferenciados, caracterizado pela preferência por carboidratos simples, lanches e alimentos processados, além disso, rejeitam a maioria das frutas e vegetais, promovendo deficiências de vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais (FATTORUSSO et al., 2019).

           Ainda, estudos apontam que para uso terapêutico é possível à administração oral de pre/probióticos (FATTORUSSO et al., 2019; SRIKANTHA; MOHAJERI, 2019). Os prebióticos, a exemplo dos galacto-oligossacarídeos, são compostos não digeríveis que serão metabolizados no trato intestinal, corroborando com a proliferação de bactérias intestinais benéficas, estes mostraram efeito biogênico tanto em crianças autistas quanto não autistas. Além disso, foi comprovada a eficiência em suprimir respostas ao estresse.Já os probióticos são micro-organismos vivos e não patogênicos que fornecem benefícios à saúde do indivíduo em variadas condições, como: obesidade, DII, câncer colorretal e doenças neurológicas. Ademais, também se observou que os probióticos promovem a redução dos sintomas comportamentais em crianças com TEA (FATTORUSSO et al., 2019).

CONCLUSÕES

            Evidencia-se a importância de investigar e adquirir respostas sobre as alterações presentes na microbiota intestinal em crianças portadoras do autismo, de modo a aprofundar os estudos nessa temática, visto que a modulação da microbiota intestinal por meio da nutrição, incluindo a utilização de prebióticos e probióticos, pode trazer benefícios para esses indivíduos, como o controle dos sintomas, embora demande um trabalho contínuo e a necessidade de atividades de educação alimentar e nutricional (perante a seletividade alimentar/dificuldades alimentares). Vale destacar que ainda é pouco o que se encontra na literatura acerca do tema, assim, restam lacunas no entendimento e manejo da disbiose intestinal em crianças com autismo.

REFERÊNCIAS

ANGELIS, M. et al. Autism spectrum disorders and intestinal microbiota. Gut Microbes, v. 6, n. 3, p. 207-213, 2015.

BENTO, G. et al. Impacto da microbiota intestinal no comportamento das crianças com transtorno do espectro autista (TEA). In: Anais da Semana de Pesquisa da UNIT-SEMPESq, Alagoas, n. 8, 2020. Disponível em: https://eventos.set.edu.br/al_sempesq/article/view/13681. Acesso em: 20 mai. 2021.

FATTORUSSO, A. et al. Autism spectrum disorders and the gut microbiota. Nutrients, v. 11, n. 3, p. 521 – 545, 2019.

MANGIOLA, F. et al. Gut microbiota in autism and mood disorders. World Journal Gastroenterology, v. 22, n. 1, p. 361-368, 2016.

SRIKANTHA, P.; MOHAJERI, M. H. The Possible Role of the Microbiota-Gut-Brain-Axis in Autism Spectrum Disorder. International Journal of Molecular Sciences, v. 20, n. 9, p. 2115, 2019.

Leave A Reply

//
//
Jaelyson Max
Atendimento Agron

Me envie sua dúvida ou problema, estou aqui para te ajudar!

Atendimento 100% humanizado!