Back

RECICLAGEM DE FOLHAS DE BANANEIRAS E BAGAÇO DE CANA PARA PRODUÇÃO DE ‘COGUMELO OSTRA ROSA’ EM AREIA, PB

Capítulo de livro publicado no livro do VIII ENAG E CITAG. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/9786585062046-54

Este trabalho foi escrito por:

Sabrina Alves da Silva*; Jhonatan Rafael Zárate-Salazar  ; Háimyk Andressa Nóbrega de Souza; Rossana Lucena de Medeiros; Matheus Henrique Cardoso de Araújo; Nayara Kelly Alves Costa; Bruno de Oliveira Dias

*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]

Resumo

A reciclagem dos principais resíduos agronômicos da cidade de Areia, PB utilizados no cultivo de cogumelos comestíveis torna-se uma alternativa sustentável para o brejo paraibano. Dessa forma, objetivou-se avaliar o uso de folhas de bananeira e bagaço de cana na formulação do substrato de cultivo para caracterizar produtivamente uma espécie local de ‘cogumelo ostra rosa’ (Pleurotus djamor). O experimento foi conduzido sob um DIC de cinco tratamentos com cinco repetições. Os tratamentos foram constituídos de 100%, 75%, 50%, 25% e 0% (tratamento controle) de bagaço de cana complementadas percentualmente (%, m/m) com folhas de bananeiras. Foram analisados crescimento micelial (cm dia-1), precocidade (dias), eficiência biológica (%) e perda de matéria orgânica (%). Os resultados foram analisados estatisticamente com a ANOVA e o teste de Tukey a 5% de significância (P<0,05). Os resultados indicaram que o tratamento 75% bagaço de cana reduz em 25% a velocidade do crescimento micelial e promoveu em 40% a perda de matéria orgânica em relação ao tratamento controle, onde o fungo se mostrou com maior precocidade. Conclui-se que a adição de folhas de bananeiras ao bagaço de cana induz a precocidade e reduz o crescimento micelial, assim torna-se recomendável o cultivo deste cogumelo na região.

Palavras–chave: biodegradação; eficiência biológica; Pleurotus djamor; resíduos agronômicos

Abstract

The recycling of the main agronomic wastes of the city of Areia, PB used in the edible mushrooms cultivation means a sustainable alternative for the Paraíba region. Thus, we aimed to evaluate the use of banana leaves and sugarcane bagasse in the formulation of the cultivation substrate to perform productive analysis of a local species of ‘pink oyster mushroom’ (Pleurotus djamor). The experiment was conducted under a CRD of five treatments with five replications. The treatments consisted of 100%, 75%, 50%, 25% and 0% (control treatment) of sugarcane bagasse complemented in percentage (%, m/m) with banana leaves. We analyzed mycelial growth (cm day-1), precocity (days), biological efficiency (%) and organic matter loss (%). The results were statistically analyzed using ANOVA and Tukey’s test at 5% significance (P<0.05). The results indicated that the 75% sugarcane bagasse treatment reduced the speed of mycelial growth by 25% and promoted the organic matter loss by 40% compared to the control treatment, where the fungus was more precocious. We conclude that the addition of banana leaves to sugarcane bagasse induces the earliness and reduces mycelial growth, in this sense we recommend the cultivation of this kind mushroom in the region of Paraíba.

Keywords: Agronomic wastes; Biodegradation; Biological efficiency; Pleurotus djamor

INTRODUÇÃO

Os principais cultivos agrícolas da Paraíba são a cana de açúcar e banana, representando 34% e 31% da área produzida das lavouras temporárias e permanentes do Estado, respectivamente (1, 2, 3). Dessa forma, alternativas compatíveis à produção sustentável no aproveitamento dos resíduos agronômicos gerados por estas lavouras são necessárias para o desenvolvimento socioeconômico e ambiental (4, 5).

 Uma alternativa seria utilizar os resíduos agronômicos como substrato para o cultivo de cogumelos comestíveis, pois se trata de um sistema de bioconversão ecológica que transforma materiais lignocelulósicos em alimento nutritivo e, quando inserido em um sistema de economia circular (zero waste), é capaz de retornar ao meio ambiente substratos biodegradados úteis como adubo orgânico do solo, ração animal e para o tratamento de águas contaminadas  (6, 7, 8, 9).

Por apresentam maior adaptabilidade a diversos substratos lignocelulósicos e ampla faixa de temperatura, as espécies do gênero Pleurotus são consideradas de fácil cultivo e baixo custo(10) Deste gênero apenas  4 espécies, P. ostreatus, P. djamor, P. eryngii e P. pulmonarius, são as mais comercializadas. A espécie Pleurotus djamor conhecida como ‘cogumelo ostra rosa’ se destaca por apresentar  diversas propriedades antioxidantes e pela capacidade de se desenvolver em climas quentes como o nordeste brasileiro (10).

Caracterizar produtivamente espécies locais de P. djamor assim como verificar a formulação do substrato de cultivo com base no uso de bagaço de cana e folhas de bananeira nos permitirá promover a transferência de tecnologia para o agricultor familiar permitindo obter uma nova fonte de renda e um insumo que pode ser utilizado na sua atividade agrícola.

Nesse contexto, objetivou-se avaliar o uso de folhas de bananeira e bagaço de cana para formulação do substrato de cultivo para a produção do cogumelo ostra rosa, espécie local coletada na cidade de Areia, PB.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo

O experimento foi conduzido no módulo de cultivo de cogumelos do GPEC (Grupo de Pesquisa & Produção de Cogumelos Comestíveis), localizado no Centro de Ciências Agrárias da UFPB, Campus II, Areia.

Material Biológico

O cultivo de cogumelos foi realizado com a cepa PDJ/R2-UFPB de Pleurotus djamor, material biológico em processo de caracterização produtiva, oriundo da cidade de Areia, PB, o qual foi coletado, propagado e conservado pelo GPEC.

Preparação das formulações

As formulações para o cultivo de cogumelos foram preparadas em 120 g de massa seca considerando a mistura percentual (%, m/m) de 0%, 25%, 50%, 75% e 100% bagaço de cana complementadas com folhas de bananeira, suplementadas com 10 g de farinha de trigo e 10 g de serragem. Em seguida, as formulações foram ensacadas em sacos de polipropileno de 20 cm x 30 cm, umedecidos a 70% de umidade com água destilada e esterilizados em autoclaves a 121°C, 101.3 kPa durante 1 hora.

Cultivo de cogumelos

O cultivo de cogumelos foi realizado de acordo com a metodologia de Estrada e Pecchia (11). Desse modo, depois de umedecidas e esterilizadas, as formulações foram inoculadas a 3% de taxa de inoculação, incubados a 24,89 ± 0,27°C e 94,24 ± 3,85% UR e induzidos para frutificação a 23,29 ± 1,61°C e 96,80 ± 4,95 % UR. O período produtivo foi concluído no segundo fluxo de colheitas, logo os substratos pós-cultivo de cogumelos foram secos em estufa a 60ºC até atingir peso constante. Durante o cultivo foram descartados pacotes de cultivo que ultrapassaram mais do 50% de contaminação.

Delineamento experimental

A condução do experimento foi realizada sob um delineamento inteiramente casualizado (DIC) considerando-se cinco tratamentos: 100% (100BG), 75% (75BG), 50% (50BG), 25% (25BG), 0% (controle) de bagaço de cana complementados percentualmente com folhas de bananeira (%, m/m) e cinco repetições totalizando 25 unidades experimentais, em que uma unidade experimental foi constituída por  um pacote de cultivo de 120 g da formulação inoculada com P. djamor (PDJ/R2-UFPB).

Análises estatísticas

No experimento foram avaliados o crescimento micelial em substrato (cm-1 dia), a precocidade (dias) para o obter uma colheita após indução, eficiência biológica (%) e a perda de matéria orgânica (%). Dos resultados foram verificados os pressupostos de normalidade com o teste de Shapiro-Wilk e homogeneidade de variâncias com teste de Bartlett, quando aceitos (P≥0,05), foram submetidos à ANOVA e, se significativo, as médias foram analisadas com o teste de Tukey a 5% de significância (P<0,05).

RELATO DE EXPERIÊNCIA

Para o crescimento micelial no substrato (Tabela 1), verificou-se que o tratamento de 75BG (CM = 3,08 cm dia-1) foi significativo e 25% maior que o tratamento controle (CM = 2,45 cm dia-1), tratamento 25BG (CM = 2,24 cm dia-1) e o tratamento 50BG (CM = 2,04 cm dia), tratamentos estes que não apresentaram diferenças significativas entre si. O crescimento micelial pode ser influenciado pela  origem,  granulometria e  composição química dos substratos (12), de modo que os resultados sugerem que a adição de folhas de bananeira aumenta a disponibilidade de nutrientes para o desenvolvimento micelial.

Analisando a precocidade (Tabela 1), tempo de obter uma colheita após indução, observa-se que o tratamento 25BG (PD = 7,0 dias) e o tratamento controle (PD = 7,0 dias) foram significativamente mais precoces que os tratamentos 50BG (PD = 15,33 dias) e 75BG (PD = 11,17 dias) em 2,0 e 1,5 vezes, respectivamente. Com esse resultado, infere-se que a adição de folhas de bananeiras aumentaria a precocidade de Pleurotus djamor, tal como foi observado em Pleurotus florida (13).

Na eficiência biológica, observou-se que não existem diferenças significativas entre os tratamentos, de modo que as proporções de bagaço de cana e folhas de bananeira independem entre si para a produção de cogumelos que foi em média de 32% de cogumelos frescos por matéria seca do substrato. Isso pode estar relacionado a características genéticas da cepa (14).

Em relação à perda de matéria orgânica (Tabela 1), foi verificado que o tratamento 75BG (PMO = 44,60%) apresentou até 40% mais degradação da matéria orgânica que o tratamento controle (PMO = 31,95%), 25BG (PMO = 33,50%) e 50BG (PMO = 36,09%), demonstrando uma vez mais, que a adição de folhas de bananeira ao bagaço de cana aumentou os teores de celulose e hemicelulose do substrato (15), estimulando a capacidade do fungo em degradar o substrato.

Ressalta-se que todas as unidades experimentais do tratamento 100BG foram descartadas, pois ultrapassaram 50% de contaminação. Esse efeito pode estar relacionado com falhas no período produtivo que favoreceram o desenvolvimento de organismos antagonistas, tornando-se esta experiência fundamental para aprimorar as técnicas de inoculação, incubação, indução e frutificação de cogumelos (11).

CONCLUSÕES

Perante as evidências observadas nos resultados, conclui-se que a adição de folhas de bananeiras na formulação com bagaço de cana estimula a precocidade de Pleurotus djamor, mas reduz o crescimento micelial no substrato. Por outro lado, a maior proporção de bagaço de cana induz o aumento da perda de matéria orgânica do substrato de cultivo provocada pelo fungo. O cultivo da cepa local de P. djamor é recomendada para região do brejo paraibano.

AGRADECIMENTOS

Ao Grupo de Pesquisa e Produção de Cogumelos Comestíveis (GPEC), Universidade Federal da Paraíba, Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e ao Programa de Educação Tutorial PetAgrobio.

REFERÊNCIAS

  1. Pereira A, Hungria C, Rosário R, David E, Viana J, Silva Júnior O, et al. Avaliação da concentração da produção de banana e dinâmica da comercialização da fruta in natura no Estado do Pará. Agronegócio: técnicas, inovação e gestão. 2021; 92:103.
  2. Florentino JT. Pragas e doenças associadas à cultura da bananeira no Estado da Paraíba [Trabalho de Conclusão de Curso]. Areia: Universidade Federal da Paraíba; 2020.
  3. Estados e Cidades. Principais Municípios Produtores de Banana na Paraíba [Internet]. 2020 [01/10/2022]. Disponível em https://www.estadosecidades.com.br/pb/pb_producao-banana.html.
  4. Ramos e Paula LE. Produção e Avaliação de Briquetes de Resíduos Lignocelulósicos. [Dissertação]. Lavras: Universidade Federal de Lavras 2010.
  5. Sales G, Carvalho T, Rosa T, Júnior E, Viana J, Francisco A. Prospecção Tecnológica de Métodos e de Técnicas da Economia Circular Aplicados ao Desenvolvimento Econômico Sustentável. Cadernos de Prospecção. 2020;14(2):502-502.
  6. Albertó, E. Cultivo intensivo de los hongos comestibles: cómo cultivar champiñones, girgolas, shiitake y otras especies.1. ed. Artmed; 2008.
  7. Mahari W, Peng W, Feng X, Nam W, Yang H, Lee X et al. A review on valorization of oyster or mushroom and waste generated in the mushroom cultivation industry. Journal of Hazardous Materials. 2020;400:1-50.
  8. Hanafi F, Rezania S, Taib M, Din M, Yamauchi M, Sakamoto et al. Environmentally sustainable applications of agro-based spent mushroom substrate (SMS): an overview. Journal of Material Cycles and Waste Management.2018;20(3):1383-1396.
  9. Grimm D, Wõsten A. Mushroom cultivation in the circular economy. Applied Microbiology and Biotechnology. 2018; 102(18):7795-7803.
  10. Royse D, Sánchez J. Produção Mundial de setas Pleurotus spp con énfasis en países Iberoamericano In: Royse D, Sánchez J (eds) La Biol. o Cultiv. y las propriedades Nutr. e Med. las setas Pleurotus spp. Chiapas, México DF: ECOSUR, 2017. 17–24.
  11. Estrada A, Pecchia J. Cultivation of Pleurotus ostreatus In Edible and Medicinal Mushrooms. 2017. 339-360.
  12. Belletti M, Fiorda Fiorde H, Teixeira G,Ávila S et al. Factors affecting mushroom Pleurotus spp. Saudi Journal of Biological Sciences.2019;26(4): 633–646
  13. Figueiró G, Graciolli L. Influência da composição química do substrato no cultivo de Pleurotus florida. Ciência e Agrotecnologia. 2011; 35:924-930.
  14. Zárate-Salazar J, Santos M, Caballero E, Martins O, Herrera À. Use of a lignocellulosic corn and rice wastes substrates for oyster mushrooms (Pleurotus ostreatus jacq.) cultivation. SN applied Sciences. 2020; 2(11):1-10.
  15. Sturion,G. Utilização da folha da bananeira como substrato para o cultivo de cogumelos comestíveis (Pleurotus spp.) [Tese]. São Paulo: Universidade de São Paulo; 1994.

Fundada em 2020, a Agron tem como missão ajudar profissionais a terem experiências imersivas em ciência e tecnologia dos alimentos por meio de cursos e eventos, além das barreiras geográficas e sociais.

Leave A Reply

//
//
Jaelyson Max
Atendimento Agron

Me envie sua dúvida ou problema, estou aqui para te ajudar!

Atendimento 100% humanizado!