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QUALIDADE PÓS-COLHEITA DE PLANTA ALIMENTÍCIA NÃO CONVENCIONAL: CAXI (Lagenaria siceraria)

Capítulo de livro publicado no livro do I Congresso Latino-Americano de Segurança de Alimentos. Para acessa-lo  clique aqui.

DOI: https://doi.org/10.53934/08082023-09

Este trabalho foi escrito por:

Ricardo de Morais Mendes ; Ariane Cristina de Almeida Ciríaco ; Emmerson Rodrigues de Moraes ; Suzane Martins Ferreira ; Nayana Ribeiro Soares ; Vania Silva Carvalho*

*Autor correspondente (Corresponding author) – Email: [email protected]

Resumo: O caxi (Lagenaria siceraria) é uma hortaliça não convencional pouco conhecida pela maioria da população. Estudos sobre suas propriedades nutricionais e pós-colheita são escassos. Portanto, objetivou-se através deste trabalho avaliar a composição físico-química e vida de prateleira em diferentes condições de armazenamento (temperaturas ambiente, de refrigeração e de congelamento) em frutos de Lagenaria siceraria, após a colheita. As avaliações foram realizadas nos tempos 0, 2,4 e 6 dias e nas temperaturas de -8, 5 e 25°C. A acidez total encontrada variou de 0,04 a 0,07%, no fruto, onde o maior valor foi observado no dia 4 para todas as condições de armazenamento. Entretanto, não houve diferença significativa (p<0,05) para os teores encontrados nos diferentes períodos e condições de avaliação. O teor de umidade variou de 91,25 a 93,01 onde o maior teor encontrado foi no armazenamento em temperatura ambiente no dia 6 de armazenamento. O fruto, apresenta um grande potencial para enriquecer a dieta da população tendo em vista o fácil cultivo além de apresentar boa qualidade pós-colheita em relação ao pH, °Brix e acidez total titulável, em diferentes condições de armazenamento.

Palavras–chave: PANC’s, umidade, vida de prateleira

Abstract: Caxi (Lagenaria siceraria) is an unconventional vegetable little known by the majority of the population. Studies on its nutritional and post-harvest properties are scarce. Therefore, the objective of this work was to evaluate the physical-chemical composition and shelf life under different storage conditions (ambient, refrigeration and freezing tempereratures) in Lagenaria siceraria fruits, after harvest. The evaluations were carried out at times 0, 2.4 and 6 days and at temperatures of -8, 5 and 25°C. The total acidity found ranged from 0.04 to 0.07% in the fruit, where the highest value was observed on day 4 for all storage conditions. However, there was no significant difference (p<0.05) for the contents found in the different evaluation periods and conditions. Moisture content ranged from 91.25 to 93.01 where the highest content was found in storage at room temperature on day 6 of storage. The fruit has a great potential to enrich the population’s diet in view of easy cultivation, in addition to presenting good post-harvest quality in relation to pH, °Brix and titratable total acidity in different storage conditions.

Keywords: UFP’s; moisture; shelf life

INTRODUÇÃO

As hortaliças de um modo geral, são os principais fornecedores de vitaminas, sais minerais e fibras, com grande importância na alimentação humana (1). O consumo de forma regular de frutas, verduras e hortaliças proporciona ação benéfica a saúde do homem. Estudos demonstram que o efeito protetor exercido pelo consumo desses alimentos se deve a presença de componentes bioativos como a vitamina C, a vitamina E, e fitoquímicos com ação antioxidante, dentre os quais se destacam os compostos fenólicos, β-caroteno e vários outros carotenoides (2, 3, 4, 5, 6 e 7).

Entretanto, com a globalização, a procura e o consumo de alimentos industrializados cresceu muito, e consequentemente, houve diminuição do cultivo e o consumo de hortaliças (convencionais e não convencionais) entre todas as classes sociais em decorrência das mudanças significativas no padrão alimentar dos brasileiros (8).

Mesmo sabendo que ainda há uma carência em relação ao estudo das hortaliças não convencionais, sabe-se que essas espécies possuem uma grande importância ecológica, genética, econômica e cultural nas sociedades onde estão distribuídas (9). Em geral, apresentam baixo custo, fácil cultivo e expressivo valor nutricional, são pouco afetadas por pragas e doenças, adequando-se facilmente a cultivos orgânicos e agroecológicos. Além de ser uma alternativa para a melhoria do conteúdo de alguns nutrientes na dieta de pessoas de pouco poder aquisitivo, substituindo alimentos de alto custo (8).

Devido ainda aos limitados estudos em relação as propriedades do Caxi, torna-se necessário conhecer o potencial que esta hortaliça não convencional tem a oferecer. Incentivar o consumo das hortaliças e, particularmente, de variedades locais e não tão comuns é importante para a diversidade e riqueza da dieta das populações e perpetuação de bons hábitos alimentares (8,10).

Portanto, o objetivo deste trabalho foi o de avaliar os parâmetros físicos e químicos do caxi in natura ao longo do armazenamento em diferentes temperaturas.

MATERIAL E MÉTODOS

Localização do experimento

Os frutos da Lagenaria siceraria (Caxi) foram cultivados no Instituto Federal Goiano – campus Morrinhos, localizado na região sul do estado de Goiás (17°48’48,93”S, 49°12’15,56”W, 753 m de altitude), no período de 16 de dezembro de 2020 a 17 de março de 2021.

Os frutos foram colhidos e transportados em caixas plásticas para o laboratório de análise de alimentos do Instituto Federal Goiano – campus Morrinhos/GO (Figura 1), onde foram selecionados quanto à ausência de injúrias mecânicas e fisiológicas, higienizados, armazenados e posteriormente cortados e processados para a realização das análises.

Delineamento experimental 

O experimento foi conduzido no mês de março de 2021 e o delineamento utilizado foi o inteiramente casualizado, com 3 tratamentos e 3 repetições. A parcela experimental foi constituída por 30 frutos.

As amostras foram armazenadas em diferentes temperaturas (-8, 5 e 25°C), ou seja, temperatura de congelamento (TC), de resfriamento (TR) e ambiente (TA), sendo avaliadas aos 0, 2, 4, e 6 dias.

Composição físico-química

Do tempo 0 (dia da colheita) até ao tempo 6 (último dia de armazenamento) as amostras foram analisadas a cada 2 dias em 3 repetições: onde determinou-se umidade em estufa (EL 1.2) a 105 °C, até peso constante; o teor de sólidos solúveis totais (SST) °Brix realizado por medida direta em refratômetro manual (GT427); pH pelo método potenciômetro (mPA210) previamente calibrado com solução padrão; acidez total titulável (ATT) determinada através da solução de hidróxido de sódio 0,1 N até mudança de cor para levemente róseo. Todos os procedimentos citados seguem a metodologia descrita pelo Instituto Adolfo Lutz (11). 

Análise estatística

Os resultados foram expressos como média ± desvio-padrão. Para a interação entre as médias, empregou-se a análise de variância ANOVA e quando significativos foram comparados pelo teste de Tukey, usando o programa estatístico SISVAR, versão 5,6, onde adotou-se o nível de significância de 5% de probabilidade (p<0,05).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados da composição física e química da polpa do caxi (Lagenaria siceraria), estão dispostos na Tabela 1.

O teor de pH dos frutos in natura de Lagenaria siceraria são próximos aos encontrado por Pinedo et al. (12) que encontraram valores de 5,93, e superiores aos encontrados por Guerra (13) com valor de 4,46 e Silva; Sousa (14) com valor de 4,03, em frutos in natura de maxixe, pertencente à mesma família do caxi. Já em relação ao tempo e temperatura de armazenamento: apenas a amostra armazenada em temperatura ambiente (TA) diferenciou-se das demais no 4° dia (D4) de avaliação.

O teor de sólidos solúveis encontrado foi inferior aos encontrados na literatura para frutos da família das cucurbitáceas, que tiveram valores que variaram entre 1,60 e 7,00 (14, 15 e 16). Sabe-se que espécies cultivadas de cucurbitáceas são bastantes similares no seu desenvolvimento sobre o solo e hábito radicular, porém possuem alta variabilidade em relação as características de frutos, pois abrigam cerca de 975 espécies que vão desde o caxi até o melão, melancia e abóbora (17). O estágio de maturação do fruto colhido também pode influenciar nos resultados.  Não houve diferença significativa (p≤0,05) entre as amostras durante o período avaliação para o teor de sólidos solúveis.

A acidez do fruto não se diferenciou durante o período de avaliação (p≤0,05). E resultados similares foram observados por Reis et al., (16), em polpa de melão. Guerra, et al., (13) e Almeida, (15), encontraram 0,69 em polpa de maxixe (Cucumis anguria) e 0,63 abobora menina brasileira, respectivamente.

Os valores do teor umidade são similares aos encontrados na literatura para espécies da mesma família (12, 14, 16, 18 e 19). Porém, são superiores aos observados por Viana, (20), em outras hortaliças não-convencionais. As avaliações não apresentaram diferenças significativas (p≤0,05) para o teor de umidade durante o período de avaliação.

CONCLUSÕES

Ao longo do período de armazenamento foi observado que os parâmetros físicos e químicos não tiveram alteração significativa para as diferentes condições de temperatura empregadas. A acidez total titulável aumenta no dia 4, porém no dia 6 ocorre queda garantindo valores semelhantes ao encontrado no fruto no dia da colheita.

 Com isso, a qualidade pós-colheita do caxi (Lagenaria siceraria) é mantida nas temperaturas ambiente, de refrigeração e de congelamento até o 6° dia de armazenamento, garantindo assim as propriedades físicas e químicas do fruto.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao programa de Pós-Graduação Mestrado Profissional em Olericultura e ao Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano – Campus Morrinhos, pelo apoio no desenvolvimento do projeto e da publicação do trabalho.

REFERÊNCIAS

  1. Ornelas HL. Seleção e preparo de alimentos. 8 ed. São Paulo: Atheneu, 2007.
  2. Rice-Evans CA, Miller NJ, Paganga G. Structureantioxidant activity relationships of flavonoids and phenolic acids. Free rad biology med. 1996; 20(7):933-56
  3. Wang H, Cao G, Prior RL. Total antioxidant capacity of fruit. J Agric Food Chem. 1996; 44(3):701-5.
  4. Velioglu YS, Mazza G, Gao L, Oomah BD. Antioxidant activity and total phenolics inselected fruits, vegetables and grain products. J Agric Food Chem. 1998; 46(10):4113-17.
  5. Vinson JA, Hao Y, Su X, Zubik L. Phenol antioxidant quantity and quality in foods: vegetables. J Agric Food Chem. 1998; 46(9):3630-34.
  6. Aguiar TAE, Gonçalves C, Paterniani MEAGZ, et al. Instruções agrícolas para as principais culturas econômicas 7.ª Ed. rev. e atual. Campinas: Instituto Agronômico, 2014.
  7. Almeida MEF, Junqueira AMB, Simão AA, Corrêa AD. Caracterização química das hortaliças não-convencionais conhecidas como ora-pronóbis. Biosc J, 2014; 30(1):431-39.
  8. Brasil. 2010. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento: secretaria de desenvolvimento agropecuário e cooperativismo. Hortaliças não convencionais: (tradicionais), Brasília: MAPA/ACS, 2010.
  9. Kinupp VF, Barros IBI. Riqueza de plantas alimentícias não-convencionais na região metropolitana de porto alegre-rs. Rev Bras Bioci. 2020; 5:63-65.
  10. Passos MAB. Plantas alimentícias não convencionais (panc) ocorrentes em roraima. Rev Eletr Científ Ens Interdisc. 2019; 5(14): 388-404.
  11. Instituto Adolfo Lutz: Métodos físico-químicos para análises de alimentos. 4.ed. São paulo: Instituto Adolfo Lutz, 2008.
  12. Pinedo RA, Bertuci ML, Pizato S, Maldonado CAB, Arévalo-Pinedo A, Cortez-Veja WR. Obtaining candied fruit of calabash (lagenaria siceraria). J Bioen Food Science. 2018; 5(4):119-130.
  13. Guerra AMNM, Santos DS, Evangelista RS, Silva MGM. Conservação pós-colheita de maxixe (cucumis anguria) sob diferentes condições de armazenamento. Rev Bras Agropec Sust. 2020; 10(1):145-154.
  14. Silva APF, De Sousa AMP, De Macedo ADB, Dantas DL, Oliveira JAM, De Almeida AF, De Santana RAC, Campos ARN. Obtenção de farinha do fruto do maxixe (cucumis anguria l.) por diferentes métodos de secagem. Braz J Dev. 2020; 6(7):50983-51000.
  15. Almeida JC. Conservação pós-colheita de abobrinha revestida com cobertura comestível de fécula de mandioca. Nutr Rev Ele. 2021; 18(3):8930-8934.
  16. Reis CG, Figueirêdo RMF, Queiroz AJM, Amadeu LTS, De Lima TLB, Costa PS. Geleias de melão com casca e enriquecida com sementes de mandacaru. Rev Verde Agroec Des Sust. 2020; 15(4):414-421.
  17. Valduga E. caracterização morfológica e análise de compostos bioativos em acessos de variedades crioulas de cucurbitaceae. Dissertação (mestrado em ciências). Pelotas: Universidade federal de pelotas; 2017.
  18. Kumar A, Partap S, Sharma NK, Jha KK. Phytochemical, ethnobotanical and pharmacological profile of lagenaria siceraria:-a review. J Pharm Phytochem. 2012;1(3):24-31.
  19. Botrel N, Freitas S, Fonseca MJO, Melo RAC, Madeira N. Nutritional value of unconventional leafy vegetables grown in the cerrado biome/brazil. Braz J Food Technol. 2020; 23:1-8.
  20. Viana MMS, Carlos LA, Silva EC, Pereira SMF, Oliveira DB, Assis MLV. Composição fitoquímica e potencial antioxidante em hortaliças não convencionais. Hort Bras. 2015; 33(4):504-50

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