NUTRIÇÃO E AUTISMO: UMA REVISÃO LITERÁRIA
Jonas Marinho da Costa Filho1; Andressa Almeida Barbosa2; Socorro da Piedade Berto da Silva3; Alessandra Alexia Paiva e Silva4
1Estudante do Curso de Nutrição- CES – UFCG; E-mail: [email protected]. 2Nutricionista/pesquisadora do grupo de pesquisa e estudos em atualidades da Nutrição Clínica – CES – UFCG. E-mail: [email protected]
Resumo: O transtorno de espectro autista é uma síndrome que desencadeia dificuldades de interação social e habilidades cognitivas, tendo origem por diversos fatores, resultando em alterações e alta incidência de desenvolvimento e agravos nutricionais, bem como deficiência de micronutrientes, sobrepeso e problemas gastrointestinais, ocasionando quadros relacionados a problemas absortivos. Pesquisas apontam que dietas exclusivas se mostram promissoras para melhorar a qualidade de vida dos portadores da síndrome mediante a restrição de proteínas como glúten e caseína que acarreta na melhoria dos sintomas gastrointestinais apresentados. Além disso, aspectos relacionados à seletividade alimentar acabam por provocar uma maior preferência por alimentos processados e doces, menores consumo de frutas e vegetais, proporcionando quadros de sobrepeso e obesidade agravados pela falta da prática de exercícios físicos, onde se evidencia a importância da atuação nutricional ao longo da vida desses indivíduos, buscando a melhoria dos sintomas gastrointestinais, assim como o bem-estar. Diante disso, o estudo busca abordar aspectos nutricionais que se relacionam ao transtorno do espectro autista, traçando a relação com dietas benéficas para os portadores da síndrome.
Palavras–chave: Seletividade Alimentar; Sobrepeso; Transtorno do Espectro Autista
INTRODUÇÃO
O autismo, também conhecido como transtorno do espectro autista (TEA) é uma condição caracterizada pela dificuldade nas habilidades cognitivas e na interação social, resultando em um obstáculo na interação e comunicação ao longo da vida, sendo associada a vários fatores genéticos e ambientais (GOULARTE et al., 2020; PIMENTEL et al., 2019). Do ponto de vista nutricional, estudos mostram que crianças com TEA possuem preferência por alimentos ricos em calorias e pobres em micronutrientes, refletindo na prevalência do excesso de peso em portadores da síndrome (CAETANO; GURGEL, 2018). Dessa forma, destaca-se a necessidade da intervenção nutricional adequado para esse público. À vista disso, o presente estudo tem por objetivo destacar aspectos nutricionais relacionados ao transtorno do espectro autista, tornando-se importante a investigação do tema para evidenciar as questões associadas em virtude dos presentes fatores que possuem influência, traçando a correlação com dietas que possam ser benéficas durante a vida dos portadores da síndrome.
METODOLOGIA
Trata-se de um estudo de revisão literária, baseado em artigos originais. Com isso, o levantamento bibliográfico foi efetuado em periódicos presentes nas seguintes bases de dados: Scielo, Pubmed e Google acadêmico. Foram utilizados artigos científicos originais dos últimos três anos, publicados em língua portuguesa e inglesa. Utilizando os seguintes descritores: Seletividade Alimentar; Sobrepeso; Transtorno do Espectro Autista.
TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA E DOENÇAS GASTROINTESTINAIS
O transtorno de espectro autista tem origem multifatorial, em especial, por fatores de interação genéticos e ambientais. (SILVA; SANTOS; SILVA, 2019) Caracterizado por comportamentos monótonos, dificuldades de interação social, padrão alimentar seletivo e problemas gastrointestinais, tais como deficiência na produção de enzimas digestivas, inflamações na parede intestinal e permeabilidade intestinal modificada, levando ao surgimento de quadros relacionados a problemas absortivos, intolerâncias alimentares, sendo comumente sintomas de constipação crônica, diarreia, dor abdominal e flatulências (GOULARTE et al., 2020).
Devido a essas constantes alterações, às pessoas com TEA sofrem com altas possibilidades de desenvolverem agravos nutricionais, incluindo deficiência e excesso de peso, que podem causar maiores danos à saúde de pessoas que têm sido privadas de tantas mudanças (CAETANO; GURGEL, 2018). Com isso, muitos pesquisadores vêm estudando o efeito das dietas exclusivas, que se mostram promissoras para melhorar a qualidade de vida desses indivíduos. Segundo a análise de Pimentel et al.(2019) a restrição do glúten e caseína acarreta a melhora dos sintomas gastrointestinais apresentados (RAMIREZ et al., 2019).
A INFLUÊNCIA DA SELETIVIDADE ALIMENTAR NO EXCESSO DE PESO
Devido ao comportamento estereotipado e repetitivo, a seletividade alimentar entra como um padrão na vida de portadores de TEA. Segundo o estudo de Lázaro; Siquara e Pondé (2019), há uma preferência por alimentos ultraprocessados e doces menor consumo de frutas e vegetais, associados à falta de exercícios físicos, gerou como consequência um elevado índice de sobrepeso e obesidade, como mostrado nas pesquisas da tabela 1. Vale salientar que essa predileção está interligada com a permeabilidade intestinal, onde o eixo microbiota- intestino- cérebro tem uma forte influência sobre a escolha e apetite por esse grupo de alimentos (MILOSEVIC et al., 2019).
Tabela 1. Perfil nutricional de pessoas portadoras de TEA
AUTOR | METODOLOGIA | OBJETIVO | RESULTADOS |
Caetano e Gurgel (2018) | Estudo quantitativo, descritivo, exploratório e transversal. Realizado no Limoeiro do Norte, Ceará, com total de 26 crianças com idade entre 3 e 10 anos, portadoras de TEA. A pesquisa foi realizada através de entrevistas com questionários coletando os dados dos participantes. | Analisar o consumo alimentar e a condição nutricional de crianças com TEA (transtorno do espectro autista). | Dentre as crianças observadas, pelo cálculo do IMC/I (índice de massa corporal por idade), foram diagnosticadas 38,5% com sobrepeso, 23,1% obesas e 38,5% em risco de sobrepeso. Já para os parâmetros de EER (Consumo de energia), esteve elevado para a faixa recomendada para 53,85% dos autistas. |
Silva, Santos e Silva (2019) | Pesquisa transversal e descritiva. Em uma amostragem com 39 participantes, sendo elas crianças autistas entre 3 e 10 anos. Foi avaliado o estado nutricional a partir do índice de massa corporal/idade e do peso/idade. Já para os sintomas gastrointestinais, foram aplicados um recordatório 24h. | Classificar o estado nutricional e a existência de modificações gastrointestinais em crianças portadoras de TEA (transtorno do espectro autista). | Das crianças analisadas, 64,1% apresentaram excesso de peso. Nenhuma apresentou déficit de peso. Já para as variações gastrintestinais, 84,2% marcaram positivo a essas alterações, sendo (β=0,38; IC95% 0,07–0,75; p=0,02), referentes ao consumo de glúten. |
Goularte et al (2020) | Análise transversal, realizada na cidade de Pelotas, RS, em um centro educacional para crianças e adolescentes com autismo. Foram aplicados questionários coletando os dados dos participantes. | Retratar o perfil nutricional e constatar a presença de sintomas gastrointestinais na presença de hipersensibilidade alimentar em crianças e adolescentes dentro do espectro autista. | Dentre os 12 foi verificado que metade dos entrevistados estava com excesso de peso, sendo eles 25% sobrepeso e 25% obesidade. Ademais, 33,3% estavam eutróficos e 16,7% já apresentavam risco de sobrepeso. |
CONCLUSÕES
Diante do exposto, é possível analisar a correlação entre a nutrição e o TEA, tendo em vista fatores como a seletividade alimentar e problemas gastrointestinais, resultando no surgimento de quadros relacionados a problemas absortivos, assim como intolerâncias alimentares, evidenciando assim, a importância de dietas específicas com o tratamento associados ao uso de fármacos, controle comportamental, além de fatores físicos e educacionais, a fim de melhorar os sintomas gastrointestinais apresentados, tal como o bem-estar físico e mental, visando a promoção de saúde ao longo da vida dos portadores da síndrome.
REFERÊNCIAS
CAETANO, M. V.; GURGEL, D. C. Perfil nutricional de crianças portadoras do transtorno do espectro autista. Revista brasileira em promoção da saúde, v. 31, n. 1, 2018.
GONZÁLEZ, M. C.; VASQUEZ, M.; HERNANDEZ-CHAVEZ, M. Trastorno del espectro autista: Diagnóstico clínico y test ADOS. Revista chilena de pediatría, v. 90, n. 5, p. 485-491, 2019.
GOULARTE, L. M. et al. Transtorno do Espectro Autista (TEA) e hipersensibilidade alimentar: perfil nutricional e prevalência de sintomas gastrointestinais. Revista da Associação Brasileira de Nutrição-RASBRAN, v. 11, n. 1, p. 48-58, 2020.
LÁZARO, C. P.; SIQUARA, Gustavo Marcelino; PONDÉ, Milena Pereira. Escala de Avaliação do Comportamento Alimentar no Transtorno do Espectro Autista: estudo de validação. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 68, n. 4, p. 191-199, 2019.
MILOSEVIC, I; VUJOVIC, A.; BARAC, A. et al. Gut-Liver Axis, Gut Microbiota, and Its Modulation in the Management of Liver Diseases: A Review of the Literature. International Journal of Molecular Sciences; 20(395):1-16, 2019.
PIMENTEL, Y. R. Amaro et al. Restrição de glúten e caseína em pacientes com transtorno do espectro autista. Revista Da Associação Brasileira De Nutrição-RASBRAN, v. 10, n. 1, p. 3-8, 2019.
RAMÍREZ, C. et al. Abordaje nutricional en pacientes con parálisis cerebral, espectro autista, síndrome de Down: un enfoque integral. Revista chilena de nutrición, v. 46, n. 4, p. 443-450, 2019.
SILVA, D. V.; SANTOS, P. N. M.; SILVA, D. A. V. Excesso de peso e sintomas gastrointestinais em um grupo de crianças autistas. Revista Paulista de Pediatria, v. 38, n. 5, p. 1-6, 2020.