ACEITAÇÃO DE LEGUMES E VERDURAS POR CRIANÇAS EM IDADE PRÉ-ESCOLAR
Livia Cristina de Morais Rodrigues1; Raquel Sabbatini Vasconcelos1; Stephanie de Sá e Silva1; Thais Caroline da Silva Santos1; Angela Lima da Silva2
1Estudantes do Ensino Médio com Habilitação Profissional de Técnico em Nutrição e Dietética – Etec Santa Ifigênia – Centro Paula Souza/SP – E-mail: [email protected], 2Docente do Curso Técnico em Nutrição e Dietética – Etec Santa Ifigênia – Centro Paula Souza/SP – E-mail: [email protected]
Resumo: A alimentação de crianças em idade pré-escolar mostra-se essencial para o desenvolvimento adequado, prevenção de doenças futuras e promoção de saúde. Nesta faixa etária é bastante comum a rejeição ao consumo de legumes e verduras. A Educação Alimentar e Nutricional é essencial para a construção de hábitos alimentares saudáveis. O objetivo geral deste trabalho foi analisar o consumo alimentar de crianças em idade pré-escolar, principalmente o consumo de legumes e verduras. Para isto, aplicou-se um questionário, respondido pelos responsáveis da criança. Após a análise dos dados, foi desenvolvida uma ação educativa, permeada por diversas brincadeiras, realizada em dois encontros virtuais com as crianças e suas famílias, abordando a importância de uma alimentação saudável. As crianças participantes deste estudo apresentaram boa aceitação no consumo de legumes e verduras, porém também apresentaram o hábito de consumir alimentos ultraprocessados. A ação educativa se mostrou eficaz para as crianças e suas famílias. As crianças apresentaram a iniciativa de provar novos alimentos, descobrindo novos sabores. Conclui-se que o presente trabalho alcançou resultados satisfatórios, promovendo novos aprendizados e mudanças nos hábitos alimentares das crianças, além de promover novos conhecimentos aos responsáveis que são pessoas muito importantes na formação dos hábitos alimentares infantis.
Palavras–chave: educação alimentar e nutricional; hábito alimentar; legumes e verduras; pré-escolar
INTRODUÇÃO
Bons hábitos alimentares na infância são essenciais para promover crescimento e desenvolvimento adequados, além de prevenir doenças. No entanto, atualmente a preferência alimentar infantil é por alimentos ultraprocessados, que fazem mal à saúde por conterem diversos aditivos químicos, elevada quantidade de gordura, açúcar, sódio e calorias. Consequentemente, ocorre uma diminuição no consumo de frutas, legumes e verduras (BRASIL, 2014; LAMAS; CADETE, 2017).
A educação alimentar e nutricional destinada às crianças em idade pré-escolar (2 a 6 anos), tem o propósito de criar atitudes positivas em relação aos alimentos, bem como encorajar a aceitação de uma alimentação diversificada, reduzindo a seletividade alimentar e a relutância por determinados alimentos, principalmente o grupo das verduras e legumes (PINHEIRO-CAROZZO; OLIVEIRA, 2017; PRADO et al., 2016).
O consumo de legumes e verduras deve ser estimulado pelos pais e no ambiente escolar, em virtude de seus benefícios: excelentes fontes de fibras, minerais, vitaminas, além de prevenir o aparecimento de doenças cardiovasculares como câncer, diabetes e obesidade (CEZAR et al., 2016).
Desta forma, levando-se em consideração a importância de uma boa alimentação ofertada desde a infância e o impacto causado pelo estilo da alimentação, visto que as rotinas alimentares de uma criança podem perpetuar por toda a vida, se faz necessário analisar o consumo alimentar de crianças em idade pré-escolar, principalmente o consumo de legumes e verduras, verificando quais são os alimentos destes grupos mais e menos aceitos; visando realizar ações educativas a fim de incentivar o consumo dos alimentos mais rejeitados e apresentar suas diferentes formas de preparação.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de um estudo de campo, quantitativo, transversal, realizado no período de setembro a novembro de 2020, com um grupo de 11 crianças entre 3 e 6 anos e suas mães, moradores da região metropolitana de São Paulo.
Para avaliar o consumo alimentar utilizou-se um questionário virtual, composto por 10 perguntas, destinado à família das crianças, para verificar quais os alimentos mais e menos aceitos pelas crianças, principalmente as verduras e legumes. No início do questionário, constava o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, consentindo a participação da criança e uso das informações.
As respostas foram analisadas conforme as orientações do Guia Alimentar para a População Brasileira (BRASIL, 2014) e o Manual de Alimentação da Infância à Adolescência (SBP, 2018).
A fim de incentivar o consumo dos alimentos menos aceitos, realizou-se ações educativas com as crianças, por meio da plataforma Google Meet. Foram feitos dois encontros, com aproximadamente 30 minutos cada.
No primeiro encontro abordou-se sobre as características das verduras e legumes, mostrou-se alguns alimentos in natura e realizou a brincadeira “caça aos alimentos”, utilizando imagens. Este encontro foi encerrado com um desafio para as crianças experimentarem dois alimentos que elas não gostavam ou nunca tinham provado. Após o primeiro encontro, foi enviado para as mães, uma cartilha contendo receitas com hortaliças e um vídeo com fantoches convidando as crianças para o próximo encontro.
No segundo encontro foi feita uma revisão sobre o encontro anterior e a discussão sobre o resultado do desafio proposto. Em seguida, transmitiu-se o vídeo gravado com fantoches, feito pelas alunas, contando uma história sobre a aceitação dos alimentos e as descobertas ao provar novos alimentos. E para finalizar, realizou-se a brincadeira do “O que é o que é?”, onde a partir das características de algumas hortaliças, as crianças adivinhavam qual era o alimento.
Após o encerramento desse encontro, foi enviado um livro de atividades em formato digital para os responsáveis imprimirem para seus filhos realizarem as atividades, assim como também se enviou um novo questionário, para avaliar os resultados obtidos através da ação educativa.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a aplicação do questionário, 63,6% das mães afirmaram que seu filho (a) possuía uma boa aceitação de legumes e verduras. Destas, 45,5% das entrevistadas afirmaram ofertar este grupo alimentar, de 5 a 6 vezes na semana.
Em relação ao consumo das hortaliças, os mais consumidos pelas crianças foram: tomate, cenoura, abobrinha, alface, couve e repolho e os menos consumidos quiabo, berinjela, vagem, repolho, rúcula, agrião, espinafre e acelga. O motivo mais citado pelas mães para o não consumo foi devido ao sabor, considerado forte.
Crianças em idade pré-escolar têm preferência por alimentos de sabor adocicado, o que justifica a predominância na aceitação de alimentos como o tomate e a cenoura. É importante destacar que para a aceitação de uma maior variedade de legumes e verduras, deve-se conhecer novos alimentos e suas diferentes formas de preparação. Para facilitar este processo, é necessário que as crianças utilizem os sentidos como visão e olfato na experimentação destes novos alimentos, aumentando gradativamente a sua aceitação, melhorando sua relação com os alimentos e influenciando na formação dos hábitos alimentares saudáveis (BRASIL, 2014; SBP, 2018).
A preferência alimentar da criança deve ser respeitada o quanto for possível. Ao oferecer um alimento para a criança e ela se negar a provar/comer, não necessariamente precisa-se obrigá-la a consumir o tal alimento naquela hora, em outras oportunidades deve-se oferecer o mesmo alimento, preferencialmente com uma forma de apresentação diferente para que a criança se sinta atraída a consumi-lo. Para concretizar a aceitação, pode-se ser necessário oferecer o alimento de 8 à 10 vezes, em diferentes ocasiões e de diferentes formas de apresentação (SBP, 2018).
Com relação ao consumo de feijão, todas as crianças apresentaram o hábito de consumir feijão e frutas regularmente. Já com relação ao consumo de alimentos ultraprocessados, 90,9% das crianças consomem bolachas e doces e 45,5% consomem outros alimentos ultraprocessados como bebidas adocicadas, salgadinhos de pacote, macarrão instantâneo e embutidos.
O alto consumo dos alimentos ultraprocessados por pré-escolares e a baixa ingestão de frutas, verduras e legumes têm contribuído para o aparecimento de doenças crônicas, afetando o desenvolvimento e estado nutricional de crianças (BRASIL, 2014).
Com relação às ações educativas, todas as crianças participaram ativamente das atividades. Durante a interação foi possível identificar que as crianças compreenderam a importância do consumo de verduras e legumes, além de conhecerem alguns alimentos: os legumes abobrinha, berinjela, chuchu e cenoura e as verduras couve, rúcula, espinafre e repolho. Estes foram escolhidos por terem sido identificados como os alimentos menos consumidos.
No segundo encontro as crianças também interagiram bastante, demonstrando interesse pelo que estava acontecendo. A maioria das crianças compartilharam suas experiências, comentando se gostou ou não do alimento experimentado. Os relatos foram positivos e elas confirmaram que continuarão com o hábito de comer o alimento, além de demonstrarem alegria por terem feito algo diferente.
Após a realização da última ação educativa com as crianças, foi enviado um novo questionário aos responsáveis para identificar o impacto destas ações sobre os hábitos alimentares das crianças.
Sendo assim, 85,7% das mães afirmaram que a criança realizou o desafio de provar um alimento diferente e 42,9% das mães afirmaram que a criança sentiu muito interesse em conhecer novos alimentos, sendo os mais citados: tomate, brócolis e cenoura. Destas, 71,4% afirmaram que a criança gostou do alimento que experimentou. Ao verificar a opinião da família sobre a importância de oferecer frutas, verduras e legumes, seus responsáveis relataram que a ação educativa foi importante para adquirir conhecimento sobre diferentes maneiras na apresentação dos alimentos para as crianças e auxiliou na aceitação de verduras e legumes, desta forma comprovando a eficácia e importância da educação nutricional (BRASIL, 2014).
Tanto os responsáveis como as crianças relataram que gostaram muito de terem participado e mostraram que houve uma mudança em suas vidas, seja na maneira pensar, no conhecimento dos alimentos ou no hábito alimentar.
CONCLUSÕES
Por meio desta pesquisa pode-se conhecer os legumes e verduras mais rejeitados e os mais aceitos, por crianças em idade pré-escolar. A partir destes dados, foi possível desenvolver ações educativas a fim de incentivar o consumo dos alimentos mais rejeitados e apresentar as suas diferentes formas de preparação, contribuindo para uma melhor aceitação alimentar.
As ações educativas foram eficazes e bem avaliadas pelas crianças e suas responsáveis. No decorrer dos encontros, as crianças apresentaram excelente interação em todas as atividades propostas, mantendo-se concentradas e participando ativamente.
Desta forma, é muito importante que seja realizado mais ações de educação alimentar e nutricional, visando uma maior aceitação ao consumo de legumes e verduras, e consequentemente, melhorando os hábitos alimentares infantis.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Guia Alimentar para a População Brasileira. 2. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2014.
CEZAR, É. et al. Incentivo ao consumo de frutas, verduras e legumes para crianças de escolas infantis de Itaqui/RS. Canais do Salão Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, v. 8, n. 3, fev., 2020. Disponível em: <https://periodicos.unipampa.edu.br/index.php/SIEPE/article/view/85072>. Acesso em: 19 ago. 2020.
LAMAS, I.; CADETE, M. Do desejo à ação: Fatores que interferem na abordagem nutricional para mudança de hábito alimentar. Revista de Enfermagem UFPE On line, v. 11, n. 6, p. 2432-44, jun., 2017. Disponível em: <https://periodicos.ufpe.br/revistas/revistaenfermagem/article/viewFile/23407/19075>. Acesso em: 26 jun. 2020.
PINHEIRO-CAROZZO, N. P.; OLIVEIRA, J. H. A. Práticas alimentares parentais: a percepção de crianças acerca das estratégias educativas utilizadas no condicionamento do comportamento alimentar. Psicologia Revista, v. 26, n. 1, p. 187-209, 2017.
PRADO, B. G. et al. Ações de educação alimentar e nutricional para Escolares: um relato de experiência. Demetra: Alimentação, Nutrição e Saúde, [S.l.], Cuiabá, v. 11, n. 2, p. 369-382, 2016. Disponível em: <https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/16168/17722>. Acesso em: 26 jun. 2020.
SBP. Sociedade Brasileira de Pediatria. Manual de Alimentação da infância à adolescência. 4.ed. São Paulo: SBP, 2018.